É bem verdade que não há grande variedade nos jogos da série LEGO, desenvolvidos pela TT Games desde 2006. Embora a série de filmes usada como temática principal mude bastante, passando por Star Wars, Indiana Jones, Batman, Harry Potter e, agora, Piratas do Caribe, a jogabilidade sempre permanece praticamente inalterada. Mas, mesmo com uma fórmula repetitiva e mesmo sempre apresentando alguns problemas, não há como negar que há uma sensação agradavelmente prazerosa que apenas estes jogos conseguem proporcionar.
Não sei se é o visual, o grande conteúdo de extras para serem liberados ou simplesmente o barulhinho que as pecinhas de plástico fazem, mas o fato é que se você nunca jogou um jogo da série LEGO, não perca a oportunidade de fazê-lo, pois é bem provável que você também se sinta rapidamente cativado pelas aventuras dos bonequinhos de plástico. O 3DS já recebeu uma adaptação de LEGO Star Wars III: The Clone Wars, mas é com o novo LEGO Pirates of the Caribbean que a série realmente se destaca no novo portátil da Nintendo. Continue lendo a análise para descobrir porque a combinação de pequenas modificações e recursos dos quais somente o portátil é capaz talvez tornem a versão do jogo para 3DS a melhor entre todas.
Tudo começou com uma atração chamada “Pirates of the Caribbean”, inaugurada em 1967 no parque de diversões Disneyland, na Califórnia, EUA. Com base nesta atração (que continua até hoje e já foi reproduzido nos demais parques da Disney), o filme Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra foi produzido. O sucesso foi tanto que rendeu mais três filmes, sendo que o último, Navegando em Águas Misteriosas estreou recentemente nos cinemas. Com o crescimento da franquia, era de se esperar que ela chegasse também ao mundo dos games. Jogos baseados em filmes geralmente correm riscos de serem grandes fracassos, mas se estamos falando da série de jogos LEGO, que fazem sátiras de filmes usando as famosas pecinhas de plástico, podemos ficar mais tranquilos. Mesmo com alguns problemas recorrentes, os jogos LEGO são sempre bem divertidos, dando enfoque na exploração e no estilo próprio, ao invés de se prenderem demais às tramas dos filmes. Isto também se aplica a LEGO Pirates of the Caribbean: The Videogame, que reinterpreta, no universo LEGO, as quatro aventuras do pirata Jack Sparrow: A Maldição do Pérola Negra, O Baú da Morte, No Fim do Mundo e Navegando em Águas Misteriosas.
Yo ho, yo ho, a LEGO Pirate’s life for me!
Como mencionei acima, LEGO Pirates of the Caribbean segue a mesma fórmula já consolidada da série. O jogo é divido em várias fases e, para passar por elas, é necessário resolver muitos puzzles, geralmente envolvendo montar pecinhas de LEGO e usar diferentes habilidades dos personagens. Normalmente há mais de um personagem disponível e é possível alternar entre eles para usar aquele que tenha a habilidade necessária para resolver os puzzles ou passar pelos obstáculos. Naturalmente, muitas das habilidades estão relacionadas ao mundo dos piratas, incluindo cavar, usar espadas e pistolas, transformações em piratas mortos-vivos, magias vodu, usar a bússola mágica de Jack Sparrow e muitas outras coisas mais. Às vezes é também necessário contar com a ajuda de animais, incluindo cachorros, papagaios e macacos.
Também como de costume, a dificuldade é baixa, já que os puzzles são fáceis de serem resolvidos e, para facilitar as coisas ainda mais, o próprio jogo indica qual personagem deve ser utilizado em cada situação (desde que o personagem esteja disponível, é claro). Depois de completar uma fase, é possível retornar para ela, usando diferentes personagens, para juntar todos os itens colecionáveis: cada fase esconde dez navios em garrafa (usados para desbloquear modelos tridimensionais), um tijolo vermelho (que desbloqueiam trapaças para serem compradas) e quatro moedas de ouro (que só servem para serem colecionadas). Entre as fases, você pode andar por um porto, no qual é possível comparar personagens novos, trapaças, vídeos, etc.
Outra coisa que não pode faltar é a história dos filmes, reproduzida usando bonequinhos LEGO. Assim como nos outros jogos, Lego Pirates of the Caribbean faz um excelente trabalho contando a história dos quatro filmes da série de forma hilária e nunca usando nenhum diálogo. Só não espere conseguir entender a trama complexa dos filmes apenas com tais animações. Se você não assistiu algum dos filmes, o jogo só vai conseguir te transmitir algumas ideias chave e é bem provável que você fique confuso com muitas coisas. Mas, por um lado, isso é bom, já que mesmo não tendo assistido a algum dos filmes, você pode jogar o jogo tranqüilamente, sem se preocupar com muitos spoilers. E, mesmo incluindo Navegando em Águas Misteriosas, o filme mais recente da série, dá para perceber bem que esse é o que recebeu menos atenção no jogo, no sentido de contar detalhadamente a história (apresentando até mesmo animações de menor qualidade)... provavelmente para não entregar muito da trama de um filme que ainda é tão recente. Por outro lado, se você já é fã de Jack Sparrow e seus amigos (e inimigos), jogar LEGO Pirates of the Caribbean só se torna mais divertido ainda, já que você reconhecerá muitas cenas e personagens conhecidos. E muita atenção foi dada para reproduzir o universo de Piratas do Caribe da melhor forma possível, mesmo com bonequinhos LEGO. Isso é rapidamente evidenciado pelo modo desengonçado que o bonequinho do personagem Jack Sparrow corre, exatamente como nos filmes.
Como em todas as outras versões do jogo, LEGO Pirates of the Caribbean para o 3DS conta com a magnífica trilha sonora dos filmes, composta por Hans Zimmer, que acompanharão o jogador durante toda a aventura (o que implica ficar muitos dias cantarolando incontrolavelmente o tema principal da série).
Piratas em 3D
Pois bem, o que falei até agora poderia se aplicar à versão do jogo para qualquer console ou portátil. Se você já jogou alguma dessas outras versões, ou se você já leu a análise que o Gustavo Assumpção fez da versão para o DS, você muito provavelmente deve estar se perguntando o que a versão do 3DS traz de diferente. É igual ao do DS, com efeito 3D? Ou se parece mais à versão do Wii e demais consoles?
A versão de LEGO Pirates of the Caribbean para o 3DS é, basicamente, igual ao do DS. É a versão “resumida” da que está disponível para consoles, como o Wii: enquanto a versão para consoles apresenta um total de 20 fases (cinco por filme), a dos portáteis conta com apenas quatro por filme, totalizando 16. Há também várias modificações nas fases para deixar a versão portátil mais simplificada (não apenas no sentido de processamento, mas também para não “poluir” a pequena tela com informação demais). A funcionalidade do touchscreen utilizada na versão para DS, no qual os personagens disponíveis são mostrados na tela inferior, permitindo uma seleção mais fácil, foi mantida no 3DS. Infelizmente, também foi mantido o sistema de duelos piratas nas batalhas mais importantes e que consiste simplesmente em apertar botões na hora certa. Como no DS, a dificuldade é mínima e deixa de ser interessante depois dos dois ou três primeiros duelos. Outra diferença com relação à versão dos consoles é que não há modo multiplayer. Há, entretanto, um ponto positivo nisto. Nas versões para consoles, mesmo jogando-se individualmente, um segundo personagem, controlado pelo computador, acompanha o jogador. A inteligência artificial deste “parceiro”, entretanto, deixa a muito a desejar e acaba só atrapalhando. No 3DS, por não existir este segundo personagem, a jogabilidade fica muito mais fácil.
Há várias outras pequenas modificações que, embora tenham sido feitas com a intenção de simplificar o jogo para o portátil, acabaram eliminando alguns problemas e inconveniências das versões para consoles. Inimigos, por exemplo, aparecem com menos frequencia e não ficam ressurgindo a toda hora. Para obter novos personagens, ao invés de ser necessário sair “caçando-os” no porto principal, basta ir à taverna e selecioná-los usando um prático menu.
Em se tratando de gráficos, a versão do 3DS naturalmente supera, em muito, a do DS, comparando-se mais à do Wii. As animações pré-renderizadas, que no DS apresentam uma qualidade péssima, no 3DS podem ser vistas tão bonitas quanto são na tela grande. E então temos o fator 3D. A primeira impressão pode ser que este jogo, que não é nem exclusivo ao novo portátil, não se beneficiaria particularmente do efeito 3D do 3DS. Entretanto, a agradável surpresa é que, não apenas o efeito foi muito bem utilizado como também que este é um dos primeiros jogos do 3DS a demonstrar como o efeito realmente pode auxiliar na hora do jogo, principalmente em jogos de plataforma. Enquanto as versões para consoles são criticadas por ser difícil de se controlar os personagens e por acontecerem muitas mortes desnecessárias decorrentes de pulos mal calculados, você dificilmente passará por uma situação dessas jogando LEGO Pirates of the Caribbean no 3DS, já que o efeito 3D possibilita uma noção muito precisa da profundidade do cenário e a posição exata das plataformas. Fora essa questão, o 3D simplesmente deixa os gráficos muito mais bonitos de se verem. De postes e árvores que se colocam na frente da câmera parecendo realmente estarem bloqueando a tela, às gotas que caem em cenas de chuva e pecinhas de lego que voam na direção do jogador... este é, verdadeiramente, um jogo que deve ser apreciado com o medidor 3D colocado no máximo. Até mesmo as animações pré-renderizadas, que poderiam ter sido facilmente portadas de outras versões sem a adição do 3D (como foi feito com Super Street Fighter IV 3D Edition, por exemplo), receberam um retoque tridimensional extremamente bem feito.
Duelos no StreetPass
Mesmo não contando com um modo cooperativo, o multiplayer não ficou completamente de fora de LEGO Pirates of the Caribbean para 3DS, já que o jogo utiliza a função StreetPass do portátil para que jogadores se enfrentem em duelos. Primeiro, deve-se selecionar um personagem e escolher três movimentos de ataque e três de defesa. Depois, basta deixar o 3DS no modo StreetPass. Se você passar próximo de outro 3DS que também tenha dados salvos do LEGO Pirates of the Caribbean, os personagens automaticamente travarão um duelo: os movimentos de ataque e defesa de cada um serão comparados (algo no estilo “pedra-papel-tesoura”) e, aquele que causar mais danos ao adversário, sairá vencedor e ganhará pontos de experiência, que poderão ser usados para aumentar os atributos do personagem ou para aprender novos movimentos. Apesar dos duelos acontecerem quando o jogador não está olhando, é possível visualizar os resultados de todos os duelos ocorridos e, ainda, ver os replays das batalhas. Novos personagens para usar em duelos também podem ser comprados usando os Play Coins do 3DS. O modo StreetPass é totalmente independente do jogo principal, mas traz um bom divertimento adicional... desde que você tenha acesso a outras pessoas com 3DS e com o jogo LEGO Pirates of the Caribbean, é claro.
Se você já jogou outros títulos da série LEGO e a ideia de mais um jogo no mesmo estilo não te atrai, LEGO Pirates of the Caribbean para o 3DS pode trazer justamente a dose de novidades para fazer a experiência valer a pena. Apesar de ser mais curto que as versões para consoles, a versão para 3DS acaba se destacado pelo excelente uso do 3D e pelos problemas que evita graças à sua “simplificação”. E, em uma época em que os jogos realmente bons de 3DS ainda estão começando a aparecer, esta é uma ótima opção para colocar o portátil em bom uso.
Prós
- Bons gráficos e música, com a trilha sonora dos filmes;
- Efeito 3D muito bem utilizado;
- Contorna problemas encontrados nas versões para consoles;
- Humor característico da série se aplica muito bem aos filmes;
- Grande quantidade de conteúdo extra;
- Modo StreetPass garante uma diversão adicional.
Contras
- Sem contar o conteúdo extra, o jogo é curto;
- Muito fácil;
- Menos fases e conteúdo que as versões para consoles;
- Não há modo cooperativo para dois jogadores;
- Não há modo online.
LEGO Pirates of the Caribbean – The Videogame – 3DS – Nota Final: 8.0
Gráficos: 8.5 | Som: 9.0 | Jogabilidade: 8.0 | Diversão: 8.0
LEGO Pirates of the Caribbean – The Videogame nos foi gentilmente cedido para análise pela Iguana Mall. www.iguanamall.com.br |