O Nintendo DS é uma plataforma capaz de agradar gregos e troianos – sua capacidade de fazer com que um jogo cujo objetivo é cuidar de um cachorro (digital), ou então abrir a barriga de um paciente com um bisturí e coisas do tipo, sejam um sucesso é incrível. No meio de tantos jogos hypes, interessantes, bizonhos e estranhos (que não deixam de ser interessantes também), surge Phoenix Wright: Ace Attorney, um remake fantástico do Game Boy Advance.
Em Phoenix Wright: Ace Attorney os holofotes voltam-se para um tema incomum e pouco explorado pelos vídeo games: a vida de um advogado de defesa e as batalhas travadas nos tribunais de justiça. O jogador assume a pele de Phoenix Wright, um adovgado de defesa recém formado e inexperiente, que tem por missão investigar os mais misteriosos crimes (para não dizer cabeludos) e provar a inocência dos seus clientes.
Para tanto Phoenix utilizará ao máximo suas habilidades de detetive (a sua principal característica), explorando cenários em busca de provas, conversando com testemunhas e pressionando-as em busca de contradições em seus depoimentos.
Jogabilidade
O jogo é dividido em capítulos, sendo cada um deles um caso diferente a ser resolvido. O primeiro funciona como um tutorial para que o jogador se familiarize com o sistema do jogo, não havendo muita complexidade e sendo até mesmo engraçado. Aliás essa é uma das características mais fortes do jogo – a comicidade. Mesmo quando os capítulos vão avançando e os julgamentos vão ficando mais longos e complexos, sempre há pitadas de comédia patrocinadas pelo carisma ímpar dos personagens do jogo.
Em cada caso é apresentada uma introdução ao acontecimento e em seguida Phoenix alterna entre duas atividades até a conclusão do caso: a de campo em busca de provas, depoimentos e qualquer outra coisa que possa ser utilizada no tribunal e o julgamento em si em que, basicamente, o jogador deverá ouvir os depoimentos das vítimas e pressioná-las em busca de mentiras até que ela caia em contradição. Ainda é possível apresentar provas como argumentação e para liquidar de vez a testemunha – mas cuidado, provas fora de contexto irritam o juiz e após cinco falhas surge a tela de “Game Over” (única situação em que isso acontece).
A interface do jogo e a forma como o jogador interage com ela é bastante simples. Graças a tela sensível ao toque do DS, toda a ação pode ser conduzida com a stylus. Caso queira, ainda dá para jogar da forma convencional apertando os botões do DS (o que é um pouco complicado, confesso). Em alguns momentos também é possível usar o microfone para dar alguns comandos – mas vou avisando pra só fazer isso quando estiver jogando sozinho, se não irão achar que você é meio maluco gritando “Take That”, “Objection” e “Hold It” para o portátil.
A chave do sucesso
Phoenix Wright: Ace Attorney encanta pelo seu tema pouco explorado e voltado a um público mais maduro e casual. O clima de romance policial investigativo conduz o jogo, cujo progresso é ditado exclusivamente pela forma com que você vasculha os cenários, conversa com testemunhas, coleta provas e liga uma coisa a outra. Chega um ponto em que é necessário se concentrar além do normal para conseguir avançar nas sessões do tribunal – o jogo realmente pede que você pense como um advogado de defesa!
Apesar dessa temática adulta, a comicidade e carisma dos personagens é capaz de atrair públicos mais jovens. As situações em que se metem, a forma como conversam e a forma como agem faz com que o jogador se identifique rapidamente com cada um deles. Pra se ter uma idéia, há uma situação em que Phoenix tem que interrogar uma arara (sim, uma arara!) no tribunal e o diálogo que segue a partir dali é impagável – confesso que não me aguentei e passei uns 20 minutos gargalhando da situação do pobre advogado.
A forma com que a Capcom conseguiu unir essas duas características talvez seja o principal motivo que fez com que Phoenix Wright: Ace Attorney se tornou um sucesso quando lançado no Japão ainda para GBA e mais recentemente no ocidente para o Nintendo DS.
Objection!
Um dos pontos fortes do jogo também pode ser visto como um defeito por muitas pessoas. O clima de romance e a forma de progresso confere a Phoenix Wright a característica de ser um jogo linear, limitando as possibilidades de interação com os cenários e personagens. Os gráficos também evidenciam que o jogo foi portado de uma plataforma anterior – cenários estáticos, pré-renderizados, personagens sobrepostos na tela e menus que são responsáveis por toda ação do jogo não combinam muito com o poder gráfico/interativo do Nintendo DS.
A única melhoria desse port em relação ao GBA é a adição da interação via stylus e microfone, que mesmo assim foi subestimada em praticamente todo o jogo - nos quatro capítulos principais do jogo (que também estavam presentes anteriormente no GBA) a interação apenas foi adaptada, enquanto que no quinto e último capítulo, exclusivo para o DS, a Capcom utilizou tais recursos como eles realmente deveriam ter sido usados desde o começo.
Veredict: Not Guilty
Apesar dos contratempos, Phoenix Wright: Ace Attorney é um jogo admirável por sua originalidade, temática adulta e madura, além de uma história desafiadora e bastante divertida. As sessões de tribunal são o ponto alto do jogo, exigindo do jogador raciocínio lógico para situações perspicazes.
Apesar da sua linearidade, o jogo ainda é capaz de pregar muitas surpresas aos jogadores, que deverão ficar em média 15 horas grudados ao portátil de tela dupla da Nintendo para resolver todos os casos, um mais complexo e intrigante do que o outro.
Sem dúvidas Phoenix Wright: Ace Attorney é um dos poucos jogos do DS que devem ser pelo menos testado e obrigatório para aqueles jogadores que curtem histórias repletas de texto bem humorados e bem escritos.
Phoenix Wright: Ace Attorney – DS – Nota final: 8.5
Gráficos: 7 | Som: 9 | Jogabilidade: 8 | Diversão: 9