Quando foi anunciado, Theatrhythm Final Fantasy foi motivos de vários questionamentos: realmente precisamos de um Final Fantasy musical? E que nome estranho é esse? Mas a maior preocupação dos jogadores era a possível qualidade duvidosa do título. Felizmente a Square-Enix produziu um jogo completo e divertido, com apelo tanto para os fãs da série quanto para os adoradores de games de ritmo.
Com o slogan “Play your memories” (ou “Jogue suas memórias”), o público alvo é justamente quem jogou boa parte dos episódios da série, mas as composições são tão memoráveis que provavelmente irá agradar também jogadores.
Um novo confronto entre os deuses
Os deuses Cosmos e Chaos, de Dissidia Final Fantasy, são novamente o motivo da reunião de heróis. O espaço entre os dois deuses é chamado de “ritmo” e ali se encontra um cristal que cria a música. As forças malignas de Chaos acabam afetando o poder do cristal, comprometendo a harmonia do universo. Cosmos convoca seus guerreiros mais uma vez, com a tarefa de coletar uma onda musical chamada “Rhythmia” e usá-la para restaurar o cristal, trazendo equilíbrio para o mundo novamente. A história é simples e mal é mencionada durante o game, mas convenhamos que é até uma boa desculpa para revisitar 25 anos de música de uma das séries mais populares de RPG.
Dessa vez foi escolhido um visual mais caricato para os personagens, utilizando o estilo do sistema de avatares de Kingdom Hearts Re:coded. O efeito 3D é sutil e dá a sensação de que tudo não passa de um monte de gravuras se mexendo, como se fosse um livro pop-up. O resultado é um jogo simples, colorido e bonito, por mais que alguns não se apeteçam por esse estilo. O áudio recebeu tratamento especial, com músicas em alta qualidade, melhores apreciadas com um bom fone de ouvido.
Revisitando o passado
A jogabilidade de Theatrhythm é bem simples: o jogador deve acompanhar a melodia através de toques e gestos na tela inferior do 3DS, basta executar o comando correto quando a nota passar pelo marcador. Como em todo jogo de ritmo existem várias avaliações para a performance, sendo Miss a pior e Critical a melhor. Ao final de cada canção o desempenho é analisado, resultando em pontos de experiência para os personagens e Rhythmia, a onda musical da história e que serve para desbloquear conteúdo.
Todos os episódios numerados da série Final Fantasy estão presentes em Theatrhythm, da primeira aventura no NES até o mais recente Final Fantasy XIII. Através do Series Mode é possível reviver todos esses títulos, bastando escolher um dos jogos. São cinco músicas em sequencia e consistem de canção de abertura, tema de campo, tema de batalha, evento e canção de encerramento, cada uma destas apresentam nuances próprias. Uma vez vencidos os desafios no Series Mode, as canções ficam disponíveis no Challenge Mode, onde podem ser jogadas independentemente.
Após algum tempo de jogo é liberado o modo Chaos Shrine. Ele consiste em desafios de duas fases jogadas em sequência, uma de campo e outra de batalha, sendo que as notas das músicas são diferentes e o desempenho do jogador afeta os chefes enfrentados e a dificuldade. É possível compartilhar estes percursos via StreetPass, junto de informações como tempo de jogo e objetivos conquistados. É um modo que oferece um desafio considerável e crescente.
Ritmos variados
Transferir a sensação de um RPG para um jogo de ritmo não é uma tarefa fácil, mas os desenvolvedores da Indies Zero conseguiram reproduzir as principais mecânicas e características da série. Para isso a jogabilidade foi quebrada em três estilos: Field (campo), Battle (batalha) e Event (evento).
No modo Field, o jogador conduz o personagem por cenários do game relacionado à música. O objetivo é acertar as notas para fazer o herói correr. Neste modo as notas de manter a stylus pressionada na tela assumem formas sinuosas, sendo necessário movê-la verticalmente para não errar.
Já o modo Battle, como o nome diz, reproduz uma típica batalha contra monstros. Aqui o grupo de personagens se mantém à direita da tela e ataca os inimigos que aparecem incessantemente. Para atacar, basta acertar as notas, erros fazem os heróis perderem energia. É o modo mais frenético e intenso, bastam alguns poucos erros para falhar.
A terceira e última variação é o Event, o mais simples dos três. No fundo da tela é mostrado um vídeo com cenas do jogo, enquanto um cursor se move pela tela. Quando cursor e nota se sobrepõem o gesto deve ser feito. O problema aqui é o fato de ser difícil se concentrar no vídeo e nas notas simultaneamente, sem contar também com os gestos repetitivos e sem muita relação com a melodia.
Para deixar as coisas mais interessantes existe a Feature Zone, um trecho da música no qual as notas ficam prateadas. Ao acertar corretamente todos os comandos algo especial acontece. No modo Field o personagem se torna um Chocobo, ganhando um grande aumento de velocidade e aumentando a possibilidade de encontrar itens. Quando em batalha, a zona permite invocar criaturas como Shiva e Ifrit, que usam ataques poderosos. Já em eventos, o uso habilita uma versão estendida da música.
Treinando para a vitória
O aspecto RPG de Theatrhythm fica por conta da evolução de personagens: eles recebem experiência ao participar das canções e sobem de nível, ganhando habilidades e melhorias de status. Estes atributos influenciam o desempenho nas músicas, de acordo com o modo. Heróis que contam com maior agilidade são ideais para as fases de campo, já que correm mais rápido. Em batalha, personagens com maior força e magia são os recomendados, pois conseguem derrotar os inimigos rapidamente. E algumas magias como Cura são essenciais ao enfrentar dificuldades mais difíceis, nas quais os personagens perdem pontos de HP mais rápido. Tudo isso ajuda a completar as canções, mas a customização pode ser completamente ignorada sem comprometer a experiência de jogo.
Um mundo de conteúdo
Quem decidir se aventurar pelo título não vai se decepcionar com a quantidade de conteúdo. São por volta de 70 canções, com três variações de dificuldade para a maioria delas. Muita dedicação é necessária, já que a diferença entre a dificuldade média e avançada é bem acentuada. O único ponto negativo é o fato das músicas estarem intocadas, sendo as versões arranjadas utilizadas exclusivamente nos menus.
Não está completamente satisfeito com a seleção? Isso não é problema, já que Theatrhythm é o primeiro jogo de 3DS a oferecer conteúdo extra pago (ou DLC). A loja pode ser acessada do menu principal e a experiência de compra é a mesma encontrada no eShop. Cada canção custa R$2, mas infelizmente o jogo não oferece maneiras de ouvir um trecho antes da compra.
Existe também uma sessão de museu, no qual é possível ver os cartões coletados, troféus liberados e músicas desbloqueadas, além de vários outros status. Quem desejar completar o jogo vai ter muito trabalho.
Uma bela homenagem
Theatrhythm Final Fantasy não é um simples caça-níquel, o game foi cuidadosamente desenvolvido e é uma ótima maneira de comemorar os 25 anos da série. Os fãs vão adorar reviver os melhores momentos da saga, enquanto quem não liga pode se divertir com o sistema de jogo sólido e as várias opções de customização. Se você gosta de games de ritmo, Theatrhythm é essencial.
Prós
• Extensa quantidade de conteúdo;
• Áudio de qualidade excelente;
• Jogabilidade simples e desafiante;
• Aspecto RPG bem integrado à mecânica de ritmo.
Contras
• A modalidade “Event” é fraca e desinteressante;
• Impossibilidade de ouvir trechos das músicas no menu de DLC;
• Composições completamente intocadas, sendo as versões arranjadas exclusivas para os menus.
Theatrhythm Final Fantasy - Nintendo 3DS - Nota Final: 8,5
Gráficos: 7,0 | Som: 9,0 | Jogabilidade: 8,0 | Diversão: 8,5
Revisão: Jaime Ninice