Já faz alguns meses que The Legend of Zelda: Ocarina of Time 3D, a versão turbinada do clássico do Nintendo 64, foi lançado. Desde então, já pudemos jogá-lo extensivamente, reviver uma das melhores aventuras de Link e analisar este remake pelos mais diferentes ângulos. Todo mundo está cansado de saber que o jogo é praticamente idêntico ao original, com exceção dos gráficos melhorados e inclusão dos modos Master Quest e Boss Rush. Mas será que é apenas isso que foi mudado mesmo? Na verdade não... há vários outros pequenos detalhes que foram incluídos ou modificados, mas que podem passar facilmente desapercebidos, até mesmo pelos maiores fãs do original. Portanto, o objetivo desta matéria especial é listar quais são estas diferenças, das maiores às menores, do maior número de polígonos ao sangue de Ganondorf, à homenagem a Skyward Sword. Não é nenhuma informação que vai mudar a sua vida, mas certamente vale pela curiosidade.
Começando pelo óbvio
Se a ideia é listar todas as diferenças entre Ocarina of Time 3D e a versão original, não posso deixar de citar também aquilo que está mais do que na cara. Primeiramente, os gráficos foram totalmente recriados para a versão do 3DS. Quando foi lançado para o Nintendo 64, o jogo impressionou com o belíssimo visual que tinha para a época. Para os dias de hoje, entretanto, eles são bem precários, com polígonos gigantes que saltam à vista mais do que o nariz do Ganondorf. Por isso, em Ocarina of Time 3D, os modelos e texturas foram recriados, dando a Hyrule e seus habitantes um nível de detalhe muito maior. Ah sim, e tudo em 3D.
Naturalmente, a jogabilidade também foi modificada, para fazer uso das duas telas e do touchscreen do portátil, o que facilita muito na hora de trocar de equipamento e ver o mapa (útil principalmente no infame Templo da Água!). O giroscópio do 3DS também foi incorporado aos controles, tornando a visão em primeira pessoa mais natural.
Outra diferença óbvia, da qual já se falava bem antes de lançamento do jogo, é a inclusão de alguns modos novos de jogo. Um deles é o Master Quest, que é habilitado após se completar o modo principal e é uma versão da aventura levemente modificada para trazer um maior desafio aos jogadores mais experientes. Master Quest já havia sido lançado para o Game Cube em um disco comemorativo, mas a versão do 3DS traz alguns desafios extras adicionais: o jogo fica totalmente espelhado (semelhante ao que foi feito com Twilight Princess no Wii) e os chefes estão mais fortes, causando o dobro do dano. O outro modo novo é o Boss Rush, no qual é possível enfrentar novamente chefes já derrotados, tentando obter o melhor tempo possível. Depois de terminar o jogo, é possível enfrentar todos os chefes consecutivamente.
A última das principais diferenças é a existência das Sheikah Stones. Estas pedras mostram “visões do futuro”, dando dicas ao jogador que está com dificuldade e não sabe o que fazer para prosseguir na aventura. Muitos provavelmente consideram que isto tira um pouco da graça, eliminando a árdua exploração que o jogo original exigia. Isso é verdade, mas quem preferir pode simplesmente ignorar estas pedras e seus spoilers.
Que agonia!
Já falei sobre as modificações mais óbvias, porém, existe outra diferença também facilmente perceptível. No Ocarina of Time original, ao se juntar 20 Skulltulas douradas, o prêmio correspondente, recebido na Skulltula House em Kakariko Village, era um item chamado “Stone of Agony” (“pedra da agonia”). Este misterioso artefato fazia com que Link pudesse pressentir quando houvesse passagens secretas por perto (buracos no chão revelados com uma bomba ou com a música Song of Storms). Para o jogador, isto significava sentir o controle do Nintendo 64 vibrar, caso ele estivesse equipado com o Rumble Pak (a pedra em si, aliás, tem uma aparência curiosamente semelhante ao acessório). Como no 3DS não há efeito rumble, e muito menos existe para ele o Rumble Pak, não faria sentido que a Stone of Agony fosse mantida. Por isso, ela foi substituída pela “Shard of Agony” (“fragmento da agonia”), que tem uma aparência bem diferente, como um gancho. A sua utilidade é a mesma, a de encontrar passagens secretas, mas ao invés de fazê-lo através de ondas vibratórias, ela dá o seu aviso um tanto quanto menos sutil, piscando na tela e apitando.
O que foi herdado
Agora é a vez de falar sobre algumas modificações sutis em relação à versão original que, à primeira vista, podem parecer que foram introduzidas na versão do 3DS. Entretanto, estas diferenças já existiam nos relançamentos anteriores de Ocarina of Time: a do Game Cube (naquele mesmo disco comemorativo que também trazia o Master Quest e também no Collector’s Edition), a que está disponível no Virtual Console do Wii e até mesmo nos cartuchos mais novos do jogo para o próprio Nintendo 64.
Uma destas diferenças é o símbolo da raça Gerudo. Na versão original de Ocarina of Time, este símbolo – que aparece nos mais diversos lugares, como em Gerudo Fortress e até desenhado no Mirror Shield - era uma meia lua com uma estrela no meio:
Nos relançamentos do jogo, incluindo o do 3DS, o símbolo foi modificado para algo bem diferente:
Por que houve esta alteração? A resposta é bem fácil de deduzir. Veja o símbolo original... ela não se parece com um símbolo que existe na vida real?
Pois é, o símbolo dos Gerudo tinha uma forte semelhança com o que aparece em muitas bandeiras do Oriente Médio e o pessoal da Nintendo logo chegou à conclusão que associá-lo à raça dos bandidos em Ocarina of Time não era uma ideia muito boa. Curiosamente, no relançamento de Ocarina of Time para Game Cube e o Virtual Console, um local onde o símbolo Gerudo aparecia acabou sendo esquecido: o teto nas salas inicial e final da corrida contra Dampé, dentro da sua tumba no cemitério de Kakariko Village, permaneceu decorado com o símbolo Gerudo original. Já no 3DS, como tudo foi refeito, o símbolo sumiu daqui também, mas ao invés de ter sido substituído pela versão alternativa, o símbolo Gerudo sumiu completamente, dando lugar a desenhos diferentes, sem nenhuma relação com a raça dos bandidos do deserto.
Outra diferença que já veio dos outros relançamentos de Ocarina of Time é que Ganondorf aparentemente deixou de ser humano e passou a ser um alienígena. Enquanto na versão original do jogo, Ganondorf derramava sangue vermelho na batalha contra Link, a cor do sangue mudou para verde nas versões subsequentes. Claramente, esta alteração foi para amenizar o “nível de violência” do jogo, mas isso nos leva a questionar se era algo realmente necessário. Ocarina of Time não é o primeiro jogo a usar a técnica do “sangue verde” para contornar a censura, mas será que só porque o sangue tem uma cor diferente a violência do jogo se torna menos gráfica? E por acaso esta cena no jogo original era assim tão chocante que precisou deste tratamento? Afinal de contas, tanto a versão original como as posteriores foram classificadas como “E - Everyone” (adequado para todas as idades). Mas enfim, isto é assunto para outra discussão.
Por fim, a terceira alteração “herdada” é a música do Templo do Fogo, que é diferente da que era escutada na versão original do jogo. Enquanto a nova música contém ruídos semelhantes aos da música do Templo das Sombras, a original era acompanhada por cânticos que davam ao templo um ar bem mais assustador e misterioso. Escute as duas versões e compare.
Música original:
Música modificada:
Eu perguntei à Gossip Stone o motivo desta alteração e a resposta dela foi a seguinte: “dizem que a música precisou ser trocada porque os cânticos da original estavam muito parecidos a um cântico muçulmano, o que gerou certa polêmica”. Se isto é verdade? Aparentemente sim, já que a história foi publicada em uma edição da revista oficial Nintendo Power, respondendo a uma pergunta de um leitor:
Atenção aos detalhes
Com a melhora dos gráficos, não apenas o que já existia ficou mais bonito, mas também alguns pequenos detalhes puderam ser adicionados aos cenários para deixa-los mais ricos. Isto fica particularmente perceptível no interior de residências, onde é possível ver quadros, desenhos, livros e várias outras decorações e objetos que antes ou não existiam ou tinham uma representação muito mais pobre. Isto, por sua vez, deu lugar a algumas inclusões interessantes e curiosas. Preste atenção nos desenhos espalhados na casa da Impa, em Kakariko Village, por exemplo: você verá que eles mostram dicas de como usar os diferentes itens obtidos. Os desenhos indicam que uma flecha pode ser disparada através da chama de uma tocha para fazê-la pegar fogo, que o hookshot deve ser usado no tronco próximo à entrada do Templo da Floresta para chegar até lá, que bombas devem ser usadas no vaso gigante na vila dos Goron e várias outras coisas.
Veja a comparação de uma vista aérea do interior da casa de Impa e repare na diferença nos detalhes:
Outra coisa que a melhora nos detalhes possibilitou foi que as placas no Templo da Água, que indicam o nível para qual a água vai ao se tocar a Zelda’s Lullaby, ficassem mais fáceis de entender. Além disso, indicações sobre as portas também deixam bem claro qual é o nível de água que aquele local requer. Tudo isto reduz muito a frustração causada pelo templo.
Skyward Sword em Ocarina of Time
Aproveitando o assunto de decorações curiosas no interior de casas, é preciso citar dois quadros especialmente interessantes. Um deles está no quarto de Ingo, em Lon Lon Ranch do futuro. Neste local, ao lado da porta, você verá uma cômoda e dois vasos no chão. Quebre os vasos e você conseguirá ver um quadro encostado na cômoda. E a foto no quadro é... uma artwork do Link de Skyward Sword! O segundo quadro, mostrando outra artwork do jogo, está em um dos quartos de Gerudo Fortress. Um belo easter egg fazendo homenagem ao novo jogo da série, não é mesmo?
Um pedacinho de Mushroom Kingdom em Hyrule
Skyward Sword não é o único jogo ao qual Ocarina of Time 3D faz homenagem. Muitos devem se lembrar do easter egg no Ocarina of Time original que consistia em um conjunto de quadros que mostravam personagens da série Mario. Estes quadros podiam ser vistos dentro do castelo de Hyrule, usando-se a visão em primeira pessoa no pátio onde Link se encontra com a princesa Zelda no passado. Na nova versão, este local ainda esconde um easter egg homenageando a série Mario, mas com algo um pouco diferente: ao invés dos quadros com os personagens, olhando pela janela do castelo é possível ver uma parede decorada com desenhos, blocos e até um cano que remetem a uma fase do primeiro Super Mario Bros.
Faxina no poço
Sim, os gráficos do 3DS possibilitaram a inclusão de muito mais detalhes na nova versão de Ocarina of Time... mas quem diria que alguns detalhes que já existiam desapareceriam? Pelo visto, alguém recentemente mandou que se fizesse uma limpeza no fundo do poço de Kakariko Village: enquanto antes o chão deste “mini-templo” era coberto de manchas de sangue, agora ele está perfeitamente limpo, sem um único pingo vermelho sequer. O que é uma pena, porque este detalhe tornava o lugar bem mais assustador. Novamente, podemos apontar a classificação etária como a culpada, já que todo este sangue certamente foi considerado como sendo muito forte para um jogo para todo público. O curioso desta vez é que mesmo os relançamentos anteriores do jogo, que já haviam feito a mudança da cor do sangue de Ganondorf, mantiveram as manchas de sangue no fundo do poço intactas. E as manchas ainda eram vermelhas.
O retorno do tema de The Legend of Zelda
É no mínimo irônico: Ocarina of Time é, na opinião da maioria, o melhor jogo da série, mas também é um dos poucos nos quais a clássica música tema da série não é tocada. Em momento nenhum. Por mais bonita que seja a música de Hyrule Field, estou certo de que muitos fãs a trocariam pelo tema original sem pensar duas vezes (e que ficaram extremamente felizes ao jogar Majora’s Mask e escutar a música sendo tocada em Termina Field). Felizmente a música temática está presente em Ocarina of Time 3D. Não, ela não substituiu o tema de Hyrule Field e nem o de abertura do jogo. Na verdade, ela é muito pouco ouvida por quem joga o jogo. O que acontece é que, no 3DS, os créditos foram estendidos, para incluir todo mundo que trabalhou na nova versão... e é aqui, nesta nova parte dos créditos finais, que a música foi inserida. Ela ainda não tem todo o destaque que merece, mas pelo menos está presente. E é uma bela versão orquestrada!
Dedetização
Como é normal acontecer com qualquer jogo, o Ocarina of Time original continha alguns bugs. Um dos mais famosos, por exemplo, era o de fazer o Link adulto perder a Master Sword, o que por sua vez permitia que qualquer item fosse utilizado montado na Epona. Naturalmente, a intenção inicial era que todos estes erros fossem exterminados para o relançamento do 3DS, mas o curioso é que, embora alguns bugs mais graves – como o da espada citado acima – de fato tenham sido removidos, outros foram propositalmente mantidos. Bugs que não causavam problemas ao jogo, como o de equipar a Master Sword ainda criança, o de usar a Lens of Truth sem gastar magia ou os que permitem obter alguns Heart Containers antes do tempo, foram poupados e continuam existindo no 3DS em nome da nostalgia. E não é de se surpreender que outros bugs novos tenham aparecido na nova versão, como o de entrar na barriga de Jabu Jabu com Link adulto.
Outros pequenos detalhes
Além de todas as diferenças já citadas, há mais alguns detalhes menores ainda que merecem ser mencionados. Link agora tem uma movimentação bem menos rígida, se mexendo com mais naturalidade. Ele também vira a cabeça para pontos de interesse - uma coisa que já vinha sendo feita desde Wind Waker - e fica automaticamente em pose de batalha quando se aproxima de inimigos.
Navi conseguiu se tornar ainda mais chata, dando conselhos adicionais para fazer uma pausa no jogo de vez em quando. Falando na Navi, ela agora também aponta quando há fadas escondidas em Gossip Stones, que podem ser reveladas com a Song of Storms.
Jogadores menos experientes não mais se sentirão tão humilhados, já que o “contador de mortes” deixou de existir. Também para ajuda daqueles com menos experiência, quando Link perde toda a energia e as fadinhas presas em garrafas são usadas automaticamente, agora elas recuperam todos os corações, ao invés de apenas oito, como era no original.
Quem saiu perdendo na nova versão foram as Deku Sticks. Antes, quando os gravetos eram equipados por Link criança, o dano causado por eles era equivalente ao da Biggoron’s Sword! Este poder todo não fazia sentido – não é porque os dois itens são do mesmo tamanho que deveriam ter a mesma força – e, portanto, foi reduzido a algo mais consistente para um simples e frágil galho de árvore.
Um último quase imperceptível detalhe está no caminho para o Templo da Floresta. Um pouco antes da entrada, há um Moblin gigante no meio do caminho que começa a bater no chão, formando ondas que causam dano e jogam Link para trás. Na versão nova, há uma breve cutscene quando este Moblin é visto pela primeira vez, coisa que não existia antes.
E assim concluo esta listagem das grandes e pequenas diferenças entre The Legend of Zelda: Ocarina of Time para o 3DS e a sua versão original no Nintendo 64. O que você achou das modificações? Tudo foi para melhor ou algumas coisas deveriam ter sido mantidas como eram originalmente? Você conhece mais alguma alteração que foi feita e faltou ser citada aqui? Conte-nos!
Revisão: Jaime Ninice