Muitas vezes quando jogamos pela primeira vez algum game, somos surpreendidos de forma arrebatadora. Isso não é lá muito comum, mas com um pouco de sorte acontece. Na semana passada, comecei a jogar A Boy and His Blob apenas interessado em saber qual era a de um game com visual 2D old-school e personagens simplistas regados a uma jogabilidade limitada. Pois bem, fui arrebatado. Talvez esse seja o game que mais tenha me surpreendido no Wii. Até agora estou apaixonado pela trama infantilmente narrada (isso é um elogio!) e pela jornada recompensadora e didaticamente ultrapassada. A Boy and His Blob é uma pequena e intimista obra-prima.
-
Go to Blobonia
Os jogadores mais antigos devem se lembrar do A Boy and His Blob original, lançado para o NES na década de 80. Isso mesmo: esse aqui é uma releitura do original, mantendo muitos dos elementos que já haviam contribuído para um sucesso retumbante no passado. O anúncio dessa versão refeita, aconteceu de forma meio inesperada em uma edição da revista Nintendo Power, onde os produtores Sean Vellasco e Marc Gomez apresentaram aos donos de Wii um game até então promissor, mas claramente com um alcance pequeno.
A idéia por traz dessa versão vem lá do original, já que o enredo é mantido aqui (apesar de ter sido de certa forma ampliado). A história conta as aventuras de um menino sem nome que tem seu sono interrompido por uma forte explosão na floresta perto de sua casa. Na verdade não foi uma explosão e sim a queda de um ser extraterrestre – o tal Blob. Rapidamente, o solitário menino adota Blob como seu amigo, e posteriormente decide o ajudar a libertar seu planeta de origem, a tal Blobonia, que está para ser dominada por um imperador do mal.
O game começa logo de cara com uma apresentação em desenho animado soberba que ilustra exatamente esse primeiro encontro entre os personagens. Aliás, todo o visual do game apresenta um estilo artístíco não menos que apaixonante, principalmente porque cenários, personagens e inimigos foram recriados de uma forma que parecem vivos e ao mesmo tempo conservam o espírito do original e combinam com a personalidade do game.
-
Blob, come here!
Quem espera um game cheio de ação ou de muita variedade, pode se decepcionar – que fique bem claro. Blob foi criado com uma proposta um pouco diferente: a idéia aqui é oferecer um game que teste a capacidade do jogador de usar as habilidades do extraterrestre. Aliás, esse é o grande fio condutor do game: a possibilidade de Blob comer jujubas e ganhar essas novas habilidades.
Você começa o jogo com apenas quatro possibilidades de tranformações, que são selecionadas segurando o botão Z. Com o B, o jogador joga a jujuba selecionada. Automaticamente, Blob “come” o item e se tranforma. Com o botão A o jogador pode saltar, embora o pulo seja bem “curto”. A jogabilidade é focada no uso dessas habilidades para vencer inimigos e superar obstáculos. Entre as habilidades estão as possibilidades de Blob virar um balão, uma bigorna, um buraco, um para-quedas, um foguete, uma escada e um trampolim, totalizando 15 possibilidades diferentes.
Ao todo são quarenta fases diferentes, ambientadas em várias localidades, como um campo aberto, Blobonia e a cidade dominada pelos seres opressores de lá. Cada uma dessas fases possui inimigos diferentes e que necessitam de recursos igualmente diferentes para serem derrotados. Todos ainda possuem uma capacidade em comum: se o menino encostar em algum deles, é game over e o jogador precisa recomeçar fase.
O game segue nessa fórmula de tentativa e erro, já que muitos locais precisam de uma precisão cirúrgica do player para serem superados. Algumas vezes, A Boy and His Blob se torna de certa forma irritante, por fazer questão que o jogador consiga pensar da maneira como é esperado – o que pode resultar em dezenas de tentativas frustradas.
Embora isso não seja exatamente um problema, esse fator é agravado pela calibração um pouco estranha dos controles, muito presos e sem tantas funcionalidades de movimentação. Esse defeito de falta de precisão é claramente uma escolha, embora isso não justifique os pulos curtos, movimentação lenta do personagem e pouca variedade.
-
Um ode ao 2D
O fato é que se torna bem difícil não se apaixonar pela jornada. Ao mesmo tempo que é toda intimista e minimalista, ela se agiganta com uma série de signos que se tornam facilmente perceptíveis. O game é muito sutil, mas mostra uma relação de amizade entre os protagonistas difícil de se ver por aí. A idéia de manter o ritmo lento, contribui para criar uma atmosfera de intimidade que poucas vezes por mim foi vista.
Ligado a esse visual tradicional, temos uma trilha sonora igualmente retrô. Desde a música que toca ao fim de cada fase, até os chamados do menino por Blob, tudo ajuda a criar esse clima estranho e meio angustiante de abandono. Talvez isso seja um pouco de viagem minha, mas fazia muito tempo que não me sentia tão emocionalmente influenciado por um game. E isso felizmente aconteceu agora.
A Boy and His Blob é um daqueles títulos que vão ficar na história do Wii, tanto pela sua qualidade como pela seu nível de autoralidade. É algo ao mesmo tempo old-school e inovador, ultrapassado e futurista, melancólico e alegre.
Escute a dica desse que vos fala: jogue o quanto antes.
A Boy and His Blob – Nintendo Wii – Nota Final: 9,0
Gráficos: 9,0 Som: 8,5 Jogabilidade: 8,0 Diversão: 9,0