Desde a época de ouro de Atari e companhia, os jogadores tentavam enquadrar seus jogos preferidos dentro de padrões de similaridade. Jogos de “navezinhas”, de plataforma, esportes… Porém a evolução dos videogames permitiu não somente o surgimento de novos gêneros, como também a redefinição nos modelos utilizados. O fato é que essa evolução fez nascer uma série de sucessos, mas consequentemente está enterrando outras dezenas de gêneros obsoletos.
Nos primórdios da história gamer, a simplicidade dos jogos tornava a tarefa de dividí-los em categorias muito fácil. Eram jogos de esporte, de pular plataformas, ou jumper como alguns conheciam, jogos de aventura, jogos de corrida, os populares jogos de aeronaves, e um ou outro título que fugia um pouco à regra. Mas conforme as gerações iam indo e vindo os games se tornaram mais complexos.
Confira, abaixo, uma pequena análise dos gêneros que mais sofreram alterações durante a história dos videogames:
Porrada pra todo lado: o Beat’em Up
O Beat’em up é um dos melhores exemplos de gêneros surgidos na geração 8 bits. Com grandes clássicos como Battletoads e Double Dragon, o gênero se tornou sucesso tanto nos consoles caseiros quanto nos arcades. O crescimento fez surgir uma infinidade de títulos com as histórias mais alopradas, mas com uma característica em comum: bata em tudo que aparecer.
O ápice do gênero foi durante a geração dos 16 bits. Além de continuações dos já citados Battletoads e Double Dragon, outro título se tornou referência no assunto graças ao excelente gráfico na versão arcade e às polêmicas sobre violência contra mulheres: Final Fight. Mas ao mesmo tempo em que o gênero estava na “crista da onda” como se dizia na época, os desenvolvedores acabaram desgastando demais a fórmula. Após dezenas de clones sem o menor sentido, o beat’em up atravessou uma fase obscura durante o período 32-64 bits. Os títulos apesar de contarem com a inovação de um ambiente em 3D mais profundo e agradável de ser explorado não atingiram muito sucesso. O gênero passou a ser visto com preconceito por se tratar de um tema muito raso, sem uma história, que outros títulos da mesma geração apresentavam.
O gênero só voltou a ter grandes títulos de sucesso na geração seguinte. Mas a grande sacada estava no “algo a mais” que cada título possuía. Somente socar os adversários (e os botões) furiosamente não era o bastante para prender a atenção do jogador. Para isso os puzzles foram sendo incorporados como forma de quebrar o ritmo do jogo e oferecer um pouco de história e respiração na pancadaria. Hoje, apesar de alguns títulos ainda apostarem na fórmula antiga de pancada até na sombra, já existem diversas opções que enriquecem a experiência de jogo, dando um novo fôlego ao gênero. Mas a grande barreira a ser ultrapassada pelos desenvolvedores é exatamente a repetição exagerada de cenários, adversários, golpes e missões.
Para o alto e avante! Os simuladores de combate aéreo
Um dos primeiros jogos a serem inventados tinha como inspiração o combate entre espaçonaves de Star Wars. Os jogos de combate entre aeronaves não demorou muito para se tornarem um sucesso. Um dos títulos mais populares do gênero é também um dos responsáveis pelo crescimento vertiginoso da indústria dos videogames: Space Invaders. Na geração Atari, outros diversos títulos apresentaram uma fórmula bem parecida, quase todos com muito sucesso. Outro título que merece destaque pela excelente jogabilidade que apresentou foi River Raid.
Mas a evolução tecnológica não foi tão benéfica ao gênero. Durante a geração 16 bits os simuladores de combate aéreo eram todos muito parecidos, com poucas variações de estilo (salvo o sucesso absoluto Star Fox, que por ser totalmente 3D foi uma verdadeira revolução na época). O resultado foi uma exaustão do estilo da mesma forma ocorrida com os Beat’em Ups. O gênero nunca mais alcançou o mesmo sucesso da era de ouro dos arcades, apesar de apresentar títulos cada vez mais realistas, e seu êxito comercial se encontra basicamente entre os entusiastas da aviação (ou de combate de espaçonaves).
Vai na linha de fundo e chuta que é gol! Os jogos de esporte
Os jogos de esporte se beneficiaram muito com os avanços tecnológicos. Dos bonequinhos cabeçudos de Goal para NES aos magricelas de NBA Live, os jogadores sempre procuraram a experiência mais real possível do esporte preferido. No caso da paixão da maioria dos brasileiros, o futebol, a evolução teve um grande ponto de virada. International Superstar Soccer foi um grande divisor de águas nos títulos de futebol da geração dos 16 bits. Após o sucesso de ISS a adoção do estilo mais realista se tornou padrão nos jogos de futebol subsequentes. Hoje novos modos de jogar futebol vem sendo experimentados graças aos sensores de movimento. A série Pro Evolution do Wii apresentou um novo sistema de aponte e arraste muito bem aceito pela crítica.
Além da evolução nas modalidades mais conhecidas, é perceptível um crescimento no número de jogos que adaptam modalidades incomuns para o videogame. Tais adaptações só foram possíveis graças aos recursos agora disponíveis de profundidade de campo e até mesmo imersão na modalidade. Afinal, jogar boliche no SNES não era tão divertido quanto no Wii Sports, não é mesmo?
O surgimento de novos gêneros (e o ressurgimento de outros)
Nem todos os gêneros nasceram junto com os videogames. Alguns só nasceram depois que a indústria de videogames já estava madura o suficiente para transformar a experiência de jogo em algo mais profundo e divertido. Um dos exemplos clássicos é o First-Person Shooter. Na era do Atari e dos 8 bits, os jogos de tiro já existiam e até faziam sucesso, como a série Contra. Mas somente após o sucesso estrondoso de Doom que os jogos de tiro alcançaram o prestígio que têm hoje. A evolução gráfica só ajudou a consolidar a posição dos FPS como ícones de imersão do jogador.
Da mesma forma, os gêneros de espionagem e de survival horror só conseguiram atingir o sucesso graças ao ambiente 3D que permite deslocamento livre, seja para sobrevivência ou furtividade. Falando em deslocamento livre, existe um verdadeiro abismo entre os títulos Sandbox da geração 32-64 bits e os de hoje. Comparar o primeiro GTA com os GTA’s de última geração parece até absurdo. Mas mesmo com toda a diferença ainda estamos falando do mesmo gênero.
Outro gênero surgido apenas recentemente é o musical. Guitar Hero, Just Dance, Dance Dance Revolution. Todos se beneficiaram das novas interfaces disponíveis ao jogador (tapetes de dança, guitarras, controles de movimento). Mesmo sendo um gênero “novo” já apresenta alguns sinais de exaustão. O cancelamento da franquia Guitar Hero pela Activision é apenas um dos indicadores de que a fórmula precisa ser inovada.
Mesmo com essas novidades, alguns gêneros retornaram do Limbo graças ao estilo de jogo propiciado pelas novas tecnologias. Os donos de Wii que o digam. Os On-rail Shooters voltaram com força e alguns títulos, como The House of the Dead: Overkill, fizeram muito sucesso com a crítica especializada.
Mas a grande verdade é que hoje é muito difícil separar os jogos de acordo com essas categorias. Hoje é muito comum encontrarmos jogos de ação com elementos de RPG, First-Person Shooters com elementos de estratégia e até Sandboxes que misturam diversos outros elementos. Até mesmo dentro de uma mesma categoria é possível encontrar jogos muito diferentes, mas ainda sim com características básicas que os incluem em um mesmo gênero. Um exemplo? Super Mario Galaxy e New Super Mario Bros. Ambos são títulos de plataforma, mas a perspectiva 3D ou 2D faz toda a diferença.
E para você, quais gêneros que ainda te atraem? E quais não te agradam? Sua série preferida passou por alguma alteração que te desagradou? Fazendo uma pequena comparação entre dois títulos “diferentes” qual você prefere: Mario Galaxy ou New Super Mario Bros.?