Arnold Schwarzenegger disse que iria voltar, e voltou. Com um péssimo jogo debaixo dos braços, uma verdadeira arma de destruição em massa, um cartucho tão pútrido que a sua simples existência poderia levar ao colapso da civilização como a conhecemos. Este é T2: Terminator 2 Judgment Day, mais um integrante da extensa lista de games pessimamente adaptados de filmes de sucesso, e acredite se quiser, um dos piores jogos da LJN, tradicional produtora de bombas.
O juízo final seria mais divertido
Talvez a coisa mais engraçada de T2: Terminator 2 Judgment Day seja o fato de que o primeiro minuto de jogo é simplesmente brilhante. Absolutamente todos os fãs do cinema de ação e ficção científica devem ter aberto um sorriso ao inserir o cartucho no Super Nintendo na época. Afinal, depois do logotipo da (insira calafrios na espinha) LJN, a primeira imagem que você vê na tela é um robô T-800 incrivelmente detalhado, com um lindo e vibrante incêndio ao fundo, indicando que um jogo de muita adrenalina o espera no horizonte. Tudo fica ainda melhor depois que as tradicionais placas de metal do filme se fecham na tela e revelam o título do jogo. Deixe o controle parado por um tempo e começará uma sequência de vídeo mostrando a chegada do Exterminador em nosso tempo, nu, naquela bola de energia que todos nos lembramos de ver na sessão da tarde. O jogo aqui até faz uma piadinha legal para esconder as partes íntimas do Arnoldão, inserindo sempre objetos do cenário na sua linha de cintura. Se você assistiu ao Austin Powers e sua piada da nudez sendo escondidas por frutas, deve ter uma boa ideia do que esperar. Enfim, depois deste primeiro minuto brilhante, o jogo começa. E, com ele, começa o horror.
Noventa e nove vírgula noventa e nove por cento dos jogos de plataforma 2D consistem em se deslocar da esquerda para a direita até o fim da fase. T2: Terminator 2 Judgment Day discorda desta fórmula. Aparentemente, esta pérola da LJN se acha boa demais para abraçar o esquema lançado por Super Mario Bros.. Ande para a direita e dez passos depois encontrará uma parede invisível e uma mensagem avisando que o progresso não é permitido. Bom, se este fosse o menor dos problemas do jogo, acho que até estaria tudo bem. Mas, enquanto você contempla o cenário intransponível pensando no que fez de errado, infinitos inimigos aparecem para o ataque. Ao tentar se defender, logo se nota que é impossível andar e desferir golpes ao mesmo tempo, o que indica um robô extremamente incapaz e defeituoso. Sério, isso foi o melhor que os cientistas do futuro conseguiram fazer? Um robô que não consegue sequer andar e mexer os braços para frente ao mesmo tempo? Dizer que a jogabilidade é mais podre que uma caixa de leite abandonada num chiqueiro por oitenta anos seria um eufemismo.
Missão: tédio
Ao apertar Start, o jogo lista tudo que é preciso fazer para poder prosseguir na fase. A primeira missão do jogo é encontrar uma arma. Ao ler essa ordem, logo imagino que basta derrotar um dos infinitos inimigos armados que surgem ainda na primeira tela do game, mas não. Procuro insistentemente um botão de golpe que possa desarmar os inimigos, apenas para fracassar novamente. Então, rendido, volto pra esquerda, onde o nível começou, na vã esperança de descobrir… bem, qualquer coisa. Para minha surpresa, andando um pouco para a esquerda, Arnold sobe as escadas de um bar e adentra uma minúscula sala com três portas e o pior sistema de navegação do universo. Eu deveria ter entrado num simples bar, mas aparentemente entrei em Hogwarts, pois cada uma das três portas, aparentemente encantadas, devem ter me levado a pelo menos cinquenta salas diferentes. Numa delas, por pura obra do acaso, derrotei um inimigo e um indicador visual apontou uma arma no chão. Andei sobre ela, mas não a apanhei. Claro que não, isso seria simples demais. Abaixei sobre ela. Nada ainda. Abaixei de novo, em um ângulo levemente diferente, e finalmente deu certo. Pronto, primeira missão completa.
O outro objetivo da fase é encontrar o endereço de John Connor. Ah, quem dera isto fosse "fácil" como encontrar uma arma. Depois de mais de uma hora não conseguindo solucionar o enigma, acabei procurando um detonado. Não me orgulho disso, mas a LJN também não deveria se orgulhar de ter colocado essa aberração nas lojas, então acho que estamos quites. Aparentemente, para descobrir o endereço do John Connor, eu precisava apertar o direcional para cima numa cabine telefônica do lado de fora do bar que parece tão interativa quanto o jornal no chão, a moto no fundo do cenário, ou a nuvem no céu. Feliz com o objetivo cumprido, andei para o extremo direito da tela inicial, ansioso para ver o que a próxima fase me reservava. Apenas para ser barrado mais uma vez. Ainda era preciso pegar duas cabeças de robô chamadas "Future Object", escondidas em pequenas caixas pela fase. Obviamente, elas não servem para absolutamente nada além de estender artificialmente a vida útil do jogo, obrigando os jogadores a procurá-las em cada canto do cenário. Bom, pelo menos agora este nível acabou e o jogo deve melhorar, certo? Certo?!
Estrada para perdição
Errado. A segunda fase do jogo consegue ser ainda pior que a primeira. Trata-se de uma sequência de moto com o menor personagem controlável que você vai ver na sua vida inteira. Acredite, é mais fácil encontrar o Wally nos livros do que encontrar o Exterminador na tela de jogo. Minha primeira partida na fase durou cerca de oito segundos. Tentei mover o personagem com o direcional. "Hahaha, tolo!" teriam dito os programadores ao me ver em ação. A aceleração da moto é feita pelos botões, o que é uma boa escolha. O problema aqui é que o direcional faz tudo, menos mover a moto para a direção desejada. Imagino que os controles estejam invertidos, mas é difícil ter certeza, pois quando apertei para baixo a moto deu uma guinada, encontrou um caminhão que apareceu na estrada por geração espontânea, e explodiu. Ri um pouco, me recompus, e me preparei para tentar de novo. Apenas para descobrir que tinha apenas uma vida e que o jogo não conta com um sistema de continues. Fantástico, tudo o que eu queria na vida era jogar a primeira fase mais uma vez.
Depois de voltar para o cenário mais vezes do que gostaria de admitir, finalmente dominei os controles da moto. Ou quase. Aí veio a parte mais difícil, dominar o mapa. É incrível como o cenário é extenso e fácil de se perder. Em toda justiça, há uma bússola no canto superior direito da tela. Mas isso não é exatamente útil quando você não faz a menor ideia de qual direção deve seguir. Depois de rodar por horas finalmente encontrei o local que deveria chegar por pura sorte. Sabe o que acontece nas próximas fases? O jogo entrega alternadamente fases de exploração e busca por “Future Objects” e outras fases com meios de transporte em que se deve descobrir o caminho por milagre. De novo. E de novo. E de novo. Oba!
Hasta la vista, T2
A parte mais triste de comprar, alugar, ou simplesmente se deparar com T2: Terminator 2 Judgment Day, é saber que existe um jogo de qualidade inversamente proporcional no mercado, também ostentando a marca Terminator. T2: The Arcade Game é um game de tiro sobre trilhos extremamente competente, com ação eletrizante, adaptado do sucesso de arcade da Midway com o mesmo nome. A versão para Super Nintendo tem até suporte à pistola Super Scope e partidas cooperativas. Ou seja, é tudo que um fã dos filmes poderia querer! Quando você compara as duas versões, fica mais do que claro que o único propósito de T2: Terminator 2 Judgment Day no mundo é destruir a vida daqueles azarados o suficiente para jogar esta versão. Então se alguém do futuro estiver lendo este texto, fica aqui o apelo para que pegue sua máquina do tempo, volte até nossa era e queime todos os cartuchos deste game. A humanidade agradece.
Revisão: Catarine Aurora