Na última coluna A História dos Vídeo Games acompanhamos o desespero da Atari para reaver o reinado que um dia fora seu. O Atari 7800 pareceu promissor e empolgou muitos jogadores, porém a venda da Atari para Jack Tramiel fez com que o projeto caísse no esquecimento e, consequentemente, o sonho se tornasse um verdadeiro fiasco. Ninguém acreditava que a Nintendo pudesse ter o seu reinado ameaçado, exceto uma empresa que já conhecia o gostinho do sucesso nos fliperamas.
Segunda metade da década de 1980. A Nintendo dominava mais de 90% do mercado de consoles com o seu novíssimo console, o Nintendo Entertainment System. A indústria desejava assiduamente devorar uma fatia do enorme reinado da japonesa de Kioto. A Atari já tentara e fracassara. Será que uma vez já não seria suficiente para mostrar que o NES era poderoso o suficiente para derrubar qualquer concorrente? Não para a SEGA.
Fundada em 1940 em Honolulu, no Havaí, a SEGA começou suas atividades fornecendo entretenimento pago aos militares norte-americanos com base na região. O negócio deu tão certo que, em 1951, a empresa teve sua sede transferida para Tóquio. Na terra do sol nascente, o sucesso continuou. Em 1966 a SEGA lançava seu primeiro jogo mundialmente famoso – Periscópio, um simulador de submarinos. Prosperando cada vez mais, depois do lançamento de Frogger e Zaxxon, a empresa viu a necessidade de dividir suas atividades em SEGA América e SEGA Japão. Entre idas e vindas, vendas e fusões, a SEGA se consolidara nos fliperamas.
Em 1981 a SEGA experimentou, sem sucesso, o mercado de consoles domésticos com o SG-1000. Apesar disso, logo foi lançado o primeiro console da SEGA da 3ª geração – o Mark III. Contrariando as expectativas, o Mark III não obteve o sucesso desejado no Japão. Pouco abalada com isso, a SEGA viu no sucesso da Nintendo no mercado norte-americano a possibilidade de conquista do público que o seu console mereceria – afinal de contas, quem não gostaria de morder uma fatia de bolo da Nintendo? Redesenhado, o console foi lançado nos Estados Unidos com o nome de Sega Master System em 1986.
Talvez por ingenuidade, ou por falta de planejamento, o Master System sofreu uma paulada na cabeça tão logo colocou os pés na terra do Tio Sam. A política contratual da Nintendo impunha exclusividade junto as produtoras de jogos na época – ou seja, se você produzia jogos para Nintendo, não poderia produzir para nenhuma outra plataforma. Logo o Master System não poderia contar com o apoio de quase nenhuma desenvolvedora se não a própria SEGA.
Não encontrando uma solução satisfatória, a SEGA se viu obrigada a vender os direitos de comercialização do console à Tonka Toys, uma famosa companhia de brinquedos. A expectativa era que a Tonka conseguisse popularizar o vídeo game no mercado, já que, supostamente, conhecia melhor o mercado de entretenimento norte-americano – uma ideia pífia que só contribuiu para a queda das vendas do aparelho por falta de know-how da Tonka com vídeo games. A última grande cartada restante à SEGA era aumentar a quantidade de ports dos fliperamas para o console, pois faltavam jogos de qualidade para o console e ele não conseguia vender quase nada. Foi aí que surgiram os grandes clássicos que todo fã do Master System conhece.
A falta de estratégia, a igenuidade e a forte concorrência da gigante Nintendo fez com que o Master System fosse um fracasso nos Estados Unidos, situação que não se repetiu na Europa, Austrália e Brasil. É engraçado, mas nesses lugares a Nintendo não conseguiu atingir o público de maneira satisfatório, e aí sim o Master System teve terreno para avançar e se tornar o vídeo game mais popular. Para se ter uma ideia da ‘crise’ da Nintendo nesses lugares, na Europa a Nintendo chegou a pedir licenciamento de jogos como Shinobi, After Burner e Out Run para o NES, numa tentativa desesperada de conseguir alguma fatia do mercado. A ideia fracassou, pois os jogos perdiam muita qualidade no NES – o hardware do Master System era relativamente superior – e não teve jeito, a SEGA dominou por lá e por isso abriu sua filial europeia.
Já poraqui, o Master System fez muito sucesso graças a competência da recém-formada Tec Toy, que trouxe o vídeo game oficialmente para o Brasil e, ao contrário da Tonka Toys, fez o seu dever de casa. Investindo pesadamente em publicidade e propaganda e trazendo bons jogos já no lançamento do console (que aconteceu em 1989), a Tec Toy fez com que o Master System conquistasse o coração dos brasileiros. Seria bom se parasse por aí, mas ficou ainda melhor! A Tec Toy ainda se destacou por trazer várias “bugingangas” para nós brasileiros – era muito comum ver adesivos, camisetas, brinquedos e pelúcias nessa época –, além de prestar um excelente serviço pós-venda aos consumidores – prática que os comerciantes insistem em não dar importância até hoje.
A Tec Toy ainda relançou vários jogos traduzidos e outros adaptados com personagens conhecidos de nossa cultura – como Chapolin Colorado, Turma da Mônica e a galerinha do Sítio do Pica Pau Amarelo . Tudo isso contribuiu para que os gamers brasileiros se afeiçoassem ao Master System e o console se tornasse tão popular a ponto de ser comercializado até hoje por aí a fora.
Mesmo com hardware superior ao da concorrência, o Master System fracassou por causa da estratégia pífia da SEGA para entrar no mercado norte-americano. Surpreendentemente, o console conquistou um mercado totalmente diferente do que a SEGA planejara – Europa, Austrália e Brasil. Mesmo conquistando-os, o Master System amargou a marca de apenas 13 milhões de consoles vendidos, ficando muito atrás do NES (~61 milhões). As trapalhadas da Tonka Toys fizeram com que a SEGA recomprasse os direitos de venda e distribuição em território norte-americano e, finalmente, lançasse jogos de qualidade para o console. Mas já era tarde demais. Um novo console, mais robusto e mais poderoso, estava a caminho. Mas isso é assunto para o nosso próximo encontro. Até lá!