Need for Speed: Hot Pursuit é um título excelente, afinal, foi desenvolvido pela Criterion Games, responsável pelo inspiradíssimo Burnout. Ele consegue combinar com maestria os elementos que fizeram a fama de Need for Speed III em 1998, junto com um robusto sistema online, corridas emocionantes, e gráficos de última geração. Certamente um dos melhores e mais divertidos jogos de corrida da atual geração.
Pena que no Wii não é assim.
Super perseguições policiais mega intensas que não são divertidas
O primeiro parágrafo é de suma importância, pois descreve as versões do título para PlayStation 3, Xbox 360 e PC, muito diferente da versão de Wii, que foi feita somente àqueles de coração forte, pois não conta com nenhum desses elementos. Vá em frente – eu sei que é um choque para você também –, tome uma água, relaxe por alguns minutos. Estarei aqui esperando.
Como analista tive a chance de testar as distintas versões de Hot Pursuit, e tudo que me vem a cabeça quando lembro das imagens é: “como a Electronic Arts teve coragem de lançar isso?” Mas falar é fácil, o
importante é explicar o motivo da tamanha decepção.
Ao invés da abordagem mais livre existente nas demais versões, a desenvolvedora Exient preferiu construir um modo carreira linear, onde você precisa seguir uma ordem exata de eventos para habilitar outros mais difíceis dentro de cinco modos: Hot Pursuit, Eliminator, Rush Hour, Interceptor e Time Trial.
Hot Pursuit é o grande carro chefe, que em teoria deveria apresentar intensas perseguições policiais até que você conseguisse despistar os protetores da lei, ou prendesse os infratores irresponsáveis. Contudo, isso não acontece por aqui, onde na verdade só é preciso dar um certo número de voltas, usar alguns power-ups, e “ganhar” a corrida, já que a inteligência artifical dos policiais é de baixíssimo nível, o que se torna mais perceptível ainda nos outros modos de jogo.
Time trial é auto-explicativo. Interceptor é um dos modos mais interessantes, onde você e um outro oponente participam de uma verdadeira perseguição policial, independente do lado que você escolher. No Eliminator, oito participantes competem para não ficar na última posição, que é desclassificado a cada 30 segundos até sobrar apenas um corredor. E no Rush Hour, o sistema é o mesmo, mas a diferença é que são 100 carros numa mesma pista, e você precisa ultrapassar por todos com o tempo limite. Esse é, com certeza, o modo mais frustrante de todos, já que gravíssimos problemas de inteligência fazem os carros colidirem. Outros bugs menores fazem com que eles andem “grudados” um nos outros, o que significa que em meio segundo você pode passar 10 posições (ou ser passado). Sem contar as vezes em que você é obrigado a bater num monte deles para tentar achar um caminho para passar. É simplesmente frustrante.
Blocos de tijolo motorizados
Tudo bem, talvez tenha faltado um certo capricho na inteligência artificial e nos modos de competição, porém é difícil de aceitar uma jogabilidade tão ruim, principalmente devido aos controles que são um desastre. Você pode usar o Wii Remote com Nunchuck, o volante só com o Wii Remote, ou o controle do GameCube/Classic Controller – que de longe são as “menos piores” opções.
Usar o volante também funciona de forma razoável, até você começar a fazer um drift. A partir deste ponto não se sabe mais qual será o destino do carro: primeiro ele pode virar de forma natural, ignorar o fim da curva e continuar indo para frente, ou ele pode dar uma derrapada de um lado para o outro. Tudo isso seria natural, porém executei os mesmos movimentos várias vezes e eles resultaram em coisas muito distintas. Estranho.
Claro que, com o tempo, essas nuâncias devem ser diminuídas a partir do ponto que você começa a se acostumar, mas elas nunca se tornam naturais ao ponto de Mario Kart Wii. Alguns podem dizer: “Mario Kart é um título com uma proposta bem diferente.” No entanto, ele não deixa de ser um título de corrida, e eu tenho sérias dúvidas se os desenvolvedores chegaram a pelo menos testar Mario Kart para entender alguns conceitos de jogabilidade.
E então temos o Wii Remote com o Nunchuck, que me limito a dizer que o acelerador fica no B, e eu e meus amigos ficamos com o pulso doendo depois de pouquíssimas corridas. Ah, e não tem como mudar o esquema de botões, então é isso aí.
Na hora das corridas é possível perceber que pilotar os carros é muito diferente do que se esperava. A física deles não condiz nem um pouco com a realidade, onde os carros mais fracos parecem tijolos que não conseguem fazer curvas, e os mais luxuosos são comparáveis com um sabão de tão escorregadios. Isso sem comentar das batidas, onde às vezes você bate com força num carro e ele simplesmente fica “grudado” na sua frente, diminuindo a sua velocidade. E, de vez em quando, somente de relar numa parede já aparece a rápida animação do seu carro sendo destruído.
Modo multiplayer, gráficos, e comentários finais
Se você também viu os trailers de Hot Pursuit e ficou animado com o novo modo online chamado Autolog, que permite você e seus amigos a interagirem dentro do jogo como uma rede social, pode parar de se animar – a versão de Wii não tem modo online.
Contudo, a Exient criou a possibilidade de jogar todos os outros modos (com exceção do Time Trial) com até 4 jogadores em tela dividida, e somente a pura diversão de competir com os seus amigos já é um ponto positivo. Aqui os power-ups também ganham muito mais utilidade para atrapalhar seus amigos, criando um modo que vale a pena, caso você não se importe com as terríveis quedas na taxa de quadros.
Os gráficos de Hot Pursuit são um enorme problema. Sério, eu não esperava que a desenvolvedora Exient conseguisse chegar num patamar próximo ao da Criterion, só que está visível o descaso com os modelos de carros. A sensação é de estar assistindo a um jogo qualquer da geração anterior: os veículos foram modelados da forma mais simples possível com texturas básicas, a ambientação também não ajuda – enfim, decepcionante.
Nem a trilha sonora salva. Gosto musical é pessoal, porém são raras as trilhas que realmente se encaixam no clima do game. Isso sem comentar que após algumas corridas você vai ficar louco com o constante alerta sonoro de notificação, dizendo que você fez 5 metros de drift. Tudo isso poderia ser amenizado se houvesse algum tipo de locutor ou até mesmo os rádios policiais entrando em contato com seu carro. Poderia, é claro, somente poderia.
E eu me pergunto, por que Need for Speed: Hot Pursuit não foi dado nas mãos da EA Montreal, responsável pelo decente Need for Speed Nitro? Mas, ao invés disso, os donos de Wii precisam se conformar com uma versão completamente inaceitável de um excelente título para os demais consoles. Infelizmente, a abordagem tomada pela produtora Exient não foi a melhor possível, e agora tudo que nos resta é correr desse título.
Corra como se estivesse fugindo da polícia.
Need for Speed: Hot Pursuit – Wii – Nota final: 4,0
Gráficos: 4,5 | Som: 5,5 | Jogabilidade: 3,0 | Diversão: 4.5