Dizer que o Nintendo Wii não está em falta de RPGs é praticamente uma ofensa, ainda mais quando a questão da qualidade também entra na fórmula. Mas não podemos reclamar: quem tem o console sabe que o público hardcore está cada vez mais sendo lembrado. Com isso, a Ignition publica Arc Rise Fantasia, um típico RPG Japonês (JRPG) que lembra muito os tempos de ouro do PlayStation 2 – e isso é um elogio, acredite.
Uma história que era para ser boa, mas...
Arc Rise Fantasia conta a história de um jovem mercenário chamado L’Arc Lagoon, que estava tranquilamente cumprindo sua missão de retalhar Feldragons quando caiu de sua nave e foi salvo por Ryfia, uma bela (e muito estranha) garota proveniente de uma região inimiga à de L’Arc. Como você pode esperar de um JRPG, a trama se desenrola introduzindo novos personagens, espíritos místicos, summons gigantescos, e enfim.
O que surpreende é que a trama não é ruim. Apesar de vários momentos clichês, ela conta com reviravoltas bem interessantes, e ainda aborda temas polêmicos como política e religião. Ou seja, houve um trabalho bem realizado na questão de roteiro.
Infelizmente o mesmo não pode ser dito das pessoas responsáveis por “passar” este roteiro ao jogo: os dubladores. Se você não entende inglês e pouco se importa com o que é dito, provavelmente não fará a menor diferença, mas como não é o meu caso, me vejo no direito de realizar esta crítica. Quem quer que sejam os dubladores de todos os protagonistas de Arc Rise Fantasia, certamente não se importavam com o que estava acontecendo. O trabalho realizado é tão ruim que cenas completamente épicas perdem totalmente o seu valor, simplesmente porque o dublador não consegue passar com precisão o sentimento do evento.
Por sorte, há uma opção de ligar as legendas e desligar o áudio em inglês. Gostaria de ter a opção de ouvir os diálogos na dublagem original em Japonês, mas isso foi o suficiente para mim.
Jogabilidade conhecida e sólida, mas com sua personalidade
Se Arc Rise Fantasia peca na história, ganha na sua mecânica de jogo. Se você já jogou algum RPG na vida, fique tranquilo, nada aqui irá surpreendê-lo: o combate é realizado em turnos, é preciso treinar e aumentar de nível para vencer os chefões, há dezenas de missões paralelas pelas cidades, um mapa do mundo para caminhar e explorar, calabouços com baús e itens secretos, vilarejos com lojas e NPCs, enfim.
Mas não é tudo tão igual assim. Por exemplo, durante as batalhas todos os personagens dividem a mesma barra de AP (Action Points), responsável pela ação que cada personagem executa. Essa é uma característica interessante que adiciona uma camada a mais de estratégia, já que é preciso pensar bem na ação que cada um terá de tomar. Não é nada revolucionário, mas deixa as coisas um pouco mais interessantes.
Falando nas batalhas, vale a pena citar que os encontros não acontecem de forma aleatória como em outros JRPGs – na verdade tenho reparado que muitos jogos estão tomando essa linha, onde os inimigos caminham pelo mapa e é possível evitá-los sem grande esforço. Isso não é necessariamente bom, e nem ruim, mesmo porque você se encontrará na necessidade de lutar para aumentar de nível uma hora ou outra.
Poderes mágicos das armas e o sistema de magias
Outro sistema no mínimo curioso em Arc Rise Fantasia é o de armamentos. Cada arma não possui apenas um poder de ataque próprio, mas também poderes especiais e habilidades que são aprendidas conforme o uso da arma. Algumas dessas habilidades, que são representadas em formato de “pedras” são fixas, outras podem ser passadas às demais armas, sendo assim possível customizar seu armamento deixando-o diferente e mais poderoso.
Também distinto do padrão é o sistema de magias, que ao invés de serem aprendidas pelos personagens ao aumentar de nível, ou adquiridas de monstros derrotados, são exclusivamente compradas em lojas e alocadas numa espécie de “anel.” Apesar de diferente, não há nenhum tipo de dificuldade em compreender o sistema.
Mas de repente tão difícil!
Provavelmente um dos maiores problemas em Arc Rise Fantasia são seus picos de dificuldade. Dado momento você consegue vencer os monstros tranquilamente sem nem precisar olhar para tela, e então de repente você deve enfrentar o próximo chefão que por um acaso é impossível de vencer no seu nível atual.
Claro, tudo que você precisa fazer é voltar nos monstros super-fáceis e aumentar dois ou três níveis, mas por que uma diferença tão grande? Por que forçar o jogador a massivas batalhas contra os mesmos monstros para aumentar de nível e só então enfrentar o chefão? Não havia necessidade disso, muito menos quando o chefão não possui um save point perto dele.
Para alguns pode não ser um ponto negativo – eu particularmente não me importei tanto –, mas tenho certeza que jogadores desacostumados com JRPGs (uma boa parcela dos donos de Wii) se sentirão ameaçados pela imensa dificuldade nos chefões, e podem acabar abandonando o jogo por causa disso.
Gráficos e comentários finais
O pacote visual de Arc Rise Fantasia é uma mistura de altos e baixos: podemos ver belas cenas em CG de um lado, mas em outras elas ficam com a aparência bastante borrada – provavelmente como técnica de anti-aliasing para evitar serrilhados. Os personagens e mesmo inimigos não são tão originais assim, e se você está tentando imaginar como tudo deve se resumir, pense num típico RPG de PlayStation 2.
No meu ponto de vista, é uma pena que a dublagem tenha estragado a história, pois essa é uma parte importante dos RPGs. Isso corrigido, somando com uma mecânica sólida e fácil de compreender para quem tem experiência no gênero, e certamente o jogo seria um enorme sucesso.
O título não inova, e certamente poderia mostrar muito mais, porém, não é de todo ruim e não deve ser deixado de lado pelos fãs de JRPG. Pense nele como um jogo para ser aproveitado enquanto não temos o lançamento de Last Story.
Arc Rise Fantasia – Wii – Nota final: 7,0
Gráficos: 7,0 | Som: 5,5 | Jogabilidade: 9,0 | Diversão: 8,0