O investimento com o varejista é grande, depois de um jogo pronto (geralmente com conteúdo original e exclusivo) investe-se muito em propaganda e material para PDV (pontos de venda), que por sua vez aumentam o fluxo de pessoas nas lojas. Dentro desse contexto, vender jogos usados dessas mesmas produtoras sem repassar nenhuma margem do lucro não é uma facada nas costas no mercado de jogos? Grandes Lojas como GameStop, Wal-Mart, Toys R us, e recentemente a Best Buy anunciaram esse tipo de negócio.
Não é preciso ser economista pra prever o resultado disso. A pressão exercida pela revenda e aluguel de jogos por grandes varejistas interfere diretamente no preço/fluxo de venda de novos jogos lançados no mercado.Se os desenvolvedores não ganham dinheiro com a revenda de seu conteúdo original e ainda competem na prateleira com seus produtos usados é preciso colocar valores estratégicos para posicionar novos jogos.
O mercado de jogos não abaixa seus preços há mais de 10 anos no fluxo contrário de quase todo mercado tecnológico, e esse é um dos principais motivos para diferença gritante entre preços de DVDs e jogos atualmente - enquanto um filme original varia entre $10-$20 dólares um jogo vai de $30-60 - apenas dois jogos são o suficiente para atingir o preço de um hardware como Nintendo DS ou PSP.
A participação do lucro na revenda de jogos abaixaria o preço final e evitaria casos como do Modern Warfare 2 que já lidera a empreitada para a elevação de preços no natal europeu desse ano - onde o desnível de câmbio entre a Libra e o Euro já começa a refletir no bolso do consumidor e não-surpreendemente onde o mercado varejista já ataca o fluxo de vendas.
Mas por que as publishers devem ganhar algo com a revenda? Eles venderam a licensa do jogo para alguem (loja para consumidor) e esse alguem vendeu a licensa devolta (consumidor para loja) e nada impedia os próprios desenvolvedores de comprarem seus jogos devolta e revende-los na margem de lucro que quisessem, correto?
Eu sou de uma época onde o que eu compro, é meu. Seja uma licensa de uso de software, seja um carro, livro ou cd. O direito de revenda tambem é meu, e ninguem tá autorizado a enfiar a mão no meu bolso e tirar sua parte da minha revenda. Enquanto desenvolvedor, enfatizo que o consumidor não fez nada errado ao revender seu jogo, é a insistência dos varejistas em promover um modelo inadequado para a indústria que causa o problema, e essa é uma distinção semântica muito importante.
Talvez por que cada um tenha uma atividade diferente no mercado, talvez por que o investimento de uma iniciativa desse maneira fosse alto demais. Fato é que o contra-argumento de que as publishers querem que todos os jogos sejam comprados a eles, a preços fora da realidade, ignorando a competitividade do mercado de usados é apoiado pelo discurso anti-pirataria dos grandes varejistas. Desenvolvedores reclamando da falta de lucratividade na venda de produtos originais só colabora para a queda de preço nas prateleiras na esperança de aumento de vendas. E denovo os varejistas ganham.
Então o mercado de jogos merece uma categoria especial e vantagens de mercado? Por que a revenda de DVDs e Cds não segue um modelo diferente. Bom, Marty O'Donnell explica:
"O conteúdo digital esta criando uma crise no modelo econômico das mídias atuais. Cópias digitais são essêncialmente idênticas as originais, elas não se desgastam..."A necessidade desse novo modelo de comércio de conteúdo digital equilibraria os direitos-deveres da indústria de desenvolvimento e de distribuição, melhor situando a idéia de "usado" dentro da produção de conteúdo digital.
Na falta de respostas para esse novo modelo, perdem os mais interessados: os consumidores, tendo que lidar com os preços cada vez menos atraentes, e os desenvolvedores, tendo que fazer malabarismos para ganhar dinheiro com o que por direito lógico, cabe a eles. Como disse o O'Donell, é preciso olhar o impacto da tecnologia e como seus criadores são compensados por produzir entretenimento.