O que aconteceria se você perdesse uma cerimônia que celebra a passagem da adolescência para a vida adulta? Se você fosse morador da ilha de Nanashi, é certeza que seria preso e precisaria pagar uma multa absurda para uma nova cerimônia. Esta é a situação de Pockle, protagonista de GiFTPiA, curiosa aventura de comunicação para GameCube. Na verdade “estranho” seria a melhor palavra para descrever este jogo, que nunca viu a luz do Ocidente.
Desenvolvido pela Skip Ltd (Chibi Robo, série Art Style) e lançado em 2003 no Japão, GiFTPiA teve Kenichi Nishi (Chrono Trigger, Super Mario RPG) como diretor e até mesmo Shigeru Miyamoto como produtor. O nome vem da junção das palavras gift (presente) e utopia, que resumem o foco do jogo na troca de itens e comunicação entre personagens.
Uma multa exorbitante
Na ilha de Nanashi todos os habitantes passam por uma importante cerimônia de passagem para a vida adulta e só é considerado adulto de fato quem participa deste evento. Pockle, o protagonista do jogo, dorme demais e perde a cerimônia. Todos na ilha ficam irados de tanto esperar, especialmente o prefeito, que decide prender Pockle por desrespeito aos costumes da ilha. O garoto é julgado e fica decidido que ele terá que pagar uma multa de 5 milhões de Mane, a moeda da ilha, para poder fazer uma nova cerimônia e enfim se tornar um adulto.
Sendo assim, Pockle começa a fazer pequenas tarefas para juntar o montante necessário. Tarefas simples como pescar, entregar itens e vender frutas. Durante suas tarefas ele conhece Ziggy, uma espécie de hippie que nunca participou da cerimônia. O senhor defende que é possível se tornar adulto sem a necessidade de cerimônias ou dinheiro e oferece um ensopado de cogumelos para o garoto. Logo após comer, Pockle começa a ver alucinações e conhece a fada do cogumelo. A fada revela que para se tornar um adulto o garoto precisa tornar realidade os desejos das pessoas. Ele recebe uma gema e com a ajuda desta é possível descobrir os desejos das pessoas. Dessa forma Pockle trabalha para realizar desejos e se tornar adulto no processo.
Bizarras limitações
Não é só a história que é maluca, mas também algumas características da jogabilidade. Assim que sai da prisão, Pockle é limitado por vários fatores. Ele veste uma roupa de prisioneiro, tem uma bola de aço acorrentada a uma de suas pernas e é sempre escoltado por um robô policial. Mas a mais estranha de todas é uma espécie de censura: o rosto do garoto fica pixelizado, parecendo aquelas distorções de rostos de criminosos utilizada na TV. Existe também um toque de recolher e caso ele não esteja na cama na hora certa, fantasmas podem fazê-lo adormecer no meio da rua, sendo itens e dinheiro roubados no processo.Conforme realiza tarefas e ganha dinheiro, estas limitações vão sendo removidas pelo prefeito, permitindo que Pockle possa aproveitar melhor seus dias.
O sistema de jogo de GiFTPiA consiste em pequenas missões. De início são trabalhos simples como encontrar cogumelos, pescar e entregar itens, mas conforme a trama avança as coisas vão ficando mais complicadas, sendo necessário conhecer a rotina dos moradores da ilha para ter sucesso, já que conflitos interpessoais são comuns. Muitas das tarefas precisam ser resolvidas através de puzzles e minigames. É um game calmo e relaxante, afinal praticamente não existe ação, bem na linha de Animal Crossing.
Conversando em “giftpianese”
Completando o pacote de peculiariedades, GiFTPiA tem uma apresentação coerente com a proposta. Os gráficos são bem coloridos e animados, com personagens no estilo cel-shading. O estilo dos personagens é incomum, com características físicas exageradas. E eles conversam em giftpianese, a estranha língua da ilha, que é uma mistura de inglês e japonês.
Outro ponto interessante é a parte musical. Ao invés de existirem músicas fixas em cada área, toda a trilha sonora é tocada pela Nanashi FM, a rádio local. A cada dia uma canção é escolhida e é tocada até o anoitecer pelos vários alto-falantes espalhados pela ilha. Um conjunto de artistas independentes foi chamado para criar as composições, resultando numa trilha bem eclética, com estilos como tecno, hip hop e ópera.
Estranho demais
As desventuras de Pockle nunca apareceram no Ocidente. O jogo chegou a ser mostrado em inglês durante a E3 de 2003, mas nunca chegou a ser lançado de fato. Quando questionada, a Nintendo respondeu que a localização foi cancelada pois chegaram a conclusão que o jogo era estranho demais para o mercado ocidental. No Japão, o game recebeu boas avaliações, mas vendeu pouco, algo que também deve ter influenciado na decisão da Nintendo of America.
No mais GiFTPiA é mais um daqueles jogos obscuros e estranhos, que ganharia o status “cult” facilmente. Fiquei bem curioso em conferir o game. E vocês, o que acham dele?
O game em ação:
Revisão: Leandro Freire