Em 2003, ano em que Air Ride foi publicado, Kirby já era um dos personagens mais queridos e bem-sucedidos da Nintendo. Isso graças ao seu carisma e enorme bravura. Depois de estrelar diversos jogos de plataforma e até mesmo de luta – basta lembrar de Super Smash Bros. Melee (GC, 2001) –, decidiram levar o nosso herói róseo para o mundo das corridas. Pode parecer, em um primeiro momento, que não é um nicho que a “bolotinha“ poderia ocupar, mas não foi bem assim. De fato, naquele ano o GameCube recebeu jogos de corrida para todos os tipos de jogadores: F-Zero GX, para os que buscavam um maior desafio; Mario Kart: Double Dash!!, que mantinha o desafio, mas já era mais para o casual; e o Kirby Air Ride, esse sim, extremamente simples, como vamos relembrar agora.
A simplicidade em primeiro lugar
A HAL Laboratory, como de costume, ficou encarregada da produção de mais esse game de Kirby. O seu desenvolvedor, Masahiro Sakurai, já trabalhara em diversos outros jogos da franquia, como Kirby's Dream Land (GB, 1992), Kirby's Adventure (NES, 1993) e Kirby Super Star (SNES, 1996). Também participou da produção dos jogos da franquia Super Smash Bros., não é para menos que podemos ver, de forma clara, uma grande semelhança no visual e nos menus de Air Ride com o da série de pancadaria.
A HAL seguiu a proposta de ser o mais simples possível, como um forma de angariar o maior número de jogadores casuais. Sem dúvida alguma, um jogador que busque um pouco de desafio não irá se interessar durante muito tempo por esse jogo. Não pelo fato de o protagonista ser uma “bola rosada”, mas sim porque seus controles foram feitos para até mesmo uma criança pequena poder chegar até o final da corrida. Para quem não lembra, além do direcional, existe apenas um botão para ser utilizado, o “A”. Mas não funciona como acelerador, pois isso acontece sozinho, como nos jogos de corrida de smartphones, ou seja, assim que começa a corrida, o veículo só irá parar de acelerar quando chegar ao fim da mesma.
O botão “A” também serve para “carregar“. Quando ele é apertado, a velocidade é reduzida, e quando é liberado, ele dá um impulso grande. A ideia é utilizá-lo nas curvas, que devem ser feitas com ele apertado e, ao sair da mesma, libera-se o botão, ganhando velocidade. Outra função é a de assimilar as habilidades de inimigos que aparecem pela pista, uma característica marcante de Kirby, que ele utiliza para detonar os adversários da corrida, como não poderia ser diferente.
O direcional, além de guiar o seu personagem – que pode ser um Kirby de cor rósea, vermelha, azul ou amarela – também serve para planar por mais tempo, bastando pressionar o mesmo para trás durante um voo, impulsionado por uma das várias rampas do game. É só não esquecer de “aprumar“ o veículo antes de cair, garantindo assim uma boa velocidade logo na aterrissagem. Outra forma de manuseio é clicando de um lado para o outro rapidamente, o que faz o veículo rodar, podendo acertar inimigos e adversários para prejudicá-los.
Uma novidade interessante
Kirby Air Ride foi o primeiro jogo de GameCube a possuir suporte de rede local (LAN). Para isso, “bastava” ter quatro televisores, quatro cópias do jogo e, naturalmente, quatro GameCubes. Provavelmente não foram muitos os que tiveram a oportunidade, ou o interesse, em juntar todo esse aparato apenas para jogar uma partida de um jogo de corrida do Kirby. Ainda assim, foi uma novidade interessante, despontada no saudoso Cubo da Big N. É bem verdade que existiam diversos outros títulos da empresa que poderiam ter sido agraciados com esse suporte na época, basta lembrar os dois outros jogos de corrida que foram lançados no mesmo ano. Isso só demonstra o empenho com que um jogo estrelando a bolotinha rósea é tratado pelos produtores.
Três jogos em um
São três modos diferentes de jogo. Cada um traz um gameplay bem diferente do outro. É praticamente como se pudéssemos jogar três games diferentes, ou dois e meio, pois um deles está mais para minigame.
Em Air Ride, o modo mais comum quando se procura um game de corrida, é aquele em que se pode escolher uma pista, um Kirby, que só varia na cor, e já pode começar a jogar.
O Top ride, como o próprio nome indica, é um minigame em que a câmera é postada de cima. Existem duas opções de veículos para pilotar e possui a mesma jogabilidade dos demais modos, ou seja, o veículo acelera sozinho e o botão “A“ é a única opção disponível para controlar, servindo para carregar o impulso nas curvas.
O modo City trial é um pouco mais curioso que os outros dois, pois o jogador tem cinco minutos para percorrer a cidade, com o objetivo de coletar itens para serem utilizados na sequência em minigames diversos. Dependendo do tipo de desafio proposto, o item adquirido poderá ser uma boa vantagem ou uma péssima aquisição. Por exemplo, se o desafio for de planar uma maior distância, um item que diminui o peso do veículo será muito bem-vindo, mas um que aumente o peso terá um resultado desastroso, diminuindo bastante as chances de vitória.
Universo de Kirby
Como se poderia esperar de um game de Kirby, os gráficos são brilhantes e coloridos, além de terem sido bem feitos. O design das pistas é realmente bonito, com diversos loops, curvas fechadas, retornos, rampas e mais. Sem contar os típicos arco-íris, vulcões (dentro e em cima dos mesmos) e água que podem ser vistos no caminho.
Bugs eram raros de serem encontrados no jogo, que rodava a 60 quadros por segundo. É bem verdade que poderiam até ter feito um trabalho melhor nos detalhes de sombra e luz, mas, mesmo assim, ficou um visual bem interessante e que cumpriu bem o seu papel.
Diversas músicas animadas e orquestradas, que servem bem ao mundo “Kirbyano“, podem ser encontradas durante todo o jogo. Não são um trabalho para marcar na história dos games, mas são bem feitas e cativantes. Os efeitos sonoros também têm uma presença forte, como nas derrapagens e explosões ocorridas na corrida.
Pode ser que alguns não tenham gostado da ideia de ver Kirby pilotando. Outros, como sabemos, não resistem ao carisma do “herói redondo”. Seja como for, Kirby Air Ride teve seu espaço garantido no mundo dos games. Não podemos esquecer que o público-alvo do jogo deve ser levado em consideração, que, na sua maioria, é formado por iniciantes nos videogames, que ficaram bastante satisfeitos com a simplicidade que o game trouxe aos jogos de corrida.
Revisão: Leandro Freire
*Essa matéria foi publicada originalmente na Revista Nintendo Blast #25.