No nosso último encontro conhecemos o Fairchild Channel F, o primeiro console programável da história e que ‘inaugurou’ a segunda geração de consoles na indústria. Apesar do seu legado (o da distribuição de jogos em caixinha), o Fairchild não ficou suficientemente famoso à ponto de ser um console memorável – essa conquista ficou para o “Stella” da Atari.
Nolan Bushnell já provara anteriormente sua esperteza e o quanto sua empresa, a Atari, podia faturar na indústria com PONG. Ciente de sua importância na indústria, já no início de 1973 Bushnell contratou a Cyan Engineering para pesquisar e desenvolver a próxima geração de vídeo games da Atari. Seu protótipo, o Stella, era completamente baseado em uma CPU, o famoso e barato 6502 da MOS Technology.
Com o pensamento que nem um dos seus concorrentes lançaria um novo console até o lançamento do Stella, a Atari se surpreendeu com o lançamento do Fairchild Channel F em 1976 e se viu forçada a completar o projeto o quanto antes. Porém havia um problema: não havia dinheiro suficiente para concluir as pesquisas, o projeto e começar a produção do Stella antes do Fairchild penetrar suficientemente no mercado já que as vendas de PONG estavam esfriando cada vez mais.
Em mais uma prova de que era um grande empresário, Nolan Bushnell ofereceu a Atari à Warner Comunications, vendendo-a pela cifra de aproximadamente 28 milhões de dólares e a promessa de que o Stella seria produzido e vendido. Em 1977, depois de 100 milhões de dólares investidos na sua produção, finalmente o Stella saia do papel e chegava às prateleiras custando US$199,00 e com o nome de Atari VCS (Video Computer System).
Vendido com dois controles e o cartucho do jogo Combat, o Atari VCS encantava não só pelos seus bons jogos convertidos com excelência dos arcades, mas também pelos seus aspectos de hardware: 128 bytes de memória e 1.19Mhz de processamento e placa de vídeo, superando o seu principal concorrente, o Fairchild.
Aliás, não demorou muito para que logo se iniciasse uma briga acirrada entre os dois consoles, o que ficava bastante óbvio com os consecutivos cortes de preço de um lado e de outro. Com dois novos vídeo games no mercado a preços tão agradáveis, rapidamente os consoles PONG cairam fora do mercado e, em muitos casos, suas respectivas empresas faliram.
Mesmo com toda a experiência de Bushnell e da Atari com PONG na indústria, o Atari VCS (depois rebatizado de 2600) não vendeu tanto quanto o esperado: no primeiro ano apenas 250 mil unidades foram vendidas e no segundo apenas 550 mil de 800 mil produzidas sairam das prateleiras. Com isso a Atari precisou de grana para cobrir o prejuizo, gerando atritos diretos com a Warner e a consequente demissão de Bushnell da empresa que fundou.
Tais acontecimentos deixaram os empresários da Warner atordoados. Sem saber o que fazer, eles obrigaram fabricantes e softhouses a fabricarem qualquer coisa que chamasse atenção para o console. A princípio a estratégia deu certo e em 1979 o Atari 2600 já era o console mais vendido, atingindo 1 milhão de unidades vendidas só naquele ano.
Em meio a tanta tralha sendo produzida e colocada à venda, era difícil achar jogos de qualidade. Mesmo assim o Atari 2600 tem uma das bibliotecas de jogos mais respeitáveis, incluindo títulos como Keystone Kapers, Montezuma’s Revenge, River Raid, Enduro, Pole Position, Pitfall, Pac-Man, Missile Command, Demon Attack, entre outros. Finalmente o Atari 2600 atingira o seu auge: seu hardware estava sendo explorado adequadamente, as softhouses tinham boas ideias e os insaciados gamers sempre queriam algo a mais.
Ao contrário do que se chegou a pensar, o Atari 2600 se tornou um sucesso comercial e publicitário. Pioneira na veiculação de propaganda na televisão, a Atari mostrava comerciais que promoviam seu console e jogos com personalidades famosas à época.
A filosofia da Atari de que os lucros da empresa deveriam vir da venda de jogos e não de consoles (como era feito anteriormente) fez com que seu faturamento chegasse a 2 bilhões de dólares em 1980 com a venda de 2 milhões de cartuchos. 2 anos depois a quantidade de cartuchos vendidos quadruplicou, alcançando incríveis 8 milhões de cartuchos vendidos!
Com os cofres abarrotados de moedas, a Atari e a Warner logo decidiram que era hora de investir em novas versões do console. O Atari 2700 era uma versão wireless que nunca saiu do papel por um problema de design – o console sofria interferência com tudo. Reza a lenda que em um teste feito, ao abrir o portão da garagem com controle remoto, este interferiu no console que não prestou para mais nada. Já o Atari 2800 era uma versão mais enxuta do console voltada exclusivamente para o mercado japonês, o que não deu muito certo porque lá já existia um tal de Nintendo Famicom.
Em 1984, com dois tiros dados no próprio pé, a Warner se viu em crise financeira. Além do problema das duas versões do console que não deram certo, a Warner ainda se viu torrando uma nota com o conserto de consoles produzidos em 1980: um defeito de design no hardware causava problemas por causa da eletricidade estática. Além disso os controles quebravam com bastante frequência também.
12 anos após sua fundação e conhecendo apenas o sucesso (com PONG e com o Atari 2600), pela primeira vez a Atari se viu em maus lençóis. A Warner não tinha mais nem um centavo para cobrir os prejuizos da Atari e teve que vender a divisão de consoles e computadores para a família Tramiel em 1984. Depois disso a Atari nunca mais foi a mesma.
A importância da Atari para a indústria dos vídeo games era tamanha que suas ações a influenciavam diretamente. A decisão da Warner de inundar o mercado com todo tipo de porqueira acabou gerando inúmeros títulos de qualidade duvidosa, confundindo os gamers e os desistimulando a comprar novos títulos. Apesar das vendas do Atari 2600 crescerem ano após ano, a popularidade dos vídeo games como um todo começou a ser prejudicada. Tudo isso fez com que a Atari chegasse ao fim do poço e levasse toda a indústria consigo no Crash da Indústria em 1984. Mas esse e os demais consoles da segunda geração são assunto para os nossos dois próximos encontros. Até lá!