Pense em qualquer console que a Big N lançou em sua extensa história e você certamente vai encontrar uma constante: por trás de todo grande sistema existe um grande game do Mario. Excelentes por sua própria natureza, os jogos do encanador não só salvaram a indústria de videogames nos anos 80 como também moldaram o gênero de plataforma nos anos subsequentes. Clássicos absolutos, os jogos da série são sempre um primor técnico e servem de eterno paradigma de qualidade. Mas será que o Wii U continuará esse legado virtualmente perfeito?
Mario é meu herói
Quando eu tinha cinco anos de idade, meus pais me presentearam com um Phantom System, a versão nacional do NES produzida pela Gradiente. Junto com ele veio um estranho cartucho que precisava de um adaptador especial para que seu número de pinos se tornasse compatível com o console. Na etiqueta constava apenas um nome: "Mario". Já naturalmente fisgado pelo formato do cartucho, diferente de todos os outros que vieram com o videogame, mal podia esperar para ver aquele jogo funcionando. Depois de assoprar e reconectar o cartucho no adaptador diversas vezes, finalmente meu Phantom System conseguiu rodar o jogo, e um novo mundo se abriu pra mim. Na tela, o título "Super Mario Bros." trazia mais pompa ao simplório "Mario" que estampava a etiqueta do cartucho. Enquanto reparo nisso, o pequeno homem no canto da tela começa a correr e me mostra montanhas, blocos, nuvens, canos... um mundo deslumbrante, diferente de tudo que já tinha visto. Foi amor à primeira vista. Eu tinha certeza que passaria muito tempo na companhia daquele personagem. Só não tinha noção de que aquilo era o início de uma bela amizade que duraria mais de 20 anos.
Dali para frente o rotundo encanador bigodudo foi presença constante na minha vida. Sempre procurei jogar os lançamentos de todas as companhias. Tenho muito carinho por meus consoles e jogos da SEGA, Microsoft e Sony, mas o fato é que os games do Mario possuem uma magia que me atinge de modo diferenciado. Do mesmo modo que o primeiro Super Mario Bros. me deixou deslumbrado ao lançar o gênero de plataforma, Super Mario Bros. 3, que considero o melhor jogo de videogame da história, me deixou de queixo caído quando levantei voo pela primeira vez com a Raccoon Suit. O mesmo ocorreu no Super Nintendo quando eu e meu herói montamos no Yoshi e exploramos 96 gigantescas fases, num jogo de epicidade sem precedentes. Aí veio a geração 64 bits e, logo no lançamento, com Super Mario 64, o gorducho mais uma vez definiria os caminhos que a indústria seguiria no gênero de plataforma 3D, exaustivamente copiado até hoje. Nas gerações seguintes, Mario resolveu provar que nem mesmo as leis da física eram páreo para sua genialidade. E inovou de novo, em Super Mario Sunshine, ao entregar os melhores efeitos de água até então vistos, e ao desvirtuar todas as regras da gravidade em Super Mario Galaxy. Ou seja, em cada geração a Nintendo colocou seus melhores programadores em ação para fazer jogos verdadeiramente inéditos e inovadores, que levaram a tecnologia da época ao seu limite. É por essa razão que, independente do seu sistema, franquia ou companhia favorita, é impossível pensar em videogames sem pensar em Mario. É por isso que ele sempre define os caminhos que a indústria vai tomar, e é por isso que ele é o meu herói.
New de verdade
O problema é que em algum momento do caminho a Nintendo parece ter ficado preguiçosa, ou começou a subestimar a importância do seu maior símbolo. Depois de Super Mario Galaxy, a marca Mario começou a ser associada mais à nostalgia do que à inovação. Sei que a série New Super Mario Bros. tem seus fãs, e fez um importante trabalho ao apresentar a plataforma 2D a uma nova geração, mas eu não acho que isso seja suficiente. Não quando você possui um legado que é maior que a vida. Então quando o Wii recebeu um New Super Mario Bros. Wii que parece reciclar as ideias do seu antecessor para DS, eu me preocupei. Quando New Super Mario Bros. 2 para 3Ds reciclou a reciclagem, eu me preocupei ainda mais. E quando o grande título de lançamento do Wii U (perdão, Pikmin 3!), New Super Mario Bros. U, ameaça ser uma reciclagem da reciclagem da reciclagem (ufa...), eu tenho um pouco de medo do futuro.
Até New Super Mario Bros. Wii, todos os jogos principais da série recebiam aclamação universal da crítica e fãs, e não é para menos. Se os jogos do Mario continuam certamente sendo sinônimo de diversão, infelizmente parece que pararam de ser sinônimo de inovação e de nota 10 em críticas mundo afora. O grande problema aqui é que eu acredito que Mario há muito perdeu o direito de ser uma franquia que pode ser dar ao luxo de lançar jogos com nota inferior a 9.0. Mario não pode viver de nostalgia. Não essa série! Quando a Nintendo registrou a marca "Super Mario Bros. 4", minha mente começou a fervilhar com as possibilidades de um Reino dos Cogumelos em alta definição tirando proveito de todos os recursos do promissor controle do Wii U. Parece que o tal "4" do título acabou virando "U" e receberemos apenas mais um jogo nostálgico na forma de New Super Mario Bros. U. Mas e se Miyamoto e a Nintendo EAD tiverem uma carta na manga, e Super Mario Bros. 4 estiver sendo secretamente produzido para o Wii U, pronto para sacudir a indústria mais uma vez? É o sonho deste jogo que lhe convido a compartilhar comigo.
Super Mario Bros. 4 HD
A primeira coisa que um novo Mario precisa ter é um visual top de linha. Que fique claro, não sou um daqueles jogadores que acham gráficos mais importantes que o resto, que deixariam de jogar algo somente por seu visual arcaico. Mas não podemos fugir da realidade: Super Mario Bros., Super Mario Bros. 3, Super Mario World, Super Mario 64, Super Mario Sunshine e Super Mario Galaxy são todos jogos que levaram o visual de seus respectivos consoles até o limite da época. Para Mario voltar ao topo do mundo, é preciso deslumbrar os jogadores mais uma vez.
Até mesmo porque o poder do Hardware e um visual de ponta acabam trabalhando em favor da jogabilidade. Se você der uma olhada na concorrência, mais especificamente em Uncharted 3 para Playstation 3, vai ver que a Naughty Dog aproveitou o poder do console para realizar algumas novidades excelentes. Em determinada fase, o personagem está num barco em alto mar. Graças ao poder do console e à excelente programação, a cada vez que você joga o balanço do barco no oceano é diferente, pois as ondas foram programadas para ser aleatórias e caóticas. Ou seja, nenhuma partida é igual a outra. É algo pequeno, mas que abre um leque enorme de possibilidades. Eu não sou um gênio da programação, mas imagine o que mentes brilhantes como Shigeru Miyamoto podem fazer com o gênero plataforma tendo em mãos um console potente como o Wii U? O céu é o limite!
Outro elemento que precisa urgentemente voltar a sua melhor forma é a trilha sonora. Desde o belíssimo trabalho realizado em Super Mario Galaxy, estamos carentes de grandes composições. Não que as músicas compostas para a série New Super Mario Bros. sejam ruins, mas acho que todos os nintendistas concordam que elas não possuem aquela fagulha de genialidade que o mestre Koji Kondo coloca em suas músicas para a série principal. Um eventual Super Mario Bros. 4 precisaria, então, mesclar os épicos temas orquestrados de Super Mario Galaxy com os temas mais simples e viciantes de Super Mario World, ao mesmo tempo em que entrega novas melodias surpreendentes. Um trabalho difícil? Sem dúvidas. mas se alguém pode faze-lo é Koji Kondo, então deixem o homem trabalhar!
Jogar como nunca jogamos antes
Não se enganem, tudo o que eu escrevi até agora é importante. Mas o que eu mais espero de um eventual Super Mario Bros. 4 é que ele exploda a minha mente com um sistema de controle nunca antes visto, e inconcebível para nossos pobres cérebros mortais. Preciso de novos power ups que tragam ao Mario habilidades nunca vistas, não um simples resgate de itens icônicos que já provaram seu valor no passado. Se no modelo tradicional de videogames na televisão a Nintendo já sacudiu a industria com o poder de atirar fogo, voar com capas ou como guaxinins e abelhas, e até mesmo planar com um jato d'água, imagine o que não dá pra fazer agora que o Mario estará atuando em duas telas de jogo ao mesmo tempo? Lembre-se que não estamos mais jogando em três dimensões, agora são seis! Afinal, são duas telas. Que tal itens e inimigos que aparecem numa tela mas não em outra? Que tal Mario moldando o tecido do espaço-tempo e migrando da telona para a telinha para driblar obstáculos? Nas mãos da principal equipe de desenvolvimento da Big N, tenho certeza que um longo ciclo de desenvolvimento trará poderes inovadores e de diversão infinita.
O que eu quero passar neste texto não é um ceticismo quanto ao futuro da série, mas sim a vontade de que os esforços da Nintendo sejam redirecionados. Ao invés de lançar dois New Super Mario Bros. no mesmo ano, eu prefiro passar um tempo sem jogos do Mario e receber mais um clássico absoluto. Ao contrário de alguns fãs, eu não tenho vontade de jogar uma repaginação de Super Mario World. Eu não quero uma série de jogos que usam eternamente o mesmo esqueleto. Eu não quero o retorno de power ups que já provaram seu valor no passado. Mas acima de tudo, eu não quero que Mario caia no ostracismo e se torne obsoleto do mesmo modo que outros ícones sagrados da indústria (estou olhando pra você, Sonic). Quero que os jogos do Mario sejam "New" não apenas em seu nome, mas em sua essência, como sempre foram.
Pois enquanto existir videogame, vai existir a necessidade de termos um Super Mario Bros..A indústria precisa do herói em sua melhor forma, mas principalmente, eu preciso do meu herói para me mostrar que os videogames podem, com suas inovações, fascinar um adulto do mesmo modo que me fascinavam quando criança. Então que venham o Wii U, Super Mario Bros. 4 e, principalmente, que venha uma nova forma de jogar!
Revisão: Vitor Tibério