Nintendo e Indies: Seria o Switch o melhor console para games independentes?

Com poucos títulos de grandes desenvolvedoras, o Switch abre espaço para a ascensão dos jogos independentes.

em 30/04/2018

Ao olhar a lista de jogos mais vendidos no Switch, uma coisa chama a atenção de forma imediata: a quantidade de jogos indies. No WiiU a presença dos indies já era significativa, ao ponto da Nintendo ter aberto suas portas para o Humble Bundle, que fez duas edições de jogos de estúdios independentes para WiiU e 3DS. No entanto, se o WiiU foi uma promessa que nunca se realizou, e por isso atraiu mais indies que títulos AAA, o Switch já apresenta uma configuração bem diferente. O console híbrido da Nintendo já é um sucesso consolidado, amado pelo público e crítica, e com número maior de unidades vendidas que o seu antecessor (e em apenas um ano). Por que, então, os indies continuam ocupando o espaço dos jogos AAA no novo console da Nintendo?


A resposta para isso não é simples e as aparências às vezes enganam. Claro, temos lançamentos e apoio dos estúdios third party no Switch. Mas, mesmo depois de um ano de lançamento, as grandes desenvolvedoras têm agido de maneira tímida em relação à Nintendo. Sim, temos “Skyrim”, “Doom” e “L.A Noire”. Mas esses são ports que, mesmo otimizados e com a experiência do portátil que só o Switch tem, ainda soam como uma concessão ao console da Big N. Além disso, nenhum grande jogo chegou ao Switch simultaneamente às outras plataformas. “Wolfenstein II: The New Colossus” ainda será lançado, mas bem depois do hype inicial, e jogos como “Monster Hunter World” e “Assassin's Creed Origins” dificilmente darão as caras no Switch. No final do ano passado, também a EA (que lançou uma versão limitada do Fifa 18 para o híbrido) comunicou que não tem pressa para lançar novos jogos na plataforma. O que resta então aos fãs da Nintendo? Exclusivos (quase sempre maravilhosos) e os indies (muitos destes igualmente incríveis). Não é pouco, certamente, mas é isso que o fã da Nintendo espera?



De uma forma curiosa, Switch e WiiU representam duas faces da mesma moeda. Não é incorreto dizer que a experiência com WiiU nos permitiu o surgimento da nova plataforma, da mesma maneira que é necessário dizer que esses dois consoles possuem gratas diferenças. O Switch é mais polido, mais simples de entender e possui um apelo comercial forte; e não só com os consumidores, mas também com os desenvolvedores indies. Boa parte dos desenvolvedores de jogos cresceu jogando Nintendo (não tenho dados sobre isso, mas é bem provável que quase todo desenvolvedor tenha um título da Nintendo no seu top 10 de melhores jogos da vida) e, por esse motivo, ter a possibilidade de ver um jogo seu em uma plataforma dessa empresa tão amada é algo tentador. Junte a isso o fato de que as vendas do console (e, consequentemente, de softwares) vão bem e pronto: receita perfeita para a ascensão dos indies no Switch.

Muitos associaram o “fracasso” do WiiU também à falta de apoio dos grandes desenvolvedores. No Switch, contudo, aquelas mesmas empresas que não confiavam na plataforma da Nintendo ainda estão receosas; certamente por outros motivos, mas, sim, receosas. Mas isso, felizmente, não trouxe uma escassez de boas experiências para os jogadores. “Celeste”, “Golf Story”, “SteamWorld Dig 2”, “Stardew Valley” e “Enter the Gungeon” (alguns dos indies mais vendidos do Switch) carregam, de alguma forma, a mesma marca que encanta os fãs da Nintendo há tanto tempo: magia, personalidade, engajamento. E o fato da Nintendo já ter afirmado que trata os indies de igual pra igual com qualquer outro jogo triple A mostra o que essa empresa pensa dos games: bons jogos encantam as pessoas e trazem experiências únicas.


Diante de tudo isto voltamos à pergunta do título: o Switch é o melhor console para games independentes? Difícil dizer com certeza, mas eu apostaria que sim. Afinal, o ar de novidade da plataforma, a versatilidade do console híbrido e a empolgação crescente dos consumidores dão bons indícios de que a conexão entre os indies e a Nintendo terá um futuro promissor. E nós, fãs dos bons jogos, estamos atentos a ele.

Revisão: Farley Santos
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Pesquisador nas áreas de estética e cibercultura com Mestrado em Cultura e Sociedade (UFMA) e Doutorado em Comunicação (UnB). Além de escrever sobre jogos, produz o Podcast Ficções e tem um blog sobre literatura, filosofia e cotidiano.
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