Análise: Rune Factory 3 A Fantasy Harvest Moon (DS)

em 20/12/2010

Se a série Harvest Moon tem uma legião de fãs simplesmente incrível, é extremamente justificável que a Natsume não tenha perdido tempo e ... (por Gustavo Assumpção em 20/12/2010, via Nintendo Blast)

Rune_Factory_3_CoverartSe a série Harvest Moon tem uma legião de fãs simplesmente incrível, é extremamente justificável que a Natsume não tenha perdido tempo e seu mais famoso spin-off, Rune Factory, acabe de ganhar seu quarto game, o terceiro a aparecer no Nintendo DS. E assim como seus predecessores, é um RPG de respeito, apesar de insistir em algumas falhas.

O desenvolvimento da série Rune Factory sempre esteve nas mãos da Neverland, o mesmo time responsável por grandes clássicos do gênero, como as séries Evolution (que pintou no Dreamcast e teve remake pro GameCube)e Lufia (considerada por muitos como uma das séries mais injustiçadas quanto se trata de RPGs).

Com tanta experiência nesse tipo de game, não é de se estranhar que todo game Rune Factory repita clichês e maneiras de se conduzir a aventura bastante típicas dos RPGs orientais, beirando o pastiche. É engraçado observar isso, principalmente se você for um grande fã do gênero.

  • Crie, viva, construa… tenha paciência

Se em Harvest Moon o jogador precisa apenas cuidar de sua fazenda e fazê-la prosperar, em Rune Factory o mundo é muito mais hostil e complicado de se viver. Além de ter que cuidar do seu pedaço de terra, o jogador também precisa se virar em combates contra monstros hostis dos mais diversos tipos. Ou seja, além de andar equipado com machado, enxada e regador, o jogador ainda precisa andar com escudo e espada empunhados para não se dar mal.

Eu sei que teoricamente essa ideia é muito boa, principalmente porque consegue fornecer um pouco de ação aos fãs de Harvest Moon, cansados do marasmo das colheitas e do trato com os animais, mas, ao mesmo tempo os dois universos parecem não estar perfeitamente conectados. É estranho, mas guerreiros medievais não parecem precisar gastar assim tanto tempo cultivando nabos…

De HM, Rune Factory traz o ritmo extremamente lento de evolução. O game exige paciência, cuidado, zelo e principalmente dedicação. E como aqui existem praticamente dois universos dentro de um só, essa dedicação precisa ser em dobro. Não é possível se dar bem sem desenvolver as habilidades necessárias ao plantio, assim como não é possível se dar bem sem evoluir as habilidades necessárias aos combates.

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  • Entre clichês e inovações

Visualmente, Rune Factory 3 é muito bem apresentável. O game tem aquele design que estamos bem acostumados a presenciar em quase todo game japonês do gênero que se preze. Os personagens são bem desenhados, cenários e localidades são bonitos e cheios de vida e os menus são organizados e bem atrativos. As animações dos personagens também são bonitas e muito acima do que estamos acostumados a ver no DS.

Mas, ao mesmo tempo em que o visual de RF3 é tecnicamente muito bom, ele carece de identidade. Não acho que seja necessário entrar em detalhes sobre esse aspecto, até porque é bastante visível que toda a série merecia traços mais característicos.

Essa falta de identidade se reflete na trama central e no desenrolar dessa trama. O herói principal, Micah, um garoto sem memória que aparece misteriosamente em uma pequena cidade, é um ser sem carisma algum. Na trama, Shara, que no caso é a heroína da história, encontra o rapaz e o coloca para cuidar de uma fazenda (!). Sim, isso mesmo que você percebeu: o enredo não faz lá muito sentido e, propositalmente, existe só pra que haja um elo de ligação natural entre alguns personagens, permitindo um desenrolar nítido e coerente da trama.

Aliás, a interação entre os personagens ganhou um papel ainda maior aqui. Se em Rune Factory 2 foi adicionado a possibilidade de gerenciar de uma maneira mais contundente a aproximação e as amizades, RF3 lança quests específicas baseadas na história de alguns personagens que  geram aleatoriamente pedidos simples, como a busca de um item ou simplesmente conversar com determinado personagem em determinado local. Algumas quests também fazem pedidos de batalha, como derrotar uma certa quantidade de monstros. Isso permite que o jogador possa obter avanço em suas relações com a cidade muito mais rápido do que convencionalmente. Vale lembrar que o game limita a quantidade de quests a serem suplantadas a uma por dia.

Outro elemento interessante introduzido nessa terceira aventura para o DS, é que agora cada ação ou atividade desenvolvida pelo jogador é passível de melhora. Por exemplo, o simples ato de cozinhar, limpar, minerar ou lutar pode ter a técnica melhorada (quase sempre, quando estiver desenvolvendo tal habilidade, o jogador vai receber em letras douradas a indicação Skill Up). Esse esquema faz com que o jogador procure desenvolver todas as possibilidades que o game oferece – uma jogada de mestre para aumentar a longevidade, não é?

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  • Apenas mais uma aventura

Embora tenha adições interessantes, seja longo e cheio de coisas pra fazer e possua um sistema bem balanceado, Rune Factory 3 não consegue ser um game imperdível. E isso se dá por alguns motivos complicados de serem solucionados, exatamente por estarem relacionados com algo extremamente difícil de controlar: a inspiração.

Por exemplo, embora existam várias quests diferentes e uma boa variedade de armas e inimigos, raramente o jogador se sentirá fazendo algo de novo. É muita repetição, muito mais do mesmo. Poucas são as aventuras dentro do game principal que conseguem realmente causar algum tipo de sentimento mais latente – e olha que esse talvez seja o game mais variado da série.

Mas é no storyline que RF3 realmente patina. Além do início sem pé nem cabeça já citado aqui, o desenrolar da aventura é insosso e sem grandes atrativos – o que se torna injustificável para um RPG. Mais injustificável ainda é se pensarmos que Rune Factory Frontier ousou nesse ponto e conseguiu nos brindar com uma história bem simpática. Ficou devendo.

Resumindo, Rune Factory 3 é um game que consegue cativar por algumas horas, principalmente aqueles que já gostam do esquema introduzido pelos primeiros games da série. Há um bom uso da interface do DS, uma simpática reconstrução visual e uma quantidade infinita de coisas pra fazer. Difícil é conseguir se manter tentado a desenvolver esse tipo de atividade por muito tempo, já que tudo parece raso demais.

Para um game onde o cultivo é essencial, faltou fincar suas raízes em maior profundidade. Mais uma vez, Rune Factory quase chega lá.

Rune Factory 3 – Nintendo DS – Nota Final: 7.5

Gráficos: 8.0 Som: 7.5 Jogabilidade: 7.5 Diversão: 7.5


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