Análise: Dragon Quest IX: Sentinels of the Starry Skies (DS)

em 12/09/2010

(por Gustavo Assumpção em 12/09/2010, via Nintendo Blast)

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Entender as possibilidades de um console portátil e as funcionalidades próprias que a plataforma propicia é um ponto chave para o sucesso de um game lançado para tal console. Saber fazer essa leitura e adaptar uma grande franquia para um console de bolso é um trabalho que poucos conseguem fazer – e mais que isso – fazer de maneira convincente.

Com Dragon Quest IX, é possível afirmar que a Level 5 conseguiu um trabalho bastante elogiável. Primeiro porque manteve o tradicionalismo da série, tão importante para uma legião de fãs que não está muito aberta a novidades e invencionices. Segundo, porque soube utilizar as particularidades de um portátil para criar uma experiência extremamente satisfatória.

0296994001274276867O início é lento e introdutório como todo bom RPG deve ser. Há tempo suficiente para se acostumar com os controles, enfrentar inimigos e aprender os detalhes do enredo. Enredo que dessa vez é protagonizado por um personagem que não possui nem ao menos uma cara. É o próprio jogador que deve criar o protagonista, decidindo se o mesmo é homem ou mulher, escolher cor da pele, formato dos olhos, cabelos, além, claro, de nomeá-lo. Essa capacidade de customização da jornada é um dos pontos centrais desse episódio, que se adapta a cada tipo de jogador de uma forma admirável.

Sentinels of the Starry Skies conta a história do reino de Angel Falls, uma localidade onde uma raça de anjos guardiões são os responsáveis por garantir a paz do local. Apesar de simplista, há um quê de tradicionalismo e humor nos diálogos que conseguem prender o jogador de uma maneira satisfatória. A jornada fica bem longe do lugar comum. Há várias reviravoltas ao longo da história, justificando as muitas buscas por itens e a jornada longa e funcional. Esse tradicionalismo ainda é mais visível na maneira com que o game se desenrola. O sistema de progressão da história é típico dos JRPGs, exigindo uma grande capacidade de paciência e dedicação para enfrentar a linearidade que a história acaba propondo.

Colete, batalhe, ganhe novas habilidades

Quem está acostumado com Dragon Quest deve se lembrar de como é chato ter que conviver com batalhas aleatórias. Além de maçantes, elas ainda podem ser fatais em um momento no qual o jogador está desprevenido – sem itens de cura por exemplo. Pensando nisso, a Level 5 excluiu esse sistema dessa nona versão. Agora os inimigos são visíveis na área de jogo, embora continuem aparecendo em grande quantidade – ideal para aquele momento onde é preciso subir alguns níveis.

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O sistema de batalhas não poderia ser mais simples. Ao se encontrar um inimigo, o jogador é transportado para um menu, onde deve escolher as ações que cada um irá desempenhar no turno. É possível escolher ataque, defesa, magia  ou então utilizar um item. Após escolhidas as ações, a tela superior mostra o resultado delas. O esquema, como deu para perceber, é bem parecido – ou até mesmo idêntico – aos demais games da franquia, o que pode ser encarado como uma decisão segura da equipe de desenvolvimento. Mesmo assim, há um certo desconforto, já que melhorias para tornarem esses confrontos menos mecânicos poderiam ter acontecido. É difícil esconder o quão ultrapassado esse esquema é.

dragon_quest_ix_conceptart_IdQhnHá algumas coisas elogiáveis no sistema dessa nona versão. A primeira é a existência de classes para os personagens – que aqui são chamadas de vocations. São elas que adicionam uma grande quantidade de estratégia, já que cada personagem pode desempenhar um papel diferente durante as batalhas:  Warrior, Mage, Priest, Thief, Martial Artist ou Minstrel. Aliás, Minstrel é a classe base, e a partir dela é possível alterar para outras. Classes destraváveis também estão disponíveis. Ter um grupo com a presença de classes variadas é um dos pontos chave para se obter sucesso na jornada.

O frescor do título fica pela existência de um sistema de criação de itens que é impressionante, além de muito útil. É possível coletar matéria-prima ao longo do jogo para fabricar suas próprias armaduras, lanças, espadas e tudo mais que for permitido. Receitas são adquiridas em livros encontrados em bibliotecas e masmorras, de certa forma obrigando o jogador a vasculhar cada canto dos cenários.

Multiplayer viciante

i_23712Onde Dragon Quest IX realmente brilha é em suas capacidades multiplayer. O game permite até quatro jogadores simultâneos, sendo que um deles atuará como host e outros três como convidados. É possível enfrentar batalhas em grupo, ou então enfrentar batalhas separadamente – cabendo aos próprios jogadores decidirem tal feito. Há a presença de quests especiais para o jogo multiplayer, já que não é possível avançar na história principal nesse modo. Apesar disso, a disputa com amigos compensa, já que se torna um refresco em meio a progressão exigente da história principal.

Outro ponto interessante é a existência de múltiplas side-quests e eventos paralelos, responsáveis por uma ampliação considerável da experiência de jogo. Já estão disponíveis para download as primeiras quests extras e outras dezenas devem ser disponibilizadas ao longo do tempo.

O medievo em duas telas

Como sempre, a ambientação de Dragon Quest IX é tipicamente medieval, havendo a existência de arquétipos típicos dessa representação. O desenho de inimigos e personagens é bastante convincente, já que é resultado do trabalho sempre acima da média do mestre Akira Toriyama (assim como o que já acontecia em outros títulos da série).

dragon_quest_ix_conceptart_YDNTlO visual é muito interessante, embora não seja brilhante. A aplicação do estilo cel shading nos gráficos combina perfeitamente com a proposta de um portátil, oferecendo um visual bastante competente. Há um bônus importante: ao se equipar roupas, itens, armaduras, seu personagem também irá mudar de aparência, um recurso poucas vezes visto no DS. Um pouco preocupante, é que não são raras as vezes em que o jogador pode se sentir jogando uma versão portátil de Dragon Quest VIII (lançado em 2005 para o Playstation 2), tamanha é a semelhança visual entre os títulos (salvo as devidas proporções técnicas, claro). Essa sensação de Deja Vú também acaba atingindo a parte sonora do título. A trilha é pouco inspirada e remete ao trabalho de games anteriores da franquia. Outro destaque negativo é a inexistência de qualquer atuação de voz, o que, convenhamos, é inaceitável para os padrões atuais. Há de se considerar a preocupação com a manutenção do tradicionalismo típico de Dragon Quest, mas não deixa de ser um contra.

Entender o valor da tradição. Esse é o principal requisito para aproveitar Dragon Quest IX em todas as suas particularidades, apesar do estilão old-fashioned que pode incomodar alguns. A jornada é longa, heróica, homérica. Só quem saber reconhecer esses valores como inerentes ao próprio universo da série vai conseguir aproveitar ao máximo essa aventura. E essa jornada tem feeling, pode apostar.

Dragon Quest IX – DS – Nota Final: 8.5
Gráficos: 8.5 | Som: 7.5 | Jogabilidade: 8.5 | Diversão: 9.0

Estudante de Jornalismo, apreciador de rock britânico, pouco cuidadoso com as palavras, rico de espírito, triste com as relações nesse mundo e esperançoso com o futuro.
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