A espera por um novo jogo da série The Legend of Zelda é sempre cheio de expectativas e ansiedade. Enquanto esperamos o novíssimo The Skyward Sword ser lançado no Wii e pelo remake do clássico Ocarina of Time no 3DS, vamos lembrar neste Blast from the Past, um dos títulos mais importantes da série: The Wind Waker, a épica aventura de Link no Game Cube que ficou caracterizada por estar rodeada de fortes críticas. Primeiro, o descontentamento sobre a alteração no visual do jogo e depois a sua elevação a um dos melhores jogos da série.
Das críticas ao êxito
Em Agosto de 2000, a Nintendo revelou oficialmente o console que sucederia o Nintendo 64: o GameCube. Além do cubo, também foram exibidos vídeos que demonstravam o poder do novo console. Entre 128 Marios ocupados com diferentes atividades e Luigi enfrentando fantasmas, um vídeo chamou particularmente a atenção do público: nele, um Link e Ganondorf renderizados em tempo real e extremamente realistas e bem feitos (para a época, é claro), se enfrentavam em uma empolgante batalha de espadas. A demonstração ficou só nisso, deixando os fãs babando. Embora aquela demonstração tivesse o propósito apenas de mostrar do que o GameCube era capaz e, assim como vários dos outros vídeos, não se tratasse de um jogo de verdade, todos começaram a especular que aquela batalha entre Link e Ganondorf era um indício do que deveria ser esperado do próximo The Legend of Zelda. Claramente, a Nintendo pretendia dar continuidade ao estilo realista introduzido por Ocarina of Time, se aproveitando ao máximo das capacidades tecnológicas do cubo
Eis que em 2001, um ano depois, a Nintendo revelou pela primeira vez imagens oficiais do que seria o próximo jogo da série, a ser lançado no GameCube. Foi o momento de muitas coçadas na cabeça, narizes torcendo e piadinhas envolvendo as Meninas Superpoderosas. No lugar de um herói adulto, com aparência realista e cenários nos moldes de Ocarina of Time, o que foi mostrado era um Link infantil, que parecia ter saído diretamente de um desenho animado e gráficos coloridos utilizando a tecnologia cel shading. Diga-se de passagem que a imagem escolhida para mostrar esta nova aparência de Link pela primeira vez não foi uma escolha muito boa. Veja aí na imagem... a cara do herói parece meio amassada e essa piscada de olho só o deixa mais esquisito. A crítica foi grande e, naturalmente, muitos fãs ficaram preocupados que aquilo significasse que a série estivesse sendo levada para uma audiência mais infantil. No ano seguinte, entretanto, uma versão jogável de The Wind Waker (embora ainda não tivesse esse título) e a coisa começou a melhorar, já que ficou claro que apesar da mudança nos gráficos, o estilo tradicional da série não seria afetado. Finalmente, em 2003, The Legend of Zelda: The Wind Waker foi lançado e não só provou de uma vez por todas que era um digno jogo da série, como também teve tanto êxito que recebeu a nota máxima de 40 pela revista japonesa Famitsu e hoje é considerado por muitos um dos melhores jogos de The Legend of Zelda.
A fórmula do sucesso
Mas o que é que fez de The Wind Waker um jogo tão bom? Poderíamos começar falando, ironicamente, nos gráficos. O que antes foi motivo de decepção, hoje podemos ver que foi uma acertada em cheio da Nintendo. Além de dar uma cara nova à série, este estilo foi muito bem utilizado em The Wind Waker, não só por mostrar gráficos muito agradáveis de ver, mas também por possibilitar situações que simplesmente não funcionariam tão bem com gráficos realistas. Lembram-se, por exemplo, da cena em que o Link é disparado por um canhão para dentro da Forsaken Fortress e da cara hilária que ele faz? E, apesar disso, o jogo consegue manter a seriedade quando necessário, como na batalha final contra Ganondorf, por exemplo.
A trilha sonora também é excepcional, contanto com algumas das músicas mais bonitas de toda a série. Além de versões modificadas de músicas já conhecidas de jogos anteriores, como, por exemplo, o tema principal de The Legend of Zelda e a música de Kakariko Village, The Wind Waker também conta com diversas trilhas originais e igualmente memoráveis, com uma forte influência irlandesa (evidenciada pelo uso de gaitas-de-fole) e, em partes, andina (como em Dragon Roost Island, onde ouvimos uma música tocada por flautas e violão).
The Wind Waker também conta com tudo aquilo que sempre esperamos de um jogo da série: diversos calabouços, cada vez maiores e mais complexos, diferentes itens e armas para encontrar, um mundo enorme a ser explorado e muitos segredos para serem desvendados. Muita coisa também foi herdada de Ocarina of Time, incluindo a movimentação de Link no mundo tridimensional e a possibilidade de atribuir diferentes botões para os acessórios e armas, facilitando o uso destes a qualquer momento. A novidade deste jogo é o meio de transporte: em vez de percorrer grandes planícies a cavalo, como acontecia nos jogos do Nintendo 64, em The Wind Waker, Link deve navegar por um enorme oceano a bordo de um barco à vela. Para isso, o herói deve controlar os ventos usando os poderes de uma batuta chamada Wind Waker. O uso da batuta se assemelha ao da Ocarina dos jogos anteriores (embora bem menos divertido), onde deve-se fazer uma combinação correta de comandos para, neste caso, conduzir uma determinada música. Assim como a Ocarina, cada música que Link conduz usando o Wind Waker tem um poder diferente, sendo que o principal e mais usado deles é o de mudar a direção do vento e, assim, poder navegar para onde se deseja. A necessidade de ter que mudar constantemente a direção do vento, entretanto, acaba ficando um pouco cansativo, mas isso é um detalhe mínimo e, felizmente, existem também furacões que servem como um meio de transporte rápido para determinados locais.
A história por trás da lenda
Mas como é que Link foi das verdejantes e enormes planícies de Hyrule Field para oceanos extensos e traiçoeiros? Logo no início de The Wind Waker um breve prólogo é mostrado, contando o decorrer de eventos que levou a terra de Hyrule a um triste destino.
Depois de derrotar o terrível e maligno Ganondorf e aprisioná-lo no Reino Sagrado de Hyrule, o Herói Lendário desapareceu em outra jornada e nunca mais retornou. Sem o Herói para atrapalhar os seus planos, Ganondorf de alguma forma conseguiu eliminar os Sábios que rezavam nos templos de Hyrule para que os deuses continuassem a abençoar a espada sagrada Master Sword com os poderes de repelir o mal. Sem a proteção da Master Sword, Ganondorf foi capaz de espalhar o seu reino de terror por toda a terra de Hyrule, sem que ninguém pudesse detê-lo. Antes que o inimigo pudesse alcançar um poder realmente imbatível, os deuses decidiram agir de forma drástica. A Master Sword foi usada novamente como chave de aprisionamento, mas desta vez não apenas para o Reino Sagrado, mas sim para toda a terra de Hyrule. Depois que o reino e seus habitantes foram congelados, uma chuva torrencial começou a cair, transformando a terra em um enorme oceano e restando apenas pequenas ilhas, que antes eram os topos das montanhas. Algumas pessoas, entretanto, foram poupadas pelos deuses desse terrível destino, de forma que pudessem criar uma nova civilização acima do Grande Mar. Muitos séculos se passaram e o reino de Hyrule foi esquecido quase que completamente, a não ser por algumas lendas passadas de geração em geração. Em uma pequena ilha, os habitantes mantiveram a tradição de vestir jovens garotos com túnicas verdes, em lembrança do Herói Lendário.
Para surpresa de ninguém, o protagonista de The Wind Waker é um habitante desta ilha e a história começa justamente quando o garoto recebe a sua tradicional túnica verde (se você está pensando que teria vergonha de usar uma coisa do tipo, Link também pensou assim... é só ver a cara dele ao ganhar as roupas da sua querida avó). A aventura de Link começa quando uma misteriosa e gigantesca ave rapta a sua pequena irmã Aryll e a leva para longe. Com a ajuda de um grupo de piratas liderado pela jovem Tetra, o nosso herói parte em busca da irmã. Pouco depois, entretanto, se encontra com um barco à vela falante chamado King of Red Lions (não, Link não havia bebido antes disto acontecer), que lhe conta que a trama é muito mais complexa: o responsável por trás da captura de Aryll era Ganon, o mesmo terrível inimigo que havia aterrorizado a terra de Hyrule há centenas de anos e que agora, de alguma forma, havia conseguido se livrar do selo dos deuses (sempre é assim, não é? Esses deuses precisam se esforçar mais!) e que agora se preparava para, mais uma vez, espalhar seus moderes maléficos por toda a terra... ou oceano, no caso.
Cabe ao jovem Link, então, salvar o mundo das forças do mal. Quem mandou ele vestir a túnica verde? É isso o que acontece... Não entrarei em maiores detalhes sobre a história do jogo, mas basta dizer que ela conta com muitos dos elementos clássicos da série, como templos, sábios, a Triforce, a princesa Zelda e a Master Sword. Só faltaram mesmo as galinhas... mas, no lugar delas, temos porcos.
Analisando alguns aspectos da história, como o Herói Lendário e os sábios, bem como elementos em comum com outros jogos da série, como Kakariko Village, a Deku Tree, e o próprio reino de Hyrule – agora submerso, é claro – você pode se sentir tentado a encontrar uma relação com os demais jogos e traçar uma cronologia. Porém, fique avisado: muitos do que entraram nesta empreitada agora se encontram em um manicômio, murmurando coisas do tipo “I am Error” e “é perigoso ir sozinho, leve isto com você”. O melhor é considerar cada jogo individualmente, sem se preocupar com cronologias absurdas (a não ser, é claro, em casos onde a seqüência é óbvia, como de Ocarina of Time para Majora’s Mask e de The Wind Waker para Phantom Hourglass).
Outro fator que também contribuiu para fazer de The Wind Waker um excelente jogo são as side-quests (ou aventuras opcionais). Além da clássica busca por Heart Pieces, o jogo também oferece uma caça ao tesouro, com diversos mapas que apontam para baús submersos e que escondem preciosos itens. O mais divertido de todos, entretanto, é colecionar os “figurines”, que são bonequinhos de cada personagem e inimigo do jogo. São 134 estatuetas que ficam dispostas em um lugar chamado Nintendo Gallery. Conseguir os bonequinhos, entretanto, não é tarefa fácil. Primeiro você deve ter em mãos um item chamado Deluxe Picto Box, que é capaz de tirar fotografias (ou “pictographs”, como chamado no jogo) coloridas. Levando uma foto de um inimigo ou personagem a Lenzo, o dono da Nintendo Gallery, ele ficará com ela e, se a foto for boa, criará o boneco desse personagem, que demora um dia para ficar pronto. O que dificulta é que a Picto Box pode armazenar, no máximo, três fotos. Então, em casos de chefes principalmente, você tem que caprichar para conseguir pelo menos uma boa. Para facilitar um pouco, depois de vencer o jogo, você pode começar novamente, mas ainda mantendo os bonecos do jogo anterior e já tendo a Picto Box em mãos logo do início. Além disso, ao jogar uma segunda aventura, as roupas de Link e Aryll são diferentes e alguns diálogos que antes apareciam em linguagem Hylian são traduzidos ao inglês.
Itens para encher os bolsos
No mundo de The Legend of Zelda, os itens encontrados durante a aventura sempre são de grande importância. Além dos clássicos, como espadas, escudos, bombas, bumerangue e arco-e-flecha, em The Wind Waker, Link também encontra alguns itens e equipamentos novos e bem interessantes. Veja, a seguir, alguns dos mais memoráveis:
Telescope – Um telescópio dado a Link pela sua irmã. É bem útil para espiar lugares potencialmente perigosos, mantendo uma distância segura.
Spoil Bag e Spoils – A Spoil Bag é uma bolsa para guardar “spoils”, que são itens deixados por inimigos e que podem ser trocados por outros itens.
Bait Bag e All-Purpose Bait – A Bait Bag é uma bolsa... com a cara de um porco, por algum motivo... que armazena o All-Purpose Bait, que por sua vez é uma isca para atrair porcos, ratos e até o sábio homem-peixe.
Picto Box e Deluxe Picto Box – Usado para tirar fotografias. A primeira tira apenas fotos em branco e preto, enquanto a versão “Deluxe” tira coloridas, que podem ser usadas para criar os bonecos da Nintendo Gallery.
Grappling Hook – Este gancho é um dos itens mais divertidos do jogo. Link pode usá-lo para atacar inimigos, pegar itens que estão longe, se pendurar e pode até incorporá-lo ao King of Red Lions para vasculhar as profundezas do mar por tesouros.
Deku Leaf – Link pode usar esta folha, retirada diretamente da Great Deku Tree de duas formas: para criar rajadas de vento (que atordoam inimigos ou ativam mecanismos, por exemplo) ou como um “planador”, para atravessar longas distâncias que um simples pulo não seria capaz.
Wind Waker – O item que dá nome ao jogo. Como já mencionado, é o que dá a Link o poder de controlar os ventos.
Hero’s Charm – Para quem sentia falta das famosas máscaras de Ocarina of Time e Majora’s Mask! Ao usar esta máscara dourada, é possível ver a energia dos inimigos.
Tingle Tuner – Este curioso item permite a conexão com um Game Boy Advance, com o uso do Link Cable. Ao conectar o portátil, a tela do GBA passa a mostrar um mapa do local onde Link se encontra. Nos calabouços, entretanto, seu uso é mais importante. Além de mostrar o mapa, Tingle faz o papel de Navi em Ocarina of Time, alertando Link quanto a inimigos e ajudando em puzzles (e tão chato quanto a fada). O Tingle Tuner também indica a posição das Tingle Statues, que são estátuas douradas escondidas em cada um dos calabouços. O uso do Tingle Tuner é também obrigatório para completar a Nintendo Gallery, pois o personagem Knuckle (um dos irmãos de Tingle, não o personagem do Sonic!) só aparece com o uso do acessório.
Heróis, inimigos e sábios
Como não poderia deixar de ser, os personagens também são muito importantes para o jogo, então vejamos alguns dos principais:
Link – Você sabe, né? O protagonista do jogo! Loiro, usa roupas verdes, não fala (a não ser por “come on!”, neste jogo), é o portador da Triforce da Coragem e salva o mundo. Preciso dizer algo mais? |
Aryll – A pequena irmã de Link. É seqüestrada no começo do jogo, o que dá início à aventura do irmão. |
Tetra – A valente e destemida capitã do navio pirata que ajuda Link em sua aventura. Tetra acaba tendo mais importância para na história do que ela mesmo poderia imaginar... |
King of Red Lions – O barco à vela usado por Link para navegar os oceanos. É também um sábio conselheiro, por acaso. Sua identidade também tem um grande e importante segredo a ser revelado... |
Ganondorf – É o malvado da história, como sempre (ou quase sempre). Possui a Trifoce do Poder, mas é claro que só isso não é suficiente para ele, que planeja colocar todos sob seus poderes malignos. |
Helmaroc King – Um gigantesco pássaro e um dos serventes de Ganondorf. É o responsável pela captura de Aryll e trava uma intensa batalha contra Link no topo da Forsaken Fortress. |
Lição para o futuro
The Legend of Zelda – The Wind Waker é um jogo extraordinário em vários sentidos. É engraçado pensar que, depois de ser tão criticado antes do seu lançamento, acabou tendo tanto sucesso. É uma coisa que nos faz pensar na situação atual: o visual de Skyward Sword também recebeu algumas críticas por utilizar cel shading, apesar de mostrar um Link adulto e com gráficos tendendo mais para o realista. Mas acho que a experiência com The Wind Waker deveria ser mais do que suficiente para nos deixar completamente tranquilos, porque a Nintendo sabe o que está fazendo e não faria nada para estragar uma de suas principais séries (se você por acaso pensou neste momento em alguma coisa relacionada ao Philips CD-i, pode esquecer... aquilo não deve ser lembrado nunca, sob nenhuma circunstância).
Fatos e Curiosidades
O visual de The Wind Waker teve tanto sucesso que muitos dos jogos da série que o sucederam seguiram o mesmo estilo. É o caso de Four Swords Adventures, The Minish Cap, Phantom Hourglass e Spirit Tracks.
Alguns felizardos que compraram The Wind Waker na pré-venda levaram também um disco bônus contendo duas versões de Ocarina of Time: a versão original, igual ao do Nintendo 64 e a versão “Master Quest”, com algumas modificações para deixar o jogo mais difícil.
No disco da versão americana do jogo, há um texto em Hylian escrito no centro. A tradução é “Zeruda no Densetsu Kaze no Takuto”, que é o título do jogo em japonês.
Em uma das paredes atrás do balcão da Nintendo Gallery, é possível ver penduradas algumas das máscaras de Ocarina of Time e Majora’s Mask. Também na galeria, a bolsa da pessoa que fica andando por lá tem um pequeno desenho de um Octorok tal como ele era no primeiro Legend of Zelda, para NES.
As janelas da sala do castelo Hyrule onde a Master Sword está, mostram retratos dos seis sábios de Ocarina of Time.
Assim como acontece com as galinhas em outros jogos, se Link ataca um dos porcos várias vezes seguidas, ele fica furioso e parte pra cima do “herói” com a ajuda de qualquer outro suíno que estiver por perto.
Em WarioWare: Smooth Moves, um dos “microgames” é baseado em The Wind Waker. Nele, Link está flutuando com a Deku Leaf e o jogador deve, em poucos segundos, guiá-lo até uma pequena ilha.
Em Super Smash Bros. Brawl, um dos personagens secretos é o Toon Link, a versão de cartunesca de Link, introduzida em The Wind Waker. Além disso, há também um cenário inspirado no jogo, chamado “Pirate Ship”, onde os lutadores se enfrentam sobre um navio pirata.