Sempre quando vou escrever sobre algum game aqui no Blast from Japan, prefiro escolher os mais bizarros. Primeiro, porque games exclusivamente lançados no Japão quase sempre seguem essas características. E segundo porque alguns desses títulos taxados de "bizarro" escondem grandes idéias por trás. É mais ou menos esse o caso de Wonder Project J2, um simulador diferente de tudo o que você já viu, lançado pela Enix para o Nintendo 64 em 1996.
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Aprendendo a ser gente
A Enix – antes da fusão com a Square – sempre foi uma produtora que privilegiou a inovação em seus títulos. Só pra citar games vindos da era 16 bit, temos Star Ocean (com seu sistema de batalha e seus múltiplos finais), EVO: Search for Eden (um bizarro simulador de criação), o RPG steampunk Robotrek, o RPG de enredo inovador Terranigma e tantos outros. Wonder Project vai mais ou menos nessa linha, já que também surgiu no Super Nintendo e teve uma continuação muito melhor para o Nintendo 64, batizada de J2.
Essa segunda versão segue exatamente o mesmo tipo da primeira, ou seja, é um simulador com muito texto, uma história densa, múltiplos caminhos e visual estilo anime. No Japão, o game foi um dos primeiros lançamentos para o Nintendo 64, e foi lançado inclusive em um pacote com um Controller especial.
Apesar de ser uma continuação do primeiro game da série, a história não segue uma linearidade que necessite saber o enredo do primeiro como pressuposto. A trama segue os passos da robô Josette, considerada por muitos como um dos personagens mais cativantes já criados em um game. A história é extremamente complexa e mistura cibernética, valores humanos e morais e uma boa dose de emoção.
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Descobrindo a vida
A jogabilidade do game segue um esquema pouco convencional, misturando adventures clássicos, elementos de puzzle e de simuladores de encontro. Ao contrário de controlar a própria robô, o jogador controla o passarinho Bird, criado com a função de "ensinar" Josette a se tornar uma humana. O engraçado é que conforme o game avança, Josette se torna tão humana que de certa forma se torna irritante! Engraçado é que os objetivos do game são muito diferentes. Envolvem elementos como ensinar a robô a cumprimentar as pessoas ou conseguir fazer ela entender que é uma garota.
O foco então são nesses ensinamentos na primeira parte, que se ampliam para uma experiência bem rica do meio para o final. Um ponto interessante é que o game te inunda com perguntas a todo momento, mas não há respostas certas ou erradas. O que acontece é que elas influenciam de maneira decisiva no que irá acontecer na seqüência. O avanço no game acaba dependendo do avanço tanto de aprendizado como emocional da robô.
A história é tão intrigante, que você vai se sentir muito tentado para continuar prosseguindo. A trama é uma bela metáfora da descoberta de valores tão normais para a maioria das pessoas mas que pra alguém que não os conhece, se tornam enormes novidades. Amor, morte, depressão, tristeza, alegria são apenas alguns dos sentimentos e emoções que Josset vai aprender a sentir e conviver.
Ruim é observar que a parte técnica – visual e som principalmente – não são lá muito competentes – afinal o game é de 1996, uma época de transição entre o SNES e o N64/ PSX. Mesmo assim, a animação dos personagens, os cenários estáticos em duas dimensões e a interação entre esses personagens e os cenários são muito satisfatórios.
Talvez, WPJ2 seja um dos games mais estranhos que você possa encontrar no N64. Mas é também um dos mais fascinantes. Existe inclusive um patch circulando por aí que traduz o game para o inglês (que eu testei tempos atrás e realmente é bem satisfatório). Esse vale uma jogada!