Blast from Japan: Rudra no Hihou (SNES)

em 11/06/2012

Diz o ditado: "As palavras têm poder". É justamente nessa premissa que é construído todo o sistema de jogo de Rudra no Hihou (ルドラ... (por Farley Santos em 11/06/2012, via Nintendo Blast)

nintendo_blast_rudra_no_hihou_00 Diz o ditado: "As palavras têm poder". É justamente nessa premissa que é construído todo o sistema de jogo de Rudra no Hihou (ルドラの秘宝, literalmente "O tesouro dos Rudras"). Neste curioso RPG de Snes, a magia é feita através de mantras, palavras que evocam poderes místicos, sendo possível desferir feitiços com qualquer combinação de letras criada pelo jogador. Lançado em 1996 pela Squaresoft, Rudra é mais um caso de RPG que não saiu do Japão e que faz os jogadores lamentarem o fato da língua daquele país ser tão complicada.

O fim do mundo em 15 dias

Rudra no Hihou pega emprestado conceitos do hinduísmo para construir o universo e a trama. Segundo o hinduísmo, o mundo sempre passa por ciclos de renovação, sendo de tempos em tempos tudo destruído e depois reconstruído por um Rudra, uma das manifestações de Shiva, o deus da renovação. Neste universo, a cada ciclo de 4000 anos, as criaturas são eliminadas e o mundo é habitado por novos seres. Quatro raças já sofreram erradicação quase completa: os danans, os répteis, as sereias e os gigantes. Agora é a vez dos humanos e o prazo está bem próximo: em 15 dias os Rudras despertarão de seu sono e destruirão a humanidade. Os deuses nem precisavam esperar até o fim do ciclo, já que os humanos estão poluindo e destruindo o planeta pouco a pouco.

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O jogador acompanha a história de três grupos distintos de personagens, suas relações com os Rudras e o fim iminente. Sion é um simples cavaleiro que quer ser somente o mais forte, mas depois de alguns acontecimentos inesperados ele parte em uma jornada. Já o arqueólogo Surlent estuda profecias e artefatos, em suas pesquisas ele descobre a erradicação dos humanos e decide tentar impedir o fim de tudo. Já Riza é uma jovem sacerdotisa que sai de sua vila por sentir que ela tem um papel mais importante para desempenhar no destino do mundo. Em suas aventuras os personagens se encontram várias vezes e suas tramas se complementam.

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Três sagas

nintendo_blast_rudra_no_hihou_05 Uma das características principais de Rudra no Hihou é o fato de poder jogar com cada um dos três grupos independentemente. Existe um arquivo para cada personagem e é possível escolher qualquer um em qualquer momento. A progressão da história é contada em dias. Conforme eventos-chave vão acontecendo, o tempo vai passando. Mas dia e noite só avançam se o jogador prosseguir pela história. E a destruição é bem enfatizada, o jogo sempre avisa: "Faltam x dias para o fim do mundo".

Como em todo RPG, boa parte do tempo é gasta lutando. As batalhas são bem tradicionais, utilizando o sistema de turnos. É possível escolher a qualquer momento em que ordem os aliados executarão suas ações, adicionando um fator estratégico. Tecnicamente o jogo lembra muito as principais franquias de RPG da Squaresoft para o console, sendo este muito similar a Final Fantasy VI.

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O poder da palavra

nintendo_blast_rudra_no_hihou_08 O maior destaque é o sistema de magia, apropriadamente nomeado de "mantras". Neste mundo os personagens não aprendem novas habilidades ao subirem de nível, é necessário criar mantras para utilizá-los em batalha. Para isso basta acessar o menu e escrever uma nova palavra na lista. Isso mesmo, cada palavra é uma magia diferente. Por exemplo, se o jogo levasse a língua portuguesa como referência para construir os mantras, a palavra "fogo" produziria uma magia de fogo e assim por diante.

Mas as coisas não são tão simples assim. O game usa o alfabeto fonético katakana para a construção de mantras, o que complica muito a tarefa para nós, ocidentais. E escrever palavras aleatórias não levam aos melhores resultados. Existe um conjunto de regras a ser seguidas para que as magias sejam de fato eficientes. Tomemos por exemplo um feitiço de fogo. Para produzi-lo é necessário escrever イグ (igu). Se o sufixo ナ(na) for adicionado, resultando em イグナ (iguna), ele acertará todos os inimigos, com poder reduzido. E se por fim adicionarmos o prefixo グラン (guran), formando グランイグナ (guraniguna), o resultado será uma poderosa magia de fogo que acertará todos os inimigos. Ou seja, prefixos e sufixos alteram as propriedades das magias básicas, podendo também transformá-las em feitiços de suporte. Existem casos especiais como a magia de fortalecimento パワーアップ (powaaapu, do inglês “power up”), mas com o básico já é possível fazer boa parte dos feitiços.

nintendo_blast_rudra_no_hihou_09O mantra “igu” e sua forma mais poderosa “iguna” 

Como saber se os mantras são efetivos? Uma das maneiras é através de tentativa e erro, algo não muito recomendado devido a elevada quantidade de possibilidades, que ultrapassa a casa dos milhões. Outra maneira é através de outros personagens, as pessoas nas cidades dão dicas de como construir os feitiços e às vezes até oferecem mantras completos. Investigar em livros também é bem útil para descobrir novas palavras. Por fim é possível aprendê-los através dos inimigos, já que o mantra utilizado sempre aparece na tela. Dominar esse sistema é essencial, já que as batalhas contra chefes são bem difíceis e é necessário enfrentá-los com magias que explorem suas fraquezas. E claro, nada impede do jogador olhar os mantras em outro lugar e colocar os mais poderosos na sua lista logo no início do jogo, por mais difícil que seja utilizá-los por conta do alto custo de pontos de magia.

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Uma barreira linguística

nintendo_blast_rudra_no_hihou_12 A desculpa da vez da Squaresoft foi que o sistema de mantras era muito complicado de ser convertido para os caracteres ocidentais. Muito tempo seria necessário para desenvolver um novo sistema e como o game foi lançado no fim da vida do SNES era bem capaz que a localização fosse concluída somente quando outros consoles já estivessem estabelecidos no mercado. Sendo assim, Rudra no Hihou é mais um ótimo RPG que só pode ser usufruído pelos indivíduos que dominam a língua japonesa. E você, usaria que palavras? Que tipo de feitiço seria?

Jogabilidade:

Revisão: Thyago Coimbra

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é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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