Todo mundo sabe que comprar video-games não é a coisa mais fácil do mundo, especialmente no Brasil. Ele não é o tipo de coisa que compramos todos os dias, mas que merece uma certa economia. A indústria dos games cresce, disputa o entretenimento até mesmo com o cinema e abrange muitos públicos e plataformas . Desse jogo financeiro, surge aquela pergunta: Qual o valor dos games que jogamos? É o preço que vem na embalagem ou algo mais?
Há games, hoje em dia, que são verdadeiras super-produções, com um custo de produção altíssimo e que exige que se tornem sucessos comerciais para trazer lucros. No entanto, games simples e práticos e abertos aos desenvolvedores com os da AppStore ou das redes sociais proliferam ainda mais. Com as diferenças de preço aumentando (games de PS3 são mais caros do que os de Wii, que são mais caros do que os de iPod), isso afeta o valor que cada game tem para nós e em como lidamos com ele. Será que continuaremos a guardar nossos cartuchos antigos na estante com símbolo daqueles momento prazerosos de jogatina ou passaremos a consumir e descartar os jogos comprados online?
A evolução dos preços
Desde a época do NES à atual situação dos consoles, o preço dos jogos é um dos fatores mais determinantes no lucro das empresas, especialmente para as third-parties, já que elas lucram apenas com a venda de software. O que faz uma pessoa comprar um aparelho voltado para jogos são os seus jogos, logo, é importante que daí seja tirado o lucro. Games para Xbox 360 e PlayStation 3 variam de U$ 40,00 a U$ 60,00, jogos para o Wii vão de U$ 20,00 a U$ 50,00. Este é o valor que se tem para pagar os funcionários que trabalham no desenvolvimento dos jogos, o transporte, a embalagem e ainda sobrar dinheiro (o lucro).
Este tipo de jogo tem os preços altos em relação aos games mais antigos, pois necessitam de uma equipe grande. Os consoles HD, por exemplo, tem efeitos visuais dignos de uma produção cinematográfica. A música antes era monofônica e era improvisada por alguém da produção que tinha um pouco de aptidão. Hoje, games como Super Mario Galaxy 2 tem dezenas de faixas orquestradas e sua trilha sonora é vendida separadamente como qualquer outro CD de uma banda famosa. Jogos como Rockband ou Guitar Hero possuem músicas licenciadas das mais populares bandas de pop e rock. Hoje, temos muitas pessoas trabalhando em um jogo e várias para uma única função. Dê uma olhada no encerramento de Super Mario World e veja que menos de 20 pessoas trabalharam no jogo (o Special Thanks não conta), agora assista aos créditos de Super Mario Galaxy 2 e veja a infinidade de nomes que aparecerão. Mais empregados, mais cargos e um maior custo de produção inevitavelmente aumentam o preço dos games.
Já na AppStore (loja virtual do iPhone, iPod e iPad), os preços podem ser poucos centavos e até mesmo U$20,00, existe também uma imensidão de jogos totalmente gratuitos. Mas como esses jogos conseguem ser tão baratos a ponto de custarem o troco do pão? Primeiramente, não é preciso ter um grande estúdio para produzir jogos para as plataformas da Apple, então uma equipe consegue criar jogos em casa mesmo. Segundo que os jogos são vendidos digitalmente, o que dispensa custo com a embalagem, manual, transporte e os custos da loja física. Terceiro que o aparelho não é voltado apenas para jogos (mas música, vídeo, trabalho e internet também), logo, o lucro pode ser dividido entre outras coisas que não sejam apenas games, o que diminui o preço. Para finalizar, os jogos baratos são quase sempre bem simples e com um princípio básico semelhante ao de vários outros, logo, bem fácil de ser programado.
De certa forma, as grandes empresas de jogos físicos não estão ignorando a ameaça de iniciativas como a da Apple. Todos os sistemas atuais da Nintendo, Microsoft e Sony possuem lojas online com uma aparência cada vez mais próxima das físicas (já que as vitrines são fatores de compra). Muitas empresas como a Ubisoft usam manuais em preto e branco na caixa do jogo, e muitas nem querem mais imprimir um.
No Nintendo 3DS, por exemplo, a Nintendo retirou quadradinhos de plástico das caixas de jogos para diminuir o consumo de plástico. Além disso o uso de DLCs também configura-se como uma forma de aumentar os lucros. Jogar games comprados em caixas ainda é realidade, mas o potencial online não pode ser ignorado
Simplicidade e Complexidade
Há questão é: games descartáveis e simples são a evolução natural dos video-games? Constantemente, tendências dos eletrônicos esmagam outras. Quem, hoje em dia, vai usar fitas de video-cassete com um DVD em casa? Na verdade, até o Blu-ray já é uma ameaça para o querido DVD. A evolução é rápida, e será que ela acontecerá com os games? Os preços baixos das lojas online da Apple e Android facilitam a vida de muita gente, e esse tipo de loja só tende a crescer. Para os gamers mais tradicionais, a coisa é mais complicada.
Alguns reclamam da falta de botões nos smartphones que dizem ser plataformas de game, mas outros reclamam do “valor” do jogo. Não falo dos preços, mas do poder que o game tem de marcar a sua vida. Por exemplo, você pode conseguir um score altíssimo em Angry Birds (sucesso para smartphones) e pagar poucos centavos (ou nenhum tostão) para jogar, mas não é o tipo de jogo que te deixa encantado como a primeira vez que você zerou The Legend of Zelda: Ocarina of Time, mesmo que o jogo custe mais caro.
É mais confortável comprar jogos sem precisar sair de casa e usando apenas uma conexão à internet (para nós, brasileiros, os impostos também não pesam tanto no serviço online), mas há um limite de conteúdo. Não é a toa que games vendidos para WiiWare são mais simples do que os comercializados em caixas, e a mesma lógica aplica-se à AppStore. É difícil colocar um conteúdo maior do que 1 ou 2 GB em um serviço digital. O iPhone 4, por exemplo, é mais potente que um DS e bate de frente com um 3DS, mas seus games não tem o mesmo nível de complexidade, em sua maioria. Com menos espaço, não é possível explorar tanto o game.
Sabemos que existem muitos jogos complexos na AppStore e em outros serviços, mas a grande maioria é descartável. Você baixa, joga por algumas vezes, bate um recorde e algum tempo depois já foi esquecido, não passam de um prático passa-tempo apenas. Não falo de todos os jogos, mas é sob essa lógica que a maioria das produtoras para este tipo de plataforma trabalha. O “valor” que o jogo tem para nós é perdido nesse processo, apesar dos preços baixos serem provocantes.
Esse é o grande entrave dessa “evolução natural do mundo dos games”. Video-games são regidos por tecnologia e lógica de mercado, mas o epicentro desse sistema são os games. Games estes que criam fãs. Games que alcançam o patamar de arte e símbolo de uma geração, logo, não é fácil definir um rumo para eles. Essa disputa entre aparelhos e suas formas de jogar pode ser vista por outra ótica através da Discussão: Precisamos de Uma Plataforma Faz-tudo? do Bruno Grisci
E para você, qual o valor que os jogos tem em sua vida? Você consegue se sentir realizado ao terminar games simples e baratos, ou vale a pena pagar um pouco mais por algo mais completo?
Afinal, os games são jogados ou consumidos?