Em cima, em cima, embaixo, embaixo, esquerda, direi- Ei, espera um pouco, este jogo não aceita o Konami Code! Mas é um Contra! Pior, é um Super Contra! E todos sabemos que no mundo dos jogos eletrônicos “Super” significa super inimigos aparecendo em todos os cantos, super tiros por todas as direções, super ação anabolizada, super chefões impossíveis, super saltos mirabolantes, super… céus, nós vamos morrer de novo, não vamos?
Contra II: a missão
Anteriormente, em Contra… descobrimos como a Konami clonou Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger e os inseriu em um cartucho de Nintendo 8 bits para lutar contra os alienígenas de Ridley Scott e salvar o planeta. Dois anos depois, em 1990, retornamos ao mesmo cenário: inimigos liderados pela mente maligna Red Falcon invadem a Terra, e cabe a dois valentes heróis salvarem a humanidade, e blá blá blá. Como num bom filme de ação, o que menos importa aqui é a trama, certo?
Assim como ocorreu no Contra original, cada canto do mundo recebeu sua própria versão do game, o que torna sua nomenclatura e, até mesmo, uma exposição da trama geral um tanto confusa. No ocidente, temos Super C, e os protagonistas são os soldados Mad Dog e Scorpion. No Japão, temos Super Contra. Na Europa, o game chegou como Probotector II: Return of the Evil Forces, onde os personagens foram mais uma vez substituídos por robôs genéricos.
Mais uma vez, há pequenas diferenças técnicas aqui e ali. Na versão para Famicon, é possível utilizar um código de seleção de fases, enquanto na versão para NES é preciso desbravar todo o terreno no braço. Mas, o mais importante é que, seja lá qual for a versão do game escolhida por você, trata-se de um dos melhores jogos de ação da geração 8 bits.
Hoje jantamos no inferno!
Sendo lançado tão pouco tempo depois do primeiro game, e com tantas similaridades na premissa geral, é fácil imaginar que Super C é um simples caça-níqueis, ou um mero “pacote de expansão” do primeiro jogo. Felizmente, nossos amigos da Konami trabalharam duro para criar um novo clássico ao invés de realizar uma mera reciclagem do material original. (Estou olhando pra vocês, continuações de Call of Duty: Modern Warfare!)
Os cenários ganharam complexidade com o acréscimo de escaladas. Explicando melhor, as fases do primeiro Contra contam apenas com plataformas horizontais intercaladas por precipícios aqui e ali. Como na maioria dos jogos de rolagem lateral, você anda apenas em linha reta, de um ponto de apoio ao próximo. Super C introduz diagonais, o que propicia muito mais variedade de jogabilidade. Novas maneiras de atirar e, claro, novas maneiras de morrer. Logo na primeira fase, enquanto você realiza sua terceira escalada, granadas são atiradas do fundo do cenário, numa impressionante demonstração de senso de profundidade.
Lembra como no primeiro Contra temos fases de escalada vertical? Que tal agora mergulhar nas profundezas de uma base alienígena num nível de scroll para baixo? Definitivamente quem fala “o que vem de baixo não me atinge” nunca jogou Super C! Aliás, todas as fases são mais ricas em detalhes e mais extensas que as originais, provando que o potencial do cartuchinho de Nintendo foi levado ao máximo possível para a época.
Dá força a esse argumento o fato dos gráficos serem bem mais bonitos que os originais, tornando as instalações militares, florestas, e bases orgânicas extraterrestres que você vai encarar muito mais complexas. Os novos efeitos sonoros também tornam a aventura muito mais imersiva. A atualização dos sons de explosão é ótima, mas o que é realmente legal é ouvir o som de trovões que estouram ao fundo da bela pintura de cenário logo na primeira fase. Tudo isso ao som de uma trilha sonora tão boa quanto, quiçá até melhor que a original.
Disposta a tirar o máximo da nova maratona de ação que é Super C, a equipe de desenvolvimento da Konami acrescentou ainda mais variedade ao inserir fases com visão aérea! Pense em Ikari Warriors e terá uma boa noção do esquema de controle. Manipular o personagem neste esquema é consideravelmente mais divertido que aquelas fases de invasão de base em terceira pessoa do primeiro Contra. Não é por acaso que esse estilo de jogabilidade, alternando fases de plataforma com níveis vistos de cima, fez tanto sucesso e serviu de esqueleto para o mega clássico Contra III: The Alien Wars, lançamento do Super Nintendo que marcou a vida de muita gente! Mas, isto é assunto para outro Blast from the Past.
Diga olá para o meu amiguinho
Para alegria geral da ação, a famosa Spread Gun, que divide os tiros em várias bolinhas que voam para todos os cantos, retorna em Super C. Bem como todos os power ups que você amou usar para trucidar aliens no primeiro game. Estão lá a Machine Gun, disparando projéteis a toda velocidade, a Laser Gun com sua eficácia questionável (sério, não é possível que só eu xingava a televisão ao pegar a laser gun acidentalmente!) e a Fire Gun, agora com um novo e mais eficiente padrão de trajetória.
Com tanto poder de fogo à disposição, fica a impressão de que Super C é levemente mais fácil que seu predecessor. Mas isso é como dizer que correr dez quilômetros é mais fácil que correr onze quilômetros. De qualquer modo, você vai suar demais. E como todo desafio que encontramos na vida, é sempre mais tranquilo encará-lo na companhia de um amigo. O que seria de Contra sem a clássica parceria cooperativa?
Não tenho tempo para sangrar
É engraçado notar que um jogo que busca tanta inspiração em blockbusters de ação acaba deixando o mesmo legado que as franquias cinematográficas que o inspiraram. Rocky II não é tão bom quanto Rocky I; Rambo II não é tão relevante quanto Rambo I; Predador II não é tão surpreendente quanto Predador I. Ainda assim, são todos filmes muito divertidos, que até hoje podem alegrar a tarde de pessoas de todas as idades. É a mesmíssima coisa que acontece quando comparamos Super C e Contra.
Mesmo não sendo tão marcante ou relevante quanto o primeiro Contra, Super C é um pacote repleto de desafio, gráficos soberbos, trilha sonora caprichadíssima, e ação top de linha. Mais um belo retrato de uma época maravilhosa que não volta mais. Tempos de jogatina hardcore. Tempos de não saber o que é pegar uma dica no YouTube. Tempos em que não há como salvar progresso ou passar por checkpoints. Tempos de Contra.
Revisão: Catarine Aurora