Não há dúvidas de que a geração atual foi marcada pela transição dos jogos em SD para a alta definição. A lotação das prateleiras das lojas com televisores Full HD mostra que essa é atual tendência. É quase um absurdo afirmar que os próximos consoles não terão jogos no mínimo com o formato 1080p, considerando que estes só deverão mesmo substituir a geração atual daqui a quatro ou cinco anos. Mas se você acha que o Full HD é o cúmulo da definição, está muito enganado. Durante a Ceatec ‘09, a maior feira de eletrônicos da Ásia, realizada em Chiba, no Japão, Toshiba e Panasonic mostraram alguns protótipos de tevevisores com quatro vezes mais pixels: é a definição de 3840 x 2160p – a TV 4k2k. A qualidade da imagem é algo que vai muito além do que conhecemos hoje. Imagine jogos com esse formato, numa televisão de cem polegadas… Ainda que os protótipos não tenham sequer uma projeção de preço ou data de comercialização, é bem possível adivinhar que algumas produtoras se mostrarão interessadas em fornecer conteúdos com suporte a esse tipo de TV.
Bastava observar um pouco mais a Ceatec, porém, para entender que o futuro guarda muito mais do que televisões com definição quatro vezes maior que as TVs atuais. Estamos falando, naturalmente, da TV 3D, a sensação do momento, o centro das atenções de toda a indústria do entretenimento. As maiores fabricantes do mundo trabalham incansavelmente para levar a experiência vivida nos cinemas para a sua casa, já a partir deste ano. Os principais conteúdos disponibilizados inicialmente em três dimensões devem ser os filmes e os jogos – e é aí que nossa atenção é atraída. Poderão os jogos em 3D estereoscópico (nome dado às imagens que pulam da tela) representar o futuro da indústria?
Como funciona o 3D estereoscópico
Doze anos atrás, a ascenção dos games 3D era o que havia de mais impressionante para a indústria na época. Daqui a alguns anos (por que não?), o termo “games 3D em 3D” será o que causará o entusiasmo semelhante da época, em produtores e consumidores. O conceito – erroneamente empregado por algumas pessoas como o 4D da indústria dos jogos – expressa exatamente a experiência a ser vivida no futuro.
Para jogar em 3D, será necessário ter uma televisão com a tecnologia. A TV 3D consiste em projetar a sensação da profundidade espacial por meio da exibição de duas imagens simultâneas, levemente diferentes. É necessário, portanto, que uma mesma cena esteja disponível em ângulos ligeiramente diferentes. A exibição dessas duas imagens, com o filtro dos óculos especiais, causam o efeito tridimensional.
Embora os óculos 3D atuais proporcionem uma experiência bem confortável, ainda há quem os considere incômodos. Pois durante a CES deste ano, Samsung e LG provaram que os televisores 3D podem não requerer tal acessório. Esta nova tecnologia consiste em duas camadas de LCD emissoras de imagem, que são ligeiramente desalinhadas para trazer o realismo da terceira dimensão. Mesmo que as imagens exibidas nesses aparelhos tenham mostrado falhas bem visíveis, o resultado foi o suficiente para se ter uma ideia do potencial da tecnologia. Se essa versão chegará a tempo da TV com óculos, no entanto, é difícil dizer.
O fato é que empresas como a nVidia e a Sony já estão apostando no sucesso do 3D estereoscópico. Na CES de 2009, a Sony exibiu como ficaria um Gran Turismo 5 Prologue em um sistema capaz de mostrar imagens com a sensação de profundidade. O seu intuito era mostrar o que pode ser do console no futuro e, de fato, na CES desse ano a Sony voltou a abordar o assunto. Desta vez, a companhia exibiu três games compatíveis com a tecnologia. O primeiro foi Avatar, já lançado nas lojas, que, assim como o filme homônimo no cinema, pode ser desfrutado em 3D. Também foram mostrados os jogos Super Stardust HD e Gran Turismo 5. A Sony ainda prepara uma linha Bravia com suporte ao 3D. O efeito é ativado pelo uso dos óculos, ao passo que o PlayStation 3 deve ter uma atualização de sistema que o torna compatível com jogos em três dimensões. Com a nova atualização, o console poderá ainda reproduzir filmes em 3D. É importante entender, no entanto, que o firmware sozinho não vai “transformar” os jogos em 3D. É necessário que eles tenham sido programados para ter o efeito, tal como foi Avatar. Nada impede, no entanto, que as produtoras lancem uma atualização para os seus jogos.
Avatar, da Ubisoft: a empresa tamém declarou o seu apoio ao 3D estereoscópico.
Já a nVidia disponibiliza um kit de óculos especiais para a estereoscopia, que já se encontra à venda no Brasil. Mas além do óculos, é necessário que o usuário tenha uma boa placa de vídeo também da nVida, um monitor de LCD que aceite a frequência de 120Hz e o Windows Vista ou Seven como sistema operacional. A boa notícia é que os jogos para PC não precisam ter sido feitos para essa tecnologia: o software incluso no pacote ajuda a placa de vídeo a pegar as informações em 3D e as processar para que a saída seja estereoscópica. A lista com os games que podem ser convertidos já passa de 300. Assim, basta usar os óculos para ter uma experiência totalmente nova.
E a Nintendo?
Para quem pensa que a Nintendo manteve uma postura alheia ao 3D estereoscópico, eis uma novidade bombástica. Há muito tempo a companhia se mantém envolvida com a tecnologia. Numa entrevista recente, Satoru Iwata revelou que o GameCube tinha em seu processador a capacidade de produzir gráficos direcionados para o olhos esquerdo e direito individualmente, na possibilidade dos jogos em 3D se tornarem um padrão. Essa capacidade, naturalmente, nunca foi utilizada. Muitas dúvidas sobre o seu uso persistiram na época. O próprio Iwata afirmou que não acreditava que todos usando óculos especiais para jogar pudesse ser algo bom.
A Nintendo ainda tem interesse na tecnologia, de acordo com o presidente. Há, no entanto, diversas barreiras que precisam ser ultrapassadas para que este possa se tornar um sistema popular, o que não deve acontecer tão cedo quanto se imagina.
De fato, a compatibilidade do PS3 com jogos em 3D não deve representar uma influência muito grande para a geração atual, especialmente porque as televisões compatíveis a essa nova tecnologia só deverão se popularizar daqui a três ou quatro anos, época em que o ciclo da geração atual já terá ultrapassado a maturidade. No mundo dos games, o 3D estereoscópico ainda é um embrião, muito aquém do observado na indústria do cinema, onde só no Brasil já existem mais de 100 salas de cinema com projeção tridimensional.
Provavelmente, a TV 3D é a última aposta para que os jogos com essa tecnologia deem certo. No começo dos anos 90, a Sega lançou um par de óculos para o Master System (foto), que criava a ilusão de profundidade em alguns games compatíveis com o acessório. O fracasso do periférico retraiu muitas empresas a investir na tecnologia. Uma das poucas tentativas posteriores veio com o PlayStation 2, no jogo Sly 3, que acompanhava um par de óculos anaglífico.