Se você é abduzido repentinamente por uma nave alienígena, pertencente a um maligno imperador, para ser exposto em um zoológico intergaláctico, é porque você tem um tremendo azar. Mas se isso acontece pela segunda vez, pode ter certeza que não se trata de azar, mas sim de um terrível plano de vingança. Pois é, o malvado Tomator está d e volta para, mais uma vez, infernizar a vida de Erik, Baelog e Olaf. Na semana passada falamos sobre a primeira aventura dos irmãos vikings em The Lost Vikings, para SNES. Agora, é hora de falar sobre vikings com upgrades, mais personagens, mais viagens no tempo e espaço, mais puzzles engenhosos e problemas de flatulência... é hora de falar sobre The Lost Vikings II, também para SNES.
Um ano se passou desde que Erik “o Ligeiro”, Baelog “o Feroz” e Olaf “o Robusto” escaparam das garras do terrível Tomator e, desde então, cada um dos irmãos tomou o seu próprio rumo (que são um tanto quanto peculiares, diga-se de passagem... confira na descrição dos personagens abaixo). Certo dia, entretanto, os três vikings se reencontram e decidem dar uma volta de navio. Eis que, nesse preciso momento, o imperador Tomator dá início ao seu plano de vingança contra a humilhante derrota que sofreu dos vikings há um ano atrás e os captura novamente. Sem intenção de deixar que escapem como da vez anterior, Tomator rapidamente dá ordens a um robô-guarda para que transporte os vikings para “a arena”.
Contemplando esta cena vitoriosa, Tomator não se contém e começa a rir maléficamente, golpeando seu painel de controle em um acesso histérico. Todos sabemos que um painel de controle não é algo para se esmurrar descuidadamente e o imperador intergaláctico logo percebe isto, pois acontece uma falha no sistema e as luzes se apagam, incluindo no lugar onde os vikings estão sendo levados pelo robô-guarda. Aproveitando a escuridão, os três irmãos partem para cima do robô, cheios de fúria nórdica. Poucos segundos depois, a energia volta e não apenas vemos que o robô foi cruelmente destruído pelos vikings, como também que estes se apossaram de alguns dos acessórios que a vítima carregava. Acessórios estes que muito vem a calhar, pois dão aos vikings novas e muito úteis habilidades.
Antes que pudessem fazer qualquer outra coisa, entretanto, o faminto Olaf vê algo grande e brilhante, com uma placa dizendo “donuts”. A ideia de rosquinhas faz o viking pançudo entrar em um transe alimentício e este começa a mexer na tal coisa antes que seus irmãos pudessem lhe alertar que o que estava escrito não era “donuts”, mas sim “do not touch” (“não toque”). A “coisa”, que na verdade é um teletransportador, começa a funcionar e manda os vikings para mais uma viagem espaço-temporal, começando pela Transilvânia no ano de 1437. Ao perceberem o que aconteceu, Erik, Baelog e Olaf (e nós também) sabem qual é o único caminho a seguir: encontrar uma maneira de voltar para casa e, quem sabe, aproveitar para derrotar Tomator de uma vez por todas.
O antigo e o novo
The Lost Vikings II funciona de forma praticamente idêntica ao seu antecessor: o jogador controla um dos três personagens disponíveis, podendo alternar entre eles simplesmente pressionando um botão. Enquanto um dos personagens está sendo utilizado, os outros dois ficam imóveis e vulneráveis a ataques de inimigos. Cada personagem tem três pontos de energia e, se um deles morrer, é necessário começar a fase novamente. No modo para dois jogadores, dois personagens podem ser controlados simultaneamente, mas a câmera só segue um deles. Até aqui nada de novo.
Uma das principais novidades deste jogo em relação ao primeiro são as novas habilidades que os vikings recebem graças àqueles acessórios “doados” pelo guarda-robô no começo do jogo.
Com botas turbinadas, Erik agora pode correr com ainda mais velocidade, alcançar maiores alturas e cabecear não apenas paredes, mas tetos também. Além disso, um capacete de última tecnologia também lhe permite respirar debaixo d’água.
Baelog substitui a sua simples espada por um autêntico sabre de luz... que no fim das contas funciona exatamente igual à espada. O arco-e-flecha, entretanto, é substituído por um braço mecânico extensível que o viking feroz pode usar para golpear inimigos à distância. O alcance é menor que o das flechas, mas em compensação, o braço também serve para apanhar itens que estão distantes e para se pendurar em alguns ganchos especiais.
Olaf ganha um novo escudo que, além das óbvias capacidades defensivas, tem o poder de encolher o enorme viking a um pequeno tamanho, permitindo-lhe assim passar por lugares outrora inacessíveis. Porque um escudo que encolhe? Não faço ideia... é a tecnologia do futuro, então não vamos discutir. O escudo é seu único brinquedo novo, mas para compensar, Olaf é o único dos irmãos que aprendeu naturalmente uma nova técnica desde o último jogo... e se você já achava absurdo o fato de alguém tão “robusto” poder flutuar graciosamente com um escudo (coisa que ainda faz), espere até ver a nova habilidade de Olaf: soltar gases para se impulsionar. É isso aí, mesmo sem ter a capacidade de pular, Olaf pode usar a sua flatulência para ser levantado a alguns centímetros do chão. O peso do viking é tanto que, ao cair, o impacto é grande o suficiente para destruir alguns tipos de chão (pelo visto a gravidade só funciona em alguns momentos... vai entender). Olaf também pode usar o seu gás no meio do “voo” para alcançar maiores distâncias.
Como se estes novos poderes nórdicos não bastassem, no decorrer da aventura, também somos introduzidos a dois novos personagens. O primeiro é Fang o Lobisomem (não se engane, entretanto: neste caso, “lobisomem” apenas significa que o personagem tem uma aparência meio homem meio lobo e não que ele seja humano e se transforme em noites de lua cheia, ou coisa parecida). Há uma piada recorrente no jogo em que os demais personagens chamam Fang de qualquer coisa, menos lobo ou lobisomem : veado, ornitorrinco, furão, cabra, entre outras coisas. Fang pode usar as suas garras para ataques próximos, semelhante à espada de Baelog e, assim como Erik, pode saltar. A exclusividade do homem-lobo, entretanto, é escalar paredes, a la Megaman X.
O segundo personagem novo é Scorch o Dragão, que além de atacar cuspindo fogo (com um alcance igual ao das antigas flechas de Baelog), pode voar. O voo é temporário, já que Scorch pode bater as asas apenas um número limitado de vezes antes de se cansar, mas o dragão pode também descer flutuando, semelhante ao que Olaf faz (e fazendo mais sentido do que um simples escudo sustentar no ar um ser humano de 145 kg.).
O fato de existirem cinco personagens jogáveis, entretanto, não significa que você tenha o controle de todos eles em uma mesma fase. O jogo convenientemente conspira para que apenas três dos personagens apareçam no começo de cada fase, com combinações alternadas. Mas isto é bom, porque além de não complicar demais as coisas, força o jogador a saber usar as habilidades que estão disponíveis no momento para passar pelos obstáculos à sua frente.
Uma última novidade em relação ao primeiro jogo é que agora, para passar das fases, não basta chegar à saída. É necessário encontrar três itens espalhados pela fase e levá-los a algum personagem que usará os itens para transportar os vikings para a próxima fase. Estes personagens e itens variam de acordo com o “mundo”. A exceção é a última fase de cada mundo, no qual os personagens encontram a máquina de teletransporte que os levará para o próximo destino, mas que para fazê-la funcionar, devem encontrar um flush capacitor (achou o nome familiar?... é uma homenagem a De Volta Para o Futuro!), um cartucho de combustível nuclear e um treco de metal.
Guia de viagens no tempo e espaço
Veja, a seguir, mais detalhes sobre os lugares pelos quais nossos heróis passam durante a aventura:
- Transylvania (ano 1437 D.C.)
- Dark Age (ano 700 D.C.)
- Smugglers’ Cove (ano 1789 D.C.)
- Amazon Jungle (ano 200 A.C.)
- Future (ano ???)
Os retorno dos comediantes nórdicos
Seguindo a legacia deixada pelo primeiro jogo, The Lost Vikings II capricha no humor. Veja esta conversa, por exemplo, depois de terminar uma das fases na Floresta Amazônica:
[Xamã] – Obrigado por me libertarem. Eu os enviarei para meu irmão, Kumonawannago.
[Erik] – Ei, os deuses podem fazer o Olaf parar de comer tanto?
[Xamã] – Até mesmo o poder dos deuses tem seus limites.
Mais uma vez, jogar uma mesma fase repetidas vezes resulta também em conversas muito engraçadas. Veja algumas:
[Erik] – Você já teve aquela sensação de deja vu?
[Baelog] – Sim, mas é porque você já perguntou isso no primeiro Lost Vikings.
[Erik] – Algumas pessoas simplesmente não levam jeito para a coisa.
[Olaf] – Deveria ser necessário passar em algum tipo de teste antes que deixassem você usar um SNES.
[Erik] – Eles vão terminar o Lost Vikings III antes que passemos desta fase.
[Fang] – Legal! Talvez os novos vikings possam nos dar uma mãozinha.
Desta vez, o manual de instruções não conta com perfis completos como no do primeiro jogo (até porque muita informação acabaria sendo repetida), mas em compensação podemos ler sobre as curiosas atividades que ocuparam cada um dos irmãos viking no ano que se passou entre os dois jogos (mais uma vez, os textos a seguir foram retirados e traduzidos diretamente do manual).
Nome: Erik “o Ligeiro”
Idade: 20 anos
Altura: 1,77 m
Peso: 72 kg
História: A experiência de Erik no espaço sideral o deixou entediado com a vida na sua vila. Ele acabou entrando para a mística Ordem da Cabra de Montanha Saltadora, onde ele finalmente encontrou paz, sabedoria e aprendeu a comer uma lata inteira. Na verdade, Erik esvaziou tanto a sua mente que ele então começou a perambular durante meses, atordoado e confuso, esculpindo fiordes de purê de batata e acreditando que era uma iguana. Ele recuperou a memória depois de várias pancadas na cabeça que ele mesmo se causou enquanto tentava abrir uma lata de atum com cabeçadas: -- KANG! KANG! -- "Espere um momento! Eu não sou uma iguana!" -- KANG! KAANG! - "Eeei, eu sou Erik o Ligeiro!". Ele então roubou um navio e correu para a sua vila, onde ele foi calorosamente acolhido pelos seus irmãos... especialmente Olaf, que ficou muito contente ao descobrir que, no fim das contas, sua jornada não tinha sido a mais ridícula da história da vila.
Nome: Baelog “o Feroz”
Idade: 26 anos
Altura: 1,83 m
Peso: 100 kg
História: Insatisfeito com seu trabalho como domador sênior de ursos polares, Baelog se candidatou para os Gladiadores Nórdicos, mas desistiu enojado quando o impediram de levar as suas próprias armas. Foi então que Baelog percebeu que tinha a responsabilidade de passar suas habilidades para a próxima geração de vikings. Ele criou a Escola de Pilhagem do Baelog, com uma grade de cursos populares enfocada em Pilhar, Saquear e Botar Fogo Nas Coisas. Ele se tornou famoso por toda a Escandinávia pelo seu excelente curso palestrado, com o título “Esmagamento de Geats em Três Passos Fáceis” ("Primeiro Passo: Escolha um Geat. Segundo Passo: Mire alto. Terceiro Passo: Esmague."). Ele então fez uma turnê promovendo seu livro “Espreitando o Geat Selvagem” e a continuação de tremendo sucesso, "O que É um Geat, Afinal de Contas?".
Nome: Olaf “o Robusto”
Idade: 23 anos
Altura: 1,89 m
Peso: 145 kg
História: Olaf decidiu perseguir o seu sonho de se tornar um lutador de sumô e partiu em busca da Terra do Sol Nascente. Ele chegou até a Terra do Sol do Meio-Dia e decidiu voltar - não porque sua jornada era muito difícil, mas porque ele não conseguia encontrar lasagna em nenhum lugar do Mediterrâneo. Então ele voltou timidamente para sua casa e para sua família e se dedicou a ensinar às filhas a arte da lutar com espadas, saquear, destruir e fazer um bom queijo de leite de cabra. As duas filhas agora estudam na Escola de Pilhagem do Baelog - Olaf é particularmente orgulhoso da mais velha, Gerda, que chegou ao nível de Valquíria Honorária e consegue comer mais do que seu pai em qualquer dia da semana. Olaf apareceu em "Estilos de Vida dos Enormes & Barbudos" e está ocupado com um Combate de Frisbee, embora os vizinhos insistam que a ideia nunca vai alçar voo.
Nome: Fang o Lobisomem | |
Nome: Scorch o Dragão |
Até a próxima, amigos vikings… se houver uma próxima
Em termos de gráficos e som, The Lost Vikings II é pratic amente idêntico ao seu antecessor, sem apresentar nada de extraordinário. Depois de ter sido lançado no SNES, entretanto, o jogo recebeu uma versão “melhorada” para outras plataformas, incluindo o PlayStation e o Sega Saturn, com o nome Norse by Norsewest: The Return of the Lost Vikings. Além da inclusão de vozes, os gráficos também foram alterados para se aproveitarem dos 32 bits disponíveis nos novos consoles. Mas veja a comparação das duas versões nas imagens abaixo. Você não continua preferindo a versão do Super Nintendo? Está certo que os gráficos estão mais detalhados na versão 32 bits, mas isso parece que acabou deixando as coisas mais confusas, tornando difícil entender os cenários e com uma aparência menos agradável que a do original.
Terminada mais esta incrível aventura, os vikings infelizmente parecem ter se aposentado definitivamente. Embora The Lost Vikings II por vezes insinue um terceiro capítulo da série (como o trecho transcrito acima ou o próprio final do jogo... que não contarei, no caso de que alguém ainda vá jogá-lo, mas que revela uma enorme e engraçadíssima surpresa), The Lost Vikings III nunca veio a existir. O máximo que foi visto de Erik, Baelog e Olaf após a segunda aventura – fora os remakes e relançamentos, é claro – foi em uma participação especial como NPCs em World of Warcraft. Em StarCraft II, há um minigame chamado The Lost Viking, mas de semelhança com os jogos de SNES só tem o nome mesmo.
Considerando que até hoje não vimos nenhum outro jogo nos moldes de The Lost Vikings, um novo capítulo da série seria, sem dúvida, muito bem vindo. Contudo, visto que a Blizzard Entertainment (a empresa que desenvolveu os jogos) parece estar mais preocupada em faturar com seus jogos multiplayer online, as chances de vermos essa continuação é extremamente pequena.