Soluções e estratégias. Essas duas palavras são essenciais para todo bom jogador que deseja atravessar os obstáculos de um game e conquistar a vitória. O problema é que alcançar esse objetivo nem sempre é uma tarefa simples. Mas pode ser. Maneiras mais fáceis para conquistar objetivos em um jogo existem e basta apenas um pouco de foco e determinação para encontrá-las. E para auxiliar nossos intrépidos aventureiros eletrônicos eis surge um princípio básico, mas pouco conhecido da lógica.
Da maneira mais simples
Apesar do nome estranho, a “navalha” da Navalha de Ockham (ou Navalha de Occam) não tem nada de perigosa. Ela é apenas uma metáfora para o principio lógico de formulação atribuída ao frade franciscano inglês William de Ockham. A ideia já havia sido elaborada pelo filósofo grego Aristóteles, mas foi na obra desse frade (Ordiniato), que o princípio ganhou força e reconhecimento. A formalização do princípio pode parecer um pouco complicada, mas ironicamente pode-se realizar uma explanação simples falando apenas o necessário.
Sendo assim, o principio da navalha de Ockham afirma que a explicação para qualquer fenômeno natural, físico ou de qualquer outra fonte, deve assumir apenas as premissas estritamente necessárias à sua explicação, pois a própria natureza seria em si econômica. Portanto, todas as outras explicações que não causariam qualquer diferença significativa devem ser descartadas, encaminhando-se para o resultado mais simplista. Em outras palavras, utilizar a “navalha” de Ockham nada mais é do que se ater a explicação, solução ou resposta mais simples, quando as demais forem idênticas ou complexas demais. A famosa citação do frade é um dos melhores exemplos de “navalhada” na enorme explicação dada acima:
“Se em tudo o mais forem idênticas às várias explicações de um fenômeno, a mais simples é a melhor”
– William de Ockham
A ideia de Ockham se baseia em grande parte na filosofia do reducionismo, onde (como o próprio nome diz) as soluções para perguntas complexas como “Quem somos?”, “De onde viemos?” e “Para onde vamos?” possuem respostas das mais simples e diretas possíveis, ou seja, reduzidas. E é também graças a esse princípio que a ciência da heurística (estudo do método científico) possui seu alicerce mais forte podendo gerenciar assuntos como economia, problemas computacionais e até estudos cosmológicos da maneira mais simplória possível.
Infelizmente, não foram todos que concordaram com a ideia simples, mas poderosa de Ockham. Grandes filósofos como Leibniz, Kant e Karl Menger discordaram da maneira como o frade reduziu as mais diversas explicações, descartando as mesmas em prol de apenas uma resposta. Para eles, se uma situação específica fosse imaginada como uma equação matemática, utilizar a Navalha de Ockham para procurar sua resposta seria o mesmo que eliminar boa parte das variáveis em busca de um resultado mais simples que, nem sempre seria o mais correto. A discordância entre os intelectuais foi tanta que Menger chegou até a criar a sua Lei da Avereza que tinha como ideia principal que "as entidades não podem ser reduzidas até ao ponto da inadequação". Ou seja, nada pode ser simplificado tanto a ponto de se tornar ridiculamente simples.
Apesar de tantas discussões sobre um princípio tão simplório, é inegável que ele pode ser aplicado e seguido nas mais diversas áreas. Em especial nos jogos.
Quanto menor o esforço, melhor
O fundamento por trás da Navalha de Ockham torna-se extremamente útil ao transpô-lo para o mundo dos jogos. É incrível a relação que tal ideia pode estabelecer com as aventuras experimentadas tanto em jogos de plataformas antigas quanto novas. Todos os estilos, desde jornadas épicas até batalhas alucinantes, têm seus caminhos especiais. Ou seja, cada um possui uma maneira de se chegar aonde se deseja sem muito trabalho, cansaço ou vontade de jogar o controle na televisão.
Por exemplo, jogar Super Mario World é se aventurar por uma jornada basicamente linear, onde você deve passar por cada nível para alcançar o final do jogo. No entanto, se uma maneira mais simples e menos trabalhosa para encarar o vilão Bowser e salvar a Princesa Peach é o que você deseja, basta utilizar um pouco de perspicácia para descobrir o Star Road e chegar à batalha final em pouquíssimo tempo de jogo. Até mesmo em jogos de pancadaria pura como Killer Instinct, uma estratégia mais simples como imobilizar seu inimigo em um canto e atacá-lo ferozmente com golpes certeiros pode ser melhor do que torcer os dedos para tentar realizar um combo e nocautear o oponente.
A série Zelda é mais um exemplo prático de que aplicar esse princípio lógico pode ser vantajoso para poupar horas de investigação e busca. Desde Ocarina of Time até Skyward Sword, procurar uma maneira mais simples de resolver um enigma ou derrotar um inimigo poderoso é crucial para prosseguir na jornada do bravo herói da lenda. Às vezes torna-se mais prático encontrar um atalho que livre o jogador de desafios e obstáculos desnecessários ou confiar apenas no poder da Master Sword para finalizar os inimigos mais truculentos. É indiscutível que explorar cenários e batalhar das formas mais incríveis possíveis são experiências essenciais e marcas registradas da série. Porém, não é nenhum crime querer facilitar essa aventura apenas um pouquinho.
Mesmo em títulos mais recentes como a série Super Mario Galaxy é importante perceber que existe sempre uma maneira mais simples de galgar o progresso pelo jogo. Evitar confrontos desnecessários e buscar rotas mais lineares são algumas opções que tornam a exploração galáctica do bigodudo mais fácil. Da mesma forma, em Super Smash Bros. Brawl, apesar dos combates parecerem completamente caóticos em certos momentos, vale a pena procurar uma estratégia alternativa para finalizar as lutas mais rapidamente. Focar em apenas um oponente por vez e atacá-lo incessantemente até se cansar é uma forma simplória, mas bastante efetiva de sair vitorioso nas lutas dos grandes heróis da Big N.
Com certeza sempre haverá aqueles jogadores “hardcores” que preferem passar por desafios, se desgastarem em missões complicadas ou apanhar duramente de inimigos implacáveis. Porém, também existem aqueles que apenas estão em busca de uma boa diversão, talvez um ou dois desafios, mas desejam cumprir seus objetivos principais da maneira mais rápida e prática. E é para isso que a Navalha de Ockham está aí. Portanto, podem usá-la sem medo ou receio, pois o máximo que ele pode acabar cortando são alguns momentos de desespero procurando por uma solução quando a mais simples de todas está bem diante de nossos olhos.
Revisão: Leandro Freire
