Mario Bits: Haru, o Príncipe das Flores

em 29/09/2011

Hey, paisano! Hoje, a coluna Mario Bits do Nintendo Blast marca seu retorno em período quinzenal. Relaxe e aproveite! Desde 1981, Mario tem... (por Eduardo Jardim em 29/09/2011, via Nintendo Blast)

Hey, paisano! Hoje, a coluna Mario Bits do Nintendo Blast marca seu retorno em período quinzenal. Relaxe e aproveite!
Desde 1981, Mario tem encarado toda a sorte de antagonistas. Bowser, o rei dos Koopas, já ficou por um triz de dominar o universo tendo a Princesa Peach, soberana do Reino do Cogumelo, na palma de sua mão. O enigmático Conde Bleck conseguiu engatilhar a destruição de absolutamente todas as dimensões existenciais — e realizar o casamento forjado entre Peach e o próprio Bowser Koopa. A milenar Shadow Queen até mesmo se apoderou do corpo da princesa para dar continuidade a seus terríveis planos. Também vale lembrar que Peach fora dominada por uma maldição horrível na história em quadrinhos da Nintendo alemã Super Mario in Die Nacht des Grauens, tornando-se um horrível zumbi blasfêmio. Mas nenhuma dessas forças do mal, sejam Koopas, sapos ou lendas, foi capaz de ferir tanto o coração do Super Mario como o gentil e benevolente Príncipe Haru — ninguém mais, ninguém menos que o noivo da Princesa Peach.

A história aconteceu em 1986, com o lançamento da animação Super Mario Bros.: Peach-Hime Kyushutsu Dai Sakusen! (que traduz para "Super Mario Bros.: A Grande Missão para Salvar a Princesa Peach"). No filme em anime, que jamais fora lançado fora do Japão, Mario e Luigi se aventuram numa épica jornada para resgatar a linda Princesa Peach (conhecida lá na Terra do Sol Nascente como Peach-hime) das mãos do terrível clã dos Koopas, que invadiu os umbrais do Reino do Cogumelo, conquistando e aterrorizando o até então pacífico domínio monárquico. A história, escrita pela mente criativa de Hideo Takayashiki, é bem sólida, divertida e massivamente fiel ao jogo original.

A grande missão


Para um desenho animado criado um ano depois de Super Mario Bros. (Famicom, NES), Super Mario Bros.: Peach-Hime Kyushutsu Dai Sakusen! não decepciona: adota os pequenos detalhes imortalizados na simplística narrativa do jogo e os expande com perfeição. De longe, é possível notar que o roteiro presente no manual de instruções de Super Mario Bros. foi fielmente transpassado para a animação — desde a conquista de Bowser, a transformação dos cidadãos em reles objetos (como blocos, tijolos, moedas e nuvens) e a dupla de irmãos adentrando o Universo do Cogumelo por um sistema de canos um tanto quanto suspeitos (os Warp Pipes). No entanto, algumas liberdades criativas também foram tomadas no roteiro do anime.

Uma delas, por exemplo, é a introdução de novos locais e personagens. Fora os locais presentes no jogo e originalmente descritos no manual de instruções, podemos ver um mini-mercado em que Mario e Luigi trabalham e, mais para frente, um campo de cogumelos alucinógenos. Já entre os personagens apresentados ao Marioverso, estão o eremita que recebe os heróis no Reino do Cogumelo, a velha cliente que se zanga com o Mario por este não lhe dar o devido atendimento no mercado e até mesmo uma estranha criatura similar a um cachorro, de pêlos azulados, que atende pelo nome de Kidibango. O último, inclusive, é que foi o responsável por forçar a entrada dos Irmãos Mario no Reino do Cogumelo, já que, propositalmente, invadiu o mercado, roubou de Mario a "Joia Visionária da Terra dos Tesouros" — um artefato deixado pela Princesa Peach em seu surreal pedido de socorro — e os atraiu para os canos interdimensionais.

Ao chegar ao lado de lá, os gêmeos italianos descobrem, por meio do supracitado eremita, que eles são as peças principais de uma antiga profecia que dizia que o reino seria salvo por "gêmeos do reino do Ocidente, com rostos bigodudos e macacões de grandes botões, roupas coloridas tão fofinhas quanto um jardim de flores e emocionalmente sensíveis" (difícil não gargalhar das caras, bocas e piadas hilárias do desenho). É a partir daí que as aventuras começam a encorpar — com Goombas, Lakitus, Bloopers gigantes e uma série de outros desafios e obstáculos. Kidibango, o cachorro azul, permanece ao lado dos heróis até o fim da aventura — quando, depois de uma hora de filme, os sorrisos dos fãs de Mario se esvaem definitivamente.

A verdade dói


A verdade é que Kidibango não era apenas um canídeo azulado que gostava de roubar pedras preciosas. Ele estava naquela forma por ter sido amaldiçoado pelo clã dos Koopas. Quando Mario e Luigi reuniram os três artefatos místicos — o Super Cogumelo, a Flor de Fogo e a Super Estrela —, a magia que se apoderava de todo o Reino do Cogumelo foi quebrada, retornando todos os afetados às suas formas originais. Em função disso, Kidibango voltou a ser um ser humano — revelando sua verdadeira identidade como Haru, o príncipe do Reino das Flores e prometido da Princesa Peach.

Várias narrativas procuram causar essa sensação de surpresa nos leitores, espectadores ou jogadores; em Wario Land 4 (Game Boy Advance, 2001), quem diria que o gato preto que incomodava o Wario nas intermissões das fases era de fato a misteriosa Princesa Shokora? Ou que, em Double Dragon (NES, 1987), seu parceiro fiel era o líder dissimulado da gangue contra a qual vocês lutaram até o fim? Acontece que o final de Super Mario Bros.: Peach-Hime Kyushutsu Dai Sakusen! é muito mais decepcionante do que esses casos, por uma série de motivos óbvios. A começar pelo fato de que Mario se apaixonou pela Princesa Peach no momento em que a viu, quando ela lhe fez o pedido de socorro. Não há dúvidas de que este seria o casal mais querido de toda a história dos video games (Diddy e Dixie que se cuidem!), mas a revelação final foi o suficiente para fazer com que Mario desfalecesse, tamanha a decepção ao ver que sua amada, fonte de coragem e luta, já havia sido prometida em casamento por alguém de seu nível hierárquico. Em monarquias, casamentos arranjados entre príncipes e princesas eram comuns, especialmente para fortalecer a fonte aquisitiva de ambos os reinados. Mas com Super Mario, é diferente.

É extremamente comum para um fã torcer pela união saudável entre o casal principal; a princesa e o plebeu sempre estiveram fadados a se unir. Não há dúvidas de que A Grande Missão para Salvar a Princesa Peach foi uma animação e tanto, mas seu desfecho é uma dose praticamente impossível de engolir, pesando muito na análise e visão geral do espectador sobre a produção como um todo. Talvez seja por isso que o anime jamais saiu do Japão — porque os ocidentais preferiam ver Mario e Peach juntos, passeando de balão, contemplando o pôr-do-sol da Ilha Delfino ou andando de mãos dadas depois de uma catástrofe universal. Fãs do Mario gostam de sonhar alto com a visão de A Dama e o Vagabundo refletida numa de suas franquias favoritas — ao contrário do lixo afeminado que nos foi apresentado ao fim da animação, criado no propósito solo de destruir o coração do pobre, humilde encanador. Passamos a sentir falta do Kidibango, pois, nessa forma, ficaria nos jardins, ao relento, à procura da cadelinha azul de seus sonhos com a mente corrompida de um cachorro — enquanto o coração da Princesa Peach estaria aberto para aquele que passou por bons bocados para salvar a ela e a todo o Reino do Cogumelo de seu destino terrível, com a fagulha de esperança de que a recompensa lhe faria bem ao coração. Para arrematar, sinceramente, não sei quem teve a estúpida ideia de casar Peach com o randômico Haru. Acho que foi o Toadsworth.

E nos games?


Mas, graças às estrelas, o anime, que nem faz parte da série canônica principal do Mario (que é considerada especialmente pelos jogos da série Super Mario), marcou a única vez em que Peach possui um relacionamento com outra pessoa que não fosse o Mario. Se nós já nos frustramos por ouvir Retentores do Cogumelo dizendo que a princesa está em outro castelo o tempo todo, imagine como seria se Kidibango/Haru estivesse presente no game original:

É interessante notar que Mario também teve sua quota de experiências anteriores ao seu sutil relacionamento com a princesa dos cogumelos; quando foi criado, em Donkey Kong (arcade, 1981), nosso querido Jumpman era o interesse amoroso da americana Pauline — mas foi tudo culpa do vestidinho vermelho indefectível da donzela em apuros... e a história de Mario com macacos parrudos e cidadãs americanas acabou assim que Super Mario Bros. passou a ser desenvolvido.

Hoje em dia, 25 anos depois do filme em anime, Mario e Peach estão estabelecidos como a imagem de um amor perfeito, sutil e que jamais é abertamente confirmado. É essa a fórmula que desejamos para os personagens principais da série Mario — aquela que lhes confere a maleabilidade criativa em relação aos desenvolvedores da Nintendo e garante, com êxito, a longevidade da franquia.
O Mario Bits retorna dentro de duas semanas. Continue ligado para mais destaques e novidades do Nintendo Blast! Doki doki do it!

Natural de São Paulo (SP), Eduardo "Pengor" Jardim é um criador de conteúdo, ilustrador e imaginauta. Criou o Reino do Cogumelo em 2007 e desde então administra e atualiza seu conteúdo, conquistando dois prêmios Top Blog e passagens pela saudosa Nintendo World.
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