A sexta geração da indústria foi uma das mais criativas e disputadas de todos os tempos. Fomos apresentados a grandes consoles que nos trouxeram grandes novidades e inovações, mas que também cometeram alguns tropeços. Vimos o fracasso de duas empresas tradicionais do ramo, a consolidação de uma marca e a estreia triunfante às custas de bilhões de dólares de uma empresa no setor.
Os consoles alcançaram um nível tecnológico nunca antes imaginado. E a dúvida que ficava para a próxima geração era: qual é o limite para tudo isto?
Estamos cercados por maravilhas que nos foram deixadas pela sexta geração da indústria de vídeo games. Gráficos realistas, jogatina online, conectividade e centros multimídia foram seu legado. O que começou tímido com o Dreamcast e um modem 56K, terminou com um Xbox com disco rígido interno, capacidade de reproduzir vídeos e arquivos MP3 e uma imensa rede de jogatina e compartilhamento de conteúdo online.
Definitivamente, foi naquela geração que os consoles deixaram de ser apenas vídeo games e tornaram-se verdadeiros centros multimídia. Investir em um deles deixou de ser apenas uma questão de gosto. Agora era preciso levar em consideração que recursos o aparelho poderia oferecer: podia reproduzir filmes em DVD? E músicas? Em MP3? Poderei jogar meu jogo preferido com meus amigos online?
Por serem tecnologicamente muito similares, agora a guerra travada entre os consoles não era mais uma questão de bits, mas de quantidade de aparelhos vendidos e de jogos lançados. Para os jogadores, era afinidade pela empresa e paixão.
A sétima geração: apostas e promessas
O lançamento do Xbox em novembro de 2001 marcou o início do fim da sexta geração. A proposta do aparelho da Microsoft praticamente determinou um limite para aquela geração de consoles e definiu o que deveria ser obrigatório em qualquer aparelho dali para frente.
A boa receptividade do vídeo game pelos consumidores fez com que Sony e, principalmente, Nintendo se preocupassem em oferecer algo novo, que pudesse superar o que o Xbox poderia um dia ser.
Se naquela geração as empresas deram apenas uma espiada na jogatina online e investiram toda sua artilharia na melhoria dos gráficos, a Microsoft investiu pesado em ambos. Muito se apostava em gráficos melhores ainda, mas a verdade era que, tecnologicamente, não se tinha muitos recursos para tanto. E mesmo que houvesse, os aparelhos já eram tão semelhantes nesse aspecto que não adiantaria muito investir nisso.
Por outro lado, os jogadores queriam e esperavam por experiências mais imersivas, capazes de fazê-los se sentir dentro dos jogos. Essa demanda comum fez com que a indústria concluísse que o melhor caminho seria apostar em gráficos de alta definição, som multicanais, recursos multimídia e compartilhamento de conteúdo. E foi exatamente isso que Sony e Microsoft fizeram. A Nintendo, porém, foi pelo caminho inverso.
Ao invés de oferecer imersão ao usuário dando-lhes gráficos deslumbrantes, a gigante japonesa resolveu apostar em algo diferente. Se de um lado a concorrência prometia colocar seus consumidores dentro dos jogos, a Nintendo prometia “revolucionar a forma como jogamos” e nos fazer parte do jogo.
Muitos criticaram a empresa por sua atitude e rotularam o hoje conhecido Wii como um console “inferior”. No Natal de 2006, no entanto, os especialistas viram que tinham mordido a língua depois dos surpreendentes números de vendas do console. Esse assunto, porém, nos discutiremos nas próximas colunas.
O mais importante, por enquanto, é saber que já em 2001, logo após o lançamento do Xbox, a Microsoft já pensava no seu próximo console.
O pontapé inicial com o Xbox 360
O lançamento do Xbox original foi precedido de inúmeros rumores, investimentos gigantescos da Microsoft em publicidade e suntuosas festas que serviram para alimentar a curiosidade alheia sobre o novo aparelho.
Após o lançamento dele, o que se viu sobre o próximo console foi bem diferente. Ao contrário do que acontecera anteriormente, os investimentos para gerar hype foram bem mais modestos. Não houve grandes mistérios envolvendo o desenvolvimento da plataforma, mas foram dadas cartadas estratégicas para “peitar” o principal concorrente: o PlayStation 3 da Sony.
Diferente do original – que teve sua arquitetura baseada na de um PC comum -, este novo aparelho teve sua arquitetura completamente refeita. A ideia de trazer um console baseado no DirectX do Windows foi deixada um pouco de lado, já que os esforços se concentrariam em desenvolver uma plataforma multimídia. As brigas entre Microsoft e nVidia quanto aos lucros do antecessor fizeram com que a empresa optasse pela ATI para produzir seu chip gráfico. Nesse meio tempo, o ex-presidente da Sega para os Estados Unidos, Peter Moore, juntou-se à trupe para coordenar o desenvolvimento do novo aparelho – tudo às claras, sem segredos. Reuniões e mais reuniões passaram a ser organizadas com desenvolvedores em Washington para recrutá-los a ajudar o desenvolvimento da nova plataforma – o que rendeu a distribuição de centenas de kits de desenvolvimento.
No dia 30 de março, a Microsoft começou a investir em campanhas virais para promover o aparelho entre os assinantes da Live. As suntuosas festas foram substituídas por jogos de realidade aumentada no site OurColony.net que “premiava” os jogadores com pedaços de imagens do console e imagens de alguns jogos.
Surpreendentemente essa data foi escolhida não porque a Microsoft estava pronta, mas porque todos estavam convencidos que a Sony lançaria seu PlayStation 3 poucos dias depois, a tempo do Natal daquele ano – o que não aconteceu.
Até seu lançamento, novas virais foram lançadas. O OrigenXbox360.com promovia torneios entre os jogadores da Live. Intermediadas pelos coelhos Boss e Didier, as competições ofereciam aos ganhadores entradas para o evento de pré-lançamento do aparelho. Já o Hex168.com trazia mensagens misteriosas que geralmente faziam referência a teorias conspiratórias. Mais tarde foi revelado que tudo não passava de um concurso que oferecia aos participantes a chance de ganhar um dos trezentos e sessenta Xbox 360 seis dias antes do lançamento oficial.
Agora imagine que o Xbox fora lançado em novembro de 2001 e a Microsoft firmou um compromisso em rede nacional para lançar o Xbox 360 quatro anos após ele. Sim, é pouco tempo. A ousadia, talvez, fizesse parte dos planos da empresa. E a palavra é esta mesmo: talvez.
A nova Caixa em 360 graus
Dizer que a Microsoft tinha tudo planejado para o lançamento do novo console é uma piada de muito mau gosto. E se você achar que este pobre redator está criticando o aparelho, saiba que a empresa começou a produção dele apenas 69 dias antes do lançamento. Sim, sessenta e nove dias apenas! O resultado: não haviam vídeo games suficientes para atender a demanda inicial de consumidores no lançamento norte-americano e europeu.
Chegou-se a afirmar que a falta de aparelhos fora propositalmente planejada pela Microsoft para que a demanda fosse maior ainda. De fato, se levarmos em consideração que o objetivo da empresa era apresentar seu console antes do PlayStation 3 da Sony, essa seria uma “acusação” válida. O lançamento da concorrência, no entanto, nunca aconteceu no período previsto pela Microsoft e a única coisa que Bill Gates conseguiu com tudo isso foi aumentar o market share (vulga saturação de mercado) do console enquanto não havia concorrência.
Até o fim do ano de 2005, as vendas do Xbox 360 superaram a marca de 1,5 milhões de unidades – “pouco” se pensarmos que seu antecessor vendeu 1 milhão em apenas três semanas. O número, no entanto, não tinha a ver com a falta de consoles nas lojas, mas sim com um problema que atormentou os consumidores desde cedo: as três luzes vermelhas da morte.
Quer seja a falta de planejamento em arquitetar o hardware do console, quer seja o pouco tempo para produzi-lo, o fato é que logo após o lançamento do Xbox 360 os consumidores começaram a reportar problemas técnicos sobre seus aparelhos. Os inúmeros problemas, que iam desde superaquecimento a falhas gerais de hardware, atingiram mais de 54% dos primeiros modelos do console e fizeram a Microsoft perder mais de US$1,5 bilhões na extensão da garantia do console para três anos!
Mesmo com o fantasma das luzes vermelhas perseguindo os consumidores e custando bilhões a empresa de Redmond, durante a E3 2006 Bill Gates anunciou que haveria mais de 10 milhões de Xbox 360 vendidos quando Sony e Nintendo entrassem na sétima geração. A previsão não foi tão acertada: o console atingiu a marca apenas no fim daquele ano – o que ainda pode se considerar um sucesso.
Presente e futuro do Xbox 360
Deixando de lado os problemas técnicos que afugentaram grande parte dos consumidores do Xbox 360 nos seus primeiros 3 anos, pode-se dizer que o único fracasso da Microsoft foi no mercado japonês.
Ao contrário do que aconteceu nos EUA e na Europa – onde o console vendeu 900 mil unidades e 500 mil unidades, respectivamente, até o fim de 2005 -, no Japão o lançamento foi decepcionante. Tal qual acontecera da última vez, os japoneses continuaram não entendendo o que a Microsoft estava fazendo por lá. Há quem diga que o lançamento foi ofuscado pelos portáteis Game Boy Advance, Nintendo DS e PlayStation Portable, mas a verdade é que o público japonês sempre foi muito seletivo, resistente à cultura ocidental e muitas vezes desconfiado. O Xbox 360, por sua vez, nada tinha a oferecer a eles para convencê-los do contrário – destaque para o atraso de Dead or Alive 4 e Enchant Arm que poderiam ajudar o console a engrenar. Resultado: até o fim de abril de 2006 o console vendeu pouco mais de 100 mil unidades e até hoje enfrenta problemas por lá.
Nas bandas de cá o console foi bem recebido desde seu anúncio. A Caixa original, quadradona, desengonçada e um controle para Atari Jaguar nenhum botar defeito se transformou num eletrônico que poderia combinar com a sala de estar. Seu controle ainda traz algumas características do antecessor, mas sua ergonomia foi muito melhorada. Particularmente, é este o controle de melhor pegada dessa geração – cabe perfeitamente nas mãos: não é pequeno, nem grande demais; os gatilhos são excelentes. O único pecado é o D-Pad que tem pouquíssimo grip e machuca o dedo.
No dia 22 de novembro de 2005, o aparelho aterrissou nas lojas em duas versões: a Premium com disco rígido de 20 GB e a Core que não tinha disco rígido. Os consumidores ainda puderam contar com 14 títulos de lançamento, entre eles Call of Duty 2, FIFA 06: Road to World Cup, Madden NFL 06, NBA Live 06, NFS: Most Wanted, Perfect Dark Zero, Quake 4 e Ridge Racer 6. Muitos desses títulos tiveram seu desenvolvimento acelerado para poder atender a data de lançamento do console: mais uma evidência de que as coisas não foram tão bem programadas.
Durante os anos que se seguiram, várias versões do console foram lançadas – e quando dizemos muitas, foram muitas mesmo! O destaque fica para a versão Elite com discos rígidos de 120 e 250 GB e as mais recentes versões redesenhadas Slim com 4, 250 e 320 GB de espaço de armazenamento e que, de uma vez por todas, parece ter solucionado os problemas de arquitetura e das três luzes vermelhas da morte.
Os elevados custos de produção do console fizeram com que a Microsoft renunciasse o lucro que poderia obter com a venda dos aparelhos. O objetivo era claro: saturar o mercado com consoles para então poder lucrar com a venda de jogos, acessórios e serviços. Até setembro de 2007 a empresa já havia “deixado de ganhar” mais de US$4 bilhões. A expectativa era reverter essa situação a partir daquele mês, quando Halo 3 foi lançado, vendendo 3,3 milhões de cópias em 12 dias e fazendo o volume de consoles vendidos duplicar.
Os planos da Microsoft em saturar o mercado deram certo até 2008 quando o Wii ultrapassou o Xbox 360 em quantidade de unidades vendidas. No entanto, o console continua vendendo num bom ritmo nos mais de 35 países (recorde absoluto até hoje) em que foi lançado oficialmente e a principal fonte de lucro da divisão de games da empresa continua sendo a venda de jogos, em especial os que venderam mais de 1 milhão de unidades: Call of Duty: Black Ops, Modern Warfare 1 e 2, Gears of War 1, 2 e 3, Grand Theft Auto IV, Fable II, Forza Motorsport 2 e 3, Assassin’s Creed 1 e 2, Saints Row, Mass Effect 1 e 2 e mais um punhado que totalizam mais de 105 títulos.
No Brasil, o Xbox 360 foi o primeiro console a ser distribuído por sua própria fabricante. Mesmo dominado pela pirataria que se alastrou graças ao PlayStation 1 e 2, a Microsoft apostou no país desde dezembro de 2006 quando o console chegou por aqui oficialmente custando, pasmem, R$2999,00. Esse valor parece absurdo hoje que o aparelho custa R$799,00, temos a nossa disposição a Xbox Live e uma porção de jogos lançados com áudio e legendas em português.
A história do Xbox 360, o primeiro console da atual geração, continua sendo escrita. Porém as cartas para o futuro já foram apresentadas. A principal aposta da gigante é o seu sensor de movimentos, o Kinect. Mesmo vendendo mais de 8 milhões de unidades em 60 dias e tornando-se o produto eletrônico de vendagem mais rápida da história (de acordo com o Guinness World Records), o aparelho ainda não mostrou a que veio no console.
A certeza que se tem até agora é que o periférico tem atraído uma parcela do público casual que , na sua maioria, tem um Nintendo Wii. Quando se trata de jogos mais “tradicionais”, a utilização do Kinect tem decepcionado – que o diga Forza Motorsport 4 e Kinect Star Wars, que sequer foi lançado e já é alvo de pedradas! A tecnologia em si vem amadurecendo e sendo utilizada em diversas áreas e não só no vídeo game. A expectativa é que ela seja nativa no próximo console da empresa e seja utilizada em jogos “For Windows” também.
É difícil prever exatamente que futuro terá o Xbox 360, como será seu sucessor ou que inovações ele poderá nos trazer. Hoje o console ocupa o segundo lugar na “guerra de vendas” da indústria e grande parte do seu sucesso está na excelente biblioteca de jogos disponíveis, bem como o impecável serviço oferecido via Xbox Live.
Opções de streaming de vídeo pelo Netflix, ESPN e Sky Go (na Europa), além do download de demonstrações, jogos independentes, programas de televisão e música via Zune e Windows Media Center ainda justificam o pagamento de uma mensalidade pela utilização da rede na sua totalidade.
Contudo, ao longo de todos esses anos, o console foi superado de longe pela revolucionária proposta de imersão nos jogos do Nintendo Wii e ultimamente vem sendo perseguido de muito perto pelo concorrente direto PlayStation 3, que oferece praticamente os mesmos recursos. Mas esta parte da história é assunto para o próximo artigo.
Depois de anos jogando meu PlayStation 2, pude adquirir o Xbox 360 como sendo meu primeiro console desta geração. Pesou bastante a possibilidade de rodar jogos “genéricos” no console, mais do que a diversão em si. No entanto, me surpreendi com a qualidade do aparelho e sua biblioteca de jogos. Ao contrário de muitos usuários, não tive nenhuma experiência negativa com o console e nunca tive a chance de ver as temidas luzes vermelhas.
Passado algum tempo, optei por vender o modelo antigo para comprar o modelo Slim sem nenhum desbloqueio – e assim estou com ele até hoje. Se eu disser que ele é um console inesquecível, estou mentido. Não, não chega perto do antigo Super Nintendo ou PlayStation One, mas mesmo assim tem bons jogos que me agradaram bastante, entre eles o incrível Alan Wake, a excelente franquia Forza Motorsport, o inteligente L.A. Noire, o divertido Dead Rising, os imensos e imersivos GTA IV e Red Dead Redemption e, o meu preferido, NBA 2K11.
Qual sua história com o Xbox 360? Você o tem em sua casa? Como foi e porque você o comprou? Conte-nos sua história desta geração e deste console nos comentários. E se joga na Live, adicione a minha gamertag: sergi0liveira e deixe a sua nos comentários para jogar conosco!
Revisão: Lucas Oliveira