Quando a Sega anunciou Sonic Generations, os fãs foram à loucura com a possibilidade de realizarem um sonho antigo: jogar o Sonic clássico em um jogo moderno. Mas para o desespero de muitos, o jogo não foi anunciado para nenhuma plataforma Nintendo, algo estranho se levarmos em consideração a relação amistosa que a Nintendo mantém com a Sega atualmente. Após vários rumores e negativas por parte da Sega, foi confirmada a produção do jogo para o 3DS, que ficou a cargo da Dimps, desenvolvedora que trabalhou em Sonic Rush, Sonic Rush Adventure e Sonic Colors, todos para o DS, mas isso não chega a ser uma surpresa. A surpresa mesmo ficou por conta do anúncio de conteúdo exclusivo para os donos de 3DS, que vai desde fases completamente diferentes da versão para consoles a um modo multiplayer local e online.
Criado nos anos 90 para competir com o Mario, Sonic se tornou um ícone pop mundial e mascote oficial da Sega. Sonic foi, sem dúvida, o fator decisivo para a sobrevivência e competitividade da Sega na guerra dos 16 bits e a transformou em referência, mesmo nos dias atuais. Mesmo sendo um dos mascotes mais populares de todos os tempos, a fórmula de Sonic sempre precisou ser reinventada. Mas ninguém vive de passado, e infelizmente o tempo foi duro com o famigerado ouriço que foi perdendo cada vez mais espaço, até se tornar um mascote moribundo. O que se viu foi uma queda na qualidade dos jogos a partir do momento em que a geração 16 bits chegou ao seu fim. Notas baixas em diversas revistas e vendas modestas se tornaram constantes na dura vida do ouriço, a situação ficou tão alarmante que, depois de diversos jogos de gosto duvidoso, Sonic virou piada recorrente nos fóruns e muito se falava sobre seu estado de coma profundo ou morte iminente.
O fator crucial para a sobrevivência de Sonic, mesmo nas situações mais adversas , era a sua ligação com o passado. Mesmo com jogos medíocres como ‘Sonic the Hedgehog 2006’ (que certamente não fez falta aos donos de Wii), os fãs sempre se baseavam em clássicos das eras Mega Drive e Dreamcast para reforçarem suas esperanças de um dia melhor. Foi pensando nisso que surgiu Sonic Generations, uma forma de comemorar os 20 anos daquele que mais perto chegou de desbancar Mario e a mais nova tentativa de mostrar aos jogadores da geração ‘Call of Duty’ o quanto Sonic é (ou pelo menos foi) legal.
A Link to the Past
Um dos grandes baratos de Sonic Generations é a sua maneira inusitada de unir o mesmo personagem em dois momentos distintos de sua vida ao mesmo tempo, no mesmo jogo, sem parecer bizarro. Para juntar na tela as duas versões de Sonic, a Sega teve de improvisar e bolar um enredo interessante e divertido que, apesar de não ser tão espetacular, conseguisse convencer o jogador.
Tudo começa com o Sonic clássico “passeando” pela Green Hill Zone, primeira fase de ‘Sonic the Hedgehog’, quando um estranho vórtice roxo aparece no céu e o surpreende. “Enquanto isso” nos dias atuais, Tails preparava a festa surpresa de 20 anos para Sonic quando o mesmo aparece antes do horário combinado e estraga tudo. Em um momento de descontração, Sonic e Tails são surpreendidos pelo mesmo vórtice roxo, que aparece no céu e suga Tails. Sonic, num ato de bravura típico, entra através dessa fenda à procura de seu eterno parceiro e vai parar numa Green Hill Zone completamente incolor. Após muita confusão, Sonic acaba reencontrando Tails e juntos acabam se deparando com eles mesmos do passado. Tentados a entender o que se passava ali e reconhecendo diversas construções e cenários familiares, os dois Sonics juntos dos dois Tails decidem tentar descobrir onde foram parar, encontrando pelo caminho antigos rivais e o eterno vilão, Dr. Eggman.
Fases exclusivas, mas em menor quantidade
Outro grande destaque da versão para 3DS de Sonic Generations é a sua coleção de estágios exclusivos, um motivo a mais para que essa versão seja jogada, mesmo por quem já fez tudo o que tinha direito em seu console. Enquanto a Green Hill Zone é mantida por motivos óbvios, Sonic Generations para 3DS garante aos fãs mais 6 aventuras exclusivas através do tempo, o que totaliza 7 fases, duas a menos que na versão para consoles. As novas aventuras incluem a maravilhosa Cassino Night de Sonic 2, Mushroom Hill de Sonic & Knuckles, Emerald Coast de Sonic Adventure, Radical Highway de Sonic Adventure 2, Water Palace de Sonic Rush e Tropical Resort de Sonic Colors.
Os donos de 3DS também ganharam outro mimo: o retorno das fases especiais. Vindas diretamente de Sonic Heroes, essas fases são a forma de se adquirir as Chaos Emeralds nessa versão. Apesar de interessantes, elas são muito fáceis e não variam muito entre si: com o objetivo de se coletar uma esmeralda ao fim de um grande túnel antes do tempo acabar, deve-se coletar bolinhas coloridas para aumentar a barra de boost e evitar obstáculos espinhosos. Mesmo assim, ainda é uma melhor opção às chatas corridas e disputas com os rivais da versão para consoles.
Outra coisa impossível de não notar é a enorme semelhança entre as adaptações das fases da era Mega Drive, quando jogadas com o Sonic clássico, e as suas versões originais. Longe de ser um defeito, isso aumenta mais ainda o fator saudosismo do gamer e garante aos novatos um passeio por fases clássicas que transformaram Sonic em ícone, outra exclusividade do 3DS.
Who are you?
Quem já jogou Sonic Generations nos consoles terá uma grande e desagradável surpresa. Enquanto na versão HD é óbvia a diferença de jogabilidade entre os dois tipos de Sonic, no 3DS isso é quase imperceptível. Tirando os atributos físicos, a parte que realmente importa parece ter sido copiada de um e colada no outro, o que não representa nem de longe a proposta original do título.
Enquanto na versão para consoles o Sonic clássico percorre fases em progressão lateral com pequenas mudanças de perspectiva e possui como habilidade base o bom e velho Spin Dash, o Sonic moderno possui uma jogabilidade dinâmica que alterna entre o modelo scroll lateral e progressão em 3D estilo “montanha-russa” e possui as habilidades Boost e Homing-Attack. O que acontece aqui, meus amigos, é que ambos os Sonics percorrem cenários em scroll lateral e que as habilidades dos dois Sonics se confundem entre si. Para ser mais claro, o Sonic clássico aprende o Homing-Attack (o que pode ser divertido) e não há fases em 3D com loops intermináveis para a versão do 3DS de Sonic Generations, que certamente tirariam muito proveito do 3D estereoscópico nativo do portátil. Isso tudo acaba pondo em cheque o trabalho da Dimps já que o 3DS é naturalmente capaz de suportar fases no estilo moderno/Dreamcast.
Para não dizer que a versão 3DS perde em todos os aspectos para a versão dos consoles no quesito jogabilidade, é bom que se fale da fluidez do jogo. É incrível que, mesmo nos momentos mais rápidos e confusos, o 3DS se segura firme e não apresenta queda na taxa de frames, mesmo com o 3D ligado. A física também é impressionante e bem representada. A única coisa estranha é o Sonic conseguir correr em baixo d’água como se estivesse na superfície, não que isso seja ruim, na verdade dá mais ânimo pra sair desse ambiente chato e teoricamente lento, mas isso não existe na versão para consoles, é um ponto positivo, mas questionável.
Alta velocidade em 3D!
A Sega ama o 3D, e por isso todas as versões de Sonic Generations tem suporte ao 3D estereoscópico e claro, a versão para o 3DS é a única que pode abusar disso nativamente.
O efeito 3D em Sonic Generations foi usado de duas maneiras bem peculiares e simples, mas de certo modo inteligentes. Quando usado nas fases do Sonic clássico, o 3D dá ao jogador a sensação de profundidade, nada que se compare ao uso do 3D em jogos lançados no mesmo período, mas funciona bem, uma vez que o cenário de fundo é dinâmico e às vezes se confunde com o cenário da frente se o efeito 3D estiver desligado. Quando usado nas fases do Sonic moderno, o 3D também aumenta a sensação de profundidade, a diferença fica por conta de como isso é usado, já que nessas fases o 3D aparenta estar mais ativo, e como o Sonic pode alternar entre os cenários da frente e do fundo, o efeito aumenta a diversão exponencialmente.
Os gráficos de Sonic Generations são bem modestos. As texturas não parecem tão bem feitas e é nítido que o jogo não explora todo o potencial do portátil. Apesar dos modelos bem feitos dos personagens principais, alguns inimigos parecem terem sido feitos às pressas. Nos cenários também, há certa alteração entre momentos belos e momentos não tão belos, ao chegar à fase ‘Tropical Resort’, por exemplo, o jogador vai se sentir jogando outro jogo (muito melhor) em termos gráficos. Só nos resta tentar entender por que o resto do jogo não ficou tão bem feito quanto esses momentos, que provam que o 3DS podia mais do que foi feito com ele.
Diálogo de balões e músicas reaproveitadas
Uma das primeiras diferenças que alguém que já jogou a versão para consoles de Sonic Generations vai notar ao iniciar o jogo no 3DS é a ausência das cutscenes com diálogos falados, que foram simplesmente substituídas por imagens estáticas com diálogos em forma de balões. Não há trabalho de dublagem em Sonic Generations para o 3DS, as poucas falas, que se restringem a “Do it, Sonic!” e outros barulhos, foram retiradas da versão para consoles. Quem já jogou a versão para consoles notará o certo desleixo com que a Dimps trabalhou nesse aspecto, já que não seria tão difícil para eles desenvolverem novas CGs ou portarem as cutscenes das versões HDs. Ou você joga primeiro a versão para consoles para entender a estória, ou se esforça pra conseguir se manter acordado enquanto aperta loucamente os botões para mudar as imagens e o texto. Por melhor que sejam os modelos dos personagens durante os diálogos de balões, a forma desleixada com que trataram as cutscenes é decepcionante.
Falando em reaproveitamento, outro ponto questionável, mas que não chega a se tornar negativo foi o reaproveitamento de diversas faixas de áudio da versão dos consoles para o 3DS ou mesmo de jogos anteriores sem que ao menos um remix dessas músicas em particular tenha sido feito, nada que estragará completamente o jogo, mas que expõe o modo como ele foi tratado pela desenvolvedora.
Run for Cover
Uma das partes que mais me surpreendeu nesse jogo foi o modo online. Ao notar que as disputas em rede local ou online seriam corridas em fases passadas anteriormente, me recusei a acreditar no que a Sega e a Dimps aprontaram. Logo fui percebendo que o negócio é melhor do que parece. Não se espante ao notar que você está gastando mais horas do que o combinado correndo contra seus amigos. As disputas são simples, mas muito divertidas. As vezes que joguei online foram bem tranquilas, sem quedas notáveis na taxa de frames e sem os malditos lags. Sem dúvida, essa foi uma das melhores adições a versão 3DS, já que aumenta a durabilidade do título e garante uma socializada necessária. É uma pena que a Sega não tenha imposto o modo on-line para partidas co-op, funcionaria muito bem nesse título.
Joguinho pra crianças
Muita calma nessa hora, eu irei explicar. Sonic Generations é um bom jogo de modo geral, mas muitas coisas deixaram a desejar. A começar pela dificuldade, não estranhe se já na primeira vez você passar as primeiras fases em apenas alguns segundos. As fases especiais de Generations fazem as mesmas fases de jogos anteriores do ouriço parecerem a coisa mais difícil do universo. Outro ponto questionável são as chatas batalhas contra os chefes e as corridas sem sentido contra os rivais. Já não bastasse ter que passar a mesma fase duas vezes disputando uma corrida chata contra rivais que nem se sabe como foram parar lá, as batalhas contra os chefes que vêm logo em seguida são lentas e sem graça, quebrando todo o ritmo do jogo que é baseado em velocidade.
Mas não vamos deixar de falar de mais coisas boas. Uma surpresinha legal para todos os fãs do Sonic é uma carteirinha de fã que existe no jogo e permite que você coloque informações legais como nome, jogo e personagem preferidos e ano em que jogou o primeiro jogo do Sonic de sua vida. O StreetPass também aparece aqui e serve para baixar novos desafios e conteúdo, coisa simples, mas que agrada.
Somando todos esses erros com os acertos, Sonic Generatios deixa a desejar. O jogo é muito divertido, mas é notável que foi feito às pressas e, apesar de parecer injusto compará-lo com a versão para consoles, posso dizer que a versão para 3DS é inferior de diversas maneiras. Mesmo assim, é um bom jogo do Sonic que mantém viva a esperança e o legado desse personagem tão querido.
Prós:
- Fases exclusivas;
- Modo online;
- Framerate sólido.
Contras:
- Cutscenes mal feitas e falta de atuação vocal;
- Falta de maior diferença entre a jogabilidade dos dois Sonics;
- Gráficos simples demais para o 3DS;
- Dificuldade pífia;
- Chefes chatos.
Sonic Generations – 3DS – Nota final: 7.5Gráficos: 7,0 | Som: 7,5 | Jogabilidade: 7,5 | Diversão: 8,5
Revisão: Catarine Pereira