Saudações, pessoal! Aqui é o Arjan lhes dando as boas-vindas ao Analógico, a coluna semanal que abordará comportamento gamer, análise de roteiros de jogos e desenvolvimento de personagens. São assuntos abrangentes e muito ricos, sobre os quais pouco vejo falarem por aí. Ah, e tudo isso virá com pitadas de sarcasmo e leves doses de questionamentos, pra dar um gostinho extra.
Com o tempo vocês entenderão melhor a proposta aqui. Por isso, não deixe de acompanhar a coluna toda sexta (exceto por hoje, que não é sexta). Então, sem mais delongas, vamos ao assunto! Ah, e antes que você saia fazendo comentários furiosos, entenda que isso aqui é uma coluna muito mais opinativa que informativa, ok?
E como primeira edição, falarei de algo que me incomoda, como gamer. Por gamer entenda-se nós, pessoas que cresceram ou desenvolveram o hábito de investir parte (geralmente grande) de nosso tempo de diversão com Jogos Eletrônicos.
É o seguinte: há vários tipos e perfis de jogadores, assim como vários tipos de personalidades. A riqueza da diversidade humana está nas diferenças de gostos e preferências. Mas alguns gostos e hábitos são simplesmente incoerentes ou então pobres – no sentido de não enriquecerem a pessoa que nós somos. E aí sim, os chatos de plantão, como este que vos fala, permitem-se colocar um dedinho e dizer “opa, meu amigo, acho que o senhor está equivocado!” (pra não dizer “Você está fazendo errado!!!”)
Por exemplo, tem aquele seu amigo que diz ser um hardcore gamer, critica um monte os jogos casuais sem profundidade do tipo “desligar o cérebro / ligar o videogame / jogar até cansar”. Essa pessoa que lhe inspira confiança (no videogame), esse cara que você diz “quero jogar que nem você quando eu crescer” – apesar de você já ser bem grandinho – essa pessoa que, em suma, é o seu referencial como gamer, subitamente passa a ter atitudes como pegar títulos de duração mais longa, com histórias profundas, bem-desenvolvidas, ou que simplesmente exigem que seu cérebro fique bem ligado durante a experiência, e jogá-los como seu fossem jogos casuais!
Isso é assustador! Olha, se você sabe que o jogo tem um enredo bom, etc e tal, você vai pular as cutscenes? Vai partir “direto pra ação”? Vai apertar skip nos diálogos, quando eles de fato são interessantes?
Desculpe-me, mas a não ser que você esteja testando o gameplay do jogo, nada justifica pular uma boa história. Isso é tratar um jogo, digamos, complexo (lembre-se, estou falando de jogos com história boa, ou diálogos interessantes, como Zelda ou Okami) como se fosse um jogo casual! É como criança que pega bolacha recheada, abre e come só o recheio, ignorando a parte principal da bolacha. A história de um jogo é a sua alma, é o que dá a sua forma. E se ela for boa, não merece ser ignorada!
Imagine jogar um RPG, como o clássico Final Fantasy VI (meu favorito), ou até mesmo os jogos da série Pokémon, sem ler. Impossível! Há trama, há personagens que se desenvolvem, e teve gente que gastou um razoável tempo em criar esse falatório todo, para você desfrutar.
Por exemplo, o que o Final Fantasy VI que mencionei tem de mais forte são seus personagens, cada um com um passado, suas personalidades complexas. Eles crescem ao longo do jogo, eles conversam, interagem, evoluem junto com você. Quem em sã consciência vai jogar isso como se fosse Tetris? Ou como se fosse um Call of Duty Online? Só ligar e mandar brasa? Não é assim que funciona quando o jogo pede que você cresça com ele. A interação não está apenas na jogabilidade, mas na leitura também.
Há níveis e níveis de leitura que um jogo exige, claro. E por isso mesmo que você deve também optar por comprometer-se ou não. Senão vai jogar por um bom tempo algo como um título da série Phoenix Wright e achar um lixo por ter mais diálogo que qualquer outra coisa.
Infelizmente, muitos não sabem apreciar um bom enredo, por sua enorme preguiça de ler, ou mesmo de ouvir diálogos. Gente que compra um livro pela capa e depois reclama que tem poucas figuras.
O triste é a perspectiva de que gente assim compõe a maioria do público, transformando os reais apreciadores de games em uma parcela insignificante quando é feita uma média, uma análise de mercado. Tudo bem, estamos falando do Brasil, que está longe de ter mega-empresas produtoras de games, mas pense quando essa indústria estiver bem-instalada. Quais as chances de produzirem jogos realmente adequados para o público composto por nós, gamers que sabem degustar uma boa história tanto quanto uma boa jogabilidade? Mínimas.
Por isso, amigos hardcores, se queremos manter a qualidade dos jogos, ou mesmo elevar esse patamar, por mais que sejamos um mercado pequeno perante uma indústria de games como a norte-americana, pensemos sim no futuro. Cabe a nós educar os gamers das novas gerações, os que, mesmo tendo uma noção razoável inglês, estão pouco acostumados a ler diálogos e apreciar um bom enredo. Não custa nada tentar abrir a mente daquele seu parente que você sabe que ele tem um senso crítico, mas o cara insiste em tratar os jogos com superficialidade.
E a vocês que supostamente são hardcores mas estão acostumados a jogar apenas online, vamos acordar o cérebro um pouco? Ler não machuca os olhos, nem ouvir diálogos pra entender a motivação dos personagens. Ou quando você vai ao cinema, só presta atenção nas cenas de ação e clímax da história?Afinal, só o recheio não faz uma bolacha. E você, como tem apreciado os jogos?