O meu grande problema com o Wii Sports original, ao contrário do que muitos podem pensar, não é a história pra boi dormir que todo hater/fanboy adora contar. Não é porque era “casual”, ou “popular” ou mesmo porque era “Nintendo”, porque eu “tenho algo contra a Nintendo” – o fato era que o jogo era uma experiência irritantemente unilateral, massivamente chata, dolorida, horrenda e esquecível como um videogame. (e como qualquer outra coisa) O jogo não era nem mesmo um milésimo tão divertido quanto a mais inata das imaginações poderia pensar, utilizando aquela então nova tecnologia. A minha opinião não era que a vovó deveria ficar longe do videogame; a minha opinião é que a vovó merecia um jogo muito melhor construído.E aqui está Wii Sports Resort: e é fantasticamente divertido. Um dos motivos é o acessório Wii Motion Plus. E não que eu não goste do acessório. Ele é maravilhoso; o caso é outro. A primeira vez que eu joguei Wii Sports Resort, em um lugar altamente congestionado com pessoas, foi um evento surpreendente. Lá estava eu, no meio de uma multidão em um shopping, com jovens adultos macabros dançando em máquinas “Pump-it-Up” da Konami, um descendente asiático de terceira idade olhando fixamente pra mim por motivos que desconheço e meus amigos (que também são hippies) atrás de mim. Parecia ser o caso de meus músculos atrofiarem por ali mesmo e eu acordar uma semana depois em uma cama de hospital. Foi então que algo (supostamente) miraculoso aconteceu: todo mundo, inclusive eu, riu feito um bando selvagem de hienas quando fomos testemunhas da impressionante – e hilariante – competência do sensor de movimentos turbinado. O frisbee ia exatamente onde eu apontava; e naquele momento eu pensei em ajoelhar e constatar o milagre. Mas em uma fração de segundo, eu pensei melhor: “Isso não é, tipo, o que Wii deveria ter sido desde o começo?” Foi quando eu parei de rir, e comecei uma reflexão sobre o assunto.
Eu então me lembrei do vídeo que a Nintendo mostrou no Tokyo Game Show em 2006, com todos aqueles artistas (?) fingindo estar se divertindo jogando Wii Sports: seus sorrisos de ponta a ponta beiravam a demência, seus dentes brancos eram translúcidos e assustadores; aquele jogo que eles jogavam, não poderia ser menos que o melhor jogo já feito. Quando o Nintendo Wii foi lançado, a integração dos sensor de movimentos nos controles foi, pra ser o mais razoável possível, flagrantemente insultante.
Um sujeito precisa ter a peculiaridade “absoluto deficiente mental” especificada em sua carteira de motorista pra não perceber que é terrivelmente possível jogar e vencer uma partida inteira de Tênis em Wii Sports com ambos mínimo conhecimento sobre videogames e menos controle de pulso do que é necessário pra “se virar sozinho”.
Nada em Wii Sports, na minha opinião, pode ser descrito como “elegante”, nem mesmo os menus do jogo. O jogo é – não, coloquemos no pretérito, digamos que “era” – uma besta neurastênica, um monstro indiscernível de tortura psicológica direta, sua terribilidade indo do marketing aos gráficos – nada se salvava. Eu fiz uma pesquisa recentemente, (coisa de cinco minutos com o Google) pelas notícias principais do debute do Wii. Uma das mais importantes notas é que a Nintendo estava visivelmente orgulhosa do fato de que eles não iriam perder dinheiro no lançamento do Wii – de fato, eles esperavam que a empreitada tivesse como retorno um lucro considerável. Por um lado, provavelmente ninguém deveria comprar um videogame feito por uma companhia cujo plano para os próximos cinco anos é perder dinheiro. Por outro lado, você vê os comentários mais recentes da Nintendo, e você percebe que, para cumprir a meta de não perder dinheiro, a Nintendo pretendia lançar o que Wii Sports Resort revelou com uma grande fanfarra; Wii Sports era uma versão fundamentalmente compromissada (e morbidamente limitada) da visão original deles..
E, antes que você comece a coçar a cabeça, não se preocupe – isso está ligado a Wii Sports Resort.
Então, a Nintendo vende milhões de Wiis, e milhões de cópias de Wii Sports, e depois repete a dose com Wii Fit. Quem diabos se importa? Olhe, eu tenho que fazer um pequeno exercício de confissão aqui. Um sem-número de pessoas já chegou a mim e demonstrou um extremo interesse no periférico de Wii Fit, e no conceito. Outras pessoas ainda chegaram e disseram ter adorado o “jogo”. Toda vez que o assunto Wii Fit vem à tona, eu desconverso. Digo que não joguei, digo que achei bacana e pergunto sobre o último episódio da novela das oito. O fato é que eu joguei Wii Fit consideravelmente, e se eu começasse a falar do jogo, começaria a soltar insultos e comentários negativos sobre o jogo. Até pensei em fazer um review do jogo. Mas provavelmente as pessoas diriam que eu obviamente estou errado em odiar Wii Sports, e consequentemente Wii Fit. Bem, deixe-me esclarecer uma coisa rapidamente, mesmo porque eu me sinto mal só de mencionar esses dois jogos: em primeiro lugar, as pessoas gostam de umas coisas muito idiotas às vezes. Pessoas gostam de cigarros, e cigarro dá câncer; pessoas gostam livros sobre vampiros que brilham ao sol, mas esses são simplesmente ruins, etc. Em segundo lugar, eu garanto que você está equivocado em pensar que “muitas pessoas compraram Wii Fit” automaticamente se traduz em “muitas pessoas gostaram de Wii Fit”. Por exemplo, eu conheci um cara que comprou Wii Fit para que toda sua família usasse, e acabou achando uma bela porcaria. No entanto, ele não ousou dar um pio sobre o quanto ele odiava o jogo para sua família, porque ele dificilmente tinha uma oportunidade de estar tão “próximo” de sua esposa e filhos. Isso é muito deprimente, em minha opinião. Quer dizer, quais são as possibilidades de esse cara dar uma chance a Wii Sports Resort?
Em resumo, o que estou tentando dizer é que se a Nintendo tivesse gastado uns trocados a mais no desenvolvimento do Wiimote e feito que ele fizesse a mesma coisa que faz hoje só com o auxilio do Wii Motion Plus, talvez eles tivessem lançado Wii Sports Resort antes de Wii Sports, e eu não teria mais uma coisa pra odiar na minha vida. Quer dizer, isso é um saco pra minha rotina. Não é nada fácil entrar numa conversa e simplesmente dizer que lhe faltam palavras pra descrever o tamanho do ódio que você sente por uma coisa.
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Uau, bom trabalho, Nintendo!
Aqui fazemos uma pausa pra lembrar a todos que o Nintendo Wii foi originalmente fabricado como uma maneira de atrair de volta jogadores que desistiram de jogar videogame depois que eles ficaram “complicados”. De acordo com Satoru Iwata, controles de videogames se tornaram muito “assustadores” ou “intimidadores” para mamães, vovós, titias, psicopatas com problemas estomacais e até mesmo pra donas de casa solteiras de meia-idade que moram com vinte gatos e não têm parentes vivos. Bom, eu acredito o Wii Remote tenha sim sua parcela de intimidador; quer dizer, o que diabos é isso? O que eu sei é que não é possível se estrangular no espaço entre o analógico esquerdo e os botões do Dual Shock. E outra: estou certo de que esses contos sobre pessoas com deficiência intelectual quebrando suas TVs com o Wiimote não aumentou muito o interesse de vovós possuidoras de peças de cerâmica. No fim, a adição do Motion Plus só adiciona mais uma listra de parafernália na zebra do fetichismo. É muito provável que essas pessoas que se afastaram dos videogames ou nunca jogaram um
videogame ficaram seriamente assustados com esse comercial. Um comercial televisivo mais honesto, interessante e icônico teria feito maravilhas. Esse comercial simplesmente deu para as pessoas a idéia errada, do mesmo jeito que se alguém pede uma faca pra cortar uma maçã e receber um liquidificador ou uma dessas máquinas que o Ciro Bottinni vende no Polishop: você simplesmente está querendo confundir, e não ajudar. Quando eu vejo a Nintendo, com um marketing tão confuso, eu simplesmente começo a pensar se toda a grana que eles estão fazendo acaba não sendo de propósito.
De qualquer maneira, esse Wii Motion Plus é uma coisa complicada. Eu estou muito aliviado de não ser o responsável pelo Marketing desse produto! Eu provavelmente iria sugerir uma campanha pedindo desculpas aos jogadores, por ter lançado um videogame pela metade, com um sistema de controle que só faz 20% do prometido, e então dizer: “Ei, você já pagou uma boa grana nessa coisa. Se você desembolsar um pouco mais, nós garantimos que vamos provar que ainda é uma ótima idéia! Quer dizer, um Motion Plus custa no máximo o que você gastaria com três refeições no Starbucks!”
Sei lá. Acho que esse tipo de auto-depreciação é valida. Pelo menos é honesto.
Bah, o Reggie provavelmente iria me arrebentar na porrada e me demitir do mesmo jeito.
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Falando do jogo em si
Vamos tirar do caminho logo de uma vez: Wii Sports Resort é ótimo. O Wii Motion Plus faz com que o Wii Remote faça tudo que você sempre imaginou que faria. A primeira vez que você ver seu avatar na tela segurar o frisbee no preciso mesmo ângulo de direção que você está segurando, o mais feliz sorriso aterrorizante de sua vida brotará em seu rosto. Segure o Wii Remote de ponta-cabeça, e seu Mii gira a pulso para que o frisbee também fique de ponta-cabeça. Isso é fascinante. Tente o jogo de esgrima, e o mesmo sorriso aterrorizante vai voltar quando o Mii estiver – novamente – segurando a espada no mesmo ângulo que você segura o Wii Remote. Então vem a felicidade que pode que realmente tira o fôlego, quando você percebe que você pode segurar o Wii Remote de ponta-cabeça atrás da sua cabeça, e sua contraparte na tela vai fazer exatamente a mesma coisa, como se você estivesse defendendo algum ataque por trás. Cara, isso é demais. Como o é possível que saibam que o Wiimote está atrás de sua cabeça?! Se está atrás de sua cabeça, os sensores de calor não deveriam reconhecer isso, certo? Certo?! O que está acontecendo aqui?!
Em resumo, o Wii Motion Plus faz com que tudo que já foi lançado até o momento para o Wii pareça fraco, neurastênico e vergonhoso. Mais que isso, faz que o Wii pré-Wii Motion Plus pareça um tiro no escuro. Você se lembra em Zelda: Twilight Princess, quando você decidia dar uma relaxada, e o jogo simplesmente “gritava” pra você com uma mensagem do tamanho da tela por que você não estava apontando o Wii Remote pra tela? Sério, por que você precisava ficar apontando o Wii Remote para a tela? Por que não podia ser como um mouse? Você não precisa apontar um mouse pra tela.
É importante recordar que o Wii Motion Plus requer muita calibração. No jogo de esgrima, antes de todos os rounds, é pedido:
POINT THE WII REMOTE AT THE SCREEN
Ok, feito. Então aparece:
POINT THE WII REMOTE AT THE BULLSEYE
E então pronto. Antes da maioria dos outros jogos, que só são influenciados pelo ângulo rotacional do Wii Remote, é pedido para que você deixe o controle em um superfície lisa por alguns segundos, até que o indicador da tela o informe que a calibração está completa. Pode parecer um saco, mas definitivamente vale a pena, dado o fato que em 90% dos os controles de movimento funcionam de maneira brilhante e ininterrupta durante os eventos.
Infelizmente, o jogo acha outros modos de ser um saco, algumas vezes. Por exemplo, o jogo está constantemente dizendo o que você tem que fazer. É como se fosse a droga da sua avó falando. Entre os rounds de todos os jogos, uma tela vai aparecer dizendo que você deveria dar uma descansada. Você está falando sério? E o infeliz do jogo pede pra você descansar a cada cinco minutos. A Nintendo devia estar cagando de medo de subitamente o público parar de gostar do jogo.
Felizmente, esse medo é infundado. Mas isso não impede que o jogo rotineiramente seja um saco.
A primeira vez que você ligar o seu console com o jogo, você será forçado a ver um vídeo que o ensina, com um nível de detalhes absolutamente fetichista, como colocar o Wii Motion Plus, como retirar o Wii Motion Plus, como re-colocar o Wii Motion Plus. O Wii Motion Plus vem envolto em uma dessas “camisinhas” de borracha. Isso significa que você vai ter que tirar a “camisinha” de borracha de seu Wii Remote, caso você tenha comprado uma, pra colocar o Wii Motion Plus. Então o jogo ensina como conectar um nunchuk em um Wii Remote equipado com o Wii Motion Plus. Depois ainda ensina como tirar toda a parafernália pra trocar as pilhas.
Também digno de nota é o fato que, se você por um acaso não estiver jogando bem, o jogo vai forçar um tutorial. Isso é terrível e insultante. Quando você está jogando frisbee golf com pessoas que não são lá essas coisas no jogo, isso também pode se tornar irritantemente freqüente, e isso mata o clima do jogo.
Eu proponho publicamente aqui, nesse texto, que a indústria dos videogames RESSUSCITE O MANUAL DE INSTRUÇÕES – Wii Sports Resort nem mesmo tem um manual, só um pedaço de papel grandinho com screen-shots de vários dos mini-games do jogo – então, DIGA PARA OS JOGADORES no começo do jogo no começo de cada jogo: “EI, LEIA O MANUAL”. Francamente, eu não consigo entender essa história: nós temos avisos de segurança, avisos sobre epilepsia, e até a genial inovação da Nintendo, o aviso ilustrado que diz aos jogadores para eles por gentileza não baterem na cara de seus amigos com o controle e não jogar o controle na televisão – não seria muito mais simples e funcional simplesmente ter uma tela que diz “Por favor leia o manual”? E no caso do jogador ter perdido ou não obtido o manual, só então ele vai poder conferir uma simples opção na tela de título do jogo: “How to play”.
E de qualquer forma, é estranho constatar que nenhum dos eventos de Wii Sports Resort é complicado o suficiente para precisar de um tutorial. São todos jogos simples e fáceis de assimilar. Você mexe o Wii Remote, e algo na tela se mexe de maneira igual com precisão. Se a natureza de algum de qualquer evento confundir quem quer que seja que estiver jogando, não existe tutorial no mundo que vai prender esse individuo no jogo por mais de dez minutos. Nintendo: é hora de ir eliminando algumas perdas, e alguns perdedores.
E depois ainda tem coisas como o jogo de queda livre, no qual não importa o quão bom for seu desempenho, o jogo vai continuadamente exibir uma imagem do Wii Remote sobre seu avatar na tela, só pra você poder ver a coisa mudando de direção e girando em tempo real. Isso é realmente necessário?
Agora, vamos finalmente falar das coisas boas: o jogo de esgrima é espetacular. Você movimenta o Wii Remote pra movimentar a espada. Quanto mais rápido que você movimentar o Wii Remote, o mais rápido a espada a ataca. E quanto mais rápido você atacar, mais longe você empurra o seu oponente para trás. Se você não for rápido o bastante, você não vai conseguir empurrar seus oponentes. O objetivo é derrubá-los da plataforma. Aperte o botão B para entrar em posição de defesa. Uma vez em posição de defesa, segure o controle horizontalmente pra bloquear os ataques verticais ou verticalmente pra bloquear ataques horizontais. Se seu inimigo bloquear um ataque seu, você vai ficar exposto por um inconfortável (e rápido) período de tempo, totalmente aberto para uma retaliação.
E na soma das partes, isso se torna uma experiência fascinante. E provavelmente a produção de Wii Sports Resort deve ter ficado chocada e/ou entediada com a facilidade de programar esse tipo de coisa de modo decente, porque simplesmente resolveram incluir um modo “aventura” de graça. Seu Mii corre por um vasto campo de ação, com numerosos inimigos correndo em sua direção. Você consegue ver quando eles estão bloqueando. No entanto, um inimigo pode estar bloqueando horizontalmente e outro verticalmente. O que você precisa fazer pra pegar o cara bloqueando horizontalmente é atacar horizontalmente, mas você precisa ter cuidado para não balançar forte demais o Wii Remote nesse momento, porque senão sua espada acaba sendo bloqueada pela espada do cara que está bloqueando verticalmente, o que deixaria você aberto para ataques. Você precisa ser um cirurgião com aquela lâmina. Alguns oponentes são mais perigosos que outros, e bloqueiam como se fossem veteranos em Street Fighter III. Nos níveis mais avançados do jogo, a coisa vai ficando mais e mais divertida. (embora seja provavelmente uma boa idéia ressaltar que a música do evento consiste em trinta segundos do mais horripilante terrorismo audível).
Então tem o jogo do avião. De uma maneira nada menos que impressionante, e provavelmente acidentalmente, a Nintendo conseguiu fazer uma experiência no estilo arcade com aviões melhor do que os jogos da série Ace Combat sem precisar usar um único botão. Tudo que você tem que fazer é fazer um movimento rotativo com o Wii Remote – com só uma mão! – e o avião voa. O movimento rotativo controla a altitude e os movimentos do avião. Quanto mais rápido você fizer o movimento, mais rápido – e mais perigosamente – você manobra o avião. O propósito desse jogo do avião é coletar as pequenas marcas “i” – que denotam “i”nteresse (e, obviamente, o inglês “interest”) – numa tentativa de coletar todas. Colete um par, e o jogo começa a lhe deixar você estourar balões. Esses balões, muitas vezes, estão sendo segurados por pedestres nas ruas que os aviões sobrevoam. Também temos aqui um modo multiplayer de combates com a tela dividida.
E aqui é momento que nós começamos a pensar: que diabo é isso? A Nintendo nunca foi boa – ou talvez, digamos, nunca sentiu necessidade – em contextualizar a ação de seus jogos; tipo, eles nunca explicaram por que, exatamente, Mario dobrava de tamanho quando comia um cogumelo, ou por que aqueles cascos de tartarugas eram tão escorregadios e podiam ser chutados com tanta facilidade. Isso, no entanto, todo esse ambiente “resort island” parece ser um apelo da Nintendo para alcançar a “humanidade” de seu público. Mas tem um problema: que tipo de “resort” deixa você jogar frisbees em um campo de golfe, deixa qualquer um voar em biplanos equipados com metralhadoras (o jogo os chama de “Baloon popper”), e apresenta um evento onde todos os hospedes do resort se vestem em uniformes de Kendo para se agredirem com objetos coloridos? Esse resort tem algo muito errado…
E é aqui que você deve responder pra mim: “Quem se importa, se for divertido?” Concordo plenamente. E é divertido. Embora tenha começado a me fazer ter pensamentos negativos depois de um pouco de tempo. Eu comecei a imaginar a natureza errática dos “esportes” representados nesse jogo, foram todos excelentes idéias tidas pelos gênios da Nintendo, que tiveram seus sonhos estilhaçados por algum burocrata babaca dentro da empresa, que resolveram “podar” todas as idéias e joga-las em um único jogo, porque coletâneas de mini-games são lucrativas.
Mas talvez o caso tenha sido outro. Talvez os gênios da R&D tivessem essa grande pilha de idéias fantásticas, e queriam vender uma coleção de versões simplificadas, digamos uma demo dessas grandes idéias, só para inspirar os desenvolvedores ao redor do mundo a utilizar esses conceitos no futuro.
Estou adotando uma política otimista e vou acreditar que tenha sido isso.
Wii Sports era uma peça de entretenimento semi-interativa cujo maior feito para outros desenvolvedores era dizer: “esse controle tem um botão dentro dele, que é ativado quando você o balança”. Wii Play é uma coleção de “coisas que talvez sejam interessantes de fazer com esse controle – ou um mouse”. Wii Sports Resort é uma coleção de “idéias fantásticas para games baseados em sensores de movimento”.
Não é difícil pro jogador médio de videogame ler sobre Wii Sports Resort e pensar em um milhão de idéias melhores para um videogame. O caso é a comunidade de desenvolvimento de videogames muitas vezes não é tão inteligente quanto o jogador médio, então, quase como uma regra de etiqueta, a Nintendo tem que lançar tudo junto em uma coleção de mini-games, cada um com sua mecânica incrivelmente simples (lute com a espada, atire flechas, pilote um jet-ski ou um avião) e brilhante, graças à adição do novo acessório que vem junto com o jogo.
E já que eu falei em atirar flechas, eu devo dizer que é impossível descrever exatamente o porquê de eu gostar tanto do evento arco e flecha. Simplesmente é bom, faz você se sentir bem. Você segura o controle na vertical, na frente de seu corpo, e puxa o nunchuk para trás. Os alvos ficam bem longe, e a simulação do vento é admirável. Acertar o alvo realmente faz parecer que você está atirando em algo, tamanho é o contraste com falta de personalidade de atirar em alguém em, digamos, Halo.
A simulação de jogar um frisbee é miraculosa. A sensação de conseguir um bom arremesso é monumental, e o fato que literalmente existem centenas de maneiras do arremesso ir completamente errado faz que tudo fique ainda melhor. O modo de frisbee golf é excelente. É provavelmente o jogo mais jogado, por aqui (ok, ele é o jogo mais jogado; a tela de seleção de jogos parece querer ficar a todo o momento lembrando que ele é o “#1° jogo mais popular de Wii Sports Resort”, embora também fique insinuando também que o evento de ping-pong (chatíssimo) é “recomendado”), e nem eu nem meus amigos vamos cansar do jogo por pelo menos um ano.
Porque eu e todo mundo que jogou comigo gostamos tanto do frisbee golf? Por que tem contexto. E isso é algo que nenhum dos outros jogos tem. Pode parecer um argumento meio cansado, mas veja: o jogo normal de frisbee é chato, sabe por quê? Porquê você está só jogando um frisbee, e você pode muito bem fazer isso na vida real! E se você achar por um microsegundo o fato de nós falarmos que você estaria melhor jogando um frisbee na vida real do que jogando o evento “frisbee dog” de Wii Sports Resort equivale a recomendar alguém que joga Guitar Hero “Tocar uma guitarra de verdade ao invés de jogar”, então você obviamente nunca jogou um frisbee em Wii Sports Resort – ou pior, talvez você nunca tenha jogado um frisbee de verdade em toda sua vida. O que eu estou dizendo é que a simulação é incrivelmente real. A razão pela qual as pessoas conseguem convencer a si mesmas a fingir que gostam de jogos como World of Warcraft ou Second Life é porque esses jogos apresentam mundos absolutamente irrealistas. Nós não podemos chegar em um jogador de World of Warcraft e dizer para eles que eles ganhariam mais se tivessem sua própria fazenda de Orcs na vida real, porque essas coisas não existem na vida real. Fim do dia: estou querendo chegar ao ponto que Guitar Hero tem mais em comum com World of Warcraft do que tocar uma guitarra real, e jogar um frisbee em Wii Sports Resort tem mais em comum com jogar um frisbee de verdade do que tocar uma guitarra de plástico de mentirinha.
Talvez os outros eventos do jogo, aqueles que são mais “viajados” que o de frisbee, por exemplo, existem porque as pessoas que fizeram o jogo sempre ficavam se lembrando que “realista” muitas vezes não é interessante. Bom, enfim, tanto faz o porquê desses eventos existirem, o fato é que dá pra se divertir com eles. E ainda por cima eu tomei a liberdade de pensar em algumas idéias “interessantes” para videogames enquanto jogava Wii Sports Resort. Enquanto eu estava atirando flechas em Wii Sports Resort, eu fiquei imaginando um jogo da série Zelda em que atirar flechas fosse exatamente assim. Enquanto jogava o frisbee golf, eu comecei a desejar que houvesse um modo “driving range” em onde nós pudéssemos atirar frisbee após frisbee rapidamente, e então eu imaginei como seria legal se houvesse um jogo de ação/plataforma onde você usa o nunchuk pra mover o seu personagem, e usa o Wii Remote para jogar frisbees da morte nos seus inimigos! Acerte um no pescoço do inimigo pra decapitar o mesmo! E enquanto eu estava jogando o modo “aventura” no evento de esgrima, eu vim a pensar que sim, um jogo real action-melee seria fantástico. De novo, você usaria o nunchuk pra movimentar o seu personagem. Talvez pudesse ser um jogo de Samurai. Talvez pudesse ser um jogo Zelda. Que diabos, talvez seja Red Steel 3. Sabe, eu joguei o primeiro Red Steel de novo, depois de jogar Wii Sports Resort, e comecei a imaginar que o jogo só é tão terrível porque os desenvolvedores pensaram que o Wii Remote teria seu sensor de movimento muito mais preciso. Então, quem sabe com esse novo acessório, tudo melhore; e eu estou me esforçando pra não odiar essa seqüência de Red Steel antes de jogá-la, mas não dá pra negar que as noticias de que o Wii Motion Plus não terá influências no jogo não foram no mínimo decepcionantes. De qualquer forma, ficam as esperanças numa hipotética terceira empreitada. O evento do avião me fez pensar um RPG de ação onde nosso personagem é um piloto de biplano numa versão “desenho animado” da Europa durante a primeira guerra mundial. O “sistema de batalha” iria envolver combate simplista com fricção afiada. Algumas missões seriam para seguir um cara pelos ares, ou se esconder nas nuvens, numa tentativa de achar uma base de piratas dos ares sem ser detectado. E você também poderia comprar novas armas, motores e até criar peças customizadas para o seu avião na loja do engenheiro da cidade, e não parecer NADA com o método da Gummi Ship em Kingdom Hearts. E, como os jogadores de hoje sempre ficam meio assustados com uma franquia nova, talvez fosse melhor esquecer o background de primeira guerra e fazer um jogo Star Fox logo de uma vez, utilizando esses conceitos.
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Considerações quase finais
Então, depois de todas essas idéias, toda a conversa metodista sobre comerciais e sua influência, e depois de contatar que Wii Sports Resort é de fato divertido, cheguemos a uma conclusão: Wii Sports Resort é, basicamente, sopa de videogame. Não é uma sopa grossa e cheia de carnes, praticamente uma refeição de verdade – é sopa tipo sopa, sendo sopa e tendo gosto de sopa. Não enche a barriga. É um punhado de idéias boiando em água fina. E tem outra coisa… Nós não gostamos de ser “nós mesmos” em videogames. As vezes nós não queremos ser nós mesmos nem na vida real. Dê-nos uma personalidade pra controlar – qualquer personalidade, até mesmo um imbecil como o Marcus “Fight Trough the Pain!” Fenix – e depois um contexto. Ver esses Miis mirradinhos com jeito de desenho animado bater uns aos outros com espadas é simplesmente estranho. Eu quase preferiria que fosse algo parecido com Dinasty Warriors. (e adoraria se fosse possível comprar armas diferentes, e especialmente se uma das armas fosse uma lança)
Fora que nem todos os eventos são bons. Não, de fato alguns deles são terríveis. Ping-Pong é um pé no saco. O Wakeboarding é um exercício bem idiota, vendo que você pode rapidamente reverter o controle em uma posição paralela ao chão após fazer o movimento pra cima rapidamente. O ciclismo é ridículo – você só fica balançando o wii Remote e o nunchuk como um tonto. O evento da canoa é digno de vergonha – você só precisa movimentar o controle pra direita e pra esquerda feito um jumento.
O modo de Basquete é estranho. Jogar a bola no sub-modo do concurso de três pontos é interessante. O modo três contra três ficou bizarramente incompleto. Não poder se mover já é estranho, e ser forçado a passar a bola é apoteose da estranheza em videogames.
E ainda mais esquisito no modo de Basquete, é quando você percebe que a quadra de Basquete é cercada por todos os lados por correntes interconectadas, e nos prédios menores no background nós temos pequenos Miis-crianças negros olhando pela janela. Nossa, que legal! Nós estamos na plenitude da era do twitter e ainda estamos propagando estereótipos raciais! Bom trabalho, amarelados da empresa japonesa!
Bem, enfim. Esse provavelmente é o fim deste review. Se restou alguma coisa para falar sobre Wii Sports Resort, é falar sobre a minha suspeita de que a Nintendo tem uma briga feia com todas as fabricas de pilhas no mundo, porque não tem como você desligar o seu Wii Remote pelo menu Wii home. Você tem que tirar o Motion Plus, tirar a borracha, e só então tirar as pilhas pra desligar a droga do controle. E estou falando sério quando falo isso, porquê:
1. A maioria dos jogos de Wii Sports Resort envolve jogatina alternada, e não simultânea, entre múltiplos jogadores.
2. Toda essa maioria de jogos permite que você utilize um único Wii Remote para todos os jogadores.
3. Os jogos que envolvem essa alternância e também requerem nunchuks simplesmente não vão permitir que você jogue caso você tenha dois controles ativados e apenas um deles tenha um nunchuk conectado.
A solução para esse problema é tirar as pilhas pra fora do Wii Remote (o que não tem o nuchuk) e tentar de novo. Só então o jogo vai informar que os dois jogadores podem utilizar um único controle pra jogar. Estou certo de que se eu perguntasse isso para o Reggie, ele iria dizer que ele e sua “equipe” não queria colocar no jogo muitos paradigmas de opções muito “complicados”. Mas eu estou convencido que isso não passa de um plano maligno pra ver nunchuks.
Bem, é isso. Wii Sports Resort é um pacote sólido de entretenimento. Só o jogo de frisbee golf já vale o jogo – você só precisa de um controle e um Motion Plus e o jogo sai tecnicamente de graça, por que ninguém nunca fala pra você “Ei, vamos jogar ‘frisbee golf’!” porque, francamente, ninguém no mundo joga frisbee golf. E se algum dia alguém decidir jogar, a sentença vai receber uma adição notável: “Ei, vamos ficar doidões e jogar ‘frisbee golf’!” e acreditem, eu sei que ficar doidão hoje em dia custa mais caro que Wii Sports Resort. É uma pena que os ângulos de câmera no evento em questão sejam terríveis. Wii Sports Resorts é uma lista de coisas desnecessárias que os videogames fazem elevada ao cubo, mas ao mesmo tempo também é uma lista de promessas assustadoramente fantásticas que podem no futuro ser utilizadas por outros games. Games que eu estou ansioso pra jogar.
Wii Sports Resort – Nintendo Wii– Nota Final: 8.0
Gráficos: 7.0 Som: 5.0 Jogabilidade: 8.5 Diversão: 9.0