Nintendo Switch Online: vale o investimento?

Assinar ou não assinar o serviço online do Switch? Eis a questão.

em 15/05/2018

Na semana passada, a Nintendo apresentou mais informações sobre o seu serviço online. A empresa, seguindo a linha dos concorrentes, também vai cobrar para que os usuários possam utilizar funcionalidades na internet, especialmente relacionadas ao multiplayer. Agora que temos mais detalhes (e depois que saímos do calor do momento), vamos tentar responder à pergunta definitiva: vale a pena?

Todo mundo já sabia, só não queria acreditar

Vamos começar sendo justos com a Nintendo: ela avisou desde o começo que iria cobrar pelos serviços online. Claro que, acostumados com a ausência desse tipo de tarifa no Wii e WiiU, muitos consumidores ficaram desapontados, mas não dá pra dizer que alguém foi enganado.

Da mesma forma, o fato de a Nintendo ter permitido o uso das funcionalidades online de graça até aqui também não significa má-fé da empresa. Vi gente comparando a atitude da Big N com traficantes que dão a droga de graça para viciar os usuários e depois cobram pelos produtos. Calma lá! Está longe de ser algo parecido com isso.

Acredito realmente que era preciso um tempo de adaptação e preparação para conseguir oferecer um serviço online de qualidade (que, no final, seja pagando ou não, é o que todo usuário que faz uso dessas funcionalidades deseja). Assim, não vejo nada demais no óbvio: a empresa irá cobrar por aquilo que já tinha anunciado que ia cobrar. Isso, contudo, não faz com que a situação seja necessariamente positiva, pois temos problemas, muitos problemas, na forma como a Nintendo vai gerenciar o seu serviço.

O que ganhamos em troca? 

Talvez estejamos mal acostumados. E se realmente for isso, então boa parte do meu argumento já vai por água abaixo. Mas, é fato que, diante do tipo de serviço que é oferecido pelas outras empresas, fica muito difícil não estabelecer comparações com aquilo que a Nintendo vai ofertar.

Tanto a Sony quanto a Microsoft entregam para os assinantes um conjunto de jogos todos os meses. No geral, são games de dois ou três anos atrás, e alguns da geração passada. Mas se considerarmos o período de um ano assinando esses serviços, cada usuário terá certamente economizado muito em relação aos títulos que poderia comprar. Há quem diga que a Nintendo não está ficando atrás. Afinal, ela está oferecendo alguns de seus clássicos do Nintendinho (e outros nem tanto - Soccer, estou olhando para você). Mas isso é justamente uma parte do problema que tem a ver com a mentalidade da Big N. Considerando o número de propriedades intelectuais que possui e a quantidade gigantesca de jogos de qualidade perpassando tantas gerações, entregar para seus assinantes apenas experiências de 8-bits parece algo extremamente mesquinho.



Tudo bem que esses jogos oferecerão algumas funcionalidades extras, como a possibilidade de trocar o controle com outro usuário, emulando a experiência do multiplayer local. Mas não vejo isso como um atrativo suficiente. Se fosse apenas por eles, certamente não assinaria o serviço. Mas, ora, não é dos games que se trata e sim do conjunto de funcionalidades online. Donkey Kong, Ice Climber e Balloon Fight são, querendo ou não, um bônus. E se as outras empresas fazem algo melhor ou pior nesse quesito, isso não deve interferir na avaliação que faremos dos serviços pelos quais a Nintendo irá cobrar. Aliás, pelo quê mesmo que ela vai cobrar?

Jogar online e armazenar saves de jogos na nuvem

Então, é disso que se trata: a Nintendo vai cobrar para que os usuários do Switch possam jogar online e tenham a capacidade de armazenar seus saves de jogos na nuvem. Tirando o elemento óbvio da estabilidade das partidas na internet (e sem falar na decisão horrível de manter o voice chat por meio do app de smartphone), a killer feature desse serviço é algo que não devia estar embutido no preço, mas sim disponível para todos os usuários: a possibilidade de ter um backup dos seus saves.

Já tivemos casos de pessoas que perderam horas de dados de jogos, e isso continuará ocorrendo. Mesmo que a Nintendo não disponibilizasse o cloud save para todos, ela poderia permitir uma forma de backup offline, o que hoje é impossível. Cobrar por esse serviço online, quando não existe um correspondente offline, é uma grande bola fora.

Mas e o preço?

Ok, existem problemas. Mas pelo menos o preço é justo? Digamos que sim e não. Sim, porque a Nintendo vai cobrar bem menos que a concorrência: US$ 3,99 por um mês, US$ 7,99 por três meses e US$ 19,99 por 12 meses.  É um preço atrativo, principalmente se a empresa cumprir a promessa de expandir a biblioteca para assinantes (serão 20 jogos de Nintendinho inicialmente, mas outros poderão ser incluídos). Além disso, existe um plano família, que permite que até oito usuários utilizem o serviço pagando US$ 34,99 por 12 meses. Ainda é um preço bom, mas ele guarda uma pegadinha: a assinatura da Nintendo, diferentemente do que é praticado pelos concorrentes, não fica vinculada ao console, mas sim à conta. Assim, enquanto nos consoles da Microsoft e da Sony todos os usuários que tenham acesso ao console com assinatura podem jogar online, no Switch só pessoas com a conta vinculada à assinatura poderão utilizar o serviço.

Um exemplo: imagine dois irmãos, Mario e Luigi. Eles moram na mesma casa e possuem apenas um Switch. Mario gosta de jogar Splatoon 2 com amigos. Já Luigi prefere Arms. Se quiserem continuar jogando quando começar a cobrança, eles terão três opções: 1) assinar apenas um plano individual e jogar com a mesma conta; 2) fazer duas assinaturas individuais (a pior opção); e 3) assinar o plano família.

Entenderam o problema? Muita gente viu o plano família como uma forma de economia, já que amigos poderiam compartilhar um plano desse tipo pagando assim bem barato pelo serviço. Mas, as famílias em si, aqueles que moram na mesma casa e têm apenas um console (mas muitas contas), acabarão pagando caro para ter um serviço que todos possam usar, ainda que nem todos o utilizem na mesma proporção.

Uma coisa boa relacionada ao preço, que acabamos descobrindo pelo FAQ do Nintendo Switch Online, é que o serviço estará disponível no Brasil e que haverá um preço específico para o nosso país, provavelmente em reais. Talvez isso seja também um indício de que teremos um eShop funcional do Switch no Brasil, o que já seria grande coisa.

Informações sobre preços no Brasil e em outros países da América do Sul serão apresentadas perto do lançamento.

E aí, vai assinar?

Vou. Contraditório, não? Depois de tudo o que eu disse, parece muito mais razoável não dar chance para essa proposta da Nintendo. Mas o problema é que fiquei em um beco sem saída. Se eu quiser jogar online, e muitos jogos têm uma sobrevida justamente nesse modo, será necessário assinar o serviço. Além disso, só os assinantes poderão ter a possibilidade do backup de dados que, como eu disse antes, é uma característica essencial (imagina perder 100 horas de saves do seu jogo favorito), principalmente em um console que não te dá outra alternativa.

Voltando à pergunta do início: vale o seu dinheiro? Sim, se você quer continuar jogando online ou se tem interesse em ter cópia dos seus dados. Se nada disso for essencial para você, passe longe. Afinal, você já deve ter comprado Super Mario Bros mais de uma vez, em vários consoles diferentes, e não é porque vai “ganhar” ele assinando esse novo serviço que tudo será diferente (ou mais interessante).

Revisão: Vinícius Veloso


Pesquisador nas áreas de estética e cibercultura com Mestrado em Cultura e Sociedade (UFMA) e Doutorado em Comunicação (UnB). Além de escrever sobre jogos, produz o Podcast Ficções e tem um blog sobre literatura, filosofia e cotidiano.
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