Entre sonhos e corações, luz e trevas, passado e presente…
Diante da previsão de que Xenahort retorne, Yen Sid manda Sora e Riku a 7 mundos adormecidos para abrir os Keyholes lá existentes, como forma de mostrarem seu potencial e assim galgarem o título de Keyblade Masters. Tal provação responde pelo nome de Mark of Mastery. E não serão Heartless ou Nobodies que se colocarão em seu caminho, mas sim Dream Eaters, criaturas originadas de sonhos. Se você se sentiu perdido com essa introdução do roteiro de Dream Drop Distance, provavelmente ficará perdido ao jogar o game, pois essa é apenas a ponta do iceberg. Enquanto os outros games da serie Kingdom Hearts mantinham uma certa independência em seus enredos, a história desse novo título se conecta com absolutamente todos os jogos anteriores.Fãs da série adorarão a relação que é feita entre as aventuras passadas, mas novatos se sentirão no olho de um furacão. Ok, existem resumos escritos dos games anteriores que podem ser lidos em Dream Drop Distance, mas quem, no meio de um dinâmico jogo de ação, pausará a jogatina para ler textos e mais textos sem qualquer animação para contar a história?
E mesmo os fãs mais fieis da franquia se sentirão confusos. A filosofia criada pela Square Enix para explicar as trevas, luz, sonhos, realidades paralelas, corações e viagens no tempo que se entrelaçam no enredo de Dream Drop Distance são muito confusas. Jogar pelo menos uma segunda vez é necessário para extrair todo o conteúdo do roteiro do jogo. Tal confusão, no entanto, não se aplica às aventuras independentes pelos mundos da Disney. É interessante como Sora e Riku vivem aventuras paralelas que aproveitam bem a história das obras da Disney. A troca entre os dois herois é feita pelo Drop System, que obriga o jogador a utilizar outro personagem quando sua Drop Gauge chega ao fim. O recurso, inicialmente, irrita, mas, com o tempo, mostra-se importante para manter as duas histórias atualizadas. O problema maior é que o Drop Gauge parece insistir em instinguir-se durante as lutas contra chefes, forçando o jogador a repetí-las. E já dissemos que os mundos da Disney aqui são novos? Tudo bem que não trazem a grandiosidade de uma aventura pirata ao lado de Jack Sparrow ou de uma viagem ao submundo na companhia de Hércules, mas é muito bom mergulhar em mundos que não sejam os mesmos que visitamos exaustivamente nas aventuras anteriores.
E mesmo os mundos já conhecidos, que são bem poucos, receberam uma cara nova. Travesse Town, por exemplo, é palco do Reaper's Game, logo, voce não só interagirá com todo o elenco de The World Ends With You (DS), como também visitará uma versão da cidade repleta de pichacões e grafites pelas paredes. Tetsuya Nomura (diretor) foi feliz em incluir os personagens do sucesso para DS em Dream Drop Distance: o "choque" de identidades é muito interessante.
Saquem suas Keyblades!
A parte funcional de Dream Drop Distance é familiar para quem já curtiu outros games da série. Na verdade, é triste ver a Square Enix reaproveitando tanta coisa dos jogos passados, desde várias vozes até inúmeras animações de batalha, passando por toda a estrutura dos menus e efeitos sonoros. Infelizmente, não se trata de uma reciclagem com cara nova (como acontece com a série The Legend of Zelda), mas de uma mera reutilização. No entanto, apesar de reaproveitadas, a mecânica funciona muito bem. Andar, pular, conversar e lutar continua fácil e prático, mas Dream Drop Distance resolveu ousar mais um pouco em sua jogabilidade. Duas mecânicas novas de batalha são muito bem vindas para a série. A primeira (e a mais interessante) é o Flow Motion, que permite uma movimentação divertida e fluida pelos cenários do jogo.Deslizar por corrimões, quicar nas paredes, pegar impulso nos muros para pular alto e girar em postes, tudo funciona muito melhor do que as experiências passadas com o aspecto "plataforma" da serie Kingdom Hearts nos mostravam. Além de fluido, o Flow Motion permite ataques especiais nas batalhas, um acréscimo que com certeza permeará os próximos jogos da franquia. A câmera é controlada pelos botões L e R. Quem se incomodar com tal recurso pode utilizar o Circle Pad Pro para ter um segundo Circle Pad à disposição para manusear a câmera, mas a opção de usar o L e R não é de longe ruim, principalmente pela eficiência do lock-on (travar a mira em um adversário) do jogo.
A segunda mecânica nova é o Reality Shift, que utiliza a touchscreen para executar comandos de batalha específicos de cada mundo. Infelizmente, o recurso é muito repetitivo e nem todas as suas utilizações são satisfatórias. Por exemplo, enquanto o mundo The Grid (de Tron: Legacy, 2011) e Symphony of Sorcery (de Fantasia, 1940) aproveitam bem os comandos pela tela de toque, outros como La Cité des Cloches (de O Corcunda de Notre Dame, 1996) são desinteressantes. Esses dois aspectos de Dream Drop Distance garantem a esse jogo o posto de melhor Kingdom Hearts em questão de batalhas. Mas não seria justo não citar o Command Deck, sistema de comandos de batalha reaproveitado de Birth by Sleep (PSP). Este esquema permite utilizar facilmente magias, itens e golpes especiais - e a variedade deles pelo jogo garante uma diversidade gigantesca de batalhas.
Temos que pegar!
Ainda não é o momento de voltar a ter Donald e Pateta como fiéis escudeiros, mas não é por isso que a Square Enix deixou Sora e Riku sem companheiros de luta, como ocorreu em Birth by Sleep. Dream Drop Distance utiliza os Dream Eaters não só como inimigos, mas também como aliados. Os Nightmares são as versões hostis das criaturas, que sempre surgirão para atrapalhar a vida de Sora e Riku. Pode parecer estranho enfrentar seres tão coloridos depois de ter lutado contra criaturas bem sombrias nos games anteriores, como Heartless, Nobodies e Unverseds, mas a variedade e a beleza dos Nightmares fazem deles grandes adversários. Já os Spirits são Dream Eaters domesticáveis. Com os materiais e/ou a receita certa, é possível criar Spirits do zero para que ajudem o jogador nas batalhas.Há muitos Spirits para criar, um toque "Pokémon" a mais, ainda mais por que é possível enfrentar os companheiros de outros jogadores por Street Pass no modo Flick Rush e usá-los em sua aventura. Também é possível encontrar Link Portals pelo mapa, que trazem desafios rápidos e divertidos – muito bons para um jogo portátil. Mas não se trata apenas de criar, é preciso também brincar com seus Spirits em minigames de realidade aumentada, acariciá-los (à la Nintendogs) e customizá-los através de uma árvore de habilidades (muito semelhante ao Stat Matrix de Re:coded, para DS). O recurso é muito bem explorado, permitindo uma infinidade de estratégias e a possibilidade de carimbar um toque pessoal à sua aventura.
O ápice dos Spirits acontece quando eles estabelecem o elo mais poderoso com o protagonista, momento em que é possível ativar o Dual Link. Tal recurso permite um ataque final muito poderoso, semelhante ao Limit Break de 358/2 Days (DS). Quando utilizado por Sora, o Dual Link aproveita um estilo de jogabilidade diferente do tradicional, como um mini-game de ritmo ou até atirar bolhas nos adversários. Já com Riku, o Spirit empresta sua característica aos ataques com a Keyblade do herói, dando margem a não só uma das mais poderosas técnicas da série, como também muitas das mais bonitas animações de batalha. Acredite: vale a pena criar e brincar com seus Spirits.
Um sonho que vira realidade
A direção de arte de Dream Drop Distance segue o pedigree da série Kingdom Hearts: excelente. Graficamente, o jogo é páreo para Resident Evil: Revelations (3DS) e outras beldades do 3DS. As imperfeições vêm apenas através de texturas em baixa qualidade (como nos detalhes das roupas das personagens), em ocasionais, mas irriantes, slowdowns, com quedas na taxa de quadros por segundo, e em cenários por vezes vazios e sem graça.Mas, fora isso, prepare-se para um dos mais lindos games do 3DS, repleto de efeitos visuais exagerados e cutscenes excelentes. O efeito 3D é comparável ao de The Legend of Zelda: Ocarina of Time 3D (3DS), ou seja, não altera a jogabilidade, mas a imersão é muito boa. O momento em que o recurso se aproxima de Super Mario 3D Land (3DS) em matéria de utilidade é no Dive System, espécie de mini-game que lembra Kid Icarus: Uprising (3DS) e outros shooter em trilhos, em que é preciso cumprir certos objetivos para adentrar nos mundos da Disney. O Dive System é uma das melhores introduções nos mundos do jogo, equiparável ao Gummi Ship de Kingdom Hearts II (PS2).
A trilha sonora é não menos interessante. Apesar da abertura do jogo insistir em uma canção já usada em games passados, não deixa de ser uma melodia invejável. O mesmo se aplica às outras músicas clássicas que reaparecem em Dream Drop Distance. O uso de novos mundos da Disney possibilitou a criação de canções novas, que também mantém uma ótima qualidade. E destacam-se as musicas de Country of Musketeers (de Mickey, Donald e Pateta: Os Três Mosqueteiros, 2004) e La Cité des Cloches, com ênfase ainda maior em Symphony of Sorcery, mundo em que a trilha sonora e efeitos são elementos de gameplay.
E o que dizer das dublagens? Elas acompanham o jogo do início ao fim e conseguem trazer um toque bem cinematográfico à aventura. Os personagens de The World Ends With You, que estão recebendo um trabalho de dublagem muito maior do que no seu jogo original, também surpreendem na qualidade das dublagens… exceto por, pessoalmente, eu ter torcido o nariz para a voz e a atitude de Joshua em Dream Drop Distance.
Sonho ou pesadelo?
Kingdom Hearts 3D: Dream Drop Distance cumpre bem sua proposta no 3DS, presenteando os jogadores com um RPG de ação muito bem elaborado e divertido, além de saciar a paixão dos fãs com um enredo complexo que dá mais um passo (talvez o último) em direção a Kingdom Hearts III. É certo que o roteiro é confuso, que slowdowns existem, que elementos de plataforma continuam frustrantes e que os novos mundos da Disney utilizados não têm o esplendor dos antigos mundos visitados, mas não há dúvidas também de que Dream Drop Distance é um excelente jogo. Ele não só traz o melhor dos games anteriores da série, como também implementa mecânicas que ficarão marcadas nos próximos 10 anos de vida da franquia. Acredite: você terminará o jogo ainda cheio de dúvidas quanto à história, mas com muita saudade de realizar acrobacias pelas ruas de Traverse Town e de pulverizar Nightmares na companhia de seus leais Spirits.Prós
- Visuais estonteantes estão entre os mais belos do 3DS
- Trilha sonora invejável, repleta de músicas ótimas e dublagens convincentes
- Batalhas divertidas envolvem inimigos variados
- Flow Motion é um recurso ilustre para a série
- Enredo consegue juntar todos os games da franquia
- Inclusão de novos mundos da Disney é muito bem vinda, além da inserção do elenco de The World Ends With You a Traverse Town
- Possibilidade de poder jogar com dois personagens icônicos: Sora e Riku
- Dive System é uma maneira bem divertida de entrar nos mundos do jogo
- Quase todos os recursos do 3DS são aproveitados
Contras
- Muita coisa foi copiada e colada dos jogos anteriores
- Drop System é péssimo em batalhas contra chefes
- Alguns elementos de plataforma frustram
- Reality Shift é repetitivo e nem sempre interessante
- Slowdowns e quedas na taxa de quadros por segundo atrapalham
- Mundos novos da Disney não são tão divertidos quanto os anteriores
Kingdom Hearts 3D: Dream Drop Distance - 3DS - Nota Final: 8,5
Gráficos: 8,5 | Som: 9,0 | Jogabilidade: 9,0 | Diversão: 9,0
Não deixe de ler uma segunda versão dessa análise da 36ª edição da Revista Nintendo Blast, que será lançada até o fim desse mês!
Revisão: Jaime Ninice