Há quanto tempo você provavelmente não joga um bom jogo do agente secreto mais famoso dos cinemas? No meu caso, o último que tive a oportunidade de jogar foi 007 Night Fire, no GC, mas o que realmente me marcou foi GoldenEye para o N64. Clássico FPS que marcou a geração e implementou muitos conceitos para os futuros jogos de tiro, o GoldenEye da época dos 64-bits recebe uma gloriosa releitura para o Wii. Como sempre, há aquela dúvida se será possível repetir o sucesso, dar uma cara nova ao game ou simplesmente sujar um querido nome. Tive a oportunidade de pôr as mãos neste grande jogo do Wii e digo que não é a mesma coisa que a versão original, mas nem por isso um péssimo jogo – muito pelo contrário.
A campanha solo de 007 GoldenEye para o Wii é divida em missões, cada uma com seus objetivos. Cada um deles, diferentemente de muitos outros jogos da série 007, são bem divertidos. Apesar dos objetivos não serem tão complexos, a missão como um todo é cheia de detalhes e sempre adiciona um capítulo à trama do jogo, que muda um pouco em relação à do game original. No remake, o foco não é tanto a guerra fria, e o enredo é mais direto, visto que se passa em apenas 6 missões. Quem escreveu o roteiro foi Bruce Feirstein, que também contribuiu para o enredo dos filmes. Para nós, brasileiro, a falta de legendas pode atrapalhar os diálogos, pois algumas falas são rápidas demais para se entender completamente em inglês. A história começa com Bond e Alec, agentes 007 e 006 respectivamente, invadindo uma fonte de armas de terroristas, e daí em diante o jogo lança o jogador numa série de missões em diversos estágios. É tudo muito intenso e frenético, em um momento você está numa boate noturna atirando nos capangas dos mafiosos e em outro instante está se adentrando na selva para descobrir o quão perigosa ela realmente é. E é interessante como GoldenEye mescla muito bem cut-scenes com momentos do jogo da mesma forma que Metroid: Other M (Wii) fez. A mudança entre um e o outro é sutil e deixa o ritmo de jogo ainda mais fluido. Outro ponto importante é a grande destrutibilidade do cenário; se um inimigo estiver perto de um extintor de incêndio, atire no tanque vermelho e o seu adversário voará pelos ares.
Além de todas essas funcionalidades, o game também apresenta vários elementos que fazem com que o jogador adentre ainda mais na perspectiva de James Bond (agora interpretado por Daniel Craig e não mais Pierce Brosnan). Até mesmo nas cut-scenes, o jogador enxerga os fatos sob a visão do agente secreto, e é interessante ouvir a sua voz como se ela estivesse dentro de sua cabeça. Também é um jogo feito para gregos e troianos, há um leque de opções de controles para se jogar que satisfazem as necessidades e o tamanho das mãos de qualquer um. É possível fuzilar inimigos com o Wiimote + Nunchuk usando o pointer como mira, manusear uma arma através de um Classic Controller/Pro/controle de Game Cube ou ainda sentir-se na pele do agente através do uso do acessório Wii Zapper. Detalhe que o uso de movimentos do controle na opção Wiimote + Nunchuk não é nada abusivo e não se trata apenas de “chacoalhar” eles a todo o instante. Também não há como deixar de falar do Classic Controller Pro douradão que vem junto ao pacote especial do jogo, um verdadeiro item de colecionador!
Um agente (realmente) secreto
GoldenEye reforça ainda mais um dos elementos chave do game: você é um agente “secreto”, e esse último adjetivo não está ai por mero acaso. Nesta releitura, você precisa andar agachado, tomar cuidado para que o inimigo não o veja quando você quebrar seu pescoço e se esconder de câmeras de vigilância. Se você for visto, acredite, descobrirá que a que a palavra “reforços inimigos” significa, na verdade, “tropas extras e imensuráveis de soldados muitos bem armados”. Não que tudo isso seja exclusivo de GoldenEye, mas o game definitivamente usa muito bem as características de espionagem da série.
Há momentos em que é preciso usar o celular para investigar, um substituto do relógio de pulso do game original, ou também um substituto de um bom cinto de utilidades. O smartphone do agente é capaz de tirar fotos de possíveis armas terroristas, identificar suspeitos, usar programas para hackear sistemas de alarme e computadores. Dá até para virar máquinas de tiro automático contra seus inimigos. Definitivamente, GoldenEye honra o nome de James Bond e coloca-o como um agente secreto e não um simples soldado.
De terno e gravata
Visualmente, GoldenEye está muito acima da maioria dos jogos que diariamente saem para o Wii, mas não chega a ser algo estrondosamente belo como Super Mario Galaxy 2 ou Monster Hunter Tri. A baixa capacidade técnica do console não serviu de barreira para a criatividade da Eurocom, desenvolvedora do jogo, no entanto, o problema em GoldenEye é a lapidação. É fato que há uma grande preocupação em detalhes do cenário e personagens, mas tudo isso com uma boa dose dos temíveis “serrilhados”. Os contornos dos elementos do jogo são todos quebradiços, o que incomoda muito os olhos. Não chega a ser um jogo “com cara de Game Cube”, mas não usa todo o potencial do Wii. Mesmo assim, é interessante atentar-se ao trabalho da desenvolvedora Eurocom com o jogo. Por exemplo, na missão da represa, há uma chuva torrencial e uma atmosfera obscura totalmente diferentes da versão de N64, mais uma adição muito bem vinda. Até mesmo a interface do jogo é bonita, mesmo que passear pelos menus do jogo não seja o foco de GoldenEye. Por outro lado, não há quase que irregularidade nenhuma no rosto das personagens, o que dá uma impressão de que eles fizeram umas horas extras de limpeza de pele. Em suma, O visual tem momentos de pico e momentos de descaso por parte dos desenvolvedores.
Em se tratando das animações, não há o que se discutir. Cada elemento do jogo flui bem e é muito bem animado. Quando você atira em um inimigo, é fácil perceber que há reações corporais diferentes ao atingir a cabeça, o tronco, os braços ou as pernas do alvo. Só faltava a clássica reação a um tiro certeiro na mão, que, no game original, fazia o inimigo sentir como se tivesse sido picado por um mosquito. Quando os personagens conversam, suas feições também são muito bem representadas, aumentando a sensação de realismo do game. O próprio ator Daniel Craig e seu dublê foram chamados para fazer a captura de movimentos, dublagens e até mesmo dicas para o jogo em si incorporar uma atmosfera mais parecida com os atuais filmes da série 007. Detalhe para estas dublagens, pois todas são muito bem gravadas e interpretadas, completamente convincentes..
Quando o assunto é sonoplastia e trilha sonora, GoldenEye brilha dourado (se me permite o trocadilho). As músicas de fundo têm a mesma qualidade das composições de cinema, todas muito bem feitas e combinando perfeitamente com a cena e suas circunstâncias. A música de abertura ao fim da primeira missão também impressiona. Os efeitos sonoros não deixam a desejar, como, por exemplo, quando um inimigo te detecta. Nessa hora, um efeito sonoro sinaliza de forma interessante o descuido, a música torna-se densa e você se prepara para matar adversário antes que ele grite desesperadamente: “Help, we are under attack!” (Socorro, estamos sob ataque!)
4 (ou até 8) em 1
Talvez o ponto mais característico do GoldenEye original de N64 seja o seu modo para múltiplos jogadores. No remake, houve um cuidado excepcional com este fator. É certo que, no Wii, o multiplayer assemelha-se muito com a série Call of Duty também. Apesar de diferente, GoldenEye para o Wii tem seus motivos próprios para ter um multiplayer esplêndido. Digo isso por que, ao dividir a minha televisão em quatro telinhas e fuzilar meus melhores amigos, me tornei um escravo do jogo – é realmente viciante e dinâmico. No entanto, toda rosa tem seus espinhos, e aqui o problema, mais uma vez, são os gráficos. Ao partir uma grande tela em outras quatro, a quantidade de detalhes dos cenários e os serrilhados tornam difícil a boa visualização dos tiroteios. O destaque fica para os modificadores e modos de jogo, como Paint Ball, Melee mode e Golden Gun mode, este último é o mais divertido, que permitem as loucuras da versão de N64. Quase tudo pode ser customizado: o tempo das partidas, número de vidas do jogador, score máximo…
Para mostrar ainda mais que a versão de Wii não é um port de um game do passado, mas, sim, um remake do futuro, a Eurocom implementou um modo multiplayer online via Nintendo Wi-Fi Connection. Num FPS, a vontade do jogador é de jogar uma partida sem demora, algo mais dinâmico. E essa vontade foi bem saciada, pois não é preciso mais do que um ou dois minutos para o jogo te transportar para uma partida repleta de outros craques. No entanto, disputar com os amigos exige o infernal sistema de Friend Codes, então é bom pegar papel e caneta para anotar o número de seus colegas. Detalhe que, quando jogado online, o número máximo de agentes sobe para 8, o que não é um problema gráfico, já que não é necessário dividir a tela (imagina como seriam 8 telinhas).
A jogatina online corre sem muito lag, a não ser quando todos os jogadores se concentram num só lugar e atiram sem parar. É possível sentir uma certa queda na taxa de quadros, mas nada insuportável. O problema do grande número de atiradores é que é um pouco difícil respirar sem já estar na mira de alguém, as batalhas acabam por seguir a seguinte lógica: se você viu o adversário primeiro, você com certeza vai matar ele, e vice-versa. O sistema de experiência também é interessante, ele permite desbloquear funções extras, mas nada que favoreça o desnivelamento de jogadores, como modificar atributos e dar vantagens. O resultado? Uma experiência incrível que envolve dezenas de personagens, armas e cenários. São mais de 40 personagens selecionáveis, dentre os quais não só James Bond, Nathalia, Alec e os agentes do singleplayer, mas também clássicos da série como Jaws, Oddjob, Baron Samedi e Rose Kleeb – até mesmo inimigos aleatórios estão incluídos. Os campos de batalha são variadíssimos e muito bem arquitetados para que os jogadores se encontrem rapidamente e jogatina não perca o ritmo acelerado. Também sinto falta de um cenário transplantado do game original, pois todos aqui são originais, aproveitando apenas a ambientação da versão de N64.
Missão dada é missão cumprida!
Se a tarefa da Eurocom, desenvolvedora, e da Activison, publicadora, era de dar um novo gás ao clássico GoldenEye do N64, é certo que acertaram em cheio. Mas, se a missão era repetir o mesmo jogo, mas com gráficos e controles melhores, o objetivo passa longe do que realmente é o game. Não o leve a mal, mas é algo bem diferente do original. GoldenEye para Wii é um jogo novo, absorve elementos tradicionais, mas segue seu próprio caminho. E que grande caminho, diga-se de passagem! A jogatina solitária é curta, mas altamente viciante (você se pegará tentado a escolher por “Save and Continue” ao invés de “Save and Quit” ao fim das missões). Felizmente, o multiplayer também conta com o mesmo nível de diversão e uma maior durabilidade graças ao suporte a confrontos ao redor do mundo.
O veredicto? Não é o mais bonito, precisa de um polimento aqui e ali, mas é um dos melhores FPS que já vi no Wii, um concorrente de peso para o recém-lançado Call of Duty: Black Ops (Wii) e um futuro rival para The Conduit 2 (Wii)!
GoldenEye 007 - Wii – Nota Final: 9,0
Gráficos 8,5 | Som 9,5 | Jogabilidade 9,0 | Diversão 9,5