Análise: Okamiden (DS)

em 15/05/2011

Arte e videogames. Oriental e ocidental. Todas essas divisões caem por terra quando o assunto é Okami, a série super premiada da Capcom. Uni... (por Gustavo Assumpção em 15/05/2011, via Nintendo Blast)

okami-den-box-art-ds1Arte e videogames. Oriental e ocidental. Todas essas divisões caem por terra quando o assunto é Okami, a série super premiada da Capcom. Unindo elementos típicos da cultura nipônica com uma jogabilidade que lembrava claramente o clássico Zelda, o projeto do estúdio Clover conseguiu uma legião de fãs mundo afora. Agora é a vez de experimentarmos Okamiden, a primeira continuação da franquia, que acaba de chegar para o Nintendo DS.

A primeira impressão ao jogar os primeiros minutos de Okamiden é a melhor possível. Se você duvidava que a Capcom conseguiria aproveitar o hardware do DS da melhor maneira, pode ter certeza que a resposta foi a melhor possível. O apreço com cada detalhe, o belo visual, a jogabilidade inventiva e um bom uso das funcionalidades do DS tornam esse um dos melhores games já lançados para o portátil da Nintendo.

Untitled-3Anunciado de uma maneira bastante despretensiosa no ano retrasado, o game foi lançado em 2010 no Japão, correu o risco de nunca chegar ao ocidente, mas, felizmente, está disponível para o público norte-americano desde o mês passado.

Okamiden teve como diretor o consagrado Kuniomi Matsushita, o mesmo cara responsável pelo excelente trabalho realizado no port do primeiro Okami para o Wii. Matsushita teve a ajuda de Motohide Eshiro, que tem como trabalhos de maior respaldo a série Onimusha e o spin-off Miles Edgeworth, da série Ace Attorney Investigations. Com uma equipe de tamanho talento, não era difícil esperar que um produto de extrema qualidade chegasse às lojas. E foi exatamente isso o que aconteceu.

Sutileza de alto rigor técnico

Se o primeiro Okami se destacou essencialmente pela exploração de ambientes, uma simplicidade máster nos controles e belíssimos visuais inspirados em pinturas artísticas japonesas, essas mesmas características foram mantidas na continuação, graças a um apreço todo especial da equipe, que conseguiu utilizar o hardware limitado do DS sem maiores problemas.

É incrível ligar o DS e perceber a fluência das animações, o cuidado com cada pequeno detalhe, a movimentação e a “vida própria” que cada personagem possui e o mesmo visual rico de sutilezas e significações que todo mundo esperava. Cada elemento que compõe a parte técnica – e isso inclui os menus bonitos e intuitivos – está bem próximo do máximo que o portátil da Nintendo pode oferecer, evidenciando um cuidado com o aparato técnico não muito comum.
Esse cuidado técnico também se estende para a trilha sonora, composta por um dos novos talentos na prática da videogame music: Rei Kondoh. Pra você ter uma ideia, além de Okami e Okamiden, o rapaz é o cara por trás das elogiadas composições de Bayonetta (PS3, X360) e Devil May Cry 4 (PS3, X360). Aqui ele conseguiu captar, pela segunda vez, toda a ambientação feudal, com canções que alternam instrumentos diferenciados e melodias agradáveis. O sucesso foi tão grande que a trilha foi lançada no Japão e alcançou um relativo sucesso entre os fãs.

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A simplicidade de uma aventura que transborda inspiração

Como já era esperado, Okamiden simplificou a experiência de seu antecessor, numa tentativa de deixar a aventura com elementos mais funcionais para um portátil. O resultado, curiosamente, não é um game simplista, mas sim um produto com um nível de dificuldade balanceado e controles mais inventivos.

Entre as novidades exclusivas do DS está a óbvia utilização da tela de toque e a adoção de um esquema de câmera diferenciada. Nesse esquema, a câmera se movimenta automaticamente junto com o personagem, sempre proporcionando o melhor ângulo de visão – seja nos momentos onde é necessário vasculhar os cenários, seja nos momentos de combate.

A própria estrutura dos cenários mudou, com a presença de caminhos pré-determinados e indicações mais exatas dos lugares onde o jogador precisa ir pra dar continuidade a aventura – elemento que também é beneficiado pelo mapa presente na tela inferior do portátil que a todo momento pode ser consultado facilmente.

Unindo elementos de exploração, combate e puzzles, a aventura se desenrola de uma maneira bastante interessante, já que por várias vezes o jogador libera novas habilidades, novas técnicas e novas áreas – uma estrutura bastante comum para games de aventura. Essa progressão acontece de forma linear, mas em nenhum momento é maçante ou forçada, mostrando que a estrutura central aparece em sua melhor forma.

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Sim, videogame é arte

Quando foi lançado em 2006, Okami rompeu uma barreira difícil de se ultrapassar e se tornou o exemplo mais claro de que videogames são sim uma forma de arte. Curioso é que inicialmente o projeto não envolvia a utilização de um estilo gráfico como o que observamos no produto final. Originalmente, revelou Atsushi Inaba, diretor executivo do Clover Studio, ele seria um game foto realista, igual a milhares que existem por aí. Foi só com o avanço do processo de desenvolvimento que a equipe testou a utilização de uma criação visual baseada nas pinturas aquareladas em papel de arroz japonesas e nas famosas esculturas em madeira nipônicas. O resultado, como todo mundo sabe, é um estilo visual que marcou para sempre a história dos videogames.

Risque, rabisque e construa um novo mundo

A principal novidade de Okamiden é a utilização super interessante da tela de toque do DS. É nela que o jogador vai utilizar o Celestial Brush, pincel mágico que tem a função de promover uma série de mudanças no ambiente no qual a aventura acontece. São as mais diversas utilizações dos poderes provenientes do acessório que vão tornar possível que Chibiterasu salve o mundo da tal maldição (saiba mais sobre a história do game no box).

Para utilizar o Celestial Brush é bastante simples. Basta apertar o botão R ou L e desenhar na tela a ação desejada. Ao longo do game o jogador destrava vários movimentos diferentes – cada um resultante de um traço específico.  Por meio do pincel é possível executar uma série de técnicas como reconstruir objetos no cenário, controlar os ventos, rejuvenescer árvores e até mesmo liberar passagens que estão impedidas de serem ultrapassadas por obstáculos.

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A utilização do acessório é sempre muito bem explícita, raramente exigindo alguma percepção mais profunda do jogador. Em quase todas as situações você sempre vai saber o que fazer, como fazer e onde fazer. Essa é uma conquista da simplicidade dos controles, que funcionam sem maiores problemas de resposta e sem deixar o jogador perdido em meio à jornada – um problema que por vezes acontecia no primeiro Okami.

Nesse mundo de possibilidades, Okamiden nos presenteia com um sólido sistema de controle de personagens. Como o lobinho Chibiterasu ainda é apenas um filhote, ele necessita da ajuda de uma série de personagens que vão acompanhá-lo durante a jornada. Em vários momentos será preciso controlar os dois personagens separados, utilizando um esquema que remete claramente ao que já tínhamos presenciado em The Legendo of Zelda: Spirit Tracks.

2A saga de Chibiterasu

A aventura de Okamiden não chega a causar o impacto do primeiro Okami, mas mesmo assim é digna de elogios. Se passando nove meses após os acontecimentos do seu antecessor, ela traz como protagonista o simpático e inocente Chibiterasu, uma espécie de filho/ filha de Amaterasu, que protagonizou a primeira jornada. Aqui, novamente, nossos protagonistas vão ter que enfrentar as missões impostas por Sakuya, divindade responsável pela vida na Terra. Como Chibi ainda é um filhote, ele vai contar com a ajuda de outros personagens, como Kuni, filho de Susano e  Kushi (também presente no primeiro Okami). No fim, uma surpresa que só quem terminar o game verá.

Batalhas são necessárias, vitórias são essenciais

Se a exploração e os puzzles funcionam de maneira louvável, o mesmo pode ser dito sobre a estrutura de combate, apesar de aqui existirem algumas ressalvas importantes. Os controles, que fique bem claro, são extremamente simples e funcionais, sem grandes complicações. Só que, infelizmente, essa simplicidade deixa os combates em segundo plano, tornando cada um dos confrontos pouco diversificados e nada atrativos.

Mesmo assim, vale a pena ficar atento para a possibilidade de utilizar as habilidades do Celestial Brush durante o confronto com os mais diversos inimigos, o que traz um certo frescor para os embates e uma maior estratégia para as batalhas. Felizmente isso muda nos combates contra chefes, que sempre exigem que o jogador utilize estratégia aliada à habilidade. Essa necessidade vem da grande inspiração que o design da maioria deles possui, mostrando empenho da equipe de desenvolvimento como poucas vezes se viu no DS.

Um game imperdível

36028_140542609290637_121144291230469_383747_6789590_nOkamiden é o típico game incrível que sai nos últimos suspiros de um console. Inspirado, criativo e muito recompensador, ele oferece uma das experiências mais interessantes que já apareceram no DS. Além de evidenciar a união cada vez mais presente em videogame e arte, ainda conta com um roteiro que provoca reflexões e faz pensar, várias mecânicas diferentes de jogabilidade e muita diversão.

Os mais críticos podem sentir falta de uma profundidade maior – e realmente essa é a maior falha dessa aventura – mas, mesmo assim, é inegável que Okamiden é um passo além em um console que já rendeu todo tipo de entretenimento. Se você gosta de uma boa aventura, tenho certeza que vai ficar encantando com Okamiden.

Okamiden – Nintendo DS – Nota Final: 8.7

Gráficos: 9.0 Som: 8.5 Jogabilidade: 8.5 Diversão: 8.5

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