No nosso último encontro aqui na coluna A História dos Vídeo Games, vimos a história de concepção, ascensão e queda daquele que talvez seja um dos consoles mais populares e conhecidos até os dias de hoje, o Atari 2600. Apesar de toda a sua hegemonia, o Atari 2600 ainda teve que lidar com alguns concorrentes que nem eram tão concorrentes assim. Hoje, veremos a história dos consoles que chegaram com aquela pinta que desbancariam o Atari, mas que não passaram apenas de uma mera brisa na história.
Nem só de Atari 2600 viveu a indústria durante a segunda geração de consoles. Revelando-se um mercado extremamente promissor, capaz de fazer qualquer um formar fortunas rapidamente (desde que adotassem as estratégias corretas), a indústria de vídeo games atraia e estimulava cada vez mais empresas a desenvolverem seus consoles.
O problema é que nem todas elas tinham uma visão tão apurada para a coisa quanto a Atari e, apesar dos seus consoles terem lá seus charmes, mostraram-se enormes fiascos!
Bally Professional Arcade
Anunciado praticamente na mesma época que o Atari 2600, o Professional Arcade prometia um console superior ao da sua concorrente. Não fossem os atrasos e os bugs que o assombraram, talvez ele tivesse cumprido com o prometido mesmo. Mas vamos por partes.
Anunciado em 1977 e lançado somente um ano mais tarde, o Professional Arcade chegava com aquele ar de “console superior”. O motivo disso estava em seus componentes: o aparelho era equipado com um poderoso chip (Z80) de 4KB de memória (contra 128 bytes do Atari) e 4 canais de som. Além disso, toda a campanha de marketing e venda do console foi conduzida como se ele fosse um computador pessoal (tinha até cartucho para programação em Basic), e não um vídeo game.
Fugindo à regra, que era ser vendido em lojas de departamento (como a Sears), o console da Bally marcava presença apenas em lojas especializadas em informática. O esquema era perfeito, o console parecia perfeito, mas eis que o inesperado ocorreu.
O primeiro lote disponibilizado para vendas veio todo cheio de bugs. Sim, eu estou falando de TODO o primeiro lote. Defeitos de fabricação e bugs no software do console frustraram dezenas de centenas de pessoas que perderam seu tempo indo às esquisitas lojas especializadas em informática. Não precisa ser dito mais nada para entender que o console e a empresa ficaram com o pé na cova, né?
Com o filme queimado, a Bally resolveu vender a divisão de produtos de consumo, que incluia o desenvolvimento e produção do hardware. Interessada no potencial do cartucho de programação em Basic, uma empresa chamada Astrovision adquiriu os direitos do sistema em 1980 e o relançou com o nome Bally Computer System. Em 1982 o console foi relançado com outro nome, ficando conhecido por Astrocade até que sua produção foi encerrada em 1985 devido a crise da indústria.
Como se não bastasse, o videogame era assombrado pelo design horrendo do seu controle e pela falta de jogos bacanas. Parecido mais com um detonador de bomba daqueles que vemos nos desenhos animados, o controle era grande e complicado o suficiente para espantar qualquer gamer que se empolgasse com as 4 entradas do console. Os jogos então… bom, esses eram cópias melhoradas dos jogos do Atari 2600. O problema era que esse termo “cópias melhoradas” nem um pouco lembram os grandes sucessos do Atari – a maioria deles eram jogos inexpressivos que poucos conheciam.
Um potencial desperdiçado, o Professional Arcade foi mais um daqueles que não passou de uma mera promessa. A aparente organização de sua produção, lançamento e campanha de marketing se revelaram um fracasso sem tamanho por falhas primárias do hardware e do seu software. A mudança de nome ao longo do tempo e a falta de jogos expressivos fez com que o público não criasse afinidade, por menor que fosse, com o console. Mais um que ficou pela história.
Magnavox Odyssey 2
Pois é, quem diria heim? Depois de tomar tanta paulada da Atari com o PONG, a Magnavox ainda teve peito para lançar a segunda geração do seu console pioneiro, o Odyssey. Chegando às prateleiras em 1978, o Odyssey 2 marcou não por seus jogos ou hardware, mas sim por suas campanhas publicitárias extravagantes que mostravam claramente o que o console queria ser, não o que ele era ou o que tinha a oferecer.
Com um processador mais lento do que um pangaré e gráficos mais quadrados do que nunca, o Odyssey 2 era deveras inferior ao Atari 2600. Cientes das incapacidades do console, os marketeiros da Magnavox resolveram apelar nas campanhas: “Infinitamente mais sofisticado do que os vídeo games comuns e arcades” era o que vinha estampado em manuais, caixinhas e tudo o mais que trouxesse o nome do console consigo.
Além da incapacidade do seu hardware, o Odyssey 2 contou com pouquíssimos jogos, a maioria deles desenvolvedos por uma única pessoa: Ed Avarett, responsável por 24 jogos em 4 anos.
De bom mesmo o console só tinha o seu design. Um teclado embutido nele chamava a atenção e permitia os jogadores mais nerds desenvolverem pequenas aplicações em Assembly. Os controles, bastante similares aos do Atari 2600, fizeram os gamers do Atari se sentirem mais confortáveis em uma eventual jogatina naqueles jogos pra lá de quadrados.
Bom, se a Magnavox tivesse parado por ai, as coisas até que poderiam ter ficado bem, mesmo que estivessem ruins. Mas não, tinham que lançar o periférico Voice Module. Não bastasse as promessas do próprio console que não passaram de “juras de amor” para o gamer, ainda vieram mais com o estranho acessório que era encaixado no console (que ficava parecido com uma nave espacial). A ideia: “incorporar sofisticados recursos de voz” aos jogos. Sim, era uma novidade, já que o máximo que os jogos faziam eram “bips”, “bops” e “bum”.
Como vocês devem imaginar, tudo não passou de mais um delírio da Magnavox. Com o acessório acoplado ao console, o máximo que se podia ouvir eram frases curtas com aquela sexy voz de sintetizador.
A vontade de ser o que não era fez com que o Odyssey, mais uma vez, se afogasse em sua própria ganância. Típico exemplo de que pioneirismo não quer dizer muita coisa, o Odyssey 2 seguiu como o seu antecessor – com pouquíssimos jogos, hardware limitado e uma estratégia de mercado pífia. A falta de empresas terceiras para desenvolver jogos para ele tornou limitada a quantidade de títulos disponíveis. A Magnavox tentou, mas tudo não passou de um grande devaneio.
Emerson Arcadia 2001
Alguém já ouviu falar desse console? Alguém? Pois é, o Arcadia 2001 foi um console que não vingou de jeito nenhum – até porque não tinha como. Seu hardware era interessante, os gráficos eram equivalentes ao do Atari 2600 e Intellivision, o único problema foi que ele fora lançado na hora errada.
Em mais uma prova de que a falta de conhecimento e estratégia de mercado podem arruinar uma boa ideia, a Emerson Radio Corp. não teve o feeling do mercado e lançou o seu console em plena época do lançamento dos primeiros consoles da terceira geração (1982) – Atari 5200 e ColecoVision. Resultado: apesar do hardware equivalente (e em alguns aspectos, superior) aos dos declarados rivais Atari 2600 e Intellivision, o Arcadia 2001 aterrisou obsoleto no mercado. Não fosse apenas por isso – a época era a pior possível para se lançar um console: em plena quebra da indústria.
Sua biblioteca de jogos também não ajudou muito. Mais uma vez o problema era a falta de jogos expressivos. Mesmo com os 51 títulos exclusivos, o console esbarrou na popularidade de Pac-Man, Space Invaders, Missile Command e tantos outros. O jeito foi apelar para alguns títulos genéricos como Escape, Space Raiders, Alien Invaders e porai vai.
Com apenas 2 anos de “vida”, o Arcadia 2001 foi descontinuado, marcando o final da segunda geração na indústria dos vídeo games. Mais difícil do que ouvir falar dele é encontrar alguém que tenha possuido um.
Qualquer semelhança com Pac-Man é mera ilusão. | Não seria Space Invaders? |
Alien Invaders – lembra algum jogo pra você? | Missile War era o clone de Missile Command. |
Hoje conhecemos um pouco da história dos consoles da segunda geração que podem ser considerados verdadeiros fiascos. Reinando soberana, a Atari desbancava todos que tentavam invadir suas terras. Parecia impossível assustar a gigante, quem diria tomar o seu primeiro lugar na indústria. Mas será que até o fim foi assim mesmo? Bem, esse é o tema do nosso próximo encontro. Nos vemos lá. Até!