Lançado em Outubro de 2010 nos Estados Unidos, Sengoku Basara: Samurai Heroes é o mais recente título da série que teve início em 2006, no PlayStation 2, e (pouco) conhecido no ocidente como Devil Kings. Desenvolvido pela Capcom, com assinatura do mesmo produtor de Devil May Cry 4, Hiroyuki Kobayashi, o jogo coloca o jogador nos papéis de mais de uma dezena dos generais que tomaram parte da guerra civil mais conturbada da história japonesa: o período Sengoku (“estados em guerra”, na tradução para o português).
Capcom?!? Mas não era Koei?
Ao analisar a história do jogo é impossível não relacioná-lo com a franquia Samurai Warriors, da Koei. O período histórico abordado pelos dois títulos é exatamente o mesmo e até alguns personagens históricos como Nobunaga Oda e Ieyasu Tokugawa estão presentes em ambos os títulos. O estilo Beat’em Up também é bastante semelhante, no qual você comanda o comandante do exército no campo de batalha fulminando centenas de soldados inimigos.
Mas as semelhanças se encerram por aí. Um olhar detalhado permite identificar que a proposta dos títulos é bem diferente. Enquanto Samurai Warriors prima pela seriedade e veracidade (pelo menos no padrão japonês), a série Sengoku Basara é mais caricata, quase em um tom debochado sobre o próprio exagero da cultura oriental. Armas gigantes, generais super poderosos, e até um guarda-costas com armadura baseada em um mech voador garantem à série da Capcom uma personalidade própria, apesar da ambientação já conhecida.
Figuras históricas mas com licença poética
O terceiro título da série (Sengoku Basara 3, no Japão) traz como ponto de partida a batalha entre Hideyoshi Toyotomi e seu ex-servo, Ieyasu Tokugawa. Apesar de ver seu exército derrotado, Tokugawa consegue matar Toyotomi, por não concordar com sua política de conquistar o Japão a qualquer custo. Mitsunari Ishida, braço direito de Toyotomi jura vingar seu mestre e começa a caçada à Tokugawa.
No início do jogo apenas 6 personagens estão abertos, mas outros personagens secretos serão abertos durante a campanha:
- Ieyasu Tokugawa – Comandante supremo das Forças do Leste. Foi discípulo de Toyotomi juntamente com Ishida, mas, por não concordar com sua maneira cruel de unificação do território japonês, abandonou seu exército.
- Mitsunari Ishida – Comandante da Forças do Oeste. Após a morte de Toyotomi assumiu seu posto e jurou ir até às últimas consequências para vingar seu mestre.
- Magoichi Saica - terceira líder do clã mercenário Saica, não liga para dinheiro ou posses, apenas busca status e reconhecimento no Japão assolado.
- Kanbe Kuroda - Ex-membro das forças de Toyotomi. Foi exilado após descobrir os planos de Ishida.
- Masamune Date – Principal personagem do título anterior, é o jovem líder de Oshu. Busca uma vitória sobre Ishida para reerguer o poder de seu estado e seu próprio orgulho.
- Yokimura Sanada – General das forças Shingen, após a doença do líder do clã, Takeda Shingen. Possui uma rivalidade com Tokugawa que espera concluir em breve.
Apesar de conter diversos traços dos próprios personagens históricos, como por exemplo Masamune Date, samurai que ficou conhecido no Japão como DokuganRyu (Dragão de um olho só) que foi retratado com fidelidade no jogo, mas que para se adequar ao caráter exagerado luta utilizando seis (!?!) katanas de uma só vez. Outra mudança feita para balancear a presença feminina no jogo foi a transformação de Magoichi Saica (na vida real um homem) em mulher.
Exagerado no estilo Basara
A influência exagerada dos animes não se restringe ao estilo dos personagens ou elementos sobrenaturais. As batalhas são verdadeiramente caóticas. As dezenas de inimigos que cercam o personagem na tela tornam o campo de batalha um tanto confuso mas colaboram para combos de 200, 300 e até mesmo 600 hits! Quanto mais alto o combo realizado mais prêmios o jogador recebe ao fim da batalha.
Outro ponto marcante no jogo é a presença do Basara Gauge, um marcador que, quando cheio, permite a utilização de ataques devastadores. Outro marcador de poderes especiais é o Hero Time, que permite ao jogador se movimentar em um ambiente em câmera lenta (no mesmo estilo “bullet time”). Se utilizados conjuntamente, é possível lançar o Basara Ultimate Attack, versão mais forte e ampliada do Basara Attack normal.
Ok, mas nem tudo é tão espetacularmente Basara assim…
Apesar de grandiosas, as batalhas caem no mesmo problema crônico dos Beat'em Up lançados nos últimos tempos. A repetição dos inimigos e a AI muito debilitada torna o jogo muito fácil durante as batalhas. Os oponentes são extremamente inofensivos e caem como mosca perante os golpes do seu general. As missões praticamente se resumem em invadir o castelo/fortaleza/acampamento do inimigo, derrotar todos no caminho até encontrar o general do local e vencê-lo. O mapa é dividido em pequenas áreas, cada uma guardada por um comandante especial que fica em um posto de controle. Ao derrotá-lo, seu exército se torna o ocupante da área garantindo recursos e alimento para seu batalhão.
No período entre batalhas você se prepara para a próxima luta podendo equipar seu general com novas armas, novos acessórios e até mesmo novas roupas, mas nada que mude de forma radical seu estilo de luta ou elimine potenciais fraquezas de cada personagem. A personalização do general ficou devendo.
O gameplay também não foge muito do padrão. Um botão para ataques rápidos e fraco e outro para ataques mais fortes. Apesar de simplista, qualquer outra combinação utilizando o movimento do WiiMote seria extremamente cansativa, já que a quantidade de inimigos a serem vencidos é enorme. A única vez em que os recursos de chacoalhar do controle são utilizados é ao ativar os Basara Attacks. Com isso em mente, é muito mais agradável, e sensato, desfrutar do jogo com um controle clássico.
Mesmo com a facilidade de derrotar um batalhão inimigo com o “exército de um homem só”, o modo cooperativo do jogo também é explorado no modo offline, com dois jogadores dividindo a mesma tela. Caso um dos dois morra, o outro só precisa se aproximar de seu corpo até que ele seja reanimado.
Os gráficos não são sensacionais, mas também não decepcionam. A repetição dos soldados inimigos é compreensível, dado o número de adversários simultâneos na tela. E mesmo com esse caos de soldados apanhando e batendo, o jogo mantém uma taxa de frames agradável que não deixa ninguém na mão.
“Que o sol nasça no leste com um sorriso!”
Se por um lado o gráfico in-game é apenas razoável, as cutscenes contando o desenrolar da história e das batalhas são muito bem feitos. Destaque para os comentários das cutscenes no meio das batalhas que muitas vezes fazem chacota com a própria ignorância dos soldados inimigos. As dublagens, mesmo em inglês, não são ruins, apesar de muitas vezes levar para um tom mais cômico ou irônico, o que já é de se esperar após algumas horas de experimentação.
Para finalizar, não é um jogo ruim, nem de longe. Mas traz algumas marcas de um estilo de jogo muito desgastado desde os tempos dos 16 bits. Apesar de possuir muita personalidade e momentos espetaculares, o jogo fica muito mais marcado pela imbecilidade dos oponentes e pelas limitações do próprio beat’em up. Nem mesmo a possibilidade de criação de novos acessórios consegue prender o jogador por tanto tempo. O fator replay fica muito condicionado ao fato do jogador se interessar pela história e tentar zerar o jogo com cada general. A tarefa é longa, afinal são 6 generais iniciais mais 10 que podem ser habilitados. Mas mesmo com suas limitações o jogo ainda é um dos melhores em sua categoria, sem ficar devendo em nada para os outros samurais da Koei…
Prós
- História empolgante, cheia de alianças e traições
- Exagero na medida para os fãs de anime
- Curva de aprendizado baixa, em poucas horas para dominar o jogo
- Cheio de personagens secretos e modo gallery para ver a história de todos
Contras
- AI dos oponentes muito baixa, chega a ser frustrante
- Não há checkpoints. Morreu volta do início da batalha
- Missões repetitivas
Sengoku Basara: Samurai Heroes – Nintendo Wii – Nota Final: 7,5
Gráficos: 7,0 | Som: 7,5 | Jogabilidade: 6,5 | Diversão: 8,0