Prévia: Octopath Traveler (Switch) e a jornada entre nostalgia e inovação

Apontado como um dos grandes títulos da plataforma para 2018, RPG da Square promete cruzar o passado ao presente do gênero.

em 11/07/2018


Anunciado em janeiro de 2017 como Project Octopath Traveler, o exclusivo de Switch trouxe de volta a magia dos RPGs da era 16-bit. Desenvolvido pela Square em parceria com a Acquire, o game deixou muita gente ansiosa ao aliar a clássica arte dos anos 1990 às novas tecnologias em uma grande aventura com oito personagens jogáveis.


A repercussão foi tanta que o nome provisório manteve-se como título definitivo. Octopath Traveler, enfim disponível a partir de 13 de julho, carrega a responsabilidade de mostrar ao mundo que ainda é possível oferecer experiências memoráveis com recursos que marcaram gerações.

Os 16-bit sob um novo olhar

A sensação criada por Octopath Traveler é um exemplo perfeito de como seria a evolução dos games caso a tecnologia tivesse avançado em todos os quesitos, mas ainda mantido a estrutura gráfica da era 16-bit. Elementos como a visão de jogo em perspectiva superior estão presentes, assim como personagens e cenários pixelados e a jogabilidade tradicional de um bom JRPG que logo nos faz lembrar de clássicos como Final Fantasy VI (SNES, 1994) e Chrono Trigger (SNES, 1995).

Por outro lado, elementos em alta definição, trilha sonora orquestrada e diálogos falados contrastam em um ritmo harmônico surpreendente através do intitulado recurso 2D-HD, que traz mais vivacidade e profundidade aos cenários e personagens. O processo não deixa de ser uma inspiração do já apresentado em Bravely Default (2012) e Bravely Second: End Layer (2015), títulos elogiadíssimos da Square lançados para o 3DS. A grande diferença é que em Octopath Traveler há a utilização dos gráficos pixelados em trabalho conjunto com a Acquire, conhecida pela série Tenchu e que fez um brilhante serviço em What Did I Do To Deserve This, My Lord!? (PSP, 2007), título que chamou atenção pelo uso de elementos 16-bit em seus conceitos gráficos.

É impecável o trabalho dos desenvolvedores em trazer uma nova óptica à arte pixelada 16-bit
O 2D-HD permite um novo olhar para uma tecnologia já conhecida. Ao caminhar por cidades, desertos e montanhas, a câmera nos acompanha como se estivéssemos em um grande mapa de mundo aberto, e os efeitos visuais geram a movimentação de elementos do cenário para criar sensações tridimensionais. Tudo isso em perspectiva bidimensional 16-bit com efeitos de desfoque para destacar a posição do jogador. Recursos de luz, sombra e névoa, seja na exploração ou nos combates, criam uma atmosfera belíssima de ser ver tanto na TV como no modo portátil do Switch.

O bom e velho/novo RPG

Uma característica interessante presente em Octopath Traveler é a maneira como a narrativa se desenvolve, fazendo com que os amantes dos RPGs de mesa sintam-se em casa. Textos descrevem a história e motivações de cada personagem num diálogo direto com o jogador, o que gera um grau de intimidade muito maior. Em vários momentos, as interações ocorrem na primeira pessoa do singular, com frases que intensificam suas personalidades. Não é difícil afeiçoar-se logo nos primeiros minutos.

O prólogo da personagem Primrose traz uma narrativa profunda, aos moldes dos RPGs de mesa
E é justamente no caminho a ser seguido por cada um dos heróis que encontramos um dos grandes atrativos do game. Na demo disponibilizada em setembro passado, assim como na segunda demo, de junho, que ofereceu o prólogo de cada um dos oito personagens, fica claro como a distribuição de classes está diretamente atrelada a aspectos narrativos profundos. O enredo não tem medo de nos apresentar a temas sérios como traição, vingança, assédio e obsessão.

Além de classes tradicionais, como o guerreiro Olberic Eisenberg, a caçadora H’aanit ou o ladrão Therion, Octopath Traveler nos oferece jornadas surpreendentes que expandem a relação dos jogadores com o gênero RPG, convidando-os a explorar a história de cada herói, bem como reuní-los.

Primrose Azelhart, herdeira de uma família nobre, fugiu ainda criança após ver seu pai morrer pelas mãos de homens desconhecidos. Com o passar dos anos, passou a sobreviver como dançarina em uma casa de shows em Sunshade, a cidade dos prazeres, localizada no meio do deserto, escondendo seu passado sem deixar de alimentar o sentimento de vingança. No entanto, o proprietário do local, que acolheu a jovem desde pequena, explora todas as dançarinas, enxergando em Primrose o elemento principal para seus interesses obscuros.

Primrose promete surpreender os jogadores com sua história e características únicas de gameplay
Tão cativante e diferente quanto jogar um game de RPG como uma dançarina é aproveitá-lo também na pele de Cyrus Albright, um erudito da grande cidade de Atlasdam que passa seus dias lecionando para jovens da Royal Academy. Obcecado pela cultura e história do mundo, Cyrus recebe permissão para analisar um livro raro recebido há pouco tempo pela biblioteca local. No entanto, a obra desaparece e cabe ao herói investigar o caso, como se fosse um detetive, a fim de encontrar o suposto ladrão. O livro possui informações consideradas heresias na visão das autoridades, mas que podem auxiliar no aprendizado e na abertura de consciência dos cidadãos.

A capital Atlasdam esconde segredos que apenas o estudioso Cyrus poderá desvendar

Oito perspectivas

Em determinado momento da campanha essas histórias se cruzarão e os personagens irão aliar-se para um objetivo comum ainda desconhecido, porém determinados a resolver suas missões pessoais. De acordo com o herói escolhido, o jogador terá um ponto de vista do contexto geral da história, situação que alimentará a vontade em descobrir como é a jornada dos demais. Segundo a Square, será possível encontrar todos eles na campanha, independentemente de qual seja definido no início do jogo, além da opção de alterar o controle de cada um para cumprir suas missões pessoais em uma única jogatina.

Além dos já mencionados Olberic, Primrose, Cyrus, Therion e H’aanit, é possível controlar a mercadora Tressa, o boticário Alfyn e a sacerdotiza Ophilia. Tais classes não representam apenas diferenças em equipamentos e ataques usados em combate como nos RPGs tradicionais, mas também conferem talentos especiais nas batalhas e efeitos práticos no mundo do jogo, o que garante interações variadas com os NPCs.

Os heróis interagem de maneiras únicas com os NPCs, mas há a chance das ações não darem certo e afetarem sua reputação
Primrose, por exemplo, pode utilizar suas habilidades de dança para iludir personagens e fazê-los acompanhá-la pelo cenário. A estratégia é eficiente tanto para separar grupos de inimigos e facilitar o combate, preparar emboscadas ou até mesmo recrutá-los para ajudar em batalha. Olberic pode desafiar outros personagens para um duelo, mesmo dentro dos vilarejos, o que pode ser de grande ajuda para subir de nível ou conseguir itens.

A aventura com a mercadora Tressa garante bons descontos com vendedores e a possibilidade de comprar itens únicos. Alfyn, o boticário, com seu espírito empático, é capaz de obter informações especiais ao dialogar com as pessoas, bem como ouvir rumores e histórias que não seriam compartilhadas com outros heróis.

Especialista em caça, H’aanit pode invocar animais para ajudá-la em batalha ou dispersar grupos de personagens, o que garante acesso a áreas bloqueadas. Já o ladrão Therion utiliza suas habilidades para furtar os moradores e conseguir itens sem a necessidade de pagar por eles. Cyrus, por ser um estudioso, consegue investigar a população local e obter informações (no estilo Sherlock Holmes) que o ajudem em sua jornada ou a tirar vantagem em interações com lojistas.

H'aanit, a caçadora, pode invocar animais para ajudá-la em combate
Por fim, Ophilia, uma serva da Order of the Sacred Flame, parte em peregrinação para ajudar os mais necessitados. Sua habilidade de campo, Guide, é usada para aliviar as dores dos NPCs e até permitir o reencontro de familiares separados pelo tempo. Essas pessoas, após serem ajudadas, podem auxiliar Ophilia em batalha.

Conforme avançamos a história de cada personagem, novas missões aparecem no mapa indicando a localidade na qual haverá a continuação da jornada. É possível que alguns deles cruzem caminhos em determinadas cidades, enquanto outros devem viajar para reinos distantes. Como a demo do prólogo possuía um limite de três horas de jogo, não foi possível chegar até a segunda missão dos heróis.

Mapa mostra a localização inicial dos heróis e o avanço da campanha conforme a jornada de cada um, que pode cruzar-se com a de outro persongem
Há também um pré-requisito de nível (não obrigatório) para cumprí-las. A segunda missão da jornada de Tressa, por exemplo, recomendava nível 22, enquanto a sequência de Cyrus recomendava nível 24 para o personagem, barreiras que exigem um bom tempo gasto em treinamento. No menu do game, a extensão do mundo do jogo é grande, sendo ilustrada na tela de acordo com os locais visitados. Octopath Traveler promete mais de cem horas de jogatina entre missões principais e secundárias.

Causas e consequências

Já mencionadas anteriormente, as habilidades de campo, ou talentos, irão refletir dentro do sistema chamado Noble/Rogue, que traz uma mecânica de causa e consequência de acordo com as ações do jogador. Ao seguir um caminho de nobreza com a prática de ações consideradas corretas, os habitantes passarão a reconhecê-lo como um bom personagem, assim como o caminho contrário o levará a um destino de exclusão e marginalização.

Um exemplo é a contrariedade entre as classes mercador e ladrão. Enquanto Tressa consegue bons descontos em itens, Therion simplesmente os furta de outros personagens. As cidades tratarão o jogador de acordo com seus modos, influenciando diretamente a reputação dos heróis.

A mercadora Tressa em sua viagem para conhecer o mundo de Orsterra
Causas e consequências também seguem uma rota interessante nos combates de Octopath Traveler, num estilo tradicional em turnos que ao mesmo tempo insere novos elementos de tática. Os combates permitem escolhas de ataque, defesa, uso de habilidades especiais ou itens, assim como as barras de HP e SP destacadas na tela, tudo como mandava a regra dos RPGs dos anos 1990. O diferencial fica por conta do Burst System, mecânica semelhante à vista em Bravely Default, porém com suas particularidades.

Os inimigos possuem ícones abaixo de suas figuras, que representam fraquezas e nível do escudo de defesa. Essas fraquezas permanecem uma incógnita até que o jogador descubra qual tipo de arma ou dano elemental seja efetivo contra cada monstro. Ao revelá-las, os acertos irão eliminar os pontos de defesa até quebrar a guarda do inimigo, que ficará vulnerável a golpes que causem mais dano.

Os inimigos possuem diferentes fraquezas a serem descobertas e níveis de escudo que devem ser quebrados para causar mais dano
Em cada rodada, o personagem acumula os chamados burst points para desferir sequências arrasadoras. No caso do inimigo possuir três pontos de defesa, por exemplo, o jogador pode acumular três burst points para atacar três vezes seguidas e quebrar o escudo adversário de uma vez, ou pode aguardar o momento exato para atacá-lo com força máxima durante um momento de vulnerabilidade. Cada situação pode exigir uma estratégia diferente.

Todos os heróis ainda podem executar habilidades de campo para uso dentro ou fora das batalhas, a exemplo da técnica Study Foe de Cyrus, que revela diretamente as fraquezas dos inimigos, ou o Booster Defense, utilizado por Olberic para impedir que aliados recebam dano. Durante a exploração, Therion pode utilizar seu talento Pick Lock para abrir baús trancados e Tressa é capaz de encontrar dinheiro no mapa com sua técnica Eye for Money. Outras habilidades de suporte podem ser adquiridas conforme o avanço de nível de cada personagem.

Ao reunir mais de um herói, é possível utilizar várias habilidades de campo para interagir nas batalhas e cenários

Na expectativa

Octopath Traveler gera grande expectativa por parte dos fãs de RPG. A demo inicial bateu a marca de um milhão de downloads e mais de 45 mil sugestões foram analisadas pela Square para melhorar a experiência de jogo. Boa parte delas foi aceita, como a implantação de um sistema de fast travel, visibilidade melhorada em ambientes escuros, aumento de espaços para salvamento e a opção de pular cenas já vistas.

Explorar o detalhismo em cada ambiente oferece uma experiência visual incrível
Algumas delas podem ser notadas na demo que traz o prólogo do game. Uma experiência que nos deu a oportunidade de conhecer de perto cada um dos oito heróis, bem como suas localidades, enredo e características de batalha. Ao escolher um determinado personagem, não há ordem de exploração até encontrarmos outro herói. Todos os caminhos são possíveis.

A versão final do game já agradou a tradicional revista japonesa Famitsu no início de julho. Voltado para a nostalgia, o título não esconde sua pretensão em agradar tanto a veteranos do gênero como também jogadores novatos dispostos a uma experiência inédita na clássica perspectiva 2D. Caso o game realmente cumpra tudo o que propõe e ofereça algo memorável para os RPGs, podemos estar diante de um dos títulos indispensáveis para os donos de Switch.

Octopath Traveler - Switch
Desenvolvimento: Square/Acquire
Gênero: RPG
Lançamento: 13 de julho de 2018
Expectativa: 4/5

Revisão: João Paulo Benevides

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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