Jogos baseados em filmes são ruins. Essa regra foi quebrada algumas poucas vezes, por Goldeneye, por exemplo. Mas a regra se mantém em quase todos os títulos, infelizmente. Quando se trata de uma história que se tornou um clássico para uma geração, as expectativas são altas. The Adventures of Tintin: The Game é um jogo baseado em filme, que é baseado numa obra renomada e, admiravelmente, não é ruim. Pegue aí o seu cachorro branco e saiba os motivos.
Não sei você, mas eu sou da geração Tintim. A TV Cultura era o meu canal preferido quando criança, e o desenho me encantava, pelas histórias, a atmosfera e os personagens. Quando fui ao cinema, fiz questão de não assistir ao filme em 3D, e acabei me surpreendendo pela qualidade da adaptação.
Mas não é sobre o filme que estou falando. The Adventures of Tintin nem ao menos divide o título com sua contra-parte cinematográfica. O jogo se mantém sozinho como uma amostra do que poderia ser ótimo, mas é apenas bom.
Uma sombra de história
Os fãs do repórter já conhecem a história há muito tempo: Tintin compra um modelo de um navio antigo e começa a ser perseguido por uma organização criminosa que está em busca de um tesouro cuja localização está escondida no modelo. Claro que as coisas não são apresentadas dessa forma, mas a base da história é essa.
O jogo resume bastante a trama já resumida do filme, cortando pontos interessantes como a história do batedor-de-carteiras e prolongando outras, como a sequência do Karaboudjan, o navio do Capitão Haddock.
O início do jogo é uma tentativa de aplicar um estilo narrativo diferente, colocando uma sequência que pertence ao meio da história (o vôo através da tempestade e a queda do avião no deserto) no início, mas falta uma conexão específica, e o roteiro acaba sendo truncado em diversas partes, tirando o brilho de uma trama tão bem construída e interessante e preenchendo as lacunas com jogabilidade. A falta de uma dublagem prejudica bastante também, além dos efeitos sonoros serem estranhos e a trilha sonora parecer quase sempre fora de lugar.
O lado bom? O jogo foi completamente traduzido para o português, e de maneira bastante competente! Nada de usar os nomes da versão americana da história (Snowy no lugar de Milu, por exemplo). Até as expressões características do repórter foram traduzidas e dão um toque de humor. Excelente trabalho e uma amostra do quanto a Ubisoft está preocupada com a localização de seus títulos.
Para completar, a história é contada através de ótimas cenas em quadrinhos, mantendo a identidade visual dos livros de Tintim. Os gráficos do jogo são belos por si só, exceto por alguns bugs aqui e ali em relação a física.
O não-tão-bom e velho jogo de plataforma
Todos nós conhecemos o básico dos jogos de plataforma: você tem que se locomover por plataformas (uau!), normalmente executando pulos, subindo escadas, descendo por comportas/canos/qualquer coisa.
As Aventuras de Tintim é um jogo de plataforma sem grandes inovações. Algumas pontinhas de criatividade podem ser vislumbradas, como o naufrágio do Karaboudjan, que inverte a gravidade, deixando o personagem pendurado numa escada que antes estava escalando. Outros pontos interessantes são cenas que você pode fazer, derrotando os inimigos com objetos em vez de sair na porrada. Por exemplo: você pode jogar uma panela na cabeça de um deles, que sai batendo em tudo que vê pela frente (ou seja: nos próprios amigos).
Em outros momentos você controla Milu, o cachorro de Tintim, mas são trechos tão curtos e estranhos (parece que o repórter tira o companheiro do bolso quando precisa) que acabam não quebrando a repetição da jogabilidade cansativa. Outros trechos mais ou menos diferentes são aqueles em que o Capitão Haddock acompanha o protagonista, ajudando com os inimigos e a alcançar objetos, puxar alavancas ou quebrar obstáculos.
Uma das coisas que mais me incomodou durante o jogo foi o quão irreais os cenários são. Sim, Tintim é uma obra infanto-juvenil, e pode dar-se ao luxo de usar a fantasia ao seu favor, mas o Karaboudjan parece um barco infinito, cheio de comportas que não têm nenhum motivo dentro do jogo para estarem ali. Isso se repete em todos os cenários, que se prolongam absurdamente, repetindo fórmulas (pula-usa objeto para derrotar o inimigo-acessa outro nível-puxa alavanca-etc).
Alguns momentos quebram a monotonia com algo diferente, como a sequência de luta no Licorne, que funciona como um jogo em trilhos, em que você controla o antigo Capitão Hadoque, bloqueando ou golpeando com a espada através da tela de toque. Infelizmente os controles são um caos e o jogo não identifica se você está bloqueando ou golpeando. Outros trechos diferentes incluem o início, em que você pilota o avião e um trecho mais próximo do final, em que Tintim dirige uma motocicleta.
Tintim e Haddock
Para compensar um modo single-player sem muita inspiração, o jogo conta com o modo Tintim e Haddock, que pode ser jogado em dois jogadores. Nele, o capitão entra num mundo de sonhos graças a uma forte pancada na cabeça e você enfrenta uma série de desafios cronometrados, com a ajuda de um amigo ou não.
A possibilidade de ter um amigo ajudando a derrotar inimigos ou deslocar objetos é interessante e bem aproveitada pelos desafios que aumentam gradativamente sua dificuldade. A jogabilidade é a mesma coisa do modo single player, mas o fato de ter sempre a ajuda de alguém (seja um amigo ou o controle por IA) torna o jogo mais dinâmico. É aí que você esbarra num outro problema: o jogo nem sempre deixa claro o que você precisa fazer.
Prós
- Gráficos bonitos e sequências em histórias em quadrinhos bem feitas.
- Tradução impecável para português.
- Modo cooperativo divertido.
Contras
- Jogabilidade datada, repetitiva e cheia de problemas.
- Cenários inverossímeis e excessivamente longos.
- Pequenos bugs gráficos.
- Falta de instruções claras.
The Adventures of Tintin: The Game - Nintendo 3DS - Nota: 7.0
Gráficos: 8.0 | Som: 6.0 | Jogabilidade: 5.0 | Diversão: 7.0
Revisão: Rodrigo Estevam