Mario Paint surgiu em 1992, em meio aos tradicionais jogos de plataforma, ação e RPG que dominavam o SNES, com uma proposta um tanto diferente. Nada de fases para percorrer, chefões para derrotar e nem sequer objetivos concretos para cumprir. Qual a idéia então? Uma tela em branco e deixar o jogador brincar com sua criatividade. Talvez o jogo não causasse uma primeira impressão de ser particularmente divertido, mesmo quando foi lançado, mas acho muito difícil que alguém que tenha tido a experiência de jogar Mario Paint não tenha lembranças de muitos bons momentos. Hoje em dia o jogo pode parecer simples, mas na época a compilação das diferentes ferramentas era bastante impressionante para um cartucho de SNES. E o melhor: tudo apresentando um uso bem fácil e agradável.
Torne-se um pintor, músico, animador ou dedetizador
Veja a seguir os diferentes modos presentes em Mario Paint:
Tela do Título
Pode parecer estranho eu incluir a tela de título como um dos “modos” de jogo, mas acontece que ele era uma espécie de minigame secreto. Na tela, vemos simplesmente um fundo branco, o Mario (com sua aparência de Super Mario World) correndo de um lado para o outro e as letras formando o título “MARIO PAINT” de uma forma não particularmente dramática. Para iniciar o jogo, deve-se clicar no Mario, mas se uma das letras do título é clicada, algum efeito diferente acontece. Veja só:
- M – Encolhe o Mario e o faz voltar para o tamanho normal se clicado novamente.
- A – A letra cai e depois volta para seu lugar. Se por acaso o Mario estiver passando por baixo quando a letra está caindo, ele também é derrubado, mas volta em seguida.
- R – Um olho aparece no meio da letra e ela se arrasta pra fora e depois volta, fazendo barulho de bebê. Bizarro...
- I – Inverte as cores pretas e brancas e distorce a música.
- O – A letra vira uma bomba e explode. O que vem em seguida é um interessante segredo do mundo dos games da Nintendo: a música secreta de Kazumi Totaka. Totaka é um compositor de músicas para os jogos da Nintendo que já participou de outros títulos importantes, como Luigi’s Mansion, Super Smash Bros. Brawl e a série Animal Crossing. O curioso, entretanto, é que, na maioria dos jogos em que o compositor trabalhou, a sua música secreta está escondida em algum lugar, sendo que Mario Paint provavelmente é o jogo onde a música é mais facilmente encontrada. Para mais informações sobre este assunto, veja este muito interessante e completo artigo do site NinDB.
- P – Faz grama, carros, animais e muitos outros objetos aparecerem na tela, sendo que muitos deles emitem algum som quando clicados. A música também muda.
- A – Faz o Yoshi correr pela tela e a música de fundo passa a ser acompanhada pela batida tradicional de quando o personagem está presente.
- I – O texto fica tremendo e a música fica distorcida.
- N – Mostra os créditos do jogo.
- T – Deixa o jogador desenhar na tela com uma textura de arco-íris.
Art Mode
O principal modo de jogo se assemelha a uma espécie de “Paint” do Windows, fornecendo ao jogador diversas cores, pincéis, e outras ferramentas de desenho para criar suas obras de arte. Alternativamente, há uma opção para carregar alguns desenhos preto e branco já existentes para colorir. É também possível usar “carimbos” que vão de objetos como carro e árvore a sprites retirados diretamente de Super Mario World.
Stamp Mode
Além de usar os carimbos que o jogo disponibiliza, é possível criar até 15 carimbos próprios, que consistem em imagens de 16x16 pixels. O tamanho pode parecer pequeno, mas combinando vários carimbos é possível criar uma imagem maior.
Music Mode
Com certeza, é o modo que melhor suportou o passar dos anos. Nele, é possível criar músicas usando e combinando diferentes ícones, cada um representando um som diferente, variando de sons “normais” a outros mais incomuns como o latido de um cachorro ou a buzina de um carro. Ao tocar uma música, o Mario passa correndo embaixo das notas, pulando sob elas para fazê-las tocar. Entre as três músicas existentes que vem com o jogo, está uma versão remixada do tema principal de Super Mario.
Animation Mode
Neste modo, é possível fazer uma animação de quatro, seis ou nove quadros (uau!), criando os desenhos para cada quadro. É também possível adicionar uma música criada no compositor.
Gnat Attack
Por último, não podemos deixar de lado este divertido minigame presente no jogo. Nele, você controla uma mão segurando um mata-moscas. O objetivo? É isso mesmo, matar moscas. São três fases onde se deve matar 100 insetos, desde mosquitinhos que não fazem nada a Bob-ombs voadores que explodem depois de um tempo. No final de cada fase, um chefão mosca deve ser derrotado para passar para a próxima. O minigame não tem fim e as fases ficam se repetindo até que o jogador perca todas as vidas.
Mouse do SNES?
É claro que dar uma de artista usando o controle do SNES seria algo extremamente desconfortável. Por isso, o jogo utiliza o periférico SNES Mouse. Você se lembra dele? Se você nunca jogou Mario Paint, não é de surpreender se não se lembra ou até mesmo se nunca ouviu falar nele, já que este com certeza foi o jogo mais famoso a utilizar o acessório. Os demais, além de serem poucos, não se fizeram muito famosos (dentre os outros mais conhecidos, podemos citar Lemmings 2, Doom e Wolfenstein 3D). Sim, o SNES Mouse sofreu o terrível destino que acompanha a maioria dos periféricos de consoles: ser pouco utilizado e cair no esquecimento.
Mas, pelo menos para jogar Mario Paint, o uso do SNES Mouse é essencial. Tanto que o acessório acompanhava o jogo na caixa e, por isso, ela era bastante maior que o comum. O conjunto era o cartucho, o mouse (cinza com botões roxos, seguindo o padrão do controle) e o lindo mousepad de plástico. Como foi lançado em 1992, o mouse era daqueles modelos antigos, com a bolinha embaixo que juntava sujeira e começava a não responder direito e então você tinha que abrir para limpar, ou – para os mais impacientes - ficar batendo ele contra o mousepad até funcionar... ah, bons tempos.
Lembranças e continuações
Como você que está lendo já pode ter percebido, Mario Paint marcou bastante a minha infância. Outra coisa que foi muito marcante foi o guia do jogo da Nintendo Power, que eu tive a felicidade de possuir. O guia era extremamente completo, com idéias de desenhos, “partituras” de músicas e carimbos de diferentes jogos, para copiar (até de jogos não desenvolvidos pela Nintendo, como Street Fighter e The Simpsons). Além disso, havia dicas de como usar um gravador de vídeo para gravar as criações em fita... afinal, lembre-se que estamos falando de uma época em que o máximo que se podia salvar de um jogo era o que a bateria do cartucho permitia, que era extremamente pouco. Eu tenho este guia até hoje e, apesar de bastante gasto, está inteiro e perfeitamente legível.
Mario Paint nunca recebeu continuações propriamente ditas, pelo menos não fora do mundo oriental. Um par de versões do jogo foram lançados apenas no Japão para o obscuro Satellaview (um acessório para o Super Famicom que funcionava como um modem via satélite) e uma série de jogos com o nome Mario Artist foram criados para o fracassado 64DD (veja mais detalhes aqui), mas a coisa parou por aí. Contudo, muitas heranças de Mario Paint podem ser encontradas até hoje. Os editores de fotos do DSi e do Wii tem ferramentas que mostram grandes semelhanças às de Mario Paint (com destaque para as ferramentas de “limpar a tela” como o foguetinho que sobe, apagando tudo no seu caminho). A semelhança é maior ainda, entretanto, no recente WarioWare D.I.Y. para o DS, onde até a interface de edição é extremamente parecida, contando até com muitos dos mesmos ícones. Falando em WarioWare, não podemos deixar de citar os minigames que aparecem tanto em WarioWare, Inc.: Mega Microgame$! (Game Boy Advance) e em WarioWare D.I.Y (DS) inspirados no Gnat Attack.
Não há muitos motivos para jogar Mario Paint hoje em dia, a não ser pelo valor nostálgico, já que ferramentas para desenho e animação muito mais poderosas e com mais recursos são agora facilmente encontrados. O mesmo vale para o compositor de músicas, que até já inspirou a criação de alguns softwares gratuitos, como o Mario Paint Composer. E também é estranho nos dias de hoje ter o trabalho de criar os desenhos, animações e músicas e não poder salvá-los em um cartão de memória ou enviá-los para outras pessoas via conexão de internet. Mas é um jogo que sem dúvida nenhuma trouxe muita diversão a quem o jogou na época e merece ser lembrado com carinho.