Em março de 2010, a Nintendo anunciou o sucessor de um de seus maiores sucessos comerciais de todos os tempos, o Nintendo DS. Para aumentar as expectativas em torno do anúncio, a única informação dada sobre o console foi a de que ele seria capaz de reproduzir imagens em 3D estereoscópico sem a necessidade de óculos especiais.
A nova funcionalidade do console surpreendeu a todos, e a ansiedade para sua revelação, tanto da mídia quanto dos jogadores, aumentou drasticamente. Finalmente, na E3, em uma de suas melhores conferências dos últimos anos (em que o anúncio de um novo Zelda acabou se tornando mero detalhe), a Nintendo revelou seu novo hardware. Prometendo uma experiência revolucionária e uma line-up de encher os olhos (e esvaziar os bolsos), o portátil foi considerado por muitos um forte candidato a ter o melhor lançamento de console de todos os tempos. Menos de um ano depois, em março de 2011, o console foi lançado, mas o sucesso desejado pela Nintendo parecia algo distante.
Início turbulento
Por último, e não menos grave, a estratégia de marketing da Nintendo foi bastante infeliz. As ações publicitárias faziam parecer que o console era apenas um Nintendo DS com efeito 3D, e não exploravam nenhuma das outras funcionalidades do robusto sistema, como o Street Pass, a tecnologia de realidade aumentada, as duas câmeras embutidas no console e outras funcionalidades interessantes. O efeito 3D, além de não chamar tanto a atenção do público, ainda o intimidava, já que houve muitos relatos de usuários com mal estar e dores de cabeça após a utilização do sistema (a própria Nintendo não recomenda que crianças menores de 7 anos utilizem o efeito).
Com isso, as vendas do console começaram a cair muito, e o sucesso do console parecia distante. Os céticos afirmavam que o 3DS seria o segundo grande fracasso da Nintendo, perdendo apenas para o Virtual Boy, que se manteve nas lojas por menos de um ano. Assim, a Nintendo deveria tomar medidas urgentes ou perderia mercado para sua grande concorrente no segmento: a Sony com seu NGP, mais tarde nomeado Playstation Vita. As baixas vendas do aparelho ainda causaram diversos adiamentos e cancelamentos de games. Jogos agendados para o final do ano, como Metal Gear Solid e Tales of Abyss, foram adiados para 2012, e outros, como Megaman Legends 3 e Assassin’s Creed, foram simplesmente abandonados.
A primeira tentativa de recuperação
Um dia depois, a Nintendo realizou outra conferência bombástica. Focada na comemoração dos 25 anos da série The Legend of Zelda e no anúncio do Wii U (antes chamado de Project Café), a empresa deu um verdadeiro show, com direito até a uma orquestra tocando as mais icônicas melodias da série aniversariante. Ainda assim, a Nintendo não deixou o 3DS de lado e soltou uma enxurrada de anúncios de peso para o console. Reggie subiu ao palco e anunciou games fantásticos, como Super Mario Land 3D, Mario Kart 7 e Luigi’s Mansion 2, que ao lado dos já anunciados Star Fox 64 3D, The Legend of Zelda: Ocarina of Time 3D e Kid Icarus Uprising formavam a line-up first party do ano fiscal do console. Os fortes anúncios da feira não alavancaram as vendas do portátil, mas geraram melhores expectativas quanto ao seu futuro, já que a Nintendo estava claramente trabalhando para suprir o console com lançamentos de peso e sem tanto intervalo de tempo.
O maior impeditivo: preço exorbitante
O preço do Nintendo 3DS era alto, muito alto. Para piorar a situação, na E3 a Sony anunciou o preço de seu novo portátil, o Playstation Vita. O console, que é praticamente um Playstation 3 portátil e um centro multimídia, iria custar em sua versão mais simples (sem tecnologia 3G) 250 dólares, o mesmo preço do portátil da Nintendo. Analistas consideravam a guerra perdida para a Nintendo se o preço do console não fosse reduzido, obrigando-a a fazer isto.
A reação do público quanto ao corte de preço foi uma surpresa, pois a Nintendo nunca havia tomado uma medida tão drástica em seus mais de 100 anos de existência. Altos executivos da Nintendo, como o próprio Iwata, tiveram cortes drásticos em seus salários, que chegaram a serem diminuídos pela metade. Apesar da gravidade da situação da Nintendo, foi nesse momento que o console começou a se recuperar. As vendas aumentaram tanto antes do corte efetivo no preço (pois alguns consumidores se interessaram pelos jogos gratuitos que seriam distribuídos) quanto depois. Quando o corte foi efetivamente realizado, o portátil viu suas vendas serem alavancadas exponencialmente. O corte, somado ao lançamento de Star Fox, Zelda e uma nova cor do console (Flame Red) fez com que o portátil visse uma luz no fim do túnel.
Mantendo o bom trabalho
Daí para frente, utilizando-se das lições aprendidas com o fraco lançamento do console, a Nintendo passou a se dedicar a seu produto como há muito tempo não se via com nenhum de seus consoles. O foco das ações publicitárias do console deixou de ser o efeito tridimensional e os holofotes foram direcionados aos grandes jogos que o portátil estava recebendo, como Zelda, Mario, Mario Kart e Star Fox.
Além deste grande anúncio, em suas conferências a Nintendo ainda revelou jogos como Mario Tennis Open, Fire Emblem, Love Plus, Theatrhythm Final Fantasy, Bravely Default entre outros games com muito apelo. E o melhor, todos esses jogos seriam lançados em um curto período de tempo, tornando o 3DS uma plataforma sem pausas entre seus grandes lançamentos, com no mínimo um grande jogo lançado por mês. A empresa ainda anunciou o Circle Pad Pro, um controverso acessório que adiciona um segundo direcional analógico e dois botões ao console. O acessório parece mais uma gambiarra feita às pressas para consertar uma falha de conceito do portátil, mas é inegável que este só traz melhorias ao console, deixando-o mais ergonômico e funcional.
Além de todos os anúncios, ainda foi lançado um novo firmware para o console, que adicionava a funcionalidade de gravar e compartilhar vídeos em três dimensões, dando à câmera do portátil uma funcionalidade mais útil. O eShop também não foi esquecido e teve uma onda de lançamentos espetaculares como Pushmo, Mighty Switch Force, e diversas pérolas do Virtual Console.
Em novembro e dezembro, a Nintendo consolidou o sucesso do portátil com o lançamento de Super Mario Land 3D, Mario Kart 7 e Monster Hunter 3G (sendo o último por enquanto apenas no Japão). As vendas do console foram astronômicas no período, ofuscando completamente o lançamento nipônico do Playstation Vita. Nos EUA, o portátil também fez bonito graças ao lançamento de Mario Kart 7, que faz muito sucesso por essas bandas. Com o tamanho sucesso do console, a Nintendo conseguiu fazer com que o console superasse todas as expectativas de vendas, ultrapassando até o seu predecessor e se consolidando como o console de vendagem mais rápida da história.
Início de ano forte
Futuro promissor
O Nintendo 3DS cresceu e apareceu. Com as lições aprendidas no fraco lançamento, a Nintendo está cuidando para que o portátil não tenha nenhuma janela sem lançamentos, o que se reflete na quantidade de jogos previstos até a E3, momento em que novos games devem ser anunciados. Com o lançamento de Kid Icarus nessa sexta seguido por jogos esperados como Mario Tennis Open, Kingdom Hearts, Fire Emblem, Paper Mario, Animal Crossing, entre outros grandes jogos, é fácil perceber que o portátil tem um futuro brilhante pela frente. As vendas sobem cada vez mais, o que rende mais e mais anúncios de peso das third parties. Agora só nos resta aguardar até a E3 para sabermos o que nos espera para o resto do ano, se tivermos tempo de soltar o 3DS para ver, é claro!
Revisão: Leandro Freire
