Blast from the Past: Shadowrun (SNES)

em 01/08/2011

Quando os primeiros suplementos de RPG’s surgiram em suas versões table top ( mesa ) em meados dos anos 60 , o modelo medieval ... (por Anônimo em 01/08/2011, via Nintendo Blast)

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Quando os primeiros suplementos de RPG’s surgiram em suas versões table top (mesa) em meados dos anos 60, o modelo medieval de Dungeons & Dragons e da fantástica obra de J.R.R. Tolkien ditaram as regra do gênero prosseguindo pelas versões eletrônicas instituídas a partir do final da década seguinte. Tendo como principal nicho os computadores pessoais os jogadores de RPG ansiavam por uma mudança de cenários e assim surgiram os primeiros suplementos SCI-FI que por sua vez iriam estimular a imaginação de outros jogadores e criadores em uma nova vertente.
Eis que então Shadowrun (1989) despontava como a gênese do gênero Cyberpunk, cujo termo sintetiza elementos contemporâneos do cenário suburbano das gangues de rua, facções criminosas e a visão caótica de um futuro alternativo dominado pela corrupção e tecnologia. Ironicamente o suplemento que nasceu nos PCs ganharia sua primeira versão eletrônica no console 16 bits da Nintendo no ano de 1993 não sendo tão aclamada quanto a versão lançada no ano seguinte para seu console rival.

Shadowrun leva os jogadores a cidade de Seattle – Washington no ano de 2050 cuja realidade reflete as conseqüências devastadoras do uso desenfreado da tecnologia e a ambição humana na tentativa de uma conquista global. Seres místicos e a magia aliada a tecnologia quase levou a humanidade a beira da extinção onde após anos de conflitos e negociações territórios foram criados e governados pelas grandes corporações. Parecia que o mundo admirável novo mundo do futuro entraria em tempos de paz e prosperidade, mas, não foi o que ocorreu...

Sob o controle de Jake Armitage o jogador irá descortinar os bastidores obscuros das grandes corporações interagindo no fantástico mundo de Shadowrun. O enigma insolúvel do passado de Jake e a tentativa de assassinato do personagem é apenas o começo de uma grande aventura que iremos relembrar a partir de agora neste review.

Curiosidades e Inspirações


A animação de introdução do jogo mostrando a versão futurista da cidade de Seattle ao fundo parece ter sido inspirada no filme Blade Runner (1982) tal como parte da indumentária de Jake Armitage (cujo nome é singela homenagem a um dos personagens de Neuromance de William Gibson).

Durante um dos eventos do jogo em que Jake passa por um médico para a cirurgia reparadora em seu datajack um mecanismo de detonação é acionado dentro do cérebro do personagem (Bomba Neural). Para muitos fãs do jogo este evento é inspirado no filme “A Fortaleza” (1993) em que Christopher Lambert e outros prisioneiros tinham uma esfera dentro de suas cabeças que poderia ser detonada caso se rebelasse ou tentassem escapar.

O jogo para Super Nintendo é baseado no primeiro livro (suplemento) de Shadowrun chamado: Never Deal With a Dragon de Robert N. Charrette de 1989.

Shadowrun reescreveu os escripts do jogo diversas vezes por que a Nintendo não queria qualquer citação de álcool, drogas e prostituição em seus jogos. Isso vem de encontro ao fato das inúmeras versões betas existentes do jogo.

Gráficos


Diferente de algumas produções para os Arcades onde a Data East conseguia se sobressair relativamente bem no quesito gráfico, o mesmo não pode ser dito quando a empresa desenvolvia jogos para plataformas domésticas e este contraste fica evidente para o jogador em Shadowrun.

A concepção gráfica passa ao jogador toda a atmosfera pesada, sinistra e inóspita de uma cidade dominada pelo medo e opressão onde mesmo os desconfiados cidadãos comuns estão armados até os dentes e prontos para atacar. Adentrar em um novo cenário não é apenas uma questão de exploração é uma prova de sobrevivência. Todavia, os gráficos não passam elementos constantes e nem mesmo a ambientação futurística proposta pelo enredo de jogo, segundo a produtora trata-se de uma licença poética existente em Shadowrun que explica a presença de criaturas místicas e de outras eras como: Orcs, Trolls, Dragões e etc.
Salvo alguns edifícios e as raras cutscenes existentes em Shadowrun toda idéia de futuro fica muito distante durante o gameplay.

A produtora poderia ser mais ousada neste sentido tal como explorar as capacidades do console que na época já gozava o prestigio de ir além das expectativas dos jogadores e fãs do gênero RPG. O tamanho diminuto do cenário e a miniaturização dos personagens e animações não proporcionam uma experiência visual agradável ao jogador durante a jogabilidade.

Os menus e os avatares dos personagens durante as cenas de conversação exibem a mesma simplicidade gráfica. As janelas de texto que aparecem durante as cenas de ação atrapalham o jogador durante alguns combates em tempo real. Se isso já constitui uma falha na versão ocidental, na versão oriental de Shadowrun as legendas em japonês aparecem na tela de jogo gerando uma grande poluição visual.
Quando o jogador invade os computadores e entra no sistema Matrix o jogo muda para uma versão “campo minado” onde mais uma vez a Data East poderia ter investido em animações e em um modo de batalha mais interessante.

Raças - Um pouco da Biodiversidade de Raças, Clãs e Culturas que o jogador irá encontrar em Shadowrun.
Apesar de todas essas falhas o jogo proporciona uma experiência de jogo envolvente graças a seu enredo intrincado e a riqueza cultural suburbana de várias culturas e crenças reunidas em um cenário contemporâneo. Passado, Presente e futuro entram em sincronia e instigam o jogador a descobrir todo o mistério do passado de Jake e os elementos que geraram o universo de Shadowrun.

Som e efeitos sonoros


A Data East bem que tentou compensar a simplicidade gráfica com trilhas sonoras um pouco mais elaboradas, mas, infelizmente peca em alguns aspectos neste quesito conforme veremos a seguir.
As melodias sintetizadas do jogo misturam vários estilos musicais e ganham pontos por ajudar na ambientação do jogador diante das situações. Em momentos em que o jogador encontra um personagem chave na trama a musica assume um tom que mescla revelação e um novo mistério que surge e nas cenas de batalha ela assume uma batida agitada e tensa própria para o momento.

Nota-se, entretanto que existe um desequilíbrio sonoro na hora do fade effect (quando o volume da musica diminui) entre a mudança de uma faixa e outra no jogo e isso aliado ao fato que o próprio som do jogo é muito baixo denota uma falha grave de programação.

Os efeitos sonoros tal como as melodias serão sempre os mesmos no decorrer de um ponto a outro do jogo e levando em consideração que a travessia de um ponto a outro pode ser muito longa faz com que o jogador se enjoe facilmente das trilhas e torne o gameplay cansativo.

Jogabilidade


No papel de Jake Armitage cabe ao jogador descobrir quais os motivos que levaram Drake ordenar a execução do personagem. Sem memória, sem dinheiro e sem amigos, Jake precisa percorrer as perigosas ruas de Seattle em busca de respostas. Uma tarefa nada fácil ainda mais com os controles de jogo que parecem não facilitar muito para nosso herói.

A perspectiva gráfica isométrica sempre foi um problema para jogos de videogame cujos consoles não possuíam uma alavanca analógica direcional e se tratando de Shadowrun para Super Nintendo isso não foge a regra. A movimentação do personagem pelas fases não chega a ser problemática, porém, nos momentos de exploração e batalhas o jogador sente a falta de um controle mais eficiente.

Adotando um sistema point click para ambas as finalidades o D-Pad do Snes movimenta as setas para abrir, vasculhar e recolher objetos assim como a mira na hora da batalha em tempo real. Neste ultimo caso percebemos a grande desvantagem da jogabilidade já que o personagem dificilmente irá se movimentar e atirar ao mesmo tempo. Isso pode ser crucial e a diferença entre a vida e a morte quando estiver cercado por vários inimigos. Tanto a mira quanto a seta se movimentam muito devagar pela tela de jogo e a precisão não é das melhores.

Esse sistema poderia funcionar muito bem para um jogo de PC cujo mouse movimentaria a seta de mira enquanto as setas direcionais do teclado o personagem. Mas a grande prova da falha na jogabilidade e deste importante detalhe é visível tendo como base que as setas podem ser acionadas pelos botões laterais R /l. Portanto imperdoável esta falha nos comandos de jogo.

Mesclando um modo de batalha e exploração o jogador terá que invadir o sistema de computadores para conseguir dinheiro e informações tal como os “Deckers” da trama original de Shadowrun. No modo “Mainframe” o a perspectiva de jogo muda para algo muito semelhante ao jogo “campo minado” onde terá que destruir as travas do sistema e evitar ser atingido por suas armadilhas, cada vez que o jogador é atingido neste modo sua barra de energia diminui e quando esta chega a zero é morte certa tanto no mundo virtual quanto no mundo real.

Mainframe Mode - Existe algo de muito familiar neste nome. Seria uma mera coincidência?
Fugindo da regra da maioria dos RPGs, Jake não conta com um grupo fixo de aliados, para conseguir reforços na hora das batalhas será preciso contratar os serviços de Trolls, Orcs, Punks, Mercenários e Shamans (Deckers) que ao prestarem seus serviços e serem bem pagos por isso podem abandonar Jake até mesmo no meio de uma batalha.
O Jogo não conta com grandes itens como armaduras místicas, elmos e escudos e as armas em sua grande maioria são armas de fogo como revolveres e espingardas. Não basta o jogador estar bem equipado, é preciso estar atento aos seus atributos e melhorar sua performance.
Toda vez que o personagem grava o seu progresso no jogo, dependendo de quantos pontos de Karma ele recolhe durante as batalhes é dada a opção de aumentar os seus atributos desde os físicos (HP) até os pontos de ataque além de pontos extras como resistência, liderança e mais adiante no jogo as magias. Alguns atributos e habilidades também podem ser aumentados mediante a ajuda de outros personagens do jogo, mas para isso é preciso pagar altas quantias em dinheiro.


Como em todos os RPGs além das várias batalhas, o jogador deve dialogar muito com outros personagens que lhe darão palavras chave que devem ser usadas como pistas em outras localidades e pessoas a fim de prosseguir a história. Isso pode ser um pouco cansativo no começo do jogo e irá exigir boa memória além de um bom conhecimento em inglês.

A dificuldade do jogo a primeira vista parece injusta e frustrante, principalmente levando em consideração que o personagem terá que agir boa parte do tempo sozinho e nas batalhas os números estarão sempre contra o jogador. O maior desafio do jogador em Shadowrun será elevar os atributos e o nível de habilidade do personagem de foram equilibrada já que elevar um atributo conseqüentemente irá enfraquecer outros. Mas para todos aqueles que buscam fugir do padrão tradicional dos RPGs convencionais e estão dispostos a mergulhar de cabeça no enredo intrincado de Shadowrun encontrará neste jogo um desafio acima da média.

Ideal para jogadores que querem sair do convencional dos RPGs e se aprofundarem nas origens do gênero Cyberpunk. Shadowrun apesar de contar com diversos pontos negativos traz consigo um enredo bastante complexo e envolvente que instiga o jogador a prosseguir durante o gameplay, este conta com uma dificuldade bem acima da média e é ideal para jogadores que buscam este fator nos jogos do passado.
E sem duvida a oportunidade perfeita para aqueles que sempre ouviram falar do jogo ou o viram perdido em alguma prateleira de locadora, mas nunca tiveram a oportunidade de se aprofundar no título. Garanto que não irão se arrepender e que no final todo esforço valerá a pena.
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