Talvez por sua hegemonia, suas estratégias agressivas no mercado ou até mesmo pelo dito monopólio na produção e distribuição de softwares, criou-se uma ideia, uma visão negativa crônica sobre a Microsoft e os produtos que ela desenvolve. O “vício” é tamanho que muitas vezes ficamos cegos e não percebemos que muitos produtos legais e interessantes são lançados. É tanto que acredito que pouquíssimas pessoas que acompanham a indústria e que estão por dentro de cada “entranha” dela saibam da existência do Kodu Game Lab, um produto genuíno da Microsoft Research.
Microsoft Research
Porém antes de conhecermos o Kodu Game Lab, acredito que cabe um rápido parênteses sobre o que é e o que é desenvolvido dentro da Microsoft Research.
Criada em 1991, a Microsoft Research é uma divisão da Microsoft que tem como objetivo observar o “mercado” procurando por seus maiores problemas e propondo soluções bastante interessantes para esses problemas. Por meio de pesquisas financiadas por Redmond, a Microsoft Research já desenvolveu e lançou inúmeros projetos – uns mais triviais, alguns extraordinários e outros que você se pergunta “como eles fizeram isso?”.
Fugindo um pouco do propósito do artigo, podemos exemplificar algumas dessas soluções citando o Photosynth, que lhe permite criar ambientes 3D a partir de fotos tiradas por sua câmera digital comum; o Deep Zoom, que permite dar zooms “infinitos” nas imagens a partir de várias imagens; e as incríveis tecnologias que já estão sendo desenvolvidas e que são mostradas nos vídeos da série “Glimpse Ahead” da Microsoft Office Labs.
O Kodu Game Lab
Dentre os inúmeros produtos da Microsoft Research, eis que surge um bem peculiar – o Kodu Game Lab. Lançado no 1º dia de julho de 2009, o “jogo” (se assim o podemos considerar) foi “solto” na Live sem nenhum alarde custando apenas 400 Microsoft Points (R$ 10). Sua proposta, nas palavras do seu idealizador, Matt MacLaurin, é “oferecer uma linguagem de programação visual para crianças” por meio de um jogo visualmente rico, bem colorido e de fácil compreensão.
No Kodu, o jogador é capaz de criar um jogo completo sem sequer conhecer uma linguagem de programação, algoritmo ou lógica computacional. Tudo é feito com base em condições apontadas pelo jogador: “se ‘personagem tal’ vir isso, faça aquilo”, “se ‘personagem tal’ ouvir aquilo, faça isso”, “se ‘inimigo X’ tocar em ‘personagem tal’, faça aquilo outro”. Tudo é feito na base do “se”.
Tudo é apresentado ao jogador em forma de ícones coloridos, divertidos e intuitivos. As condições “quando” se apresentam na coloração verde, enquanto as ações “faça” aparecem em azul na tela, o que ajuda bastante crianças assimilarem e distinguirem uma coisa de outra.
Os tutoriais em vídeo foram deixados de lado e a Microsoft optou por tutoriais interativos em que as coisas são mostradas sendo feitas “ao vivo”, podendo o jogador pará-lo e modificar o que está sendo feito da maneira que quiser. Uma boa forma de estimular os jovens aspirantes a programadores a interagir desde o primeiro momento.
Uma das primeiras tarefas que temos ao iniciar no Kodu é aprender como atrair um objeto a outro e definir a ação que um desempenhará no outro. Isso é basicamente tudo o que você precisará para desenvolver o seu jogo dali para frente.
Com um editor de mapas totalmente interativo, o jogador ainda poderá criar o seu mundo do maneira que quiser, do tamanho que quiser e com o que quiser. A criação é estimulada a todo tempo e a qualidade do jogo dependerá única e exclusivamente dela.
As limitações
Porém como nem tudo são flores, o Kodu tem lá suas limitações. Por exemplo, não é possível importar modelos 3D criados em outras aplicações – é obrigatória a utilização dos modelos disponíveis no jogo. Também existe uma limitação quanto a quantidade de ações simultâneas que podem ocorrer no jogo (o que não confere realmente um problema, pois são muitas que são possíveis).
Mas como para tudo se dá um jeito, há maneiras de contornar esses problemas simplificando ainda mais as ações do seu personagem. Um exemplo dado pelo próprio MacLaurin é que “é mais eficiente fazer com que os personagens reajam a algo ouvido do que visto, já que algo pode impedir o campo de visão dele”.
Tais limitações, entretanto, não impedem que jogos magníficos sejam criados. Um bom exemplo deles é o Busch Stadium, do já famoso usuário tavishhill2003, que representa o estádio real do time de baseball St. Louis Cardinals e que foi modificado por outro usuário e se tornou em um mini-GTA com carros, helicópteros e tudo o mais.
Inclusive uma das limitações do Kodu se tornou uma de suas peculiaridades. Por ter sido lançado pela Microsoft Research, o “jogo” foi colocado na Live como se fosse um jogo independente, meio que alheio à Microsoft (talvez por isso não tenha causado tanto alarde). Por falta de recursos da Research em manter uma equipe para que houvesse um servidor central para armazenar e redistribuir as criações dos usuários, foi incluida uma forma de compartilhamento já conhecida por todos nós, a P2P.
Os jogos criados no Kodu podem ser salvos e disponibilizados na Live via P2P, o que torna o XBOX 360 de cada jogador em um servidor. Sendo assim, ele pode ser distribuido e modificado sem custo algum. Indagado pela Edge sobre esse tipo de compartilhamento, MacLaurin disse que por se tratar de uma ferramenta gratuita (se comparados aos US$10.000 gastos por um kit de desenvolvimento), essa foi uma forma de evitar que os jogadores abusem da plataforma, não gerando problemas tanto para o usuário, quanto para a Research que é responsável pelo que é desenvolvido no Kodu.
Para tanto, foi desenvolvida uma comunidade onde você vê seus amigos e os jogos que estão sendo compartilhados por eles, podendo baixar, modificar e redistribui-los. Mais uma vez, uma boa forma de estimular a criatividade e o proliferação de novos jogos.
Como a maioria das soluções da Microsoft Research, o Kodu se mostra um produto extremamente interessante tanto para quem é caixista, quanto para quem não é. A primeira versão foi disponibilizada na Live e, apesar da timidez e pouco “auê” causado no lançamento, já rendeu mais de 200 mil downloads e uma versão em fase de testes que pode ser baixada no site oficial para PC.
Apesar das limitações (cujas soluções já foram prometidas para a versão 2.0) - que eu considero mínimas frente a sua proposta - o Kodu é uma excelente ferramenta de aprendizado para os pequeninos que descobrirão como fazer o seu próprio jogo de maneira bem divertida. E se você não se encaixa no perfil infantil, não desanime! Os melhores jogos são desenvolvidos pelo público “mais experiente” (vamos assim dizer) que sempre acham uma forma de burlar as limitações e surpreender com seus “arranjos técnicos”.
Então, o que você está esperando ai para fazer o seu Kodu hoje mesmo?