Nos nossos dois últimos encontros aqui na coluna A História dos Vídeo Games no Nintendo Blast, conhecemos um pouco da história dos principais consoles da primeira geração de vídeo games, que foi marcada pelo surgimento do primeiro console doméstico – o Magnavox Odyssey –, o estouro e sucesso de Home PONG e dos consoles “PONG”, todos clones do original Home PONG.
Não importava o que se fabricasse na primeira geração dos vídeo games – se era algo bom ou ridiculamente ruim –, alguém iria comprar aquilo. Afinal de contas, só se tinha aquilo e pronto: era pegar ou largar. O pioneirismo trouxe tanto sucesso quanto fracasso para os marinheiros de primeira viagem, principalmente àqueles que não tinham jogo de cintura suficiente. E foi isso o que aconteceu com o Magnavox Odyssey que, apesar de ser primeiríssimo em tudo, não soube requebrar para conquistar seu público.
Vítima de suas próprias ideias, Ralph Baer e o Odyssey sucumbiram ao “console de um jogo só” e a ferocidade de seu criador, Nolan Bushnell. O jogo era simples e o console só tinha ele – nada de especial ocorria ali. O grande segredo de Home PONG e de Bushnell, sem dúvidas, foi a estratégia de mercado adotada por sua empresa, a Atari. Isso é tão verdade que os demais consoles que surgiram durante a primeira geração de vídeo games nada mais fizeram do que tentar copiar o sucesso de Home PONG, mesmo com todas as patentes e licenças exigidas pela Magnavox e pela Atari.
O mais interessante é que mesmo sendo a maioria deles cópias da cópia, ainda venderam feito água e agitaram o mercado de vídeo games nos quatro cantos do mundo.
Phillips Tele-Spiel ES 2201
O Tele-Spiel foi o primeiro console batizado de “PONG Systems” a utilizar cartuchos para a execução de seus jogos. Lançado exclusivamente na Europa, o Tele-Spiel chegou às lojas no final do ano de 1975 e apesar da novidade de seus jogos virem em cartuchos, vários fatores atrapalharam a popularização do sistema.
Vendido inicialmente por 400 francos (algo em torno de 60 euros hoje em dia), o vídeo game tinha um preço salgado para tanta pouca coisa que oferecia: acompanhava apenas um jogo (Tennis, que na verdade era mais um tipo de PONG – dai o porque de ser um “PONG System”) e dois controladores. Fora isso, apenas outros 4 jogos foram lançados e podiam ser comprados separadamente por cerca de 45 francos cada.
Pequenininho e com detalhes azuis, o Tele-Spiel tinha lá o seu charme e suas limitações. Assim como o Odyssey, seu hardware era bastante limitado e não permitia sequer computar a pontuação dos jogadores em tela. Uma curiosidade à parte é que os controles do Tele-Spiel não eram conectados ao console, mas sim aos cartuchos.
Seu relativo sucesso ainda fez com que a Phillips investisse em melhoria de hardware e lançasse outras versões como o Tele-Spiel ES 2203 e 2208 (imagens abaixo, respectivamente) que tinham caixas bem exóticas.
Coleco Telstar
Mais um clone do PONG, o Telstar tem uma história tão curiosa quanto a da sua empresa, a Coleco. Fundada em 1932, a Coleco era uma empresa que produzia couro para botas e calçados em geral. Enfadada de produzir a mesma coisa sempre, de repente seu CEO, Arnold Greenberg, decidiu entrar para o mercado de piscinas plásticas, logo em seguida de brinquedos e finalmente de vídeo games.
Em meio ao balaio de gato criado entre a Magnavox e a Atari, a Coleco foi esperta e fez do Telstar o console mais barato de todos. Lançado em 1976, o console custava cerca de 50 dólares a unidade e vinha acompanhado de 2 controles e 3 jogos: Tennis, Hockey e Handball – todos uma variável do original PONG.
Rapidamente o Telstar se tornou o console mais vendido da primeira geração e seu sucesso se deu a dois fatores: o chip que utilizava e a quantidade que fora encomendada. O chip em questão é o AY-3-8500 da General Instrument que fora desenvolvido para rodar inúmeras variantes de PONG, o que assustou bastante o pessoal da Magnavox e Ralph Baer que ainda tentou correr atrás de uma patente, mas sem sucesso. A Coleco encomendou uma quantia monstruosa do chip antes mesmo dele começar a ser fabricado. Resultado: a Coleco recebeu todos os chips que comprou antecipadamente a um precinho camarada e as demais empresas que o solicitaram depois só receberam cerca de 20% do solicitado.
Mas ainda tinha muito mais por detrás disso. O chip da General Instrument era tão poderoso, mas tão poderoso que ainda rendeu outras 14 versões do Telstar, cada um com uma melhoria que o antecessor não tinha. Entre as mais notáveis melhorias estavam consoles com mais jogos, jogos com dificuldades selecionáveis e jogos em cores.
Uma curiosidade do Telstar é que ele era vendido desmontado na caixa para reduzir os custos de produção do vídeo game. O gamer que adquirisse o console receberia tudo embaladinho, a placa pronta e tudo o mais, mas as peças de plástico vinham separadas e ele era responsável por parafusar uma na outra. Até onde se tem notícia, esse foi o único vídeo game a ser vendido dessa maneira.
Nintendo Color TV Game
Engana-se quem pensa que a Nintendo começou a fazer sucesso apenas nos idos de Donkey Kong nos arcades ou com o NES e o encanador bigodudo. Esperta como sempre foi, a Nintendo, que já fazia sucesso com seus brinquedos eletrônicos, rapidamente providenciou os direitos de distribuição do Odyssey no Japão. Não demorou muito para que a gigante de Kyoto pensasse em lançar o seu primeiro console. E assim o fez.
O Nintendo Color TV Game foi lançado originalmente em 1977 e sua primeira versão trazia 6 jogos na memória (adivinha que jogos eram esses?). Apesar do Odyssey circular no mercado nipônico e fazer relativo sucesso por lá, o Color TV Game superou todas as expectativas e surpreendeu por trazer, hum.. digamos que gráficos bonitos para a época – cada joguinho tinha uma cor de tela diferente, o bastante para encantar qualquer jogador. Resultado: mais de 1 milhão de unidades foram vendidas!
Não demorou muito para que outras versões do console fossem lançadas: Color TV Game 15, que apresentava processador mais potente; Color TV Racing 112, que trazia um jogo de corrida e um volante bastante chamativo acoplado ao console; Color TV Block Kusure e o Nintendo Computer Game, o último da geração antes do lançamento do NES.
Magnavox Odyssey 100, 200, 300…
Nos idos de 1975, se a Atari decidisse lançar um console por semana, a Magnavox também o faria. Se a Atari decidisse lançar consoles PONG semestralmente, então a Magnavox também o faria… Tanto é verdade que a partir daquele exato ano a Magnavox começou a lançar uma série de consoles mais simples do que o Odyssey original.
Sem entrada para cartuchos, com apenas dois jogos em preto e branco na memória (adivinha os jogos?), nenhum joystick (sim, o pessoal jogava com as mãos no console) e marcação de score nos cursores de plástico que vinham no console, o Odyssey 100 custava cerca de 30 dólares e não engrenou.
A falta de sucesso herdada do Odyssey original fez com que a Magnavox rapidamente lançasse uma versão atualizada do console no mesmo ano. O Odyssey 200 chegou ao mercado com mais jogo em memória (chamado SMASH) e com um sistema de score em tela bem rústico: dois retângulos na tela se deslocavam aos poucos de um lado a outro da tela à medida que o jogador marcava pontos – o primeiro a alcançar a outra extremidade, ganhava. Uma curiosidade é que o Odyssey 200 foi o primeiro console a permitir 4 pessoas jogando simultaneamente.
A partir de então, até 1977, a Magnavox lançou uma infinidade de vídeo games baseado no Odyssey original, todos eles com algumas melhorias. Alguns foram lançados mundialmente, outros apenas na Europa. Se fossemos fazer uma lista aqui provavelmente esse artigo ganharia proporções astronômicas, então abaixo estão apenas os mais importantes.
Odyssey 100 – trazia apenas dois jogos em preto e branco e não mostrava nenhum score em tela
Odyssey 200 – trazia 3 jogos e mostrava dois retângulos na tela como marcação do score
Odyssey 300 – o primeiro dos consoles Odyssey a usar um chip dedicado
Odyssey 400 – foi o primeiro a utilizar a marcação de score digital em tela
Odyssey 500 – o primeiro a utilizar gráficos coloridos em tela
Odyssey 4000 – trazia 8 jogos coloridos e foi o primeiro a utilizar joysticks conectados ao console
Apesar dos inúmeros consoles lançados durante a primeira geração, todos eram muito parecidos e não alcançaram o sucesso e popularidade de Home PONG da Atari, que já estava trabalhando em seu próximo console que todos nós conhecemos, o Atari 2600. Enquanto a Magnavox tentava conquistar a fatia de mercado que nunca teve, a Coleco chegou de mansinho e se tornou a empresa que mais vendeu consoles na primeira geração com o seu Telstar.
Paralelamente a tudo isso, uma empresa chamada Fairchild, que já era conhecida por seu pioneirismo em desenvolvimento e comercialização de circuitos integrados, lançava o primeiro console programável da história, o Fairchild Channel F, no ano de 1976. Em meio a tanta confusão, poucos haviam se interessado pelo console e o que ele significava. A segunda geração de vídeo games fora iniciada! Mas isso é assunto para o nosso próximo encontro aqui na coluna A Hístória dos Vídeo Games. Até lá.