Análise: Lufia - Curse of the Sinistrals (DS)

em 25/12/2010

Lufia II: Rise of the Sinistrals foi um excelente RPG para o Super Nintendo que, ficando na sombra de outros títulos mais famosos, pode ... (por Daniel Moisés em 25/12/2010, via Nintendo Blast)

Lufia II: Rise of the Sinistrals foi um excelente RPG para o Super Nintendo que, ficando na sombra de outros Lufia_DS_Covertítulos mais famosos, pode ter passado despercebido por muitos. Agora, este clássico recebe um remake no DS. Mais do que uma simples adaptação da antiga versão, Curse of the Sinistrals é um jogo completamente novo, desde os gráficos até a jogabilidade. Em uma mistura de erros e acertos, o resultado final é um bom jogo, mas que provavelmente decepcionará muitos fãs do original.

Um clássico não tão lembrado

Enquanto a Square liderava com os principais títulos de RPG no SNES, como Final Fantasy, Chrono Trigger, Super Mario RPG, The Secret of Mana, entre vários outros, algumas outras empresas também contribuíam de vez em quando com algum jogo com o mesmo nível de qualidade. Lufia II: Rise of the Sinistrals, lançado em 1996, é um perfeito exemplo disto. Sendo um dos últimos lançamentos para o 41Z6hi6PmYL._SL500_AA300_ console, os gráficos não eram nada excepcionais para a época e a história não era particularmente original, mas quem gosta de um bom RPG e teve a oportunidade de jogá-lo, muito provavelmente tem boas lembranças deste jogo. O segundo jogo da série Lufia era, na realidade, um prequel do primeiro – Lufia and the Fortress of Doom, também para SNES – e contava a história de um caçador de monstros chamado Maxim que, com a ajuda de outros poderosos guerreiros, devia enfrentar os Sinistrals, um grupo de quatro seres malignos que ameaçava destruir a humanidade.

O que realmente chamava a atenção, entretanto, era a jogabilidade. Misturado aos elementos típicos de um RPG, havia um forte enfoque em puzzles. E não eram simplesmente coisas do tipo “arrastar a pedra pra cima do botão”. Os puzzles de Lufia II chagavam a ser extremamente desafiantes (um deles era apropriadamente intitulado de “O truque alunze2mais difícil do mundo”), algo pouco comum no gênero. As batalhas eram no estilo tradicional por turnos, mas durante a exploração dos dungeons, o jogador tinha acesso a uma variedade de itens como gancho, bombas e arco e flecha, para atravessar obstáculos, no melhor estilo Legend of Zelda. Encontros com inimigos não eram randômicos e, não só os monstros ficavam visíveis no mapa, como também apenas se deslocavam quando o jogador fazia um movimento, o que possibilitava planejar uma estratégia para cada passo.

A série Lufia ainda contou com mais dois episódios posteriores, um para Game Boy Color (Lufia: The Legend Returns, 2001) e outro para Game Boy Advance (Lufia: The Ruins of Lore, 2003), mas nenhum destes teve tanto destaque.

Sete anos depois da última manifestação da série, Lufia está de volta com um remake de Lufia II para o DS em uma co-produção da Neverland (a empresa que desenvolveu o jogo original) e Square-Enix (Final Fantasy, Dragon Quest, Kingdom Hearts…). Renomeado para Lufia: Curse of the Sinistrals, o jogo é algo bem diferente de outros remakes que já passaram pelo portátil. Ele está longe der ser algo como Chrono Trigger DS, por exemplo, que é praticamente o mesmo jogo, adaptado para o DS.

O novo visual

A primeira novidade que salta aos olhos é a completa reformulação visual, passando do 2D para o uso de gráficos tridimensionais, que estão bonitos, considerando as capacidades do DS. As cidades e cenários são bem diversificados e detalhados, assim como os personagens, mas o estilo tendendo para o realista dão aos modelos humanos uma aparência bastante “poligonal” (que fica menos evidente em outros jogos mais cartunescos, como The Legend of Zelda: Spirit Tracks, por exemplo), ainda mais pelo fato de não haver nenhuma animação pré-renderizada. Felizmente, o uso de retratos dos personagens durante os diálogos – muito bem desenhados, aliás – amenizam um pouco este problema.

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À esquerda, o Lufia II original. À direita, o novo.

A música é muito boa. Novas versões das composições originais – principalmente durante as batalhas – me causaram uma grande nostalgia, rapidamente me fazendo lembrar de uma excelente trilha sonora que havia ficado esquecido no meu subconsciente. E mesmo para quem não jogou o original, as músicas certamente soarão extremamente agradáveis. As vozes, por outro lado, são dispensáveis. São poucos os diálogos nos quais se ouvem vozes e estas frases perdidas soam forçadas e com baixa qualidade. O interessante, entretanto, é que algumas destes diálogos falados são ouvidos durante o jogo, no meio de uma batalha, por exemplo. Este pequeno fator contribui para dar uma maior imersão no jogo, mas é uma pena que estes momentos sejam escassos e que a dublagem não seja tão boa.

A mudança de gênero

lufia_curse_of_the_sinistrals_3a Definitivamente, a maior novidade em Curse of the Sinistrals é a mudança do estilo clássico de RPG com batalhas por turnos para o estilo action RPG, ou seja, RPG com batalhas em tempo real, como em Kingdom Hearts. Isto significa que, ao invés de usar uma equipe de até quatro personagens nas lutas contra os inimigos, você agora controla apenas um dos heróis, podendo a qualquer momento alternar entre um dos integrantes do grupo. Enquanto isto certamente elimina a monotonia das lutas por turno, os controles são um pouco “rígidos”. Alguns comandos levam um tempo para executar, o que deixa os movimentos bem menos suaves que em Kingdom Hearts 358/2 Days, por exemplo.

Os seis diferentes personagens apresentam grande variedade entre si. Maxim usa uma espada, é rápido e tem um alcance médio. Tia usa uma… mala (?!) e seus ataques são bons para atingir inimigos que estão longe. Guy usa um martelo gigante, o que o torna Lufia Estpolis 2lento mas extremamente forte. E por aí vai. Além disso, cada um tem afinidade com certos elementos, resultando em uma maior ou menor eficiência contra diferentes tipos de inimigos. Com tudo isto, é de se esperar que seja importante escolher o personagem certo para a situação. Entretanto, é bem provável que, na maior parte do tempo, Maxim ou Selan sejam as preferências para as batalhas. Isso porque a maior facilidade de controlá-los acaba priorizando outros aspectos, como vulnerabilidade de elementos. E, como os pontos de experiência são distribuídos também aos personagens não usados (50% para eles, enquanto que o que está em uso recebe 100%), não é muito difícil treinar todos de forma paralela.

lufia-curse-of-the-sinistrals-20100615074748961 O jogo, aliás, não é particularmente difícil (com exceção de alguns chefes). Cada vez que um personagem passa de nível, seu HP é completamente recuperado. Então, percorrer um dungeon não é uma tarefa muito perigosa, já que, caso um personagem esteja no fim das suas energias, basta trocar por outro até que o primeiro passe de nível e assim sucessivamente. Por outro lado, isto compensa o limite de itens que podem ser carregados (apenas nove de cada) e o fato de não poder usar nenhum tipo de magia de cura. O tempo de jogo ficou bastante reduzido também, principalmente porque não é mais necessário andar de um lugar para o outro. Agora, basta escolher o destino em uma lista de locais disponíveis para chegar lá em um piscar de olhos. Mas a maior prova de que os desenvolvedores decidiram facilitar ao máximo a vida do jogador está no fato de que, ao morrer, fica disponível uma opção de instantaneamente aumentar em cinco o nível de cada personagem… sem penalidade nenhuma. Isso torna o treinamento manual meio que desnecessário, mas certamente é uma saída que muitos terão orgulho demais para usar, e com razão.

Ainda falando sobre a evolução dos personagens, foi incluída uma nova forma de lufia-curse-of-the-sinistrals-20100615074712384 incrementar os atributos que parece uma mistura do mecanismo do Final Fantasy X com o de Kingdom Hearts 358/2 Days. Trata-se de um tabuleiro em forma de grade onde, como em FFX, certos espaços correspondem a aumentos de diferentes atributos, como força ou afinidade a um elemento. E, como em 358/2 Days, esta grade deve ser preenchida com peças em diferentes formatos, encaixando-os de forma a otimizar o resultado. Estas peças - chamadas de Power Stones - são facilmente obtidas, frequentemente sendo deixadas por inimigos derrotados. Contudo, elas estão inicialmente em um nível baixo. Para aumentar o nível das Power Stones e torná-las mais eficientes, é necessário fazer combinações entre elas. Além disso, cada uma tem diferentes impactos no aumento dos atributos, então é importante combiná-las buscando o melhor resultado possível.

O que ficou e o que se perdeu

Um ponto muito forte em favor de Curse of the Sinistrals é a jogabilidade variada. Em um momento você estará controlando lufiacsum carrinho dentro de uma mina, em outro você estará escalando uma fortaleza gigante e, em outro, você estará derrubando pilastras para enfrentar um chefe. Aliás, o jogo continua com um grande enfoque nos puzzles, o que também é muito bom. Ao invés de escolher entre diferentes itens, como era no original, agora cada personagem tem uma habilidade específica, que pode ser utilizada para passar por diferentes obstáculos. E, com a mudança do estilo do jogo, os personagens ganharam a habilidade de pular. Portanto, muitas partes dos dungeons também envolvem pular por plataformas. A câmera muitas vezes não ajuda muito nestas partes mas, no geral, as partes de ação funcionam bastante bem.

O que muita gente que jogou o Lufia II original com certeza vai sentir falta neste são os Capsule Monsters. Estes criaturas encontradas no decorrer do jogo eram uma espécie de precursores dos Pokémon, com direito a participarem nas batalhas e a evoluírem para formas mais poderosas, mas ficaram de fora da nova versão. O que sim foi mantido é o famoso Ancient Cave, um dungeon com 99 andares randomicamente gerados e no qual, ao entrar, todos os personagens voltam ao nível 1 e todos os itens são perdidos, com exceção dos “azuis” (mas fique tranquilo, tudo é recuperado ao sair da caverna). O detalhe em Curse of the Sinistrals é que, ao jogar pela primeira vez, apenas é possível ir até o 30º andar do Ancient Cave. Para conseguir chegar até o fim, é necessário terminar o jogo uma vez e começar novamente.

A mesma história de antes… ou quase

A história é, no fundo, a mesma. Mas fica só no fundo. Não é como o remake de Final Fantasy IV, por exemplo, no qual, apesar da mudança nos gráficos, a história permaneceu inalterada. Em Curse of the Sinistrals, o roteiro foi completamente reescrito. Ainda se trata da jornada de Maxim e seus amigos contra os terríveis Sinistrals, mas muitos detalhes foram modificados, provavelmente para se adaptar melhor ao novo estilo. Acho que ela continua sendo boa, mas se você tem algum sentimento especial pelo roteiro original, é bem provável que solte alguns insultos durante o jogo. Em Rise of the Sinistrals, a trama parecia se desenrolar em um ritmo lufia-curse-of-the-sinistrals-walkthrough-screenshot-dsmais lento. No começo da história original, por exemplo, Maxim ainda não tinha idéia sobre a existência dos Sinistrals, coisa que ia se revelando aos poucos. Em Curse of the Sinistrals, por outro lado, o jogo já começa com uma luta entre Maxim e um dos Sinistrals, chamado Gades. Esta forma “apressada” de contar a história também acaba fazendo com que a relação entre os personagens seja menos desenvolvida, o que deixa certos momentos menos dramáticos que na versão do SNES.

A inevitável comparação

Os desenvolvedores de Lufia: Curse of the Sinistrals definitivamente se esforçaram bastante. Ao invés de se limitar simplesmente a uma adaptação do jogo original do SNES para o DS, tudo foi refeito. Infelizmente, isto teve suas vantagens e desvantagens, já que muitos fãs de Lufia II vão inevitavelmente fazer a comparação e se lamentar por muitas das diferenças entre os jogos. Curse of the Sinistrals sem dúvida é um ótimo action RPG… apenas jogue-o tendo em mente que ele não é o mesmo Lufia II do SNES. Se você quer reviver este clássico, o melhor é desempoeirar o velho Super Nintendo, porque o jogo não está nem disponível no Virtual Console.

Lufia: Curse of the Sinistrals – Nintendo DS – Nota Final: 8.0
Gráficos: 7.0 | Som: 7.5 | Jogabilidade: 8.5 | Diversão: 8.5


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