Análise: LEGO Os Incríveis (Switch) explora um novo mundo super-heróico na franquia

Novo título da TT Fusion traz o tratamento LEGO ao universo mais incrível da Pixar.

em 23/06/2018

Depois de traduzir em bloquinhos os universos da DC e da Marvel, a série LEGO da TT Games aborda em sua mais nova entrada o universo de "Os Incríveis", no embalo da aguardada sequência da animação super-heróica da Pixar. Desenvolvido pelo estúdio TT Fusion (LEGO City Undercover), LEGO Os Incríveis (Switch) traz algumas das mecânicas conhecidas da franquia, com um misto entre mundo aberto e missões lineares, seleção vasta de personagens e muitos colecionáveis. Seria o título mais um acerto da TT Games, ou será que a fórmula apresenta enfim sinais de cansaço?

Justiça na cidade de LEGO

Se engana quem pensar que, contando com apenas dois filmes como inspiração, o conteúdo do game poderia não corresponder às expectativas de variedade que, com o tempo, veio a ser associada à franquia LEGO. Narrando não apenas os feitos da família Pêra nas telonas, mas também contando com tramas e personagens originais, o título desencava personagens obscuros do universo de "Os Incríveis", garantindo uma experiência recompensadora aos fãs e uma introdução divertida para os recém-chegados.

A história central do jogo se desenvolve através de doze capítulos centrais agrupados em duas metades, uma para cada filme. Essas fases são sempre jogadas com um grupo de personagens fixos, requerendo que o jogador volte a revisitá-las no modo Free Play, onde pode ser usado qualquer bonequinho, caso se queira explorar todos os caminhos alternativos, acessíveis apenas com determinada habilidade ou super-poder, em busca dos desejados 100% de completeza.
A história de "Os Incríveis 2" abre com uma bela perseguição em alta velocidade.
Surpreende a escolha da produção em iniciar pela história de "Os Incríveis 2", para só depois de seu término habilitar as fases relativas ao primeiro filme. Por outro lado, a opção faz sentido por conta da forma como o jogo insere o modo de história dentro de um hub de mundo aberto, modelo que seria mais difícil de se conciliar com o enredo da animação original. A transição entre a trama principal e as seções de mundo aberto são bastante suaves, o que ajuda a emprestar vida à cidade dos heróis. Bons jogos de mundo aberto te fazem se sentir “em casa” no mapa, e este felizmente é um deles.

Logo após o término da primeira missão, o jogador já é presenteado com a possibilidade de exploração da ampla cidade de Municiberg e de seus arredores. Assim, fica a seu critério dosar o ritmo com o qual avançar na história. Uma experiência mais condensada, para depois explorar o mundo aberto como pós-game; ou ir alternando entre as sidequests e as missões principais, aumentando a longevidade do game? Esta liberdade ajuda a contrabalancear um modo história assumidamente curto, e concretiza bem o sistema de mundo aberto visado pelo título.
Cenas clássicas do primeiro filme também marcam presença.
Combinando essas mecânicas familiares de open world com a jogabilidade sem complicações de LEGO, o resultado é uma experiência fluida e envolvente, que é capaz de entreter tanto o público infantil quanto os jogadores mais grandinhos que não fazem questão de uma dificuldade elevada. O hub de mundo aberto traz veículos que podem ser roubados ao estilo de GTA, ou melhor dizendo, “apreendidos em nome da justiça” para ajudar nossos heróis na navegação pelo extenso território da cidade. A jogabilidade dessas seções de direção não é tão precisa ou responsiva quanto se poderia desejar, mas funciona o suficiente para garantir tanto a movimentação acelerada quanto bons momentos de humor na tentativa de fazê-lo.
A criminalidade em Municiberg tem estado em níveis elevadíssimos.
Contando com um mini-mapa bem organizado para auxiliar na navegação, a cidade se divide em vários distritos que contam com diversas atividades para pôr à prova os superpoderes e as mais diversas habilidades do extenso elenco de personagens. O sistema de Ondas de Crime traz ataques temáticos de diversas gangues supervilanescas, os quais geram algumas sidequests em cada área. Uma vez superadas, a área é “libertada”, adquirindo aspecto mais pacífico e recebendo indicativos de seus diversos itens colecionáveis no minimapa. A experiência traz uma diversidade razoável de desafios, compensando a tendência à repetitividade com a variedade de super-poderes requeridos em cada missão e com esquetes divertidas narrando os acontecimentos de cada segmento dessa história complementar.
Um dos destaques do game é o mundo aberto bem implementado.

Dr. Câmera, o grande super-vilão da vez

O ponto menos incrível da experiência acaba sendo um elemento com o qual a franquia LEGO sempre teve dificuldades, e que acaba recebendo aqui uma solução bastante incompleta: o controle da câmera. No modo single-player o jogador provavelmente encontrará dificuldades em determinados momentos, sendo que os cenários claramente são melhor explorados a partir de uma perspectiva pré-definida.

Rotacionar a câmera para visualizar blocos escondidos ou áreas secretas tende a ser um exercício frustrante, dada a responsividade mal calibrada e a tendência do enfoque em se enroscar por entre o chão ou as paredes. Não ajuda o fato de que, ao menos na versão em que jogamos, a opção para inverter os eixos desses controles encontra-se bugada, não tendo efeito nenhum sobre a jogabilidade. Com o tempo, o jogador se acostuma a se virar nas perspectivas pré-definidas, mas não deixa de ser uma limitação cuja correção melhoraria a experiência de jogo.
Duplicar uma tela com câmera fixa torna a experiência desnecessariamente truncada.

No modo multiplayer, o problema é ainda maior. Abandonando definitivamente a câmera compartilhada que marcou os títulos iniciais de LEGO, e mesmo do funcionamento dynamic split adotado posteriormente, o título lança mão de um modelo split-screen fixo que está longe ser unânime como solução boa. Desagradando os jogadores que não gostam de dividir a tela, a fórmula empobrece a experiência tanto na missões de história — onde o espaço de ação é sempre limitado e, com tudo sendo inutilmente duplicado na tela, a coisa acabe desnecessariamente confusa —, quanto no mundo aberto — onde a perspectiva estreita não ajuda na navegação e no aspecto exploratório, certamente frustrando principalmente o jogador mais inexperiente.
A visualização das fases acaba sendo muito superior no modo single player.


A complicação acaba ainda sabotando a facilidade do modelo drop-in/drop-out da série, já que a entrada de outro jogador muda significativamente toda a experiência do jogo. Se os games anteriores da série contavam ao menos com a função de se escolher entre a divisão dinâmica e fixa, por que não é dada ao menos essa liberdade ao jogador aqui?

Gerenciando sua família (extensa) de super-heróis

Mesmo antes de investir nas mecânicas de mundo aberto, uma das marcas da série LEGO foi a enorme variedade de personagens desbloqueáveis. Com 113 bonequinhos jogáveis no total, LEGO Os Incríveis não é exceção. A quantidade torna inevitável haver alguma repetição, porém observa-se que a série se desenvolveu, desde LEGO Star Wars (Multi), no sentido de diferenciá-los e justificar sua presença no jogo para além do caráter colecionável.
Não existe dia normal na casa da família Pêra.


Cada personagem possui um conjunto de ataques que vai dos tradicionais ataques físicos, projéteis com e sem mira, raios energéticos e elementais até outras habilidades menos comuns. O modo de se locomover de cada personagem também varia de acordo com seus poderes. Por exemplo, a Mulher Elástica tem um alongamento de pernas automático que proporciona uma corrida a passos largos e alcance a locais de difícil acesso, Flecha se move o tempo todo em alta velocidade (o que é bom em algumas situações, e terrível em outras) e conta com um dash destrutivo, enquanto Gelado possui o tradicional deslizamento de gelo no ar. 

Esses detalhes ajudam a trazer variabilidade para os controles um tanto simplificados do jogo, que se torna assim acessível para o público infantil sem perder o apelo para os jogadores mais experientes. Descobrir como joga cada personagem, dos mais conhecidos aos mais obscuros, consiste por si só em um aspecto bastante divertido do game. O mesmo pode-se dizer dos veículos compráveis e montáveis através da tradicional coleta de Minikits, muitos dos quais também podem ser utilizados em jogo.
Os Ataques Especiais dão aquele gran finale a um combo bem construído.

Contando com um level design competente, ainda que pouco inovador, as missões de história trazem sequências de ação, plataforma e exploração - além é claro do obrigatório combate contra chefes super-poderosos. Com fases facilmente superáveis, o desafio para o jogador mais experiente fica por conta da exploração dos cenários em busca de seções secretas e itens escondidos, os quais normalmente requerem o uso de algum personagem específico, cujas habilidades são sinalizadas por ícones. Trata-se de um desafio que requer mais tempo do que habilidade, mas que felizmente em nenhum momento é sentido como trabalho. Como costuma ser de praxe com a franquia, trata-se de uma ótima pedida para crianças e adultos jogarem juntos.
Colecionando e explorando.

As sequências de ação e plataforma são sólidas, trazendo fases que não se desgastam ao longo das visitas repetidas no modo Free Play. Deixam um pouco a desejar os combates contra chefes que, além de muito fáceis, seguem uma fórmula excessivamente focada em um script pré-definido. Com isso, a jogabilidade parece mais truncada nessas seções, desperdiçando o potencial para embates mais inventivos entre super-poderes. Prova disso é que os que se destacam são justamente aqueles em que o jogador possui mais liberdade para usar estratégias diferentes.
Você também pode usar seus poderes para fins menos nobres.

De bloquinho em bloquinho

A formação do elenco se dá por duas maneiras: completando a história principal, com cada missão desbloqueando na coleção os seus respectivos personagens fixos, e também a mais divertida, que é com os pacotes-surpresa compráveis com os studs, moeda acumulada em largas quantidades ao longo de todos os modos de jogo. A escolha diverte mais do que o modelo anterior de compra de personagens com valor fixo, trazendo um elemento bem-vindo de imprevisibilidade à coleção. Além do vasto elenco de heróis e vilões de Os Incríveis, os fãs da Pixar ficarão gratos em saber que também marcam presença algumas participações especiais de personagens de outros filmes do estúdio, obtidos através de construções temáticas especiais.
Alguns personagens são verdadeiros peixes fora d'água no mundo do jogo.


Seja nas fases de história, seja dando conta do crime (ou gerando o caos) nas ruas de Municiberg, os ares de collect-a-thon se fazem presentes ao longo do jogo. Mesmo que não se dê conta, o jogador está o tempo todo adquirindo alguma coisa e avançando no sentido de completar a extensa tabela de colecionáveis do game. Habilitar os pacotes de personagens e juntar studs para financiá-los são apenas alguns dos passos no caminho rumo aos 100% de completeza. Complementando a galeria de personagens, a loja traz uma seleção de 40 veículos compráveis com studs, os quais podem ser utilizados para os heróis se locomoverem com facilidade por Municiberg, sem precisar confiscar os veículos civis.
Quem será que vai sair?

Além disso, o jogador deve buscar 13 Blocos Vermelhos, que habilitam cheats para diversificar a experiência; 210 Blocos Dourados colecionáveis; 120 Minikits escondidos pelas missões de história; 25 desafios de tempo e 22 construções especiais com Incriblocos. Conteúdo extenso para um jogo de ação e plataforma que conta basicamente com 12 fases - provando o quanto o aspecto do mundo aberto acaba sendo um dos elementos mais importantes e cheio de conteúdos do game.
Blocos e mais blocos, construções e mais construções!


Combinando a jogabilidade simplificada e acessível da série LEGO com uma ótima exploração do universo de Os Incríveis, LEGO Os Incríveis é uma boa pedida tanto para os fãs da animação quanto da franquia da TT Games. Ainda que sem muitas surpresas para quem jogou um dos títulos recentes da série e tendo em mente a tradicional dificuldade baixa da franquia, o game explora de forma divertida o mundo super-heróico da Pixar, trazendo muitos conteúdos que garantem horas de diversão, principalmente para o gamer que não deixa passar uma bom collect-a-thon.

Prós

  • Grande variedade de personagens;
  • Personagens detalhados e diversificados na jogabilidade;
  • Modo de história recontando com muito bom humor os dois filmes da franquia;
  • Grande número de colecionáveis aumenta a longevidade do jogo;
  • Divertido modo de criação de personagens customizados;
  • Mundo aberto explorável cheio de vida e atividades.

Contras

  • Modo de câmera split-screen fixo, sem possibilidade de escolha;
  • Split-screen fixo atrapalha a experiência multiplayer, tornando a navegação truncada;
  • Controles de câmera ruins, com a opção para inverter o eixo sem funcionar;
  • Combate com chefes pouco diversificado e muito preso a “scripts”.
LEGO Os Incríveis (Switch/PS4/XBO/PC) — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Pedro Franco
Análise produzida com cópia digital cedida pela Warner Bros. Interactive
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é gamer pra todo jogo, mas tem predileção por títulos retrô e um bom e velho JRPG. Sonic, Donkey Kong Country, Ratchet & Clank, Final Fantasy e Disgaea são algumas das séries que formaram a paixão pelos games, desde que ganhou seu Mega Drive, muitos (nem tantos!) anos atrás. Além de escrever para o Nintendo Blast e Game Blast, pode ser encontrado tagarelando no Plano Crítico.
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