É fato que os três games da série Donkey Kong Country conseguiram um sucesso inesperado, e tornaram os games DK forte concorrentes no gênero até mesmo para os títulos da série do bigodudo Mario. Mas depois de três acertados projetos, a expectativa em torno da estréia do game em três dimensões era imensa. Donkey Kong 64 chegou em novembro de 1999 em meio a muita expectativa.
Megalomania astronômica
Desde o anúncio do projeto de DK 64, a sensação que se tinha era que ele levaria a expressão “interminável” ao seu expoente máximo. Ao todo são sete mundos gigantescos e interligados e o pior: que precisam ser visitados várias vezes sempre que um dos personagens principais são destravados.
Em cada uma dessas fases, os objetivos são extremamente parecidos: colete moedas Rareware, coins, fadas-banana e bananas douradas. Aliás essas últimas são 102 ao longo do jogo – o que convenhamos é um grande exagero. Além disso os mundos nem sempre são divertidos e instigantes a exploração.
Essa necessidade de grandiosidade aparece também em outro ponto que não contribui muito para o sucesso do game: os cinco personagens diferentes que são controláveis. Além de pelo menos dois deles serem completamente desnecessários, a troca entre os mesmos a todo o momento não foi a melhor escolha, já que torna bem maçante passar pelo mesmo local cinco vezes.
Lanky, Chunky, Diddy, Tiny e DK possuem habilidades diferenciadas e a inédita opção de poder usar uma arma e um instrumento musical diferente, cada um. Mas se no número de Kongs fosse menor, essas características poderiam ter sido melhor exploradas e talvez fossem mais díspares.
Aliás, o uso desses instrumentos musicais próprios se torna apenas um supérfluo na já exagerada quantidade de coisas para se fazer e não acrescentam quase nada a experiência de jogo.
Donkey Kong encontra Banjo-Kazooie
Outra crítica pesada que pode facilmente ser arquitetada contra DK 64 é que ele segue exatamente a mesma base que a Rare já havia criado para Banjo-Kazooie lançado pouco mais de um ano antes. É só pensar um pouquinho e ver que na realidade DK 64 pouco inovou o gênero.
A primeira característica herdada de B&K é que as habilidades de cada personagem são aprendidas sempre que o jogador tem contato com um mentor. Se em Banjo-Kazzoie este era a marmota Bottles, em DK64 é Cranky que faz esse papel.
Os itens que devem ser coletados também possuem equivalências com relação a B&K. Ou você também não percebe uma semelhança enorme entre as bananas douradas e fadas-banana e os Jiggies e Jinjos? A realidade é que a Rare além de pouco investir em inovações, preferiu adequar uma fórmula já existente ao universo de Donkey Kong.
Visual estupendo
Talvez o ponto que não possa receber críticas em DK 64 é o seu visual. Todos os cenários e fases são gigantescas e cheias de detalhes e o que mais impressiona são os efeitos de luz e sombra e a animação e movimentação de personagens e inimigos – características sempre marcantes em games da Rare. As texturas são impressionantes – tudo graças ao uso obrigatório da expansão de memória de 4MB, essencial para o game.
A trilha sonora por outro lado tem o pesado fardo de suceder as obras primas de David Wise em Country. Mesmo sem a mesma inspiração, a trilha cumpre bem seu papel e em momento algum parece ruim.
Se lembrarmos do DK Rap – uma das melhores canções de toda a série DK –, a soundtrack aqui não é dispensável.
Voltando um pouco ao esquema de jogabilidade, é fato que DK64 privilegia a coleta de itens e o aprendizado de novas técnicas. Mas o fato é que a dificuldade não é muito balanceada.
Digo isso porque o desafio não é crescente como se poderia esperar, alterando momentos de maior facilidade e momentos de dificuldade exacerbada.
Falando um pouco do multiplayer – basicamente um “deathmatch” - é inegável que com quatro jogadores ele é bem divertido assim como é inegável que ele é bem repetitivo. Mas sem dúvida é louvável a idéia de fazer um modo do gênero em um game desse estilo, o que não é nada comum.
Falando das fases em si, elas não fogem muito dos ambientes já apresentados em outros games da série (como um navio, um castelo e um ambiente no gelo). A melhor delas é a Fungi Forest que conta com localidades bem interessantes, enigmas muito bem planejados e inimigos muito característicos.
Mas afinal, entra para a história?
Quase 10 anos após seu lançamento, Donkey Kong 64 ainda permanece na memória dos fãs mais ávidos. Após ler essa análise você deve estar se perguntando se ele é bom. Eu te digo que sim, mas não é um game historicamente importante ou influente. É muito acima da média do Nintendo 64. Mas também não é comparável com o brilho que a série teve no Super Nintendo. Eu sinto em DK64 uma necessidade muito grande de oferecer algo sempre épico e exageradamente grande, o que como vemos nem sempre é o preferível.