O mês de setembro está indo embora e com ele talvez uma memória que os menos atentos a datas e a indústria não tenham percebido. Na exótica data de 09/09/2009 o Dreamcast, o sonho da Sega de reconquistar o mercado depois do fracassado Saturn, completou 10 anos.
O ano era 1999. A Sony, em sua primeira investida no mercado de consoles, já dominava mais da metade do público consumidor com o Playstation. A Nintendo corria atrás do prejuizo com o Nintendo 64 e a Sega tentava se reerguer após o fiasco que foi o Saturn.
Na expectativa de voltar à época áurea em que disputou ombro a ombro a preferência dos gamers na geração 16-bits com o Mega Drive contra a Nintendo e o Super NES, desde 1997 a Sega trabalhava em sua nova, e promissora, plataforma de entretenimento – o Dreamcast. A idéia de um console de 128 bits que vinha com suporte nativo à jogatina online e a mídias de até 1Gb de armazenamento era de tirar o fôlego de qualquer gamer na época. Era impossível não ficar eufórico.
Apesar das controversias que envolveram o seu desenvolvimento e lançamento, o console foi lançado oficialmente no Japão em 27 de novembro de 1998 e vendeu as 150.000 unidades colocadas à venda logo no primeiro dia. Rapidamente a Sega colocou em produção mais 300.000 unidades para os consumidores que aguardavam em uma “lista de espera” pelo tão aguardado console. O sucesso foi absoluto e a Sega faturou milhões.
Alguns meses depois o console aterrisava nos Estados Unidos e era lançado no dia 09/09/1999 pelo preço de U$199,00 (quem curte numerologia aí, isso quer dizer algo?). Com uma biblioteca interessante de 18 jogos disponíveis, a Sega teve suas “mais grandiosas 24 horas da história do entretenimento”, e talvez a última, vendendo os 220.000 consoles colocados à venda no primeiro dia, arrecadando mais de U$98 milhões de dólares em um dia.
Mesmo com todo o sucesso de vendas do Dreamcast, erros estratégicos da Sega comprometeram o futuro promissor da plataforma. A fase de reestruturação por qual a empresa estava passando e os processos judiciais da 3Dfx por ter trabalhado no desenvolvimento do protótipo “BlackBelt” do console e não ter sido selecionada (leia-se paga) para produção fizeram com que a Sega passasse por uma fase que conhecera outrora: a descontinuação do console (pra não dizer que o pobre foi abandonado) com apenas 16 meses de vida no território norte-americano.
Quem teve a oportunidade de pelo menos jogar o Dreamcast sabe que ele era um console fantástico e encantador do começo ao fim. Design arrojado, controle avantajado e funcional, jogos interessantes e a possibilidade de se jogar online e fazer o download dos seus jogos na internet. O console tinha tudo para decolar, mas a concorrência do Playstation 2 foi forte demais para a fragilizada Sega – a retrocompatibilidade com os jogos do Playstation, o suporte nativo a mídias DVD (algo extremamente caro à época) e a promessa de “realismo capaz de expressar emoções” acabaram com o sonho de um retorno triunfal da Sega e de um console seu.
O Dreamcast é a prova viva (ou morta) de que quando se tem um console à frente do seu tempo (foi lançado 15 meses antes do Playstation 2) e não há um planejamento estratégico eficiente, o fracasso é inevitável. Com jogos bastante atraentes e acessórios que foram copiados por toda a indústria, o Dreamcast até hoje tem uma enorme quantidade de fãs que produzem jogos caseiros e incentivam até mesmo pequenas empresas a desenvolverem jogos oficiais para ele. Para se ter uma idéia do sucesso, o console foi vendido até 2006 no Japão e os servidores do RPG Phantasy Star Online só foram desligados em 2007, tamanho o carinho que seus fãs tem por ele.
Independente de empresa, é sempre triste quando um console que tinha tudo para dar certo simplesmente desaparece do mapa. Fica aqui nossa lembrança e homenagem ao falecido, porém muito presente até os dias de hoje na nossa vida gamer, Dreamcast.