Análise: Ghost Trick – Phantom Detective (DS)

em 08/03/2011

Imagine se você tivesse o poder de manipular objetos sem tocá-los. Movimentar coisas, abrir portas, ligar aparelhos eletrônicos e muito mais... (por Daniel Moisés em 08/03/2011, via Nintendo Blast)

Imagine se você tivesse o poder de manipular objetos sem tocá-los. Movimentar coisas, abrir portas, ligar aparelhos eletrônicos e muito mais. Imagine se você também pudesse andar por aí sem ser visto pelas pessoas e também se transportar instantaneamente de umGhost Trick: Phantom Detective lugar para outro via linhas telefônicas (sim, linhas telefônicas!). E tem mais! Imagine ter também o poder de salvar pessoas da morte, voltando no tempo até quatro minutos antes que este indivíduo bata as botas e alterando o desenrolar dos eventos de forma a livrar o pobre infeliz do trágico destino. Seria muito útil, não é mesmo? Ainda mais se você fosse um detetive. Ah, só há um pequeno detalhe para ter acesso a estes poderes... você tem que ser um fantasma.
O cenário que acabei de descrever é a situação em que o protagonista Sissel se encontra logo no início de Ghost Trick: Phantom Detective, mais um extraordinário jogo de investigação e point-and-click desenvolvido pela Capcom para o DS.


Detetive Fantasma


Já imaginou acordar e ver seu corpo jogado morto por aí? Ao começar o jogo, o pobre Sissel não tem nenhuma lembrança de quem é ou do que lhe aconteceu, mas a cena que contempla é bastante perturbadora: um corpo jogado no chão e uma moça aparentemente indefesa sendo ameaçada por um capanga armado. Os primeiros fatos, entretanto, são rapidamente revelados a Sissel por um inesperado e improvável ajudante: uma lâmpada de mesa. Não se trata de uma lâmpada qualquer, mas sim de um outro espírito que se alojou no dito objeto a fim de poder orientar Sissel. Identificando-se apenas como “Ray”, a lâmpada confirma ao protagonista do jogo a dura verdade: ele está morto e o corpo sem vida jogado no chão até a pouco lhe pertencia. Naturalmente, Sissel – que até então não se lembra nem do próprio nome – fica ansioso por saber respostas das demais perguntas que assombram (desculpem o trocadilho) a sua morte. Quem era ele? Quem o matou? Por quê? Com o objetivo de resolver estes enigmas em mente, Sissel parte para a investigação, mas Ray lhe adverte que o tempo é curto: ao amanhecer do dia seguinte, Sissel deixará de existir, mesmo espiritualmente. A história começa à noite, então são poucas as horas que Sissel têm para encontrar suas respostas e, para dificultar ainda mais as coisas, o protagonista logo se encontra em meio a uma trama muito maior e mais complexa do que poderia ter imaginado.

Mas nem tudo são más notícias, já quBem vindo... ao mundo dos mortos.e, como fantasma, Sissel tem acesso a uma série de truques muito úteis, que Ray ensina a usar em um conveniente tutorial. Ah, e antes que você considere se seria interessante morrer para poder usar esses poderes, fique avisado que não é qualquer um que tem este privilégio, estando restrito apenas a um grupo seleto de pessoas especiais. Sissel até encontrará outros destes espíritos durante a sua investigação e descobrirá que nem todos os fantasmas têm os mesmos poderes que ele.

Os “truques fantasmagóricos”


Até fantasmas recebem tutoriais. O primeiro e mais usado poder que Sissel tem como um fantasma é o de manipular objetos. Muitos dos objetos espalhados por aí tem um chamado “núcleo”. Este núcleo é invisível às pessoas comuns, mas quando Sissel entra no “mundo fantasma”, uma espécie de chama azul identifica os núcleos. Estes objetos, além de permitirem que Sissel se “aloje” neles, muitas vezes apresentam uma ação que pode ser executada, à ordem de Sissel. Ao “possuir” um guarda-chuva, por exemplo, a ação “abrir” fica disponível e é possível manipular o objeto para que este se abra. Não são todos os objetos que apresentam uma ação, mas os demais também podem ser úteis para serem usados como uma espécie de caminho. Acontece que o poder fantasmagórico de Sissel é bastante limitado. Além de ser obrigado a possuir o objeto antes de manipulá-lo, Sissel não pode se movimentar livremente por aí. Só é possível “andar” passando de um núcleo de objeto para outro e, mesmo assim, o alcance da forma espiritual de Sissel é bem curto.  Então, é normal acontecer de o objetivo final estar fora de alcance e, para poder chegar até ele, ter que manipular antes vários objetos de forma a criar um “caminho”. É uma jogabilidade muito interessante e criativa que traz uma grande inovação ao gênero point-and-click.

Controlando uma antena... ... e até uma camiseta no varal.

Quem diria que linhas telefônicas eram um bom meio de transporte? Há uma forma mais fácil de se movimentar por longas distâncias, entretanto. Como falei, outro dos “truques fantasmas” de Sissel envolve usar as linhas telefônicas como um inusitado meio de transporte. Mas não pense que você pode ir a qualquer lugar do mundo usando essa técnica. Não, você primeiro deve entrar no núcleo do telefone e interceptar uma ligação. Dessa forma, você terá acesso ao local de onde a ligação está sendo feita e poderá ir para lá em qualquer momento.
Hora de voltar ao passado e salvar uma vida!
Por último, temos o mais interessante dos poderes fantasmagóricos de Sissel. Ao encontrar o corpo de alguém que morreu a menos de 24 horas, Sissel pode voltar no tempo até quatro minutos antes da morte deste alguém, interferir nos acontecimentos e salvar a vida deste indivíduo. Você primeiro testemunhará com seus próprios olhos tudo o que aconteceu para culminar no trágico final e então poderá voltar e tentar fazer o possível para evitar que isso aconteça.

O difícil trabalho de salvar vidas


Quem pediu um frango assado? Desta forma, temos a divisão do jogo basicamente em dois modos: o presente e o passado, quando você está tentando salvar a vida de alguma pessoa. Quando você está no presente, o jogo não oferece muita dificuldade, já que basta você se movimentar de um lado para o outro, manipulando objetos até descobrir ou fazer o necessário para progredir a história. É no passado, entretanto, que se esconde o verdadeiro desafio de Ghost Trick, já que você estará correndo contra o tempo para salvar a vida de uma pessoa. E o tempo é limitado mesmo! Apesar de teoricamente voltar até quatro minutos antes da morte do indivíduo, às vezes você terá menos tempo do que isso para descobrir o que fazer. E se você não conseguir fazer o necessário a tempo, ou fizer algo errado? Ora, a pessoa morre... de novo. Mas isso não é problema, já que basta retroceder o tempo e tentar mais uma vez. Você nem precisa esperar que a pessoa morra para voltar no tempo, se você percebeu que fez alguma coisa errada ou perdeu a oportunidade que precisava, você pode simplesmente apertar um botão e começar do início. E pode ter certeza que isto é uma coisa que acontece bastante, principalmente ao avançar mais na história, já que os “cenários” das mortes vão ficando cada vez mais complexos. Acontece até mesmo de você voltar no tempo para salvar uma pessoa, descobrir nesse passado a morte de outra pessoa e voltar mais ainda no tempo.

O que fazer para salvar uma pessoa da morte muitas vezes não é tão claro e você se encontrará experimentando tudo o que está ao seu alcance para ver os diferentes resultados, até descobrir a resposta.  Talvez esta forma de “tentativa e erro” e a necessidade de ficar tentando resolver um mesmo problema várias vezes dê a impressão de tornar o jogo um pouco repetitivo. Enquanto isto não deixa de ser um pouco verdade, dificilmente o jogo fica cansativo. O fato de você poder experimentar várias estratégias e ver Se não der certo da primeira vez... Volte e tente novamente!as conseqüências de cada ação deixa a coisa sempre interessante. E, afinal de contas, o tempo para evitar a morte é sempre curto, então você não terá que repetir longos trechos do jogo. Além disso, há vezes em que Sissel consegue alterar o destino da pessoa, mas sem ainda evitar por completo a morte. Isto, além de dar um pouco mais de tempo para salvar a vítima, gera uma espécie de “checkpoint” e, quando você optar por voltar no tempo e tentar novamente, você terá a opção de tentar do início ou a partir deste checkpoint.

Você começará salvando aquela moça do começo da história, encontrando uma maneira de derrubar uma bola de demolição sobre o capanga que a quer matar, servindo também como um tutorial para o uso dos poderes de Sissel. Depois disso, você se encontrará nas situações mais diversas, que variam de salvar a vida de um pequeno e simpático cachorrinho a impedir que um homem morra de um ataque cardíaco, levando um remédio até ele. Mesmo sempre existindo a opção de voltar e tentar novamente caso algo dê errado, o tempo limitado e o fato da vida de alguém estar em jogo criam uma sensação de urgência que faz você realmente se esforçar em solucionar os problemas.

Xi, isso não é bom... É melhor correr!


Roteiro, controles, gráficos e som espetaculares


Assim como os jogos da série Ace Attorney e demais jogos do gênero, a história de Ghost Trick é um ponto de extrema importância. Ela é muito bem elaborada, cheia de reviravoltas surpreendentes e personagens enigmáticos e cheios de personalidade. Sem dúvida alguma, o roteiro é uma das razões que fazem deste um jogo tão bom. Mas isto também significa que há muito texto e diálogo, então vale aquela regra: se você não gosta de ficar passando por longos trechos de “balõezinhos” ou se você não é amigo do inglês (ou do espanhol, italiano, francês ou alemão, que são outras opções de idioma... pois é, o português ficou de fora), a experiência provavelmente não será tão boa.

Ghost Trick está cheio de personagens com muita personalidade
O controle do jogo funciona muito bem, existindo a opção de usar tanto o touchscreen como os botões do DS. O uso do touchscreen é bem mais confortável, já que você pode usar a stylus para “arrastar” a presença espiritual de Sissel de objeto para objeto e botões estão estrategicamente espalhados pela tela para alternar entre o mundo real e o fantasma, executar uma ação do objeto, ir para o menu de salvar, etc. Mas se você prefere jogar à moda antiga, o direcional e os botões também podem ser facilmente utilizados.

Esse é um... detetive cheio de estilo. O fator “gráfico” de Ghost Trick é algo a ser particularmente contemplado. É algo como nunca se viu igual no DS e acho que até mesmo em outros consoles. Não me refiro a cutscenes cinematográficas, porque nem sequer há cutscenes. Não me refiro a gráficos tridimensionais que usam ao máximo o processamento do portátil, porque o jogo é em 2D. Me refiro a uma animação bidimensional tão detalhada que parece que foi dada atenção até o último pixel. Os personagens são grandes e se movem tão fluentemente, com tanto detalhe e personalidade que é quase como assistir um desenho animado durante o jogo inteiro. É difícil explicar em palavras, mas duvido muito que alguém jogue Ghost Trick e não fique impressionado pelos gráficos.

O som também não deixa a desejar. Não há nenhum diálogo com voz, mas a música é muito boa e combina perfeitamente com o jogo.

Mais uma obra-prima da Capcom


Depois da grande inovação do gênero de aventura gráfica e point-and-click com a série Ace Attorney, a Capcom conseguiu mais uma vez se superar com este incrivelmente divertido jogo para o DS. Ghost Trick é muito original, não só na história, mas também na jogabilidade e nos gráficos. Se você é fã do gênero, não deixe de jeito nenhum passar a oportunidade de jogar este excelente jogo. E da próxima vez que você achar que um objeto está se mexendo sozinho, não se assuste, pode ser um detetive fantasma tentando resolver algum mistério.
Ghost Trick: Phantom Detective (DS) – Nota Final: 9.5
Gráficos: 10 | Som: 9 | Jogabilidade: 10 | Diversão: 9.5
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