Enquanto pedras no chão serviam como peças em algum jogo da antiguidade ou apresentações teatrais ocorriam nos castelos medievais, um elemento sempre permaneceu igual: divirta-se, oras!
O estudo do comportamento animal em relação ao ato do Jogo, e que vai muito além das fronteiras da raça humana, reside em lugares mais apropriados do que nesse mero artigo. Mas é a sua essência facilmente percebida que abre caminho para enxergarmos, com orgulho, o mundo ao nosso redor.
Nas últimas décadas evoluímos de forma acelerada em vários segmentos da sociedade - tecnológico, cultural, comportamental. É impossível negar o papel da tecnologia durante esse processo, mas um olhar atento mostra que o termo 'tecnologia' nada mais é do que outro nome para a o centro de tudo: as ferramentas.
Sejam físicas, como um tabuleiro de xadrez ou uma bola sobre o gramado do Maracanã, ou fictícias, na mente de toda criança, as ferramentas para o Jogo escondem os reais segredos da diversão plena. Porém, essa diversão não virá até que as ferramentas desapareçam do cenário e entre em cena a imaginação 'pós-surpresa'.
Quando uma nova atividade é introduzida na vida humana nossa primeira preocupação é perguntar 'Como isso funciona? Do que é feito? Como se faz?' - tanto com profetas explicando um cometa ou pais dando aula sobre a internet aos filhos.
Passado o momento de exaltação da ferramenta (ou da tecnologia, como preferir) embarcamos na exploração das possibilidades; começamos a experimentar versões, produtos, opções; passamos a falar com os amigos sobre isso, a procurar outras opiniões, a 'viver' com aquilo dentro de nós.
Trazendo isso para o mundo prático, pense no Twitter. À primeira vista um sistema sem propósito, mas que em pouco tempo esconde sua face óbvia de ‘aplicativo’ e torna-se parte do comportamento social.
Viajemos rapidamente até o início do cinema. Sempre muda e calada, a mídia fazia sucesso justamente devido à curiosidade que o ser humano tinha pela ferramenta - audaciosamente projetando cenas reais em uma tela de pano.
Charles Chaplin teve a chance de utilizar a fala em seus filmes, mas se negou prontamente. Não que o avanço técnico fosse desprezível. Porém, o mestre havia encontrado uma fórmula que atendia perfeitamente à imaginação do público e não via nas falas algo que justificasse abandonar seu conceito original.
Claro que esse ainda era um período em que não existia a globalização social - e econômica - de hoje. Vivendo em um mundo conectado temos a chance e o privilégio de nos manter informados a respeito dos novos conteúdos que vem por aí.
Mas e as ferramentas?
Os videogames vêm sofrendo uma evolução semelhante à das grandes mídias em seu período de nascimento: avanço técnico, procura por excelência numérica, comparações meramente racionais.
A experiência de vivenciar esse processo deve ser vista como um privilégio por todos nós. Sejam os mais velhos que brincaram com Pong ou os mais novos que começaram com God of War, nossa cross-generation tem a chance de acompanhar a procura de um significado para essa nova ferramenta chamada game.
Assim como em toda a história, a evolução não está nas mudanças pontuais e de incremento mecânico. Ela situa-se em um plano superior, que afeta comportamentos da sociedade de maneiras imprevisíveis.
Antes da narrativa, dos gráficos, da computação de nuvem, olhemos para a importância que os videogames vêm ganhando no mundo atual.
Seja nas bilhões de apps compradas na Apple Store, nos fazendeiros dedicados do Facebook, nos pais (e avós!) imbatíveis em Brain Age ou na viciante experiência de Peggle, o Jogo está sempre ganhando novas interpretações e evoluindo nossa relação com essa mídia.
E no final das contas, o objetivo é sempre o mesmo: superar o desafio apenas para descobrir que a Princesa está em outro castelo.
Vivemos mesmo em uma grande época.